Volume 2
Capítulo 143: Prepotência Cruel
— Oi? É… Alaric? — perguntou, observando a determinação em seus passos que pareciam guiá-lo em direção ao lago próximo. — Isso não me cheira a coisa boa…
Mesmo com uma leve tensão em sua voz, a curiosidade a impulsionou a seguir. Após caminharem pelo terreno coberto de folhas e terra, chegaram à parte mais lamacenta da beira do lago. Quando Alice estava prestes a dar mais um passo, quase tocando a água com a ponta do sapato, Alaric a deteve com um braço protetor estendido à sua frente.
— Pare por aqui, avançar mais não é muito indicado — disse ele, observando a superfície azul do lago com um olhar atento, como se buscasse algo específico entre as ondulações.
Alice o fitou por um momento, confusa com a interrupção e o tom alarmante de suas palavras. A expressão de Alaric era intensa, seus olhos brilhando com um foco quase obsessivo enquanto examinava a água. Ela girou o pescoço, tentando entender o motivo de sua preocupação, mas a superfície tranquila do lago parecia imperturbável, sem sinais visíveis de anormalidade. As folhas que caíam das árvores, o canto distante dos pássaros, e a brisa suave não revelavam nada fora do comum.
— Poderia, por amor aos deuses, me dizer o que está procurando? Por que viemos até aqui, tão perto do lago? — perguntou ela, com a impaciência claramente estampada em sua voz. Suas sobrancelhas se franziram ainda mais, juntando-se em uma linha profunda no centro da testa.
— Apenas fique quieta e observe — respondeu, com uma secura que não deixava espaço para questionamentos.
— Você me mandou calar a boca? — Ela parecia indignada, com o cenho franzido de forma ainda mais intensa. — Olha, só minha mãe tem esse direito, bem, tinha… Mas, isso não vem ao caso! Eu vou… Que merda é essa…?
Enquanto suas palavras se desvaneciam, o lago, que antes repousava em uma calma quase meditativa, começou a se transformar. As ondas, que eram suaves e tranquilas, começaram a se agitar com uma intensidade crescente. O ritmo das ondas acelerou, aumentando em altura e frequência, como se uma força invisível estivesse puxando e retorcendo a superfície das águas. A serenidade do lago foi rapidamente substituída por uma perturbação turbulenta, revelando gradualmente a origem da inquietação para os dois que observavam, com os olhos fixos e a respiração suspensa.
Herafundite, a criatura que havia ameaçado Alaric ao chegar ao lago, emergiu do epicentro da agitação com um rugido profundo que fez as ondas se chocarem contra a margem. Seu corpo colossal, coberto por escamas iridescentes que refletiam o brilho do sol em tons reluzentes de branco, se ergueu acima da linha d'água, dominando o cenário com sua presença imponente. Seus olhos, pequenos em comparação com o tamanho da criatura, brilhavam com um olhar de desconfiança e ameaça, fixando-se em Alaric e Alice como se pesassem cada movimento deles.
— Este será o responsável por nos garantir mais sessenta pontos — afirmou Alaric com uma confiança firme.
Alice, ao lado, não parecia compartilhar de tal perspectiva ou confiança. Em vez disso, tremia visivelmente diante daquele ser colossal.
— Enlouqueceu? Os ferimentos afetaram seu cérebro ou algo assim? — Sua voz tremia com um medo palpável e uma pitada de incredulidade, enquanto sua mente lutava para compreender a magnitude da ameaça diante deles. — Como, em sã consciência, acha que conseguiremos sequer desferir um único golpe nesse monstro?
— Não enlouqueci, tanto que não vou enfrentá-lo agora… — Ele observou o ser, que parecia preparando para algum ataque. — Na verdade, afaste-se do lago.
Ela mal teve tempo de processar o que estava acontecendo quando sentiu os braços firmes do jovem envolverem sua cintura. Com um movimento abrupto e ágil, seus pés foram elevados do chão e o ar ao seu redor parecia se esvair. Em um instante, ela foi erguida, distanciando-se da beira do lago onde o Herafundite havia se aproximado ameaçadoramente. O monstro havia tentado abocanhá-los, mas para sua infelicidade, só encontrou o vazio.
Com destreza, Alaric pousou no chão, dobrando os joelhos para amortecer o impacto. Ao fazê-lo, ele posicionou a garota com cuidado sobre o solo, assegurando que ela estivesse em segurança antes de liberar seu aperto protetor.
Com uma precisão impressionante, Alaric aterrissou no chão, dobrando os joelhos para absorver o impacto e garantir uma aterrissagem suave. Com cuidado, ele posou a jovem sobre o solo, certificando-se de que ela estivesse segura antes de soltá-la, aliviando seu aperto protetor.
— Obrigada... — Ela murmurou, a voz ainda carregada de alívio. Contudo, seu semblante logo se fechou em desagrado. — Mas não faça algo tão repentino assim! Avise antes de mover meu corpo de lugar!
— Se eu tivesse esperado para que você reagisse, aquele monstro já teria nos devorado — respondeu Alaric, com uma serenidade quase irritante, enquanto ignorava completamente a expressão de frustração dela. — Em vez de perder tempo reclamando, você deveria estar pulando para o lado...
— O quê? — O rosto dela se contorceu em uma expressão de total confusão. Em um piscar de olhos, o jovem agarrou firmemente seu antebraço. — Espere, o que você está fazendo?
Antes que pudesse obter qualquer resposta, ela foi arrastada para o lado como uma boneca de pano lançada pelo vento. No exato local onde estivera, um jato pressurizado de água passou com força devastadora, arrastando tudo em seu caminho. Árvores foram arrancadas pela raiz, arbustos foram despedaçados e até alguns animais desavisados foram lançados ao ar, sendo lançados contra as paredes da floresta. O puxão a fez ser deslocada sem rumo, seus passos vacilaram e se entrelaçaram desajeitadamente. Nesse momento, o equilíbrio a abandonou tristemente, e ela acabou caindo de bunda no chão, sem qualquer traço de elegância.
— Argh... — Ela gemeu ao sentir a dor da queda. Os pequenos gravetos eram tudo menos confortáveis quando se caía de qualquer jeito sobre eles. — Acho que vou precisar de um bom descanso depois de tudo isso...
— E eu, de uma bebida. Uma boa cerveja ou um ótimo vinho... Whisky também é uma boa escolha — respondeu Alaric, olhando para ela caída com uma expressão de leve diversão. Seus olhos brilhavam com uma mistura de simpatia, junto a ironia. — Aqui, deixa eu te ajudar.
Ele estendeu a mão com um gesto firme. Seus dedos, embora ásperos e bastante calejados, transmitiam uma confiança reconfortante. Com um puxão cuidadoso, a auxiliou a se erguer. Alice, agora de pé, olhou ao redor, ainda atordoada, enquanto os dois voltavam sua atenção para a criatura que, após o último ataque, parecia finalmente ceder. A enorme sombra que se estendia sobre a água lentamente se afundava nas profundezas do lago, desaparecendo na escuridão das águas tranquilas.
— Certo, agora que, aparentemente, estamos fora de perigo e, com sorte, sem mais surpresas, poderia me explicar o que está acontecendo?
Alaric apoiou uma mão na cintura e a observou com seriedade.
— Como mencionei antes, minha intenção é abater aquela criatura — declarou com firmeza. — Mas, como já disse, é impossível para nós, nas condições em que estamos. Portanto, meu plano é estudar esse ser primeiro.
— Aff... Você não vai desistir disso, vai? — Ela suspirou, recebendo apenas uma negativa com a cabeça por parte dele. — Ah, tudo bem então... Mas! Nada de atacar a criatura sem um plano, entendeu? Se é para estudar, vamos fazê-lo corretamente, a fundo! Certo?
— Se eu fizer qualquer coisa diferente, você vai acabar reclamando incessantemente, como uma maritaca... Então, tudo bem, prometo que vou seguir o plano.
Ela estendeu a mão em direção ao peito dele, com o punho fechado e apenas o mindinho estendido em um gesto peculiar. A floresta parecia ter ficado em silêncio, como se respeitasse aquele momento entre os dois, a luz suave da manhã filtrava-se pelas copas das árvores, lançando um brilho tênue sobre os dois. Alaric, com uma expressão de incredulidade, inclinou a cabeça e ergueu uma sobrancelha, observando o gesto com um misto de espanto e ceticismo.
Para evitar discussões desnecessárias e atender ao pedido implícito, ele estendeu seu próprio mindinho. O simples gesto parecia carregar um peso de significados ocultos, uma mistura de cumplicidade e relutância. Os mindinhos se entrelaçaram com um leve toque, selando a promessa com um pacto silencioso, como se aquele ato minúsculo pudesse sustentar o compromisso mútuo.
A partir daquele instante, o ambiente ao redor parecia mudar, como se uma nova etapa estivesse prestes a começar. Além das outras tarefas do dia, eles se dedicariam a observar a criatura, testá-la e estudá-la. O objetivo era claro: preparar-se para, quem sabe um dia, conseguir derrotá-la. A jornada de estudo e preparação começava ali, marcada por uma promessa de empenho e colaboração mútua, uma promessa que agora parecia ressoar no silêncio da floresta e no entrelaçar dos mindinhos.
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O dia já havia começado cedo para Alaric e Alice, mas para Patrick, era como se o tempo tivesse começado antes do amanhecer. Era por volta das cinco da manhã quando o jovem de cabelos vermelhos escuros, como o sangue seco, avançava pela floresta com a determinação de um explorador experiente ou de um caçador implacável. Seus passos eram firmes e silenciosos, cortando o mato denso com precisão. Atrás dele, Vincent lutava para acompanhar, carregando um enorme pedaço de carne nas costas, cuja enormidade era evidente pelo esforço visível em cada passo que dava. Seu rosto estava contorcido em uma mistura de dor, junto a exaustão, enquanto lutava para não ser derrubado pelo peso.
— Senhor Patrick, poderia me dizer o que faremos hoje? — a voz de Vincent era entrecortada pelas respirações ofegantes, cada palavra sendo uma luta para sair. — Não quero continuar carregando esse peso sem saber o que está por vir, se possível…
Patrick apenas fez um som de desdém, um grunhido baixo, carregado de desprezo.
— Humph, você carregará essa carcaça, ou qualquer outro peso que eu determinar, mesmo que tenhamos que andar em círculos infinitamente. Não me interessa se quer ou não.
A resposta de Patrick foi como uma lâmina fria, cortante, sem misericórdia. Vincent deu um pequeno espasmo, seu tronco se inclinando para trás de forma involuntária, enquanto engolia em seco, com um medo tangível nos seus olhos. As palavras de Patrick eram impregnadas de uma ameaça clara, uma ordem que não admitia contestação. Patrick, sem desviar sua rota, afastou alguns galhos de sua frente com um movimento brusco, esmagando qualquer inseto que tivesse a má sorte de estar em seu caminho. Enquanto afastava um arbusto robusto, ele percebeu o silêncio ansioso que pairava atrás dele e estalou a língua, dizendo com um tom de irritação:
— Hoje, exploraremos a área em busca de possíveis criaturas para abatê-las — disse, soltando um bufar de desprezo pelo nariz. — Para eu abatê-las, no caso.
— Espero que encontremos algo logo... — murmurou Vincent, com um tom de angústia que parecia penetrar cada sílaba. A tristeza em sua voz era grande, e o peso da carcaça que carregava se tornava cada vez mais insuportável. O fardo era até tolerável quando se fazia pequenas distâncias, mas carregar aqueles quarenta quilos por horas a fio, sem um destino definido, transformava a situação em uma verdadeira tortura. Era uma crueldade desumana, uma exaustão que parecia sufocar qualquer vestígio de resistência, e Vincent precisava suportar tudo isso para evitar represálias. — Não sei por quanto tempo mais vou aguentar…
Patrick, com um gesto brusco, arrancou um galho grosso que bloqueava seu caminho. O som da madeira se partindo e se retorcendo foi alto e seco, mas não abafou o murmúrio melancólico de Vincent. Sem um olhar para trás, Patrick arremessou o galho para o lado com desdém, e soltou uma risada de superioridade que parecia vir do fundo de sua garganta.
— Sua fraqueza é inacreditável. Tenho pena de sua mãe por ter um filho tão frágil, uma decepção como você.
No instante em que as palavras ácidas de Patrick ecoaram, como uma piada de mau gosto lançada ao vento, Vincent sentiu a raiva subir como uma maré inevitável, um impulso primal que mal conseguia conter.
— Não fale da minha mãe, não mencione nada sobre minha família! — A voz de Vincent rasgou o silêncio, carregada de uma fúria latente que fazia suas veias pulsarem em vermelho. O que acabara de ouvir era inaceitável; ele não podia, não iria, permanecer em silêncio. — Eles sempre fizeram tudo por mim... Mesmo não sendo uma das pessoas mais fortes deste mundo... ainda assim, ela não se importava com isso, ela sentia orgulho de mim, e eu não vou aceitar que você desdenhe disso! Não vou permitir!
Patrick, ignorando o fervor de Vincent, sentiu aquelas palavras como um insulto pessoal. Com um movimento brusco, virou-se e arremessou o outro contra o tronco robusto de uma árvore. O impacto fez com que as folhas ao redor tremessem e girassem no ar, como se dançassem ao ritmo de uma melodia amarga.
— E vai fazer o quê? — A voz dele era como um rosnado desdenhoso. — Olhe para você, é como um frágil papel que se rasga ao menor toque. Esse é você: inútil, fraco, sem perspectiva de qualquer futuro que possa conter um pingo de força. Até sua convicção não vale nada, aceitando ser tratado como um burro de carga por mim! E agora vem tentar se impor? Haha! Que piada… — Ele empurrou Vincent novamente contra a árvore, e o som do impacto ecoou pelo bosque. — Sua mãe não sentia orgulho de você, apenas não queria te ver sofrer. Assim como qualquer mãe faria, ela mentiu para que se sentisse melhor…
A carcaça estava amarrada a Vincent, o que impediu que ele caísse ao ser lançado contra a árvore No entanto, as costas latejavam, e mesmo com a dor, seu olhar mantinha a mesma intensidade imperturbável.
— Mentiu? Quem mentiu foi a sua mãe, Patrick, quando te convenceu de que era tudo isso, de que era superior a alguém, sendo que não é! Eu… Patrick…
O jovem à sua frente possuía olhos de um verde oliva intenso, que agora pareciam brilhar com uma fúria transcendental, fixos no rosto do outro. O que era aquilo? Vincent sentia suas pernas tremerem; apenas encarar aquelas íris fazia um frio percorrer sua espinha. Ele queria fugir dali, escapar daquela situação. Havia cometido um erro terrível ao tentar rebater as palavras de Patrick; parecia uma tolice agora. O olhar de Patrick era abrasador, como as brasas de uma casa em chamas, consumida pelo calor devastador de um dragão.
— Não mencione minha mãe... — Patrick rosnou, afastando uma das mãos e invocando sua lança com um gesto rápido e preciso. — Vou te ensinar, Vincent, a manter a boca fechada e a não desafiar alguém superior a você. Aprenderá a aceitar as críticas em silêncio e a abaixar a cabeça sempre que eu falar. — Ele pressionou a ponta da lança contra a bochecha do jovem, a lâmina cortando a pele e deixando um rastro de dor aguda. — Hoje, você aprendeu a latir de forma irritante; arrancarei sua língua para que nunca mais possa latir novamente...
— Calma, Patrick... Por favor, não faça nada precipitado — A bravura de Vincent desmoronou, dando lugar a um medo primal. Era impossível manter a coragem quando se tinha uma lâmina apontada para si. — Me perdoe, eu…
— Perdão? O tempo de perdão já passou, Vincent. Pensasse nisso antes de abrir o esgoto que chama de boca… Realmente, um plebeu nunca sabe se colocar em seu devido lugar…
— Socorro! Alguém! Por favor, socorro!
Quando Patrick estava prestes a cometer uma atrocidade, uma pressão sólida e inesperada surgiu na lateral de sua barriga. Ele foi lançado alguns metros para o lado, e, de repente, Vincent se viu sem o jovem raivoso grudado a ele. Contudo, o alívio foi efêmero; um bafo quente e carregado de uma entidade recém-chegada envolveu o rosto de Vincent, preenchendo o ar com uma presença ameaçadora e imponente.
— O q-que… — Vincent murmurou, desviando o olhar com crescente terror para a criatura diante dele. O ser parecia um imenso porco bípede, com cerca de três metros de altura, e empunhava um porrete colossal. Seus grandes narizes suínos farejavam Vincent de maneira ameaçadora. Após uma inspeção minuciosa, a criatura ergueu o bastão, um gesto que prometia nada de bom. — Espera… Merda! Merda! Merda!
O porco gigante grunhiu e moveu o porrete com uma fúria voraz em direção à cabeça do jovem. O fim parecia iminente para Vincent, a morte estava à espreita, mas então, do mais puro nada, uma lança cortou o ar com precisão. A arma, que antes estava prestes a perfurar sua língua, acertou a barriga volumosa do porco. A criatura soltou um grunhido dolorido, com a lança fincada em suas entranhas, e deu alguns passos vacilantes para trás, tentando se recuperar do impacto inesperado.
— Seu maldito porco! — Patrick rosnou, a voz estava carregada de fúria e dor. Ele se encontrava em pé, mas seu corpo parecia tenso, bastante contido, com uma das mãos pressionada contra a lateral do estômago, onde a porcaria do golpe o atingira. Seu rosto estava retorcido em uma careta de dor agonizante, mas o que distorcia sua expressão era a intensidade da sua raiva. — Quem pensa que é para me tocar com essas patas nojentas? — Ele avançou um passo, a raiva que sentia era visível em cada movimento, como se quisesse esmagar aquela maldição com o próprio olhar. — E mais uma coisa, ninguém além de mim tem o direito de pôr a mão nesse moleque…
— Obrigado? — Vincent colocou a mão sobre o peito, sentindo o coração disparado enquanto tentava discernir se as palavras de Patrick eram boas ou ruins. Era bem confuso na verdade. O temor e a confusão o paralisavam, mas não havia tempo para pensar, pois a criatura ainda estava em ação. — Ah, droga!
O suíno, em um frenesi de fúria, brandiu seu porrete com uma força descomunal, mirando qualquer um que estivesse ao alcance. E, por uma cruel ironia, Vincent era a vítima escolhida. O golpe foi devastador, e o jovem apenas conseguiu escapar devido a um reflexo quase sobrenatural que o fez se abaixar a tempo. O porrete passou com violência, despedaçando metade da árvore atrás, criando uma nuvem de estilhaços e sujeira.
Aproveitando a brecha, Vincent não hesitou e se lançou em direção a um canto que parecia mais seguro, correndo com a rapidez de alguém que sabia o quanto estava por um triz.
— Maldito covarde… — resmungou Patrick, seus olhos brilhando com desprezo ao observar Vincent fugir, com a postura encurvada e os passos apressado. Com um gesto desdenhoso, ele estendeu a mão para o céu, fazendo com que a lança que havia penetrado a criatura reaparecesse em sua mão. Seus dedos se fecharam firmemente ao redor do cabo, e ele a trouxe para perto do corpo, com uma expressão de satisfação fria. — Que seja, serão mais vinte ou sessenta pontos para mim.
Patrick franziu o cenho, fixando os olhos na figura diante dele. A criatura à sua frente era um orc, de pele esverdeada e músculos enormes, mas para Patrick, era apenas mais uma distração.
O orc, no entanto, não era o tipo de criatura a ser ignorada. Sua expressão era uma tempestade de raiva, e seu porrete, um tronco grosso de madeira, estava firmemente agarrado perto do corpo.
— O que está olhando, leitãozinho? — rosnou Patrick, a voz áspera e cheia de desprezo. — Perdeu a mamãe porca por aqui?
Provocação baratas, mas essas palavras foram a centelha que incendiou a fúria do orc. Sem hesitar, e com um rugido de raiva primordial, ele lançou-se na direção de Patrick. Seus passos pesados faziam o chão vibrar, cada avanço carregado com a força de um guerreiro implacável, determinado a resolver a afronta com um ataque brutal.
Patrick observou com um sorriso sutil, satisfeito ao ver que o orc estava exatamente onde ele queria. O jovem preparou a lança, posicionando-a atrás da linha do corpo, os músculos se tornaram rígidos e visíveis sob a pele. Com um movimento fluido e carregado de força, lançou a arma. A lança cortou o ar com uma precisão letal, como se atravessasse um vácuo absoluto. O zumbido cortante da arma ressoava pela distância, imperturbado pelo vento. O orc, em sua corrida desenfreada, não teve tempo nem chance de se defender. Apenas ouviu o som infernal da lança passando ao seu lado.
O orc parou abruptamente, sentindo o calor penetrante escorrer pelo braço e uma queimação intensa se espalhar pelo ombro. Desconcertado, ele levou a mão ao local ardente, sentindo a sensação de que estava tocando brasas incandescentes. No entanto, ao invés de sentir a pele danificada, ele experimentou um vazio angustiante. Girou o pescoço lentamente, a confusão e o medo estampados em seu rosto, até que seus olhos encontraram o local do ferimento. O que viu foi um abismo de dor: a lança havia atravessado seu ombro, explodindo carne e sangue em um espetáculo grotesco. O braço estava pendurado apenas por um pedaço de pele remanescente, o ombro estava praticamente desaparecido, transformado em um vazio aterrorizante.
— O porquinho perdeu o pernil… Que desperdício de carne… — cacoava Patrick, com um desprezo irritante, enquanto a lança reaparecia em sua mão, reluzindo com uma frieza cortante.
O sangue jorrava das feridas abertas do orc, espirrando em uma dança grotesca de vida e morte. O orc tentava desesperadamente estancar o fluxo, pressionando a mão livre contra o ferimento, mas a dor e a perda de sangue tornavam sua tentativa fútil. Seu braço pendente, ainda agarrado ao porrete, parecia um peso morto. Ossos estilhaçados, tendões rompidos e músculos dilacerados formavam uma cena aterradora ao seu redor, evidenciando a devastação que Patrick havia causado. Seu olhar, antes carregado de ódio, agora era uma mistura de medo e desespero.
Mas a misericórdia não encontrava lugar no coração de Patrick. Com um movimento preciso, ele lançou a lança novamente. O projétil cortou o ar com uma velocidade implacável, levando a perna do orc consigo em um estalo seco. O corpo do monstro desabou no chão, e ele se apoiou com dificuldade em um braço, a situação da pobre criatura estava cada vez mais precária.
— Minha mira está péssima hoje… — murmurou, com um tom de desapontamento irônico, antes de soltar um riso sarcástico que reverberou no ambiente. — Até parece.
Na verdade, não era uma questão de mira ruim, mas sim de um jovem corrompido pela prepotência, que brincava com a vida de maneira sádica e cruel. Contudo, sua diversão brutal teve um fim abrupto.
— Ora… As coisas estão ficando cada vez melhores… — murmurou Patrick, com um sorriso de satisfação que logo se transformou em uma expressão de surpresa.
Entre as árvores, surgiram novos corpos robustos, tão imponentes quanto o orc abatido. Eram mais orcs, talvez uma dúzia ou mais, cada um com uma expressão feroz e uma determinação inabalável. Seus olhos brilhavam com uma fúria coletiva, e a única convicção que compartilhavam era a de destruir aquele que se deleitava com o sofrimento de seu semelhante. Patrick, agora, havia se tornado o alvo de um bando de orcs enfurecidos, e a diversão de sua cruel caçada estava prestes a encontrar uma resposta igualmente brutal.