Volume 1
Capítulo 6: Poder Único (versão antiga)
Ethan acordava assustado, estendendo seu braço para cima e ofegando bastante. Ele acabou notando que não havia mais um buraco em sua mão, ficando confuso por um momento e até mesmo se esquecendo de seu aparente pesadelo. O garoto ficava olhando para sua mão por mais alguns instantes antes de notar que estava em uma casa e deitado numa cama, algo que ele não via há tempos.
— Ethan. — Mary o chamou e o menino viu-a logo ao lado, sentada no chão com duas xícaras de café em sua frente. Uma delas a moça estava bebendo, e a outra, estava guardando para o garoto.
— M-Mary, onde estamos? – Ethan sentou-se e olhou em volta, colocando a mão na frente do rosto após ficar na altura da janela, pois o Sol já estava visível.
— Eu explico logo, primeiro se levante e vá tomar um banho, depois tome seu café. – disse Mary enquanto deixava a xícara do menino num criado-mudo ao lado da cama.
— Banho? – ele acabava reparando no banheiro que havia logo atrás de si. Ethan se levantou e ainda ficava fascinado por sua mão estar se mexendo, tanto que ele aproveitou para estralar os dedos. O garoto log após encontrava sua mochila e ia na direção do banheiro, ainda bem confuso de onde estavam.
Dessa vez, Ethan quem retirou a roupa e se olhou um pouco no espelho, ficando um pouco enojado por causa do cheiro que estava exalando depois de batalhar e sangrar. Seu corpo era bem atlético para um garoto tão novo, ainda mais por causa dos poucos músculos dele estarem definidos ao ponto de se destacarem na pele dele, como peitoral, braços e pernas. Mas, ainda assim, era um corpo de um pré-adolescente, então ainda era pequeno e precisava de muito treino.
Após terminar de se banhar, ele colocou um conjunto de roupa praticamente igual ao que estava antes, só que de outra cor e sem a jaqueta. Ele então saiu do banheiro e pegou a xícara de café, bebendo um gole.
— Mary... Onde estamos? – perguntou curioso, com um olhar um pouco receoso, mas calmo, já que sua mestra também estava.
— Na vila dos Cicatrizes. – Mary disse enquanto se ajeitava.
— Chegamos? Não foi muito fácil? Eles até nos deram uma casa.
— Não foi fácil. Primeiramente, você tá crescendo e ficando mais pesado. E eles só concederam essa casa caso ajudemos de volta. – Mary terminava de beber seu café.
— Ah, tá. O que eles precisam? – perguntou Ethan, como se seu olhar já demonstrasse que estava disposto a ajudar. Mary olhava com uma certa relutância.
— Ethan, sente aqui um pouco, preciso falar com você. – Mary indicou para ele se sentar em sua frente.
— Ah, ok? – enquanto tomava seu café, ele foi e sentou-se em frente a sua mestra.
— Ethan, é um caminho perigoso, passamos dois anos aperfeiçoando suas habilidades, mas seu treinamento não acabou ainda. Eu acho que você não está pronto – Mary dizia de maneira calma, tentando não afugentar o menino, mas mesmo assim ele ficou surpreso e até confuso com a resposta.
— P-por que não? Mary, eu consigo, eu vou continuar treinando, eu posso ajudar. – o garoto quase se desesperou, mas se conteve com um simples sinal de “espere” de Mary.
— Não está pronto ainda, Ethan. Se eu te perder, mais duas coisas eu perco junto. Eu vou ajudar eles contra os Ghouls, mas você ficará aqui por enquanto. – Mary se preparava para se levantar, na visão dela aquela discussão havia acabado. Porém, antes dela se levantar de vez, o menino deixou seu café no chão e saltou na direção dela, abraçando-a. Ficando bem surpresa de começo, ela tentou afastar o garoto com gentileza. – Ethan.
— Não... Não me abandona também. – respondeu enquanto agarrava mais na roupa de Mary, talvez como uma forma de impedi-la de ir, junto de algumas lágrimas se formando. Ela iria tentar tirar Ethan do abraço, porém ela lembra de algumas coisas.
Uma era como o garoto lembrava em muitos aspectos seu falecido irmãozinho, até mesmo no modo como ele era apegado a Mary, abraçando-a e não querendo que ela fosse para a escola porque iria sentir saudade dela. Mesmo que não quisesse dizer isso para Ethan, foi um fator a mais para a albina se apegar mais facilmente ao garoto. A sensação de ter que proteger e ser responsável por alguém novamente dava uma certa nostalgia a ela.
Mary então suspirou e pensou um pouco, pois, mesmo que quisesse fazer bom uso das habilidades de Ethan, era complicado naquele mundo. Não era difícil morrer, ainda mais se você não tivesse poderes ou se os seus não fossem grande coisa. Além de não querer perder uma chance enorme de cumprir seu objetivo, não queria arriscar a vida de Ethan.
— Ethan, pode me soltar. – disse olhando para os lados.
— Não, eu não vou te deixar ir. – devolveu enquanto continuava a agarrando.
— Você vai comigo, pode me soltar. – assim que foi dito, Ethan levantou seu rosto e olhou para ela, ainda cheio de lágrimas.
— Eu vou?
— Vai, mas, para vir comigo, vai ter que se esforçar, e me prometa algo Ethan. – o garoto a soltou, permitindo-a apoiar a mão em seu ombro para dizer. — Se a situação apertar e você vir que não tem mais chance, prometa para mim que você vai fugir.
— M-mas Mary... — Ethan foi interrompido antes de terminar a frase.
— Me prometa. – disse Mary, agora colocando as duas mãos nos ombros dele.
— T-tá. Eu prometo. – respondeu com um certo receio e um pouco de medo de sua mestra.
— Certo, então se vista para treinar, você vai conhecer a nossa equipe. — Ethan abriu um sorriso e engoliu seu choro, pois há tempos ele não conversava com mais pessoas além de Mary e Drake. Estava animado.
Após se vestirem, os dois saíram da casa em que estavam, e Ethan pôde enfim ver como era a cidade dos Cicatrizes. Apesar de pequena, ela funcionava em partes como qualquer outra comum.
Ele conseguia ver pessoas usando seus poderes de água e moverem objetos para arar terra e plantar, além de poderes relacionados à força para ajudar a carregar coisas pesadas. Na praça, os singulares usavam para acalmar grupinhos de crianças com um poder de melodia, contar histórias para crianças com criação de ilusões pequenas. Mais ao longe, nos morros que rodeavam a cidade, uma pessoa começando a andar no ar para fazer vista do local aos fundos. Por fim, humanos comuns, apenas ajudando e vivendo suas vidas.
Ethan olhava para isso e ficava um pouco confuso e com um calor no peito ao mesmo tempo, pois nunca tinha visto um local como aquele, porém era bonito de se ver e ele ficava bem curioso a respeito.
— Mary, é isso que você dizia ser “vida normal”? – perguntou o garoto.
— É. Quem sabe um dia você possa ter, Ethan. – respondeu, colocando a mão na cabeça dele e continuando em frente, na direção de um estabelecimento retangular até que grande que tinha mais para o canto da cidade.
Assim que adentraram no local, ambos conseguiram ver um salão enorme, com vários bonecos de teste feitos de madeira, em volta haviam paredes grossas de concreto e um teto relativamente alto. Os dois perceberam uma moça ruiva com o cabelo preso e um rapaz de cabelo azul jogado para trás, aparentemente só estavam se alongando para treinar, até que perceberam a presença de Mary e mais um garoto.
O casal foi na direção deles e a troca de olhares entre David e Mary continuava não sendo das mais amigáveis.
— Então é ele? Por que um garoto está usando pistolas? – perguntou o rapaz, reparando no coldre que o menino tinha nas coxas, que só o deixa mais desconfiado, tanto que sua mão direita já começava a ficar com uma cor mais pálida, sendo possível até mesmo ver o ar que saía dela de tão gelada que estava ficando. Ethan imediatamente ficava assustado e recuava, sua sorte foi que Mary se colocou na frente.
— É ele sim. – Os dois singulares se encaravam próximos um ao outro. A aura de intimidação que Mary impunha sobre David apenas no olhar era tremenda, tanto que ele só não considerava ir para cima dela porque sabia do que ela era capaz, mas Lucy ainda teve que segurar o ombro dele para acalmar as coisas.
— Qual é o poder dele? – perguntou Lucy, tentando evitar um confronto.
— Ele pode anular o uso de habilidades. Cancelamento. – respondeu a albina. Os dois olham como se aquilo tivesse sido uma piada sem graça.
— Você ouviu isso, Lucy? Ah, conta outra. – debochou David, acenando negativamente. – Você tá querendo me dizer que ele consegue impedir qualquer singular de usar seus poderes? É isso?
— Se ele tocar na pessoa, sim. – respondeu sem perder a calma.
— Até parece. – David continua duvidando, tanto que ele já estava pronto para aceitar aquilo como uma brincadeira e voltar ao treinamento.
— Vocês lembram o meu poder, não é? – perguntou Mary.
— Você puxa objetos que jogou de volta para sua mão. E essa braçadeira, claro. – respondeu a ruiva, colocando uma das mãos na cintura.
Para fazer seu teste, Mary retirou sua faca militar e a girou em seu dedo.
— Observem. – ela então arremessou a faca longe, no meio do salão de treinamento. Após isso ela pediu para Ethan segurar a mão dela e ativar seu poder, dito e feito, e em seguida, a albina tentou puxar de volta a faca que jogou, sem sucesso, e era até mesmo possível ver seu braço tremendo um pouco e uma expressão de esforço nela.
— Sei. – David cruzava os braços enquanto achava aquilo uma grande perda de tempo. Os dois então soltaram as mãos e a albina, enquanto se ajeitava, adicionava à explicação:
— E após ele soltar esse usuário, em dez segundos, a pessoa já pode usar seu poder novamente — disse enquanto estendia a mão novamente. Como havia passado o tempo necessário, a faca que ela jogou começou a se mexer um pouco, até que, abruptamente, ela voltou girando para a mão da singular, que a agarrava e mostrava para os dois.
Ainda não convencidos de tal façanha, dessa vez Lucy quem se aproximava e furava seu polegar direito com o dente, agachando na frente do menino.
— Ethan, né? – dizia com uma certa calmaria, um tom meio acolhedor, para não o assustar.
— Sim. É Lucy o seu, né? – respondeu um pouco tímido ainda.
— Muito bem. – ela sorria e oferecia a mão esquerda para o garoto segurar. A ruiva então tentou controlar o sangue que saía de seu dedo, fazer qualquer coisa com ele, mas nada adiantava, nenhum movimento fora o líquido descer pela mão dela como sangue normal. Lucy ficava mais surpresa, ela tentou durante um tempo e não conseguia usar sua hemocinese de jeito nenhum. Ela olhava para seu namorado com uma expressão chocada.
David também ficava, porém ele decidiu testar também para ver se não estava delirando. O rapaz envolvia sua mão esquerda em gelo enquanto segurava a mão de Ethan com a direita, e como já esperado, seu membro começa a voltar ao normal, sem gelo e sem coloração pálida. Sua criocinese também não estava funcionando. E após 10 segundos que soltaram, eles conseguiam usar normalmente seus poderes.
O casal se olhava impressionados e após pensarem um pouco, acenam positivamente.
— Ok, ele realmente tem um poder único, mas agora, parando para pensar, Mary, ele precisa tocar na pessoa para fazer efeito, certo? – perguntou Lucy.
— Correto.
— Como ele vai chegar perto de singulares que tem poderes a distância, ou que podem alternar entre curta e longa distância? – questionou David.
— Isso que venho ensinando a ele, ele deve ser ágil, saber improvisar corretamente e usar as pistolas que ele encontrou. – disse Mary enquanto girava uma das armas do menino na mão. – Estão descarregadas, só para saberem.
— Não é uma ideia ruim, mas olha para ele, é uma criança ainda, quantos anos ele tem? – indagou a ruiva.
— Catorze. – respondeu Ethan, abaixando o olhar. O casal se entreolhava receosos. Eles se perguntavam como uma criança iria enfrentar singulares poderosos, ou até pior, por causa de Mary, ele teria que encarar os Heróis, contra os quais nem mesmo certas facções poderosas ousavam se voltar, de tão temidos que eram esses singulares.
— E você vai levar ele? – perguntou Lucy.
— Sim, ainda tem muito a aprender, mas ele quer entender dessa maneira, então irei ensiná-lo em combate também. – respondeu com uma certa frieza até questionável, porém o mais surpreendente era que Ethan não demonstrava hesitação em aprender com ela, mesmo tendo ficado 2 anos ao lado dela, saber os objetivos e jeito dela.
Lucy e David se entreolhavam e, vendo que Mary, do jeito que ela era, não iria voltar atrás em sua decisão de querer acabar com os Heróis, acabam apenas aceitando a decisão dela, e, antes de voltarem ao treinamento, David falou para a albina.
— Só espero que um dia você perceba o que vai ter feito com a vida dele, não vai ser surpresa se Ethan acabar que nem o Ryan. – disse enquanto virava as costas.
— Você sabe que eu não tive escolha. – ela devolveu.
— É, é, é o que você disse antes e o que continua dizendo. Se quer me provar que seu ponto está certo, essa é a chance. – David respondeu enquanto se afastava um pouco mais e se posicionava, alongando-se para treinar e dando um sorriso com uma mistura de raiva.
Mary o encarou com um certo desprezo, como se alguém tivesse tocado em um ponto fraco dela. A albina desacoplava a bainha de sua katana de sua cintura e a deixava com Ethan, que se assustou de primeira e depois ficava confuso com o que ela estava fazendo.
David, que continuava com o sorriso provocativo, nem percebia que indiretamente havia deixado Mary irritada, nem quando ela estralou seus dedos e pescoço.
— Você quem pediu.