Volume 1

Capítulo 65: Contra o preconceito

Às imponentes estruturas de prata que se erguiam nos portões do palácio de Lidenfel, adornadas com intricados detalhes em ouro reluzente sob o sol, somavam-se os guardiões maciços e imponentes que vigiavam a entrada para o domínio real. 

Alaric, Gideon e Aldebaram, na companhia de Leon, aguardavam pacientemente diante desses portões majestosos, enquanto os guardas reais os observavam com olhares desconfiados. No entanto, ao comando de Leon, os guardas cederam, abrindo os portões prateados com um rangido solene, em deferência ao respeito e à autoridade que Leon representava.

Ao atravessarem os portões, os viajantes foram recebidos por uma visão deslumbrante dos gramados e jardins reais que se estendiam em torno do palácio. Anteriormente ocultos pelo muro quilométrico que cercava o palácio, os jardins agora se revelavam em toda a sua beleza exuberante, com flores coloridas e arbustos meticulosamente aparados que criavam um cenário digno de contos de fadas.

— De perto, ele é ainda mais impressionante… — admirou-se Gideon, contemplando o palácio.

As paredes do palácio eram feitas de pedra polida, adornadas com intricados detalhes esculpidos à mão que contavam a história da nobre linhagem real. Torres altas se erguiam nos quatro cantos do edifício, cada uma coroada por cúpulas reluzentes e torres afiadas que se estendiam em direção ao céu.

As janelas do palácio eram amplas e adornadas com delicadas molduras de madeira entalhada, permitindo que a luz do sol dançasse suavemente pelo interior dos salões luxuosos. Bandeiras coloridas tremulavam ao vento nos mastros altos, ostentando os emblemas e símbolos da realeza de Lidenfel.

— Pare de babar, Gideon — disse Alaric, ainda estressado, enquanto ultrapassava o irmão para entrar.

Gideon viu Alaric passar e fechou o semblante, evidenciando o clima tenso entre os irmãos. Antes de realizar o ato de abrir a porta, Alaric sentiu uma ameaça iminente, e uma rajada de ar o arremessou para trás.

Ele já ia reagir com suas espadas, contudo, viu sua vontade ser impedida por Leon, que se posicionou à frente dele, protegendo-o com o próprio corpo.

— O que pensa que está fazendo, Leon? — A voz ecoou do alto do palácio, onde um jovem se posicionava sobre os telhados, observando tudo abaixo com olhos penetrantes. — Está pensando em permitir a entrada de estranhos?

— Saimon! Não é como você está imaginando. — Ele estendeu as mãos em direção a Aldebaram, como se o estivesse apresentando. — Você deve conhecê-lo, só o trouxe para falar com o rei...

Todos voltaram seus olhares para a figura que estava elevada, e em um instante, ele começou a se mover para frente, pisando no ar e descendo verticalmente. A corrente de ar ao seu redor começou a desacelerar, até que ele aterrissou suavemente no chão, como se não tivesse pulado de uma grande altura.

Ele encarou Aldebaram, que retribuiu o olhar. Observou-se os cabelos verdes escuros e os olhos do mesmo tom. Seus ouvidos estavam adornados por brincos que lembravam o elemento vento, e sua vestimenta consistia em uma armadura leve, reminiscente de um batedor, em verde com detalhes brancos.

— Entendo. Mas ele parece fraco para ser o tal Aldebaram, ele e seu grupo. — Seu olhar verde se fixou em Alaric, ainda agachado no chão. — Principalmente aquele ali…

— O que foi que você disse!? Eu vou aí mesmo! — exclamou Alaric, erguendo-se completamente e ameaçando avançar. No entanto, ao lembrar-se do motivo pelo qual estavam ali, conteve sua raiva para evitar causar problemas. — Sabe de uma coisa, deixe pra lá.

Leon soltou o ar que tinha prendido nos pulmões ao ver Alaric desistir do ataque e dirigiu seu olhar para Saimon, que se colocara à frente da porta.

— Agora que já sabe quem somos, seria possível, por gentileza, nos permitir a passagem? 

Saimon olhou para o rosto de cada um deles, sua expressão gradualmente se transformando em uma mistura de desdém e descontentamento. Cruzou os braços, revirou os olhos para o céu e virou o corpo de lado.

— Pode passar, não acredito que tenham forças para me enfrentar de qualquer maneira.

Leon avançou, abrindo as portas com determinação, enquanto Gideon e Aldebaram o acompanhavam de perto. Alaric permaneceu para trás, cruzando o caminho de Saimon que portava um olhar carregado de arrogância. Em resposta, lançou um olhar desafiador, erguendo a mão e agitando-a com desprezo.

— Nos encontraremos novamente, soldadinho do vento... — provocou, sua voz carregada de desdém.

Ao adentrarem o salão que precedia a majestosa sala do trono, ficaram maravilhados com a opulência do ambiente. Um arco imponente adornava a parede à frente, formado por duas escadas esculpidas com maestria que se entrelaçavam no topo, conduzindo o olhar até a imponente porta gigantesca e ricamente decorada.

— Imagino que ali seja a sala do trono — sugeriu Gideon, seus cabelos brancos resplandeciam sob o brilho do imenso lustre dourado suspenso no teto.

— Você está certo — confirmou Leon, voltando-se para Alaric com um olhar compassivo. — E peço desculpas pelo comportamento de Siamon... ele pode ser um tanto arrogante às vezes...

Alaric o encarou, emitindo um leve estalinho com a língua. Deslizando as mãos para os bolsos, arqueou as sobrancelhas.

— Não faz diferença. Um fraco como ele não me afeta — afirmou Alaric, sua confiança transparecia em um sorriso audaz nos lábios.

— Fraco? — Leon pareceu perplexo, levantando uma sobrancelha. — Siamon é um dos três guerreiros mais formidáveis de Lidenfel...

— Então Lidenfel deve estar desesperado por soldados — zombou Alaric, passando por ele com as mãos nos bolsos. No entanto, subitamente parou ao seu lado, seu olhar firme e penetrante estava fixo à frente, brilhando como a lua. — Mas eu não costumo conceder segundas chances. Melhor avisar ao rapazinho que, se me irritar novamente, mostrarei a ele o verdadeiro significado de força. E posso garantir que não será uma lição agradável.

Sob a clara ameaça, Leon ficou atordoado, incapaz de formular uma resposta rápida como de costume. Era difícil acreditar na arrogância daquele garoto, mas uma certeza persistia: alguém que se expressava daquela maneira certamente confiava em sua própria força.

— O que há lá embaixo? — indagou Aldebaram, com os olhos fixos na porta logo abaixo do arco das escadarias.

— Coisas que vocês não estão autorizados a ver. Peço desculpas — respondeu Leon, num tom evasivo, enquanto se encaminhava em direção à escadaria. — Vamos logo, o rei deve estar nos esperando.

Sem mais delongas, todos seguiram o líder até o topo da escadaria imponente. Com um empurrão suave, as imensas portas se abriram majestosamente, revelando a deslumbrante sala do trono. O ambiente exalava opulência e grandiosidade, com suas paredes adornadas por tecidos finamente bordados em tons de ouro e azul-marinho. 

Candelabros de cristal pendiam do teto, lançando reflexos cintilantes em todas as direções, enquanto o trono de carvalho maciço, incrustado com detalhes em ouro, dominava o espaço sobre um estrado de mármore branco. O calor das lareiras acesas nos cantos proporcionava um conforto agradável, enquanto tapetes persas ricamente ornamentados adornavam o piso. 

Os guardas reais mantinham uma postura impecável, adicionando um toque de solenidade ao ambiente. O aroma de incenso exótico pairava no ar, envolvendo todos ali presentes em uma atmosfera de prestígio e autoridade.

— Tudo isso é para nós? — indagou Aldebaram, visivelmente impressionado, enquanto avançava pelo caminho até o trono, ladeado por uma imponente fileira de soldados com postura impecável e olhares decididos. — Parece um tanto extravagante...

— Vocês são nossos convidados de honra — declarou Leon, o líder do grupo, exibindo um sorriso radiante. — Não poderíamos oferecer menos do que isso. 

"Estou começando a entender o que vocês estão buscando..." Alaric já pressentia o motivo por trás da insistência deles. Provavelmente estavam buscando o apoio de Aldebaram devido ao temor de Estudenfel, especialmente após a queda de Windefel.

Leon avançou até o rei e, de forma reverente, ajoelhou-se diante dele, seguido pelos outros três que se ajoelharam atrás dele.

O rei estava assentado no trono, erguido acima de todos. Sua grande coroa ficava sobre seus cabelos negros, mas não havia uma única barba a enfeitar suas bochechas roliças. Seu corpo não denotava vigor atlético, com uma barriga arredondada resultado de sua falta de atividade física.

— Meu rei, Sutran, trago-vos os ilustres convidados — anunciou Leon, mantendo a cabeça baixa.

O monarca analisou cada um dos presentes minuciosamente, como se estivesse em busca de armas, força ou qualquer sinal de poder. Alaric não pôde conter sua curiosidade e ergueu levemente os olhos, permitindo-se observar o rei e a mulher também de coroa ao seu lado direito, provavelmente a rainha. 

Ela possuía longos cabelos loiros e olhos azuis, e um corpo digno de uma rainha, e sua aparência sugeriria uma idade muito mais jovem que a do rei. Seu semblante permanecia neutro, porém Alaric percebeu um leve desdém em seu olhar ao desviar seus olhos de relance para Sutran.

Ao lado esquerdo, uma jovem destacava-se, aparentemente da mesma idade que Leon. Seus cabelos alaranjados e olhos quase da mesma tonalidade pareciam capturar a luz do ambiente. Uma coroa, menos imponente que a do rei, adornava sua cabeça, sugerindo sua possível identidade como a princesa.

Todos estavam elegantemente vestidos, não apenas os três da realeza, mas também alguns nobres que se reuniam na sala, observando e trocando cochichos.

— Grande Aldebaram! — exclamou o rei, seu rosto iluminado por um sorriso caloroso, antes de dirigir seu olhar para os dois jovens à sua frente. — E quem seriam vocês dois?

— So- — Alaric começou a falar, mas foi interrompido por Aldebaram, que assumiu a palavra.

— Este jovem de cabelos vermelhos é meu jovem mestre, Alaric. E ao seu lado está seu irmão, Gideon, também conhecido como o escolhido.

O rei ficou estupefato, incapaz de articular uma palavra, sua boca entreaberta denotando sua surpresa. Todos na sala compartilharam o mesmo espanto, nenhum deles havia sequer cogitado a possibilidade daquele jovem ser alguém de importância.

Até mesmo Alaric, surpreso, arregalou os olhos. "Jovem mestre?" Ele se perguntou interiormente, sem compreender as intenções de Aldebaram, mas decidido a não atrapalhar seus planos, decidiu entrar na jogada.

— Permita-me apresentar-me corretamente, Majestade. — Alaric ergueu-se com elegância e, em uma reverência cortês, pronunciou-se com formalidade: — Sou Alaric Stormheart, e este é meu irmão, Gideon Stormheart. É um prazer conhecê-lo.

O rei quase saltou do trono ao ouvir aquele sobrenome. Era evidente o pigarro em sua garganta ao engolir em seco, formando uma protuberância notável.

— V-vocês... são descendentes dos Storm? Príncipes? — Ele mal podia acreditar no que ouvia. — Mas como? Nunca ouvi falar de príncipes da linhagem Stormheart, aliás, essa linhagem foi extinta com Santica…

Ao ouvir o nome Santica, Gideon foi tomado por lembranças de seu avô mencionando que era o nome de sua mãe, e seus olhos assumiram um semblante pesado. No final, ele percebeu que Alaric não estava mentindo, apenas ampliando a verdade.

— Como pode ver, majestade — Alaric ergueu o rosto com um sorriso confiante. — Estamos vivos e bem. Toda a situação foi uma questão política, intricada de explicar. O que importa é que estamos aqui em nome de Aldemere...

Até Leon, que os acompanhara desde a entrada do reino, estava surpreso, embora não demonstrasse muito.

— Sim! Estamos dispostos a fazer o que for necessário em nome de Aldemere — começou a dizer, antes de ser interrompido pela rainha.

— Marido! — ela o repreendeu com um olhar sério. — Comporte-se como um rei!

Ela estava cansada de vê-lo agir como um cachorrinho; todos os nobres na sala o observavam com desdém. Alaric fez uma expressão de desgosto, franzindo o rosto diante do comportamento do rei.

— De qualquer forma — Alaric interveio, já cansado da situação, enquanto o rei, após ser repreendido, assumiu uma postura firme ao encará-lo. — O desejo de Aldemere é estabelecer uma aliança para auxiliar em qualquer adversidade, especialmente contra você sabe quem.

— Estudenfel... — murmurou Leon, olhando para o rei com uma expressão de apreensão. — Majestade, meus homens avistaram um grande destacamento militar de Estudenfel vindo em nossa direção. Parece ser praticamente todo o seu exército…

O rei, ao ouvir isso, franziu o cenho, voltando seu olhar para Alaric.

— Como pode ver, estamos sem tempo então-

— Antes, desejo falar com Vossa Majestade em particular… — Afirmou Alaric com firmeza.

— Claro, não vejo problemas nisso — concordou o rei.

Alaric havia adotado o nome Stormheart com tamanha convicção que ninguém desconfiara. Confiando nisso, o rei aceitou seu pedido ousado, mesmo após o alerta de Leon, decidindo acompanhá-lo.

Dirigiram-se a uma das estruturas de pesquisa de Lidenfel, guiados pelo jovem.

— Então, o que acha? — Indagou Sutran, abrindo os braços.

O prédio de pesquisa mágica e tecnológica era um espetáculo impressionante de inovação e descoberta. Milhares de mesas adornadas com aparatos complexos ocupavam o espaço, enquanto giganoides moviam-se com precisão entre elas. A plataforma central era o coração pulsante da atividade, onde os melhores pesquisadores se reuniam em colaboração.

O ambiente era iluminado por luminárias mágicas, e cada canto era meticulosamente organizado, abrigando desde artefatos mágicos até dispositivos tecnológicos. O som suave de engrenagens e cristais ressoava ocasionalmente, enquanto os giganoides trabalhavam incansavelmente sob a supervisão dos mestres.

— É impressionante — murmurou Alaric, porém, ao observar algo por trás do rei, sentiu uma pontada de repulsa. 

Enquanto aqueles com peles brancas realizavam trabalhos simples e testes, os giganoides de pele azulada eram designados para tarefas mais árduas e serviam como cobaias para alguns experimentos.

— Percebi que em seu reino, há um tratamento diferenciado para aqueles de pele azulada. Existe algum motivo para isso? — indagou Alaric, agora visivelmente perturbado.

— Do que está falando? — O rei seguiu o olhar de Alaric e então compreendeu. — Ah, eles não possuem inteligência suficiente para realizar tarefas complicadas. No final das contas, são apenas mão de obra barata, dispensável.

— Então vocês os tratam como animais? Escravos? — questionou Alaric, sua voz carregada de indignação. — Mão de obra descartável…?

— Escravos, não. Certos países com os quais negociamos não aceitam relações comerciais com nações escravagistas… — O rei baixou o olhar, exibindo uma expressão de tristeza que Alaric achou extremamente repugnante. — Mas vamos lá, você tem pena deles? Haha! Você é um príncipe, parte da realeza, sabe como funcionam essas coisas.

— Não muito… como mencionei, estive escondido do mundo por questões políticas — Alaric queria ouvir mais sobre esse "como funcionam essas coisas". — Então, me conte, como funciona?

— Precisamos de mão de obra barata para podermos investir onde realmente importa — explicou o rei, lançando um olhar para um giganóide de pele azul. — E aqueles de intelecto inferior, na verdade inferior a nós de qualquer forma, servem como essa mão de obra.

Naquele momento, um profundo sentimento de revolta tomou conta da mente de Alaric, embora ele não conseguisse compreender completamente por que deveria se importar com seres que mal conhecia. No entanto, naquele instante, o jovem concebeu novos planos em sua mente, consciente dos riscos, mas decidido a seguir adiante.

"Alaric, acalme-se! Escravos existem desde tempos imemoriais... não tome medidas que possam prejudicar seus próprios objetivos", aconselhou Apolo.

"Apolo... cale-se. Tenho planos novos, audaciosos, mas talvez promissores", declarou Alaric, sua voz carregada de determinação.

— Então, que se foda! — O rei observou surpreso, enquanto o jovem virava a palma da mão para trás, onde Leon permanecia imóvel. Uma aura de mana dourada começou a se formar, concentrando-se em um ponto. — Globus Vis!

Ao proclamar, lançou a esfera de mana em direção ao estômago de Leon com precisão devastadora, fazendo-o ser arremessado para longe pelo impacto mágico.

A queda tumultuada ecoou com o estrondo dos objetos se chocando contra o solo, entremeada pelos gritos dos giganoides que lotavam o local.

— O que você pensa que está fazendo?! — bradou Sutran, recuando com as mãos erguidas defensivamente diante do imponente Alaric, cujo semblante permanecia imperturbável. — Eu sou o rei!

— Desde que pus os pés nesta cidade, deparei-me com o grande problema que você ou seus antecessores desencadearam — avançava Alaric com determinação, enquanto o rei ainda recuava acuado. A lâmina começava a se materializar em sua mão. — Isso alimentou uma revolta dentro de mim, inexplicável... mas aqui estamos...

— É dinheiro que você quer?! Se for, posso pagar o que for necessário! — suplicou o rei, mantendo-se em retirada.

— O dinheiro que você acumulou explorando-os? — Alaric ergueu a espada em um golpe horizontal, cortando parte dos cabelos de Sutran e lançando sua coroa ao chão. — Não é isso que busco...

A coroa girou pelo ar antes de se chocar contra o solo, enquanto o rei caía desajeitadamente.

Aaah! — Seu semblante era de puro pânico, como se encarasse a própria morte. — Alguém! Alguém me ajude! Leon!

— Ninguém virá em seu socorro aqui, consegue adivinhar por quê? — Alaric apoiou um joelho no chão, passando a mão com a espada sobre o outro, aproximando-se com desdém do rosto do rei. — Primeiro, seus subordinados mais fortes são tão frágeis que parecem insignificantes, comparados até mesmo a Nadine, que dirá a mim. Segundo, você não é um rei que inspire lealdade entre seus próprios soldados.

Ele tocou a pança do rei com desprezo, fazendo-o estremecer, antes de erguê-lo.

— E por último, mas não menos importante, aqui só restamos nós dois, além daqueles que você explorou, os que você julgou... — Ele avistou algo brilhante sobre uma mesa e arrastou o rei até lá. — O que é isso?

Alaric arremessou o rei com força, fazendo-o colidir próximo à mesa onde repousava o artefato. Com um misto de temor e espanto, o monarca balbuciou:

— É um aparato novo! Ele... ele consegue armazenar mana!

— Interessante... — Alaric observou o objeto redondo, estendendo a mão para ele e tentando armazenar sua mana divina, mas sem sucesso. — Parece que só armazena mana comum...

O rei, ainda recuperando-se dos ferimentos, observava com perplexidade a coloração dourada da mana, estampando em seu rosto uma expressão de admiração misturada com medo.

— Se já tem uma ideia do que seja, facilita nosso trabalho. — Alaric apontou a espada para o rei. — Crie um aparato similar, porém capaz de armazenar mana divina...

— Mas...

Antes que pudesse protestar, uma sombra veloz passou por ele, seguida pelo estridente som de adagas chocando-se contra a espada de luz.

— Finalmente acordou, bela adormecida. — Alaric encontrava-se face a face com Leon, ainda atordoado pelos efeitos da mana divina. — Volte a dormir.

Ainda nauseado pela energia, Leon estava vulnerável e um simples golpe de cabeça o fez desmaiar novamente.

— Como eu disse, seus subordinados mais fortes são como formiguinhas fáceis de esmagar. — Alaric ergueu o rei, removendo a poeira de suas vestes. — Faça o que ordeno e continuará a viver para testemunhar minha ascensão. Será meu fiel cachorrinho, obediente, como aparenta sempre ter sido. 

Com um olhar penetrante, o jovem assumiu uma expressão feroz, semelhante à de uma fera faminta, antes de pronunciar seu ultimato com firmeza:

— E por fim, exijo que seus subordinados jamais ousem agredir os de pele azulada. Qualquer deslize nesse sentido terá consequências severas para você... Estamos completamente alinhados com os termos estabelecidos?

— Sim... — O rei, resignado diante dos acontecimentos, não tinha escolha senão concordar. — Meu senhor...

— Ótimo. — Alaric virou-se para sair, mas antes lançou um olhar afiado ao rei. — Antes disso, gostaria de saber o que aconteceu aqui.

Inicialmente confuso, o rei logo compreendeu.

— Um experimento fracassado... Fomos pegos na explosão... — Ele abaixou a cabeça, sentindo-se humilhado. — E o senhor Alaric Stormheart me salvou...

Assim, Alaric deixou o local como um chefe da máfia, que acabara de visitar um devedor, com as mãos nos bolsos e um sorriso de satisfação nos lábios. E com isso, aquele jovem colocara não apenas um rei, mas todo um reino aos seus pés.



Comentários