Volume 1

Capítulo 74: Patético, minha majestade

Mani despencava do céu noturno após levar a rajada flamejante de Astrid, sem nada poder fazer, nenhum movimento para empregar ou ações que poderia impedir sua triste e dolorosa queda, e encontro com o solo.

“Maldição, meu corpo inteiro está dormente…” Nem falar ela era capaz; ela só conseguia expelir a fumaça branca de seu sangue fervente. A pele impecável e bela se encontrava em estado deplorável, vermelha como tomate, coberta por bolhas de sangue 

“Se eu encontrar o solo… Vão me matar.” O triste pensamento de ser capturada pelos rapazes que a aguardavam embaixo pairava em sua mente, a apavorando.

“Não posso… não posso… não posso morrer…” Sua vista estava embaçada, os sentidos inexistentes; talvez isso que ainda a mantinha viva, apesar da dor descomunal de ter todo seu corpo tostado.

“Uma última vez… funcione, meu poder…” A vista embaçada se escureceu quando as pálpebras de Mani baixaram. Por algum ato de benevolência divina, seu poder de teletransporte se ativou, levando-a para um lugar distante, salvando-a da morte iminente.

— Ela sumiu... — Gideon murmurou de cima de um dos pinheiros, seu olhar estava fixo no céu no momento em que Mani desapareceu. — Droga!

A frustração o dominou ao contemplar toda a persistência e determinação que Astrid demonstrara para ferir aquela deusa, ser em vão e, apenas vê-la desaparecer sem deixar vestígios.

Sem mais nada para observar no alto, ele começou a descer da árvore, tomando cuidado para não cair. Afinal, seria um encontro doloroso com o solo que estava a alguns metros de distância. 

Não demorou muito para os pés dele sentirem a reconfortante dureza do solo pouco nevado. Com um suspiro aliviado, buscou os olhos de Alaric.

— Você acha que ela foi longe? — indagou, batendo as mãos para limpar a sujeira.

— Considerando o quão debilitada ela estava... — Os olhos do jovem buscaram o céu em ponderação antes de voltar para Gideon. — Provavelmente não, mas não podemos ter certeza, afinal, ela é uma deusa.

Após terminar de bater as mãos, Gideon cruzou os braços, meio desconcertado com aquela incerteza. Era perigoso ficar andando por aí, com uma deusa maluca à procura de vingança. 

A situação iria se intensificar com a humilhação que sofreu para Astrid. No entanto, todas as preocupações que pareciam nublar sua mente se dissiparam quando dos céus surgiu aquela presença tão bela que só poderia ser considerada divina.

Era Astrid já em sua forma humana, parecendo debilitada, um pouco cansada. Gideon rapidamente descruzou os braços e avançou em direção à garota.

Parando logo abaixo dela, esticou os braços e recebeu o corpo da garota com leveza, que pareceu derreter ao tocar sua pele.

— Estou cansada... — Manhosa, deixou-se cair nos braços do jovem, sem se preocupar. — Isso é lutar então…?

— Com certeza, e você se saiu muito bem, até melhor do que qualquer um aqui — sussurrou com carinho, enquanto delicadamente afastava algumas mechas dos belos cabelos prateados que caíam sobre o rosto dela. 

— ... Sério? — Uma sensação reconfortante invadiu seu peito, e um sorriso terno embelezou os lábios daquela pequena dragonoide. — Que bom...

— Astrid... eu... — Antes que ele pudesse revelar os sentimentos que guardava no coração, sentiu o confortável toque da palma da mão de Astrid em seu rosto.

Sem mais palavras, envolto naquele calor reconfortante e na sensação suave das mãos dela,  aproximou seu rosto do dela. Seus lábios estavam a centímetros de distância, até se encontrarem em um beijo amoroso, que selou o momento.

Aham! — Com o punho à frente da boca, Alaric forçou uma tosse, acabando com o momento romântico entre os dois. — Nossa missão ainda não acabou.

Os dois estavam tão imersos na atmosfera reconfortante e acolhedora, que Gideon havia temporariamente esquecido que ainda segurava a jovem em seus braços. Com cuidado, ele a soltou, deixando-a de pé no chão.

Ao sentir seus pés novamente tocarem o solo, Astrid repentinamente processou que não estavam sozinhos; outras pessoas ainda estavam presentes ao redor deles. Um calor repentino tomou conta de suas bochechas, enquanto o rubor se intensificava, fazendo-a desejar encontrar um buraco para se esconder.

— Astrid, você se tornou tão forte... — No entanto, seus pensamentos e vergonha foram interrompidos quando Aldebaram chegou e gentilmente pousou a mão em seu ombro. — Estou muito orgulhoso de você...

— Pai... — Os olhos amarelados da jovem se encheram de lágrimas enquanto recebia o reconhecimento daquele que a havia acolhido. — Obrigada...

Aldebaram, visivelmente sem jeito, tratou de se afastar rápido, antes que seus próprios olhos se enchessem de lágrimas. No final das contas, aquele guerreiro tinha um coração terno quando se tratava de sua filha.

— E agora, Alaric? — indagou Aldebaram, vendo a jovem à sua frente. — Vamos para onde?

— Onde você me pergunta... Estudenfel. — Uma resposta que o guerreiro gostou de ouvir, abrindo um largo sorriso. — Preciso acabar com os planos malucos daquele rei.

Não era como se Alaric se importasse mais com isso do que com sua vingança contra Dalian, mas como era um desejo de Aldebaram, ele acabou por aceitar fazer isso primeiro.

— Como vamos chegar lá? — perguntou Gideon, aproximando-se dos dois, com uma sobrancelha arqueada. — Digo, é longe, não é?

— Ele tem razão, garoto. — concordou o guerreiro, cruzando os braços. Só para chegar em Lidenfel foram cinco dias; agora teriam que voltar tudo. — Pelo menos uns dez dias.

Alaric virou-se para os dois com um sorriso confiante nos lábios, seus dedos tocando levemente os ombros deles. Inicialmente confusos, os dois seguiram o olhar determinado do jovem e logo compreenderam o motivo de sua confiança.

Porém, quem permaneceu perplexa foi Astrid, que subitamente se viu alvo de olhares intensos e carregados de expectativas. A sensação fez seu rosto corar instantaneamente, deixando-a ruborizada por completo.

No entanto, o jovem logo explicou suas intenções, que consistiam em utilizar a habilidade de transformação em dragão da garota para voarem até Estudenfel. Após discutirem os detalhes, todos decidiram partir.

A viagem transcorreu tranquilamente, com Astrid ainda mantendo sua energia, mas ao chegarem nas proximidades do reino de Estudenfel, ela sentiu suas últimas forças se esgotarem.

— Astrid! Faça um rasante no pátio do castelo! — ordenou Alaric, já invocando suas espadas, e então voltou-se para os outros dois. — Vamos saltar!

A razão por trás dessa invasão direta, sem muitas preocupações, residia no fato de que quase todo o exército de Estudenfel havia sido dizimado nas planícies de Lidenfel. O reino encontrava-se enfraquecido, e aqueles que restavam estavam em campanha em Windefel.

Um reino sem defesas, clamava por ser invadido. Astrid seguiu as ordens e passou em rasante pelo pátio, enquanto os outros três saltaram. Devido à proximidade do solo, suas pernas não sofreram impacto significativo.

A dragonoide, já exausta, decidiu pousar em algum lugar distante para descansar, deixando-os sem seu apoio para a batalha iminente.

— E quem seriam vocês? — À frente, sobre as escadarias, três homens apareceram, um deles ostentando uma coroa acima de sua cabeça. — Não que isso importe, se rendam para sofrerem menos.

Sem tempo para trocar palavras, Alaric, confiando nas suas espadas de luz, lançou uma delas na direção do homem sem hesitação, movido apenas pelo desejo de eliminá-lo.

O rei franziu o cenho, indignado com tamanha insolência. No entanto, apesar da raiva, não sentiu medo em seu coração, pois ao seu lado estava um poderoso mago de gelo.

Viki tomou a frente, movendo sua mão com graça pelo ar. Deixava um rastro azul onde sua mão passava, até que o gelo emergiu desse rastro, expandindo-se até formar um escudo perfeito.

Quando a espada de luz encontrou o escudo gélido, um som metálico ecoou, e a espada foi detida. Apesar de ser apenas gelo, era tão sólido que se mostrava inquebrável.

— Esse mago vai ser um problema... — resmungou Alaric, chamando sua espada de volta.

Entretanto, ele sentiu uma presença ao seu lado, fazendo-o saltar para se esquivar. O local onde estava antes se ergueu em meio à poeira, com o chão rachando. No entanto, aparentemente não havia ninguém ali, ou era isso que ele pensava.

— Thorn... — Aldebaram reconheceu imediatamente aquele homem e seus clones invisíveis. — Gideon, use o Escolion!

O jovem obedeceu, sacando a espada. Se os inimigos eram feitos de mana, então ao erguer a espada e emitir o brilho antimagia, eles desapareceriam. E assim aconteceu, pois os jovens deixaram de sentir as presenças próximas.

— Vamos, Gideon! — Alaric avançou, e seu irmão o seguiu. No entanto, instintivamente, o jovem sentiu algo se aproximando com grande velocidade. Ele desferiu um golpe horizontal no ar e sentiu algo sólido ser atingido. — Flechas!? Droga!

Os dois voltaram para as imediações de Aldebaram, defendendo as flechas que choviam sobre eles, mas a invisibilidade dos projéteis apenas complicava ainda mais a situação.

— O que desejam, afinal? — indagou o rei com calma, como se não estivesse sob ataque. — Gostaria de saber antes de vocês morrerem.

— Estamos tentando impedir um genocídio! — gritou Alaric, empregando toda sua energia para desviar das flechas. — Causado por um rei tolo como você!

As palavras atingiram o rei em cheio, pois apenas alguns poucos sabiam do plano, entre eles Viki, Thorn e Erne. Alguns deles haviam vazado informações? Desconfiado, o olhar do rei desviou-se para os dois ao seu lado, mas logo a suspeita se dissipou, pois eram leais demais para tal traição.

— Diga-me, jovem… Você já sofreu discriminação por causa da sua cor de pele?

— O que isso tem a ver? — A voz de Alaric elevou-se, irritado com as flechas incessantes. — Nada justifica um genocídio!

— Parece ser uma perda de tempo conversar com você então… — Virou-se de costas, pronto para partir, pois uma conversa com alguém tão ignorante não traria resultados. — Termine o trabalho, Viki.

Mas antes que o rei pudesse partir, Aldebaram tocou o ombro de Alaric, fazendo o jovem voltar a atenção para ele e perceber um sorriso de alguém que sabia de algo.

— Use a Magnus, a lança que supera qualquer defesa física. Use a vontade de Erne!

Era a lança do general, capaz de romper qualquer barreira. Alaric entendeu imediatamente. Assim  Aldebaram brandiu Misriam, criando uma onda de ar, para o jovem ter tempo para invocar a lança.

— Venha! Magnus! — Sua mão ergueu-se para o céu, emitindo um brilho dourado que tomou forma, transformando-se em uma lâmina dourada com uma haste negra, adornado com inscrições misteriosas.

Assim, Alaric empunhou a Lança de Magnus, a arma que ignorava qualquer obstáculo à vontade de seu portador.

— O que uma simples lança pode fazer? — zombou Viki, com um sorriso arrogante, confiante em sua barreira, um erro fatal.

Alaric esticou uma perna para trás, segurando a lança, suas veias pulsavam de adrenalina. Em um movimento fluido, arremesou a lança em direção à barreira. O rei virou-se para observar e ficou embasbacado ao ver a lança, a reconhecendo no mesmo segundo.

— É a lança de Erne! Viki, sua barreira!

O sorriso arrogante de Viki desvaneceu-se, mas era tarde demais, a lança atingiu a barreira. No mesmo instante, Alaric sentiu como se algo estivesse pedindo permissão ou comando; sem entender completamente, ele emitiu a ordem e, assim, a lança atravessou a barreira, como se a mesma fosse inexistente.

Do outro lado da barreira, atingiu aquele que a conjurara, Viki, acertando-o em cheio no estômago e atravessando-o.

— Droga! Thorn, cuide deles! — Sem hesitar, o rei correu em direção à sala do trono, ignorando Viki por completo.

— Então é assim que eu morro… — Com a mão sobre o buraco onde seu estômago deveria estar, Viki cambaleou para trás, encontrando-se com a parede do castelo, escorrendo até se sentar, deixando um rastro vermelho na tinta. — Que merda…

Seus olhos se cerraram em meio à cortina vermelha do sangue que escorria de sua boca. Thorn permanecia imóvel, enquanto seus clones executavam suas tarefas incansavelmente.

— Estou farto dessas duplicatas... — Alaric proclamou, convocando suas espadas de luz antes de avançar determinado.

Ao dar alguns passos, foi surpreendido por um golpe horizontal mirando sua cabeça. Com agilidade, esquivou-se habilmente do ataque, continuando sua investida. Porém, logo se viu ameaçado por dois novos ataques vindo pela frente.

Num movimento rápido, lançou suas espadas de luz, que encontraram e neutralizaram os dois clones invisíveis à sua frente.

Apesar de passar sem demonstrar nada pelas espadas aparentemente cravadas no vazio, Alaric sabia que estava cercado por clones. Contudo, estava longe de intimidá-lo, na verdade, isso ressuscitou um sorriso há muito ausente em seus lábios.

Com um salto gracioso, girou no ar com os braços abertos, e suas espadas cortaram o espaço ao redor como uma hélice. O som agudo das lâminas encontrando seus alvos encheu o ar, enquanto ele avançava destemidamente.

— Chegou a sua hora! — Alaric declarou, pousando no chão com confiança e avançando determinado na direção de Thorn.

Pela primeira vez, uma expressão de surpresa cruzou o rosto inexpressivo de Thorn, seus olhos se arregalaram momentaneamente. Alaric pegou uma de suas espadas, prontamente correspondida pela lâmina do oponente.

No momento iminente do impacto, Alaric lançou suas outras duas espadas, forçando Thorn a se defender e criando uma abertura crucial. Aproveitando-se disso, Alaric deslizou habilmente ao lado do corpo de Thorn, seu golpe certeiro cortou através de armadura e carne, levando consigo a vida do adversário.

— Acabou… — Com pesar, saltou e mudou de direção, voltando para o corpo já vacilante de Thorn. Ficando a espada nas costa do pobre homem, na região de seu coração, o atravessando até o outro lado. — Lutou pelo homem errado…

O corpo de Thorn tombou no chão, sua vida quase se esvaindo, quando uma silhueta humana surgiu ao longe, correndo em sua direção. Ao se aproximar, lançou-se sobre o corpo inerte.

— Pai! — Era Dborn, filho de Thorn, cujas lágrimas caíam sem parar sobre o corpo sem vida de seu progenitor. — Pai!

Alaric, indiferente ao desespero de Dborn, chamou suas espadas de volta para si e, com determinação, avançou em direção às imponentes portas do castelo, tocando-as com ambas as mãos para abri-las. Aldebaram e Gideon seguiram-no, também ignorando o jovem que chorava no chão.

“Creio que estou corrompido como Escolhido, na verdade...” refletiu Gideon, ao perceber a ausência de emoção diante da cena diante de si. Parecia que o título de Escolhido estava manchado dentro dele.

O jovem foi o último a atravessar as portas, que logo se fecharam atrás deles, abafando os soluços daquele que acabara de perder o pai.

Caminhando pelos corredores sombrios e vazios daquele castelo gélido, seus passos ecoavam como um peso do passado que permeava toda a estrutura. Finalmente, alcançaram a imponente sala do trono.

Sem hesitação, Alaric empurrou as pesadas portas e deparou-se com o rei assentado em seu trono, cercado pelos últimos leais soldados do reino.

— Aproximadamente cinquenta, não é? — A voz de Alaric denotava uma calma quase desconcertante. — Cuide deles, Aldebaram. Gideon, não precisa sujar suas mãos; não precisa matar.

Alaric estava ciente do impacto que a quase morte de Dorni pelas mãos de Gideon tinha tido sobre ele. Por isso, emitiu aquela ordem, que o jovem não contestou.

Ao perceber a ausência de Dorni entre os guardas, Alaric sentiu um alívio momentâneo. Não precisaria enfrentar aquele pobre jovem.

— Abrirei caminho, Alaric! — Declarou Aldebaram, avançando com determinação.

À vista do avanço de Aldebaram, os soldados logo se agruparam diante do trono, prontos para o embate.

Com um único movimento de seu machado, Aldebaram abateu cinco deles, lançando seus corpos como se fossem plumas. Era uma força colossal em forma de guerreiro.

Sabendo que deixaria o rei para Alaric lidar, Aldebaram optou por não usar os ventos cortantes que a sua arma, Misriam, produzia ao ser balançada.

Diante do ataque avassalador, os soldados se viram incapazes de recuar, pois defendiam a coroa com um zelo tolo.

Aldebaram avançou como um touro enfurecido, arrasando tudo em seu caminho. Nem mesmo as lâminas dos guardas conseguiam perfurar sua armadura de mithril; aqueles que tentavam eram reduzidos a nada pela fúria do guerreiro.

Empunhando Misriam como dois machados, Aldebaram desferia golpes impiedosos, despedaçando corpos como se fosse uma máquina destituída de compaixão.

Em questão de momentos, o chão transformou-se em um mar de sangue, pontuado por membros decepados e cabeças rolando entre os corpos inertes.

— Não há escapatória... — O rei, envolto no caos, percebeu sua derrota iminente, incapaz de oferecer resistência. — Maldição! Maldição!

— Chegou ao fim — declarou Alaric, avançando pelo caminho ensanguentado e lançando suas espadas nos últimos soldados que ousavam enfrentá-lo. — Aceite seu destino e ponha fim ao sofrimento de seus súditos.

O rei tremia de fúria, seus olhos refletiam o jovem cada vez mais próximo. Como tudo havia dado errado? O que havia acontecido?

— Por quê!? Maldição! — Ele golpeou o trono em desespero, em desgosto. — Por que tudo saiu do controle!? Por que vocês não entendem o que eu estou tentando fazer!?

— Você deseja cometer um genocídio... isso eu entendo... e repudio — O semblante de Alaric tornou-se sombrio, sua voz adquirindo um tom mais grave. — Você se coloca acima de todas as vidas, mas isso não é justificável.

— Eu não me considero superior a essas vidas, mas o que mais eu poderia fazer!? Vi meu povo sofrendo por tanto tempo! — O rei levantou-se, colocando Alaric em alerta. — Sempre... sempre foi a única solução!

— Cale-se! O que você sabe!? — Aldebaram, já coberto de sangue pela chacina que havia perpetrado, irrompeu com fúria, assumindo a dianteira ao lado de Alaric. — Você vive nesta merda de castelo, protegido por seus lacaios! Nunca conheceu o verdadeiro sofrimento, estou errado!?

O rei, se viu enredado em sua própria incapacidade de reagir, pois era verdade, ele sempre se escondeu atrás dos imponentes muros do castelo. Desesperançado, se deixou cair, de qualquer jeito, no trono.

— Era o que eu pensava .. — Aldebaram murmurou, evocando as últimas palavras de Erne antes de sua tragédia. — "Preconceito não se combate com violência, mas sim com educação"... Ele sim personificava um líder que pensava no bem-estar do povo...

O guerreiro, dominado pela tristeza, baixou a cabeça. Para ele, Erne era a personificação de ideias de um giganoide; leal, digno. E sua maior qualidade era sua dedicação à educação, reconhecendo que um livro possuía mais poder do que qualquer espada, uma sabedoria tão escassa neste mundo. Alaric colocou a mão sobre o ombro do guerreiro abatido, oferecendo um sorriso reconfortante antes de tomar a dianteira novamente.

— Como eu havia dito, é o fim. — Com um gesto, a lança reapareceu na mão de Alaric. — É hora de pagar por seus pecados.

— Que ironia cruel, ser morto pela lança do meu mais leal súdito... — Um sorriso sádico se estampou no rosto do rei, uma expressão monstruosa. — Erne deve estar se contorcendo em seu túmulo, haha!

Alaric saltou, sobrepujando o rei. Seu semblante era letal, demonstrando apenas a determinação implacável de um assassino. Com um movimento rápido, lançou sua lança em direção ao rei. Quando o monarca sentiu a ponta da lança roçando suas vestes, já era tarde demais; a arma trespassou, o pano, pele, ossos e seu coração.

O jovem permaneceu agarrado ao cabo da lança, avançando lentamente em direção ao rei agonizante, cuja boca agora vertia sangue. Tocou o ombro do rei, inclinou-se e sussurrou em seu ouvido:

— Uma informação… digamos cruel… esta lança que ceifou sua vida, só está em minhas mãos, pois era a vontade daquele homem...

Os olhos do rei se arregalaram enquanto seu corpo se contorcia em espasmos. Alaric deu dois toques suaves no ombro do rei e começou a puxar lentamente a lança, fazendo com que cada centímetro dela rasgasse sua carne.

— No final, você foi manipulado por todos… Aqueles que você pensou controlar acabaram controlando você... aqueles em quem confiou o traíram... que triste fim… que patético, minha majestade…

Ele retirou a lança, arrastando consigo um rastro de sangue. Limpo das manchas carmesins em um balançar, a ergueu e bateu o cabo no chão, proclamando para o soldados moribundos ao chão:

— Aqueles que ainda ousam resistir, desistam! O seu rei está morto!



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