Volume 1

Capítulo 17: Corre (3) (versão antiga)

 

Os quatro se ajoelhavam e tentavam resistir enquanto ela gritava. Mary e Ethan novamente sentiam as energias se aproximando. O menino, quase que no impulso, e, mesmo que seus ouvidos estivessem latejando de dor, ele se jogava e caía no chão junto de David, evitando que os destroços da parede atrás do singular gélido caíssem em cima dele.

De trás dela, um ghoul macho aparecia e atravessava o buraco que fez, rosnando para o grupo, mas, antes de fazer qualquer coisa, Ethan e Mary agiram rapidamente, ambos sacaram suas pistolas e dispararam contra o canibal.

O menino disparou bem nos joelhos para o ghoul perder o equilíbrio, enquanto a albina acertou no meio do rosto dele, deixando—o inconsciente. David ficava impressionado, não apenas pelo garoto ter agido rápido naquela situação, mas também por ter se arriscado a esse ponto por uma pessoa que mal conhecia.

Mary, após isso, pegava a camiseta de Lucy e a puxava para perto de si, evitando que um par de mãos que atravessaram a parede pegassem a singular, que ainda tentava se recuperar do grito.

A assassina então pegava a katana do chão e realizava um corte na nuca de Rebecca, porém, antes do golpe se concretizar, dois braços com as veias salientes e pulsantes entravam na frente do corte, bloqueando a passagem da lâmina com a própria carne.

A katana atravessava até metade dos membros e parava, permitindo Mary de ver aqueles olhos avermelhados e uma expressão de raiva que até mesmo a deixava um pouco aterrorizada. Victor havia chegado a tempo.

— Você não vai encostar nela. – ele dizia com a voz soando rouca de tão nervoso que estava. Rebecca ficava impressionada, principalmente por Victor não ter hesitado em protege-la, como se fosse um verdadeiro príncipe ao resgate.

Mary se inclinava para trás bem a tempo de desviar de uma mordida de Victor, e mais ainda a tempo suficiente para Ethan agarrar Mary e Lucy e puxá-las para trás, caindo os três no chão perto de David.

O singular gélido carregava seu poder e estendia seus braços para o lado, criando uma ventania de gelo que empurra todos os canibais presentes no cômodo para trás, fazendo—os chocar contra as paredes e ficarem presos pelo gelo que se formou pelos ventos.

— Vai vai vai! – David dizia enquanto levantava Lucy e corria na direção da porta, Ethan e Mary iam logo atrás. Assim que saíram da porta, correram em disparada na direção da janela mais próxima.

O menino e sua mestra sentiram que mais ghouls estavam chegando por trás e também vindo pelos telhados. Mary pensava primeiro e acelerava seu passo, ultrapassando David e já ficando com a katana preparada para sacar.

A albina chegava na janela mais próxima, que na verdade era uma varanda com portas de vidro e, sem medo, usava seu braço para proteger seu rosto e atravessava a estrutura, estilhaçando-a e usando a borda da varanda como impulso para saltar.

Tudo havia sido planejado, pois Mary sentiu que um canibal estava ali próximo, e que talvez ele saltaria do telhado no momento em que escutasse o vidro quebrando, e assim se concretizou.

Porém, no momento em que os dois saltaram, Mary girou horizontalmente no ar enquanto sacava sua katana e, num rápido movimento, decapitou o ghoul, espalhando o sangue por sua espada e roupas.

O corpo e cabeça ele caíam no vão que havia entre o sobrado em que estavam e a casa logo ao lado, e Mary aterrissava com os braços, fazendo uma cambalhota para ficar em pé novamente.  O restante saltava da varanda e chegava onde Mary estava, prosseguindo sua correria.

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Enquanto isso, Victor libertava Rebecca das correntes, ajoelhando—se para ver como ela estava.

— Rebecca... – ele diz, arrumando as mechas do cabelo da garota.

— Eles têm razão, Victor, eu só ferrei os planos da nossa família. Eu não mereço o perdão deles... – Rebecca dizia, lacrimejando e com um tom triste na voz.

— Ei. – Victor a abraçava e deixava a garota chorar em seu ombro. – A gente vai conversar com eles depois, tá? A gente vai dar um jeito, eles vão entender, eu prometo. – ele segurava o rosto de Rebecca, limpava as lágrimas dela e beijava sua testa. – O melhor jeito de se redimir é nos ajudando a pegá-los, eles vão ser ótimas adições à família ou então serão um belo banquete, ok? Você me ajuda nessa?

— Uhum... Tá. – respondeu, tentando enxugar as lágrimas e se preparando junto de Victor para caçar.

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Com mais ghouls se aproximando, tanto pelo chão quanto pelos terraços que percorriam, os quatro se viram obrigados a acelerar seus passos.

— Ethan! – Mary dizia para o garoto, que entendia de primeira, acenando positivamente, apesar de ainda ter nervosismo em seu olhar.

Mestra e aprendiz utilizam o poder em suas botas e as veias em suas pernas se tornavam enegrecidas e destacadas.

Ethan ainda sentia muita dor e quase tropeçava pelo coturno estar sugando sua energia vital, já Mary estava tão acostumada que nem reação teve, e os dois aceleravam e começavam a correr muito mais rápido que antes, até ultrapassando Lucy e David, que ficavam impressionados.

Mas os dois também não tinham muito tempo para pensar nisso, pois quase foram agarrados por um ghoul, que acabava ficando as garras no chão. David então começava a novamente deslizar por uma superfície de gelo que era criada automaticamente por onde ele percorria, e Lucy bombeava mais sangue em suas pernas para correr mais rápido.

Os rapazes que não estavam na perseguição pegavam pedaços grandes de casas para arremessar no grupo, enquanto as fêmeas se preparavam para gritar.

Mary e David estavam mais no meio, e, ao olharem para trás e verem os destroços chegando, o singular gélido criava no susto uma barreira de gelo atrás de si, protegendo-o do impacto, enquanto Mary precisou acelerar ainda mais para não ser atingida.

O que ela não esperava era que, atrás desse, estava vindo outro destroço, que Mary só conseguiu ver de relance. Então, aproveitando que já estavam na beirada do terraço e de que precisariam saltar para alcançar as janelas de um prédio em ruínas, a albina segurava a mão de Ethan.

David e Lucy olhavam para trás e viam o destroço se aproximando. No susto, o rapaz abraçava sua parceira e, assim que chegavam na beirada do terraço, criava um pilar de gelo embaixo de si, permitindo que ele saltasse mais alto para chegar na janela também.

Enquanto percorriam o interior do prédio, as ghouls fêmeas soltavam seus gritos, que incrivelmente ainda conseguiu alcançar onde o grupo estava e ressoar nas paredes, quase desmaiando os quatro pela dor nos ouvidos e na cabeça.

Essa desacelerada fez com que um canibal fosse capaz de chegar perto de Ethan, saltando para cima dele com a boca aberta.

Porém, nem mesmo gritos estridentes como aqueles foram capazes de desconcentrar Mary, que sentiu a energia singular do canibal se aproximando e estendeu seu braço direito no último segundo, protegendo Ethan e fazendo o ghoul abocanhar seu membro.

Por ser o braço que utilizava a braçadeira, praticamente nenhum dano foi causado nele, mesmo com uma mordida potente daquelas, porém era evidente que aquele peso seria um problema para Mary, pois ele também estava forçando para tentar frear.

Nisso, David agiu rápido, concentrou-se e realizou um movimento de jogar algo vindo do chão na direção do canibal. Nisso várias estacas de gelo surgiam do chão e perfuravam a cabeça e tronco do ghoul, deixando-o preso ali.

— Lucy! – ele grita para a ruiva logo ao seu lado, David já começava a preparar mais uma carga de névoa gélida em sua mão. Lucy entendia e aproveitava o sangue que estava nas roupas e rosto de Mary para fazer uma bolha de sangue. – Três, dois, um!

E assim os dois espalham o sangue e a névoa por todos os lados, novamente ocultando a visão dos perseguidores e confundindo seus olfatos.

— Droga, de novo! – um dos canibais dizia, indignado.

Os quatro agora se encontravam dentro de um sobrado que havia do outro lado do prédio que percorreram, escondidos atrás de um enorme sofá, ainda quietos e tentando controlar suas respirações para não chamar a atenção.

Eles esperavam que o plano novamente desse certo, porém eles conseguiram escutar um ghoul aterrissando bem no cômodo em que estavam, depois outro, e seguido de outro.

— Vamos, parem de brincar e apareçam, só estão me deixando com mais fome! – Henri dizia, direcionando seu olhar para o sofá e se aproximando lentamente.

Ethan estava quase lacrimejando de nervosismo. Vendo isso, Mary então apontava para a vidraça na frente do grupo. Eles olhavam, acenavam positivamente, e se preparavam para pegar impulso.

Henri também preparava suas garras, e, nesse momento, Mary começava a contar nos dedos: três, dois, um. No um, os três do grupo e Henri saltavam com tudo que conseguiam, quebrando a vidraça e se jogando do segundo andar daquele sobrado.

A albina foi a única que ficou, pois, enquanto contava, ela começou a utilizar o poder de sua braçadeira, e as veias em seu braço também ficavam escuras e salientes. Quando seus companheiros e o Henri saltaram, Mary levantou-se e virou rapidamente, dando um soco no rosto do rapaz.

O impacto do golpe da albina foi forte o suficiente para não só quebrar a mandíbula dele, como também entortar seu pescoço, mesmo sendo um ghoul, portanto mais resistente que um humano normal, aquilo aconteceu.

Henri nem sabia como deveria reagir àquilo, pois, de um instante para outro, suas artérias do pescoço foram rompidas por girarem muito rapidamente, sua pele torcida e ele estava sendo arremessado na direção oposta, tudo por causa de um soco.

Ele atingia a parede e perdia a consciência na hora, espalhando sangue pela estrutura. Os outros canibais notavam Henri sendo arremessado e partiam para cima de Mary, que parecia sentir um pouco de dor no braço que socou.

Ela então saltava de costas, desviando dos golpes que vinham e por fim dava um mortal para trás na varanda após a vidraça, aterrissando no chão e dando uma cambalhota, levantando-se rapidamente. Assim que ficou de pé, Mary notou os canibais saltando e mais deles vindo por trás, então ela pegava impulso e saía correndo para alcançar seus companheiros.

Assim que chegou perto, ela já foi questionada:

— O que pretendia?! – Lucy perguntava, ofegante já de tanto correr.

— Isso importa? Pense primeiro em despistar esses ghouls. – Mary respondia, serena como sempre.

— Falar é fácil! – Lucy gritava.

O caminho adiante era cheio de destroços e buracos, junto de troncos e galhos grossos de árvore retorcidos. Mary e Ethan deslizavam por debaixo de um bem no caminho deles, David usava seu poder e congelava um galho enorme, para Lucy rapidamente preparar e disparar algumas balas de sangue, destruindo o obstáculo e abrindo passagem.

Os quatro tinham que pensar e se esforçar para desviar e saltar, enquanto os ghouls, por serem praticamente predadores humanoides, encaravam os obstáculos com extrema facilidade. Victor e Rebecca estavam na liderança para serem os primeiros a capturarem o banquete do grupo.

Lucy então sentia algo estranho, parecia um cheiro forte que ela em específico conseguia sentir. Ela olhava em volta enquanto corria e entendia de onde o cheiro estava vindo: de um buraco no chão um pouco à frente e à direita, entre duas casas destruídas.

— Sangue. – a ruiva entendia e acabava tendo uma idéia, ela então virava o olhar para o singular gélido. – David! Usa sua névoa! – ela dizia enquanto aproveitava o corte que fez em seu braço para jogar seu sangue nos três singulares, que ficam confusos com isso.

— O quê!? Por quê?! Não deu certo! – respondeu ele, também já muito ofegante.

— Confia em mim! Usa e me sigam! – Lucy gritava para os três. David ainda não entendia, mas começava a preparar uma esfera de vento gelado.

Mary não estava muito certa daquilo, mas decidia dar o braço a torcer quando viu Ethan se aproximando dos dois, meio que no desespero.

– Agora!

O singular gélido então dissipava aquela névoa fria novamente, aproveitando para junto disso criar algumas estacas de gelo no chão para atrasar os ghouls.

Novamente sem visão, os canibais imaginavam que seria fácil encontra-los depois de passar daquela fumaça. Porém, somente o que sentiram depois que passaram da névoa foi um sentimento de ânsia e a maioria deles sentiram refluxo por causa do cheiro que estavam sentindo.

Seus olfatos aguçados não estavam permitindo que eles se aproximassem mais, independentemente da direção que o grupo tivesse ido.

— Urgh! Carne podre... – Victor dizia, segurando-se para não vomitar.

— Não dá... Não dá. – Rebecca também reclamava, enojada, já dando meia volta dali.

— Droga...– Victor respondia, um pouco frustrado por ter deixado o grupo escapar novamente.



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