Volume 1

Capítulo 67: General Alaric

Lá estavam Alaric e seu grupo, ajoelhados como prisioneiros prestes a serem executados. Enquanto Leon pressionava sua adaga contra o pescoço do jovem, Lilia se preparava para executar Nadine.

No entanto, naquele momento crítico, Alaric abriu os olhos com determinação, e aquele olhar outrora opaco ganhou um brilho intenso. O jovem canalizou uma parte de sua divina mana para o coração, concentrando-a em um ponto como uma estrela. Foi assim que ele ativou sua nova técnica, a "Estrela Divina".

Nesse momento, Alaric sentiu tudo ao seu redor desacelerar, seus músculos pulsavam e seu coração batia acelerado, enquanto um formigamento percorria suas veias. Em um instante ágil, ele deu um salto para trás, impedindo que Leon o degolasse.

— O que está acontecendo!? — Leon estava confuso; em um momento, tinha a vida de Alaric nas mãos, e agora o jovem estava livre. — Lilia! Capture-o!

Ela obedeceu, deixando de lado a execução de Nadine, que suspirou aliviada. Enquanto Alaric ainda pairava no ar, recuando, ele avistou a adaga de Leon, que Astrid havia apanhado do chão. Um sorriso prepotente se formou em seus lábios, adornando seu rosto. Com habilidade, ele aterrissou, deslizando para trás e agarrando a adaga no caminho com sua mão esquerda ao tocar o chão.

Lilia avançava em sua direção com determinação, seu torso inclinado para frente, empunhando a espada de luz cruzada diante do rosto. Seus olhos permaneciam inexpressivos e sua respiração era normal. Alaric parou de deslizar e se ergueu com a adaga negra em mãos.

Observando a garota se aproximando, Alaric adotou uma postura ágil e flexível, sua adaga firmemente empunhada, pronta para o confronto iminente. Seus pés se posicionaram com firmeza no solo, prontos para absorver qualquer impacto iminente. À medida que Lilia se aproximava, descruzou a espada, aplicando um golpe curvo que deixava um rastro luminoso no ar.

Antecipando o ataque, Alaric posicionou sua adaga para interceptar o golpe, que surtiu efeito. Os dois travaram um embate, e o jovem corajosamente aproximou seu rosto do dela. Então, recuou e aproveitando a parede como impulso, lançou-se na direção da garota. Seu golpe horizontal foi rápido e preciso, forçando Lilia a defender-se rapidamente. O choque resultou em faíscas douradas dispersas pelo ar, acompanhadas pelo tinido estridente que rachou os cristais dos lustres.

Com os dois novamente frente a frente, seus olhos se encontraram, refletindo a intensidade do confronto iminente.

— O que é esse cara...? — Leon observava Alaric, lutando de forma impressionante contra Lilia, uma das mais poderosas, mesmo com sua magia sendo contida. — E ainda está segurando minha adaga...?

— O que você está esperando, Leon? — O rei levantou-se, estendendo a mão para frente. — Alaric! Mais um passo e iremos executar seu irmão!

Com determinação, Leon pressionou sua adaga contra a garganta de Gideon. Alaric, ainda envolvido no embate com Lilia, ouviu a ameaça e desviou o olhar, sua expressão estava sombria enviando uma ameaça silenciosa que estremeceu a alma do rei. 

Num instante decisivo, Alaric desferiu uma joelhada poderosa no estômago de Lilia, fazendo-a curvar-se para frente em uma posição vulnerável, quase em formato de "C". Aproveitando a brecha, Alaric moveu seu braço vazio, com a parte de trás do punho, em direção ao rosto dela. 

Um lampejo de temor atravessou o semblante antes inexpressivo daquela garota ao ver o punho se aproximando, mas nada pôde fazer para evitar o ataque, sendo lançada vários metros para trás pelo impacto.

— Leon! Mate! — ordenou o rei.

Leon hesitou por um instante, erguendo a lâmina até atrás de sua cabeça. Com um olhar pesaroso, ele iniciou o movimento em direção ao pescoço do jovem Gideon. Alaric avançou para socorrer seu irmão, mas mesmo com toda a sua velocidade, parecia não ser suficiente. Com um último recurso, ele cruzou o braço à frente do rosto e o descruzou, lançando a adaga com velocidade, acertando a lâmina de Leon antes que ele pudesse completar o golpe.

— Boa mira, Alaric — comentou Leon, vendo sua adaga voar de sua mão após o impacto, e sorriu. Essa foi a última coisa que viu por alguns minutos, pois sentiu o choque em sua nuca. Enquanto seu corpo tombava sem reação, pôde ver os cabelos vermelhos de Alaric à sua frente. — Será que fiz o certo...?

Essas foram suas últimas palavras antes de seu corpo colidir com o solo, emitindo um som seco e decretando a vitória de Alaric. 

— Acabou, Sutran — Alaric estendeu a mão para ajudar Gideon a se levantar, e recolheu uma adaga.

Ao fundo, próximos aos nobres aglomerados, Lilia estava encostada na parede com o nariz sangrando, desmaiada. Próximo ao trono, Saimon estava nos braços da rainha, enquanto aos pés de Alaric jazia Leon, também desmaiado. Os três mais fortes haviam caído pelas mãos de uma só pessoa. O rei, descrente, batia os dentes e se arrastava até o trono, onde se deixou cair, levando a mão ao rosto.

— O que você quer…? — Ele havia perdido, nada mais podia fazer, exceto aceitar o que o vencedor pedisse. E então, em um lampejo de ideia, um sorriso asqueroso se formou em seus lábios. — A mão da minha filha? Aceite, e você se tornará rei!

— O quê!? — A reação foi duplicada, tanto pela rainha quanto por Nadine, que havia se levantado.

Alaric olhou para Nadine, com um sorriso convencido. Em seguida, voltou seu olhar para a rainha, notando o nojo evidente em seu rosto ao encarar Sutran. Ele soltou uma longa expiração, coçando a testa.

— Não quero a mão de sua filha. — O rei estava confuso sobre o que Alaric poderia querer. Então, o jovem adquiriu um sorriso confiante, apontando a adaga para Sutran, que engoliu em seco. — Eu quero o controle do exército do reino.

As reações foram semelhantes entre todos os presentes. Os nobres ao fundo, ao perceberem que o embate havia terminado, tornaram-se calmos e começaram a cochichar entre si. Enquanto isso, a rainha fixava seu olhar em Sutran, que se sentia completamente desorientado, ciente de que uma resposta errada poderia custar-lhe a vida.

Aldebaram aproximou-se de Alaric, dando-lhe tapas fortes nas costas, quase fazendo-o expelir seus pulmões. Nadine chegou ao lado deles ainda irritada com a proposta de casamento, enquanto Astrid tentava acalmá-la.

— Como estão seus ferimentos? — perguntou Gideon, observando as costas dela, que já não apresentavam mais sinais de sangramento, apenas uma cicatriz enorme.

— Estou melhor, apesar de ter sido um ferimento profundo. Meu sangue de dragão me ajuda a regenerar mais rapidamente. Pelo menos, é o que eu acredito... — respondeu ela, baixando o olhar e juntando as mãos timidamente.

O rei, ainda ponderando sobre a situação, dirigiu seu olhar a Alaric com uma expressão temerosa.

— Se me permite perguntar, por que deseja o exército? — indagou ele.

— Quero marchar até Estudenfel, para acertar as contas com umas pessoas — respondeu Alaric, balançando a adaga com determinação. — Acredito que vocês já queriam se livrar deles mesmo.

Sutran abaixou a cabeça, seu olhar estava pesado. — Se é assim... Você controla o exército agora...

Após inúmeras batalhas árduas, finalmente vislumbrava-se um desfecho favorável para Alaric e seu grupo. Com um gesto decisivo, ele arremessou a adaga próxima ao corpo de Leon e voltou-se para os nobres reunidos.

— Ouçam o seu rei — proclamou, sua voz ecoou pela câmara. — A partir deste momento, comando o exército conforme minha vontade.

Seu olhar cortante varreu os soldados, que permaneceram inertes durante o conflito, cientes de que, se os três mais fortes não haviam triunfado, tampouco o fariam eles. 

— Vocês me obedecerão, entendido?

Os soldados vacilaram por breves instantes, mas logo trocaram olhares decididos e firmaram suas expressões. Um a um, dirigiram-se em direção a Alaric e ajoelharam-se diante dele.

"Um líder verdadeiro inspira seus subordinados...", ponderou Alaric, contemplando como os soldados prontamente acataram sua autoridade. Sua demonstração de poder, mesmo que forçada, revelou-se eficaz.

— Você está ciente de que minhas palavras não são absolutas, nobres podem se opor a essa decisão — afirmou o rei, estreitando o olhar com seriedade.

— É apenas temporário. Quando resolvermos nossas pendências, deixarei este reino — respondeu Alaric com convicção.

Tudo parecia caminhar para um desfecho aceitável, até que as portas da sala do trono foram abruptamente arrombadas e alguns homens invadiram o recinto com violência.

— O que significa isso?! — exclamou o rei, observando os cinco indivíduos de semblantes temerosos.

Os intrusos lançaram olhares ao redor, testemunhando a devastação e os três combatentes caídos nos cantos, inconscientes. Porém, ao dirigirem os olhares perplexos ao rei, viram-no assentir como se tudo estivesse sob controle. E assim, uma das figuras adiantou-se, ajoelhando-se diante do monarca.

— Majestade! Estudenfel está nos cercando. O exército nos sitiou!

O rei, já sobrecarregado por uma série de problemas, foi golpeado por mais um revés. Desanimado e exaurido, deixou seu corpo cair pesadamente no trono.

— Eles vieram até nós? — indagou Alaric, um sorriso confiante brincando em seus lábios. — Isso facilita nosso trabalho.

— O que isso quer dizer? — perguntou o rei, sua voz carregada de desânimo.

Alaric adiantou-se, colocando-se à frente dos homens recém-chegados, que estavam ajoelhados, confusos e sem entender sua posição.

— Entre os homens deles, havia um cavaleiro acompanhado por um jovem, como se fosse uma criança — explicou Alaric.

Os homens trocaram olhares e, após um momento de reflexão, um deles tomou a palavra: 

— Se está se referindo a Erne, sim, ele estava presente...

— Teria sido mais simples se tivesse mencionado seu nome, imbecil — repreendeu Nadine, desferindo um tapa na nuca de Alaric.

Aí! Tanto faz… — Alaric virou-se para o rei. — Em outras palavras, dois de nossos alvos já estão aqui.

Sutran, ao ouvir isso, endireitou-se no trono, com os olhos arregalados de surpresa.

— Esperem, vocês estão procurando por Erne!? — Ele levou a mão à testa, incrédulo. — Vocês perderam o juízo...

— Talvez... — Aldebaram interveio, assumindo a liderança. — De qualquer forma, precisamos ver com nossos próprios olhos para planejarmos as estratégias.

Um dos soldados ajoelhados ergueu o olhar para eles e propôs:

— Se desejarem, podemos levá-los até lá! — Todos assentiram em concordância, e o rei deu a permissão. 

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O grupo de Alaric e seus homens avançaram em direção ao muro sudoeste, onde o exército de Estudenfel estava concentrado. O muro era alto, proporcionando uma excelente vista das planícies à frente, com alguns soldados comuns e arqueiros posicionados estrategicamente. Alguns ameaçaram disparar os primeiros tiros, mas Alaric interveio imediatamente:

— Não atirem! Estariam apenas desperdiçando flechas! — Sua voz ecoou pela muralha, fazendo com que os que estavam prestes a disparar parassem.

No entanto, eles não reconheciam Alaric, questionando por que deveriam obedecer a um estranho. Os murmúrios se espalharam, e alguns homens ameaçaram sacar suas armas. Foi então que um dos presentes na sala do trono tomou a frente:

— Acalmem-se! O rei o colocou no comando do exército!

As palavras foram confusas, especialmente porque o jovem não fazia nem parte de Lidenfel. Não era um general, nem filho de alguém importante. Porém, por ser alguém do seu próprio lado falando, acabaram aceitando.

“São facilmente influenciáveis...” pensou Alaric ao ver tantos soldados sendo persuadidos por palavras simples. No entanto, no final, isso lhe foi útil, e ele não tinha motivos para reclamar.

— Olhe, Alaric, estão mantendo uma distância segura, apenas aguardando — comentou Aldebaram, observando os inimigos.

Estavam nos pés das montanhas, onde a planície começava. Estavam longe o suficiente para as flechas não os atingirem, mas próximos o bastante para agirem assim que houvesse uma oportunidade.

— O que estariam esperando? — indagou Alaric, erguendo uma sobrancelha.

— Uma brecha. A vantagem de terreno é nossa. Do lado deles, é apenas um enorme campo aberto onde, assim que pisarem, se tornarão alvos fáceis.

Alaric escutou e começou a refletir, então olhou para Nadine com um olhar decidido.

— Corra e diga ao rei para iniciar o racionamento de comida — ordenou.

Era óbvio que estavam esperando que os mantimentos do reino se esgotassem, obrigando-os a sair das seguranças das muralhas. Ela obedeceu e correu para o palácio.

— Não adiantará racionarmos, Alaric — começou Gideon, franzindo o cenho enquanto tocava o queixo com a mão. — Quanto tempo podemos resistir? É uma cidade vasta, logo os estoques de alimentos se esgotarão…

— Precisamos conceber uma estratégia de ataque rápida... — murmurou Alaric, sua expressão carregada de preocupação.

De repente, um jovem irrompeu entre eles, os olhos arregalados de espanto, dirigindo-se ao muro.

— O que está acontecendo ali!? — exclamou ele, apontando.

Ao observarem, notaram um grupo de pessoas reunindo-se à frente, todas vestidas com capuzes, erguendo suas mãos em direção ao céu e, em uníssono, conjurando uma imensa bola de fogo.

— Preparem-se para o ataque mágico! — ordenou Alaric, estendendo a mão e gritando com veemência. No entanto, percebeu alguns homens o encarando confusos. Num ímpeto, agarrou um deles pelo colarinho e sacudiu-o com vigor. — O que pensam que estão fazendo!? Movam-se! Obedeçam!

Com um movimento brusco, Alaric lançou o indivíduo para longe e os homens finalmente começaram a se mobilizar. No final das contas, o que precisavam era de alguém com autoridade e determinação.

— Você! — Alaric apontou para um jovem que seguia as ordens, mas parou ao ouvir o chamado. — Reúna todos os magos da cidade! Não importa quem sejam! Tragam-nos aqui!

O rapaz assentiu prontamente, correndo para reunir o máximo de magos possível.

— Está se revelando um líder nato, Alaric! hahaha! — exclamou Aldebaram, já se pondo em movimento. — Eu reunirei todos os soldados! Jovem mestre hahaha!

Com a partida de Aldebaram, Alaric observava do alto do muro enquanto a bola de fogo se tornava cada vez mais imensa, testemunhando o trabalho conjunto dos magos inimigos surtindo efeito. Ao virar-se, notou Gideon com o cenho franzido, aguardando uma solução.

Enquanto a agitação ainda reinava sobre as muralhas, com homens trazendo flechas e outros se posicionando, um rapaz que Alaric havia ordenado para trazer os magos retornou com mais dez pessoas.

— Estes são todos os magos que pudemos reunir — anunciou ele, apresentando os homens e mulheres atrás de si com um gesto.

Alaric observou-os com uma expressão semicerrada, decepcionado com o número limitado de magos. Voltou o olhar para o exército inimigo e ponderou:

— Eles têm pelo menos trinta magos... — Ele tocou a ameia da muralha, perdido em pensamentos. Era mais do que o triplo do número de magos ali presentes, deixando-o desanimado. — De qualquer forma...

Subitamente, algumas pessoas bem vestidas e de olhares severos chegaram. Elas tocaram as ameias, observaram o exército de Estudenfel e voltaram seus olhares para Alaric.

— Temos algo que pode ajudar na defesa — declarou um dos homens. — Tragam!

Uma mulher aproximou-se, carregando uma almofada com ambas as mãos, sobre a qual repousava um artefato misterioso.

— O que é isso? — indagou Alaric, curioso, enquanto observava o estranho artefato diante deles.

— É um artefato de ativação — explicou o homem, sua voz ecoava por toda muralha. — Para os escudos da cidade.

Os olhos de Alaric arregalaram-se, surpreso com a existência de algo tão significativo. No entanto, ele logo controlou suas emoções e avançou até a moça com a almofada.

— Como funciona? — perguntou Gideon, vendo seu irmão se aproximar do artefato, enquanto a curiosidade brilhava em seus olhos.

Alaric tocou o artefato e o ergueu, examinando-o com um sorriso que beirava o maníaco, como se vislumbrasse uma solução para todos os problemas. Talvez, com aquela tecnologia, a guerra pudesse ser vencida. Talvez…



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