Volume 1
Capítulo 36: Pelas florestas verdejantes
— Onde estamos?
— Precisamente na floresta entre lulunica e ciantefel, Alaric.
Ao se separarem de Aldebaram e Gideon, Alaric e Fuxi desceram a encosta da montanha em direção ao sul, atravessando rapidamente Ciantefel até alcançarem as densas florestas que precedem Lulunica. A jornada foi longa, estendendo-se por seis dias monótonos.
— Realmente estamos saindo do norte. — Alaric começou a pisar em solo terroso, sem a neve. — Estava com saudades de sentir o solo compacto.
— Estamos próximos da localização do clã inimigo. — Fuxi tomava a dianteira, guiando Alaric. — Mantenha-se alerta.
Persistindo junto a Fuxi, o jovem estava em uma missão de vingança que adentrou sem pleno entendimento, quase compelido por um pacto desconhecido com o lobo, mas ele, com o tempo, começou a aceitar seu papel. Isso aconteceu à medida que passou a sentir a angústia compartilhada pelo lobo.
— Ei, se estamos perto… Porque não vejo um lobo? — Alaric caminhou todo esse tempo sem avistar um Lycaion sequer. — O lobos daqui são verdes, ou estão tímidos?
— Lycaions são retraídos, mal saem de seus domínios.
À frente dos dois estendia-se uma floresta exuberante e verdejante, com árvores imensas quase divinas e flores de todas as cores imagináveis, tornando-a ainda mais bela.
— É até estranho ver um lugar assim. — Alaric tocava nas flores enquanto caminhava. — O norte é tão "quentinho" que a única coisa que cresce por lá, são aqueles "lindos" pinheiros.
Avançavam em linha reta, como se seguissem um caminho predestinado. Pequenos animais surgiam ocasionalmente, enquanto borboletas batiam suas asas. Fuxi, apesar de seu tamanho imponente, deslocava-se ágil pela densa vegetação e entre as árvores, indicando uma longa convivência nas florestas ao longo dos anos.
— Aaaah!! — Já Alaric tropeçava a cada dois passos. — Merda!
Fuxi parou e observou o garoto no solo pela quinta vez. Avançar estava se tornando difícil, mas não havia muita escolha a fazer.
— Aqui. — O lobo aproximou-se de Alaric. — Suba.
— Oi? — Alaric semicerrou as pálpebras, pensando que talvez não tivesse escutado corretamente.
— Você escutou. — Fuxi fitou Alaric, e viu sua expressão perplexa. — Tsc, não temos o dia todo.
O jovem, ainda um tanto confuso, apoiou-se em Fuxi, ergueu-se e, em um impulso, saltou nas costas do lobo.
— Alto. — A distância entre ele e o solo tornou-se significativa. — Mas estranhamente confortável.
Apesar de serem as costas de um "animal", a pelagem de Fuxi, desenvolvida para resistir às extremas temperaturas do norte, era fofa e macia, proporcionando uma montaria confortável.
— Segure-se.
— O que!? — Alaric não obteve uma resposta, mas sentiu seu corpo ser arremessado para trás, precisando agarrar com toda força a pelagem do lobo para se manter firme. — Ei! Quer me derrubar!?
— Precisamos nos apressar. — Enquanto corria, Fuxi ostentava uma expressão focada e determinada, olhando intensamente para o caminho à frente.
O lobo avança ágil pela floresta, seus passos ressoando e quebrando a plenitude do ambiente. Parecia o eco de centenas de cavalos, mas era apenas a determinação de um lobo concentrado.
Avançando rapidamente, Fuxi observou duas árvores bloqueando o caminho. Parecia necessário desviar, mas tal ação poderia custar um tempo valioso.
— Vamos desviar, Fuxi. — sugestionou Alaric, passar por aquelas árvores parecia impossível. — Fuxi? Porque não está parando!?
— Não podemos perder tempo. — As duas árvores não estavam grudadas; havia um espaço entre elas. No entanto, era tão apertado que parecia impossível passar. Fuxi avançava com determinação e, ao se aproximar, saltou, esticando todo o corpo. Alaric abaixou-se, agarrando-o firmemente, e em um instante, o lobo já havia atravessado. — Passamos.
— Seu lobo lunático!!
Fuxi abriu um tímido sorriso de canto e prosseguiu com seu avanço, pulando entre árvores, saltando arbustos. Parecia um vulto cruzando a mata, e rapidamente, cobriram uma grande distância.
— Acha que temos chances de vencer?
— Talvez, sua força, junto a minha seja o suficiente. — Era arriscado; um "talvez" em uma batalha não inspirava confiança e poderia custar caro. — Mas vamos fazer nosso máximo.
“Fazer o máximo não vence uma batalha…” Alaric refletia, após enfrentar o demônio, percebeu a disparidade de poderes. Se não fosse por Apolo, talvez não conseguisse vencer. Logo em seguida, testemunhou o confronto entre Apolo e Blanc, onde níveis de poder inconcebíveis eram evidentes, verdadeiros deuses batalhando. Alaric reconhecia que alcançar esse nível de poder talvez fosse uma meta inalcançável para ele.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz, um grito. Rapidamente, Alaric observou ao redor e ativou suas espadas de luz.
— Escutou, Fuxi? — Alaric estava alerta com as espadas a sua volta.
— Sim. — Fuxi não podia perder tempo, mas sua consciência não o permitiria ignorar. Subitamente, alterou seu curso, indo em direção aos berros. Saltou entre árvores e escalou uma delas; do alto, observou a situação abaixo. — Ali!
No cenário abaixo, uma garota pouco machucada de cabelos roxos destacava-se, acompanhada por um ser humanoide estranho. Sua pele era pálida, e a luz solar parecia provocar uma reação incômoda.
— Merda! Porque logo um vampiro? — A garota reclamava.
O vampiro avançou em direção a ela, suas presas ficaram à mostra, mirando o pescoço da garota. No momento em que o ser pulou, os braceletes da menina brilharam intensamente.
— Vampiro? — Alaric, situado acima de Fuxi com um arco dourado em mãos, escutou o termo "vampiro" algo novo para ele. — Que seja. — Ao terminar de falar, Alaric soltou uma flecha que percorreu toda a distância, acertando a nuca da criatura e atravessando até o outro lado. O sangue jorrou, atingindo a garota. — Pronto.
— O que!? — A garota, confusa, com o rosto coberto de sangue, fechou os olhos. Ao limpar e abri-los novamente, percebeu um jovem sobre um lobo gigante, posicionados entre e acima das árvores. — Um nativo? Um ser divino?
Com muitos questionamentos em mente, a garota compreendia que aquela pessoa provavelmente a havia salvado. Sentindo gratidão, ela buscava uma maneira de expressar seu agradecimento.
— Oi! — ela berrava acenando. — Pode descer aqui?
— Garoto, não podemos perder tempo — O lobo desejava continuar seu caminho o mais rápido possível, então dirigiu um olhar para Alaric.
Alaric cruzou seu olhar com o de Fuxi, e dirigiu até a garota acenando. Em seguida, voltou seu olhar para Fuxi, e suspirou.
— Ahh, tudo bem. Vamos. — Ao voltar a se sentar nas costas do lobo, o arco de Alaric começou a se desfazer.
Fuxi saltou, sobrevoando a garota e pousando atrás dela. Alaric, olhando para trás, viu-a atônita. Apenas o impacto do corpo pesado do lobo com o solo estremeceu todo o local.
— Preste atenção à sua volta, se não vai acabar morrendo... — alertou Alaric, e antes que a garota conseguisse pronunciar uma sílaba sequer, o jovem desapareceu, deixando apenas o rastro de poeira para trás..
“Que cara sem educação…. Ou eu sou chata? Merda Nadine”
— Ahn? Porque vocês estão brilhando. — Ela observou seus braceletes dourados brilharem intensamente. Abruptamente, agiram por vontade própria, levantando o braço dela e apontando na direção que Alaric havia seguido. — Ahh, de novo não…. — Os braceletes, então, a puxaram na direção que indicavam.
Enquanto isso, Alaric e Fuxi avançavam implacavelmente, cruzando toda a floresta e deixando um rastro por onde passavam..
— Já ouviu sobre vampiros? — questionou Alaric, esse termo era novo para ele.
— São criaturas que abandonaram sua fé em Sol invictus. — Ele pulou sobre um tronco caído e continuou o avanço com determinação. — Eles portam uma maldição que os impede de sobreviver sob a luz solar.
Diante de uma árvore imponente, Fuxi executou um movimento ágil. Pulou sobre uma árvore à sua esquerda, impulsionou-se um pouco mais alto, voando até uma árvore à direita. Ao tocar nela, impulsionou-se para frente e passou por cima da grande árvore à sua frente.
— No entanto, para ser... — Um galho vinha em sua direção, mas ele habilmente desviou. — Uma maldição, ela é lançada por alguém, não é verdade? — Um galho maior aproximava-se; Alaric invocou sua mana em estado puro, formando uma massa à sua frente e usando-a como escudo. Ao passar a toda velocidade, quebrou o galho, deixando-o intacto. — Quase... Mas, então, como os deuses não podem interferir na Terra graças à barreira, o Sol Invictus não lança essa maldição pessoalmente, certo?
— Está correto em sua afirmação. — Fuxi cerrou os olhos. — Existe um ser que dissemina essa maldição.
— Alguém que faz isso? — Para alguém realizar tal feito, seria necessário ser poderoso e imponente. Afinal, se a maldição foi lançada por um deus, significaria que, em uma batalha direta, o Sol Invictus sairia derrotado..
— Falam que é um antigo deus….
Fuxi revelou a história de um ser tão antigo quanto os registros alcançavam, o senhor dos morcegos, rei da escuridão, Vlad Drácula. Lendas contavam que ele era um antigo deus que, ao rebelar-se por querer mais do que suas mãos poderiam segurar, transformou-se em um deus errante. Durante uma longa batalha contra Sol Invictus, vitória do deus do sol era certa, então o deus, como meio de triunfar, lançou uma maldição. Essa maldição fez com que o deus errante adquirisse uma fraqueza crucial: o sol passou a desprezar sua presença, queimando-o impiedosamente.
Apesar disso, Sol Invictus não conseguiu derrotá-lo. Vlad tirou vantagem da maldição, envolvendo-se com as artes das trevas, desenvolvendo poderes e uma forma de espalhar sua maldição através de sua mordida. Diferentemente de outros seres que recuperavam sua força vital naturalmente, sua maldição o impedia disso. Assim, desenvolveu outro método de sobrevivência, alimentando-se do sangue das pessoas, que continha mana em seu corpo. Desta maneira, ele subsistiu por milênios.
— Pera…. — Alaric arregalou os olhos. — Ele ainda vive!?
— Sim, ao centro do continente ao lado do reino élfico. — Fuxi levantou o focinho. — Acho que seu país chama-se: Transilvânia.
— Ninguém nunca o caçou? — Um ser dessa magnitude, viveu por milênios e tinha até um país, levando em conta sua fome por sangue, o lógico era pensar que quisessem sua cabeça.
— Nenhum ser vivo na terra tem a capacidade para tal ato, além do mais, faz séculos que não se tem conhecimento de ataque vampírico.
Vlad Drácula sempre foi um mistério, raramente visto, muito por sua maldição e quando visto parecia um ser normal. A eras atrás era comum ouvir-se de ataque de vampiros, épocas sombrías que estes seres dominavam esse continente e o antigo.
— Hmmmm…. — Alaric colocou a mão no queixo pensando. — Antigo continente, são aqueles seis?
— Havia me esquecido que você conhecia um pouco da história antiga, está correto. — Fuxi falava enquanto saltava, pousando e continuando seu caminho. — Voltando ao Vlad, como os ataques eram incessantes e os vampiros dominavam, uma caçada em larga escala começou.
Durante uma era antiga no antigo continente, chamada de era sombria, a barreira ainda não existia e os deuses caminhavam sobre a terra. Contudo, respeitavam o tratado de livre escolha, permitindo que humanos e outros seres se desenvolvessem e tomassem decisões autonomamente. Mesmo diante dos vampiros, que ceifavam vidas indiscriminadamente, os deuses não interferiam ou, quando o faziam, limitavam-se a proteger seus fiéis.
Outro pacto essencial era o de nunca atacar ou envolver-se com a criação uns dos outros. Os vampiros, querendo ou não, eram criação de Vlad, e os deuses, cientes disso, abstiveram-se de agir. Nunca atacaram Vlad diretamente, pois seus envolvimentos com arte das trevas concediam-lhe um poder imenso e desconhecido. Os deuses não eram tolos a ponto de se envolverem em confrontos incertos, a menos certos arrogantes.
Os seres vivos exaustos decidiram unir forças contra a ameaça vampírica, conseguindo controlar o perigo, embora nunca o exterminassem completamente. À medida que as eras passaram, a barreira foi erguida, resultando na drástica redução do poder de Vlad Drácula. No entanto, ele permanecia suficientemente poderoso, e sem impedimentos, lançou um ataque em massa de vampiros.
Nessa época, escolhidos começaram a nascer, e o primeiro foi Abraham Van Helsing. Equipado com a Escolion e outras armas poderosas, juntamente com um poder imenso, Van Helsing avançou até os domínios de Vlad. Em uma batalha épica, conseguiu derrotar o Rei vampiro, mas ao custo de sua própria vida.
— Apesar da derrota, Drácula não morreu, mas cessou seus ataques por algum motivo. Graças aos atos de Van Helsing. — Fuxi começou a escalar uma árvore imensa. — Foi... Criada. — A árvore era imensa, tornando a fala complicada. — Finalmente, cheguei ao topo. Bem, foi criada a instituição de caça vampírica Van Helsing, responsável por caçar esses seres.
— Acho que a instituição Van Helsing daqui está focada em ratos... — Alaric observava a vista magnífica do alto. — Afinal, não sei se você percebeu... Mas tínhamos um vampiro aqui.
— Não existe uma instituição no norte, pois os vampiros são seres de sangue quente, e odeiam o frio nórdico. — O lobo cerrou os olhos. — Bom, seja como for… Observe garoto, nossos alvos.
Abaixo deles, uma clareira imensa parecia vazia, mas uma oscilação revelou que o disfarce imposto ali caiu.
— Um domínio inerte — afirmou Alaric. — Um, dois, três… Três lobinhos de guarda.
Três lobos imensos andavam de um lado para o outro, aparentemente fazendo a segurança do local. Eram criaturas imponentes e, possivelmente, poderosas.
— Chegou a hora, garoto.
— Não precisa dizer… — A mana em sua mão começou a tomar formas…. — Bora, começar a vingança.
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Notas:
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