Volume 1
Capítulo 2: Início do Escolhido
— Obrigado por cuidar de meu neto enquanto estive fora, Galdric. — A expressão de Dolbrian suavizou, e seu olhar se tornou mais cálido e sincero. — Quando puder, farei questão de te recompensar.
Galdric havia tomado conta do bebê para que Dolbrian pudesse sair para buscar o leite.
— Haha! Não precisa disso, amigo — respondeu Galdric, com um sorriso desajeitado e um gesto despretensioso de colocar a mão atrás da cabeça. — Não tem necessidade…
— Mas ocupei seu tempo, e você é guarda dessa cidade. Não posso simplesmente tomar seu tempo e não te recompensar depois.
Dolbrian sempre sentiu um certo desconforto de pedir favores, preferindo resolver tudo por conta própria. Era irritante às vezes, pois Galdric por exemplo, vivia tendo que perguntar se ele precisava de algo.
— Tudo bem, se você se sentir melhor assim, tudo bem — disse, ainda com o sorriso no rosto, mas em um tom mais sério. — Mas não se preocupe em se esforçar para me pagar, velho.
Galdric era um dos guardas da cidade, uma das posições mais prestigiosas do reino e o ponto mais alto que um plebeu poderia alcançar honestamente. Nascido na favela, ele havia escalado os degraus da hierarquia com determinação e coragem. Alto, musculoso e destemido, Galdric também possuía um coração generoso. Como alguém que veio do povo, sua lealdade à justiça era inabalável.
Dolbrian estava satisfeito com a resposta de Galdric. Apesar das insistências do guarda para que não se esforçasse e pagasse pelo serviço, Dolbrian estava resoluto em fazer o máximo possível para pagá-lo. Este era o jeito, às vezes irritante, do velho homem.
Estendeu as mãos, pedindo que Galdric lhe entregasse o bebê. O guarda, cuja expressão misturava determinação com uma pitada de ternura, deu um passo em direção ao ancião, cuidadosamente equilibrando o pequeno em seus braços. No entanto, o que parecia ser um momento de calma e segurança se transformou abruptamente em um cenário de pânico. Quando, ao se aproximar de Dolbrian, Galdric tropeçou de forma inesperada. Desesperadamente, o bebê foi projetado para o ar, sua trajetória de queda parecia inevitavelmente trágica.
Mas, em um instante, algo extraordinário aconteceu.
Dolbrian, com uma velocidade e agilidade que desafiavam a compreensão, se lançou em ação. Seus movimentos eram tão rápidos e precisos que pareciam quase etéreos, como se o próprio tempo tivesse desacelerado para ele. Galdric, com seus olhos treinados pelos mais habilidosos espadachins de Reven, mal conseguiu captar a cena. Era incompreensível que um ancião daquela idade pudesse exibir uma destreza tão sobre-humana.
"Ele pode até superar o mais poderoso guerreiro de todo o reino em velocidade", pensou Galdric, o espanto evidente em seus olhos.
Antes que pudesse sequer formular uma palavra, Dolbrian já estava com o bebê seguro nos braços, seu sorriso irradiando um calor reconfortante.
— Pronto, pronto, passou. — Dolbrian murmurou com ternura, balançando suavemente o bebê. — Você está a salvo agora.
O guarda não teve a mesma sorte, ele não tinha um super vovô, para salvá-lo da queda, mas não era esse o pensamento que passava por sua mente. A cena diante dele era tão surreal que parecia saída das mais antigas lendas sobre guerreiros lendários, contadas ao redor das fogueiras. O guarda se levantou, ainda atônito, apoiando-se nos joelhos e tentando processar o que acabara de testemunhar.
"O que acabou de acontecer aqui? É possível isso?" Ele se questionava mentalmente, seu ceticismo sendo desafiado pela realidade que acabara de presenciar.
Dolbrian, apesar da situação inesperada, mantinha uma serenidade quase imperturbável.
— O que foi, Galdric? Você parece pálido.
O guarda, tentando recompor-se, respondeu com uma tentativa de normalidade:
— Oh, nada, senhor Dolbrian. Só estava perdido em meus pensamentos, apenas isso.
Ele não tinha conhecimento profundo sobre o passado do ancião, apenas sabia que, quando ainda jovem, ele havia sido convocado pessoalmente pelo antigo rei para a capital. O ancião passou um período no palácio, e foi exatamente nesse intervalo que os dois se conheceram. Galdric nunca soubera o motivo da convocação naquela época. Já naquele tempo, o ancião pouco falava sobre a vida pessoal.
Apesar da vontade quase incontrolável de Galdric de questionar o que acabara de acontecer, ele reprimiu o impulso. O olhar curioso e inquieto do guarda era, no fundo, uma mistura de perplexidade e respeito, mas Galdric não queria que o ancião ficasse com uma impressão negativa.
— Faz tanto tempo que você não me chama de senhor...
— Hah... É que eu cresci, e me tornei mais velho... Já fazia tento tempo que não te via — respondeu, mas então balançou a cabeça para focar no que importava. — Mas me perdo...
Antes que o guarda pudesse terminar a frase, o ancião ergueu a mão, interrompendo-o com um gesto que transmitia uma autoridade serena. Com um movimento lento e deliberado, o ancião se aproximou e pousou uma mão calejada e firmemente marcada pelo tempo sobre o ombro de Galdric. Seu toque, embora leve, parecia carregar o peso de uma sabedoria profunda.
— Não se preocupe, Galdric, está tudo bem — disse, com um tom que misturava tranquilidade e firmeza. — Agora, vá para casa e descanse.
A frase soou como um comando gentil, quase como uma bênção, e o ancião fez um gesto sutil que indicava que o guarda deveria se retirar. Galdric, sentindo a sinceridade por trás das palavras, baixou a cabeça em um gesto de respeito e se afastou, seguindo a recomendação.
O ancião, por sua vez, dirigiu-se para sua própria casa, uma moradia modesta que se destacava pela simplicidade. A construção era pequena, com apenas três cômodos, erguida inteiramente de madeira. Era uma habitação comum entre aqueles que viviam com recursos limitados no reino, mas, para ele, representava um refúgio acolhedor.
Dentro da casa, o ancião se dirigiu ao pequeno espaço onde o bebê, seu neto, costumava repousar. Utilizou um cesto de frutas, forrado com palha, para criar um leito improvisado e confortável, o melhor que podia oferecer. Com extrema delicadeza, ele acomodou o bebê no cesto, tomando cuidado para não assustá-lo ou machucá-lo.
Com o mesmo cuidado, o ancião preparou um pouco de leite materno e alimentou o pequeno Gideon, que estava agora alimentado e tranquilo. Observando o bebê com um olhar cheio de afeto e preocupação, o ancião murmurou para si mesmo:
— Pronto, agora você está alimentado, meu pequeno Gideon. Você crescerá forte, mas eu realmente quero isso? Se você se tornar forte, terá que enfrentar seus deveres como o escolhido... mas para onde isso te levará?
Dolbrian estava consumido por uma profunda confusão. Ele havia profetizado que o bebê seria o escolhido, mas agora, o peso desse destino parecia esmagador. O amor de um avô, apesar de firme, não desejava ver o neto enfrentando perigos e desafios, mesmo que fosse pelo bem do mundo. O arrependimento e a dúvida preenchiam seu coração, tornando o futuro incerto e o presente ainda mais delicado.
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Treze anos se haviam passado, e o "Escolhido" estava prestes a completar seu décimo terceiro aniversário. No dia 25 de outubro do ano imperial de 604, a vida do ancião era tranquila e serena. Ele havia dedicado todo esse tempo a cuidar do "Escolhido", oferecendo-lhe amor, carinho e afeição, sendo para ele como um verdadeiro avô. No entanto, surgia agora a incerteza: o que o futuro reservava?
— Gideon, por favor, poderia ir buscar alguns ovos para o vovô? São para o seu bolo. — O ancião franziu os olhos, tentando transmitir uma repreensão que soava mais como um carinho. — E, por favor, tome cuidado para não quebrá-los como da última vez, entendeu?
— Hahaha! Você nunca consegue ser sério, vô... Nem um pouquinho — respondeu Gideon, rindo com alegria e enxugando as lágrimas que escapavam de seus olhos. — Mas vou buscar os ovos, sim... Com mais cuidado desta vez... Haha...
Enquanto isso, o "Escolhido" se preparava para sair, ajeitando seus cabelos brancos e admirando o contraste encantador com seus olhos azul-claro no espelho. Vestia sua calça marrom habitual e uma camisa de manga curta branca, com detalhes em azul-marinho. Nos pés, calçava simples sapatos de couro desgastados, uma lembrança da situação financeira modesta de seu avô.
Após terminar de se arrumar, o garoto saiu de casa. Criado nas ruas de terra batida da favela do reino, ele conhecia cada beco e cada esquina como a palma da sua mão, o que lhe permitia transitar por ali com facilidade e segurança. Dolbrian, seu avô, havia permitido que andasse sozinho desde os oito anos, pois acreditava que a liberdade ajudaria o garoto a crescer de forma independente, sem sufocá-lo. O que deu certo, em alguns pontos.
Ele percorria as ruas estreitas, onde o sol escaldante parecia ter intensificado sua força nos últimos anos. Enquanto caminhava, dois guardas passaram por ele, conversando em tom de desdém:
— Aquele moleque moribundo... Tsc... Devia ter batido mais.
O garoto, deu pouca importância aos comentários e continuou seu caminho, sentindo o cheiro nauseante das ruas. Pelo odor desagradável, sabia exatamente de onde estava próximo.
Após alguns minutos, chegou à vendinha, um local vibrante e caótico, repleto de tendas de cores variadas que ofereciam uma infinidade de produtos. Era o centro nervoso da favela, onde os moradores iam para comprar desde alimentos até objetos diversos. Apesar da importância do local para a comunidade, os governantes locais desaprovavam o mercado informal, pois o comércio ali era improvisado e os vendedores não pagavam impostos, tornando tudo ali ilegal.
Ele começou a cumprimentar cada vendedor e cada morador presente, tomando o cuidado de não deixar ninguém de fora. Sempre com um sorriso genuíno no rosto, era querido por todos, assim como seu avô. Ao passar pela barraca de uma mulher, ele a cumprimentou com um largo sorriso radiante:
— Olá, Dona Andra. — Ele acenou com entusiasmo. — Como vai?
— Quem é?... Ah! O "Escolhido" — respondeu, acenando de volta com um sorriso caloroso.
Ao ouvir o título, o sorriso do garoto desbotou e sua expressão se tornou séria. Ele se esforçou para não demonstrar seu desconforto de forma rude:
— Por favor, não me chame assim! Todos ficam falando o "Escolhido." Nem parece que tenho nome...
Dona Andra imediatamente mostrou um olhar de arrependimento e tristeza:
— Oh, desculpe, Gideon. — Ela olhou para baixo, envergonhada. — Não era minha intenção aborrecê-lo. Apenas pensei que esse título era especial para você.
Ao ouvir as desculpas de Andra, ele ficou visivelmente desconfortável, um rubor tingindo suas bochechas. Não era sua intenção fazer com que ela se desculpasse ou se sentisse mal. Em um gesto de nervosismo, deu um passo para trás, forçando um sorriso tímido e colocando uma mão atrás da cabeça, antes de responder com uma voz suave:
— Não se preocupe, Dona Andra... Só me chame pelo meu nome, por favor.
As palavras dele pareceram aliviar Andra, e seu rosto se iluminou com um sorriso genuíno e caloroso. A tensão entre eles se desfez como névoa ao sol, e ela levantou a cabeça com um ar de gratidão.
Após a breve reconciliação, ele se voltou para seu destino: uma tenda um pouco mais adiante, onde se vendiam os mais renomados ovos de toda Reven. À medida que caminhava em direção ao local, seu pensamento se afastava do prazer simples de uma iguaria e mergulhava em questões mais profundas.
“Escolhido... O que isso realmente significa?” Ele se perguntou, as palavras ecoando em sua mente com um tom de inquietação. “Sou especial apenas por causa disso? Se sou... Por que, então, não sinto nada de diferente?”
As dúvidas persistiam como sombras densas, obscurecendo a clareza da mente enquanto o cheiro de esgoto tomava o ar. Ele continuava a caminhar, cada passo carregado de uma introspecção profunda e inevitável, como se seu destino estivesse gravado a ferro e fogo em sua alma, inexorável.
Absorvido em seus pensamentos, a atenção dele se desfez momentaneamente, levando-o a ignorar a presença de uma vala diante de si. Os pés pisaram em falso, e a queda foi repentina; a vala, com cerca de três metros de profundidade, parecia um poço de desespero. No entanto, a água turva e fétida do esgoto amorteceu a queda, como se uma força invisível o tivesse poupado de qualquer dano. Apesar do choque, por algum milgre, ele saiu ileso, como se um toque de sorte tivesse suavizado o impacto.
Ainda assim, permaneceu desacordado por um tempo indefinido. Quando despertou abruptamente, se encontrou imerso no caos do esgoto, sem conseguir compreender exatamente a própria situação. O jovem se ergueu com dificuldade, o corpo fraco e as pernas tremendo sob o esforço. Ao olhar ao redor, foi recebido apenas pela visão de água lamacenta, que se espalhava por todos os lados. O ambiente era desesperador, uma mistura de escuridão e um odor nauseante.
De repente, o silêncio fúnebre foi quebrado por gemidos que ecoavam pelas paredes úmidas, reverberando pelo espaço fétido e opressor. Um medo profundo se apoderou dele, misturado a uma curiosidade quase insensata. Ele seguiu os sons dos grunhidos, que se transformavam em choros abafados à medida que se aproximava. "O que é isso?", questionou-se em um sussurro interno, enquanto seu coração batia descompassado, como se quisesse escapar do peito. O som dos pés pisando na água suja cessou abruptamente quando ele avistou, mais adiante, algo que fez suas pupilas se dilatarem instantaneamente.
Debruçado sob uma ponte que se erguia acima do esgoto, ele avistou uma figura pequena. Era um garoto que parecia ter a mesma idade e estatura que ele, mas o que realmente capturou sua atenção foram os cabelos vermelhos como chamas e os olhos claros, quase acinzentados. O menino estava encurralado e tremendo, sua presença solitária e vulnerável contrastando com o ambiente hostil.
O jovem se aproximou cautelosamente, mas o garoto, em um gesto de medo, recuou e se encolheu ainda mais. A angústia e a dúvida permeavam os pensamentos do "Escolhido": “Por que ele estava ali? Onde está a família desse menino?”
— Ei, olha para cá — falou ele em um tom baixo e controlado, mantendo uma distância segura. — Eu não vou te machucar. Relaxa, na verdade, e se eu te falar que estou perdido também? Haha... Estamos em uma enrascada...
A voz do jovem parecia um fio de esperança em meio ao desespero. Contudo, o garoto, consumido pela exaustão e pelo medo, mal conseguiu reagir antes de desmaiar, suas últimas palavras um murmurio quase inaudível: "Me… aju… da."
O silêncio que se abateu sobre o local era profundo e opressivo, como um manto pesado que abafava até os sons mais sutis. O único ruído era o murmúrio distante da água corrente e os ecos esparsos de gemidos que ainda pairavam na atmosfera densa da vala.
O "Escolhido" se ajoelhou ao lado do garoto, com sua mente fervilhando em uma mistura de compaixão e inquietação. O destino dos dois estava entrelaçado de forma inesperada e indelével.
Não havia como o "Escolhido" permanecer parado diante daquela cena sem agir. Com uma urgência contida, levantou o garotinho e o envolveu com cuidado nos braços. Desviando-se dos restos de água e lama, avançou até uma área seca e cuidadosamente depositou o corpo inconsciente no chão, tomando o máximo cuidado para não causar-lhe mais danos.
Observou ao redor, procurando alguma saída, alguma forma de fugir Dali. Contudo, o local não oferecia uma saída fácil, e a sensação de desesperança pairava sobre ele. Determinado a oferecer alguma forma de conforto ao outro, ele começou a recolher gravetos secos espalhados pela região e a acendeu uma fogueira.
Ele sabia acender uma fogueira; pois era uma habilidade que seu avô lhe havia ensinado para emergências como aquela. As lembranças das tardes passadas ao lado do velho, aprendendo a manejar o fogo com paciência e precisão, surgiram em sua mente, proporcionando-lhe um lampejo de esperança, e um sorriso terno iluminou sua face.
Com a fogueira crepitando e lançando sombras dançantes ao redor, aproximou o corpo do garoto do calor emergente. A temperatura do pequeno começou a subir gradualmente, e a cor pálida da pele contrastava com o brilho cálido das chamas. Enquanto observava o garotinho se recuperando gradualmente, perguntas inquietantes atravessavam sua mente:
"O que aconteceu com ele? Por que está aqui, sozinho? Como posso ajudá-lo?"
Outras questões começaram a surgir, pressionando ainda mais seus pensamentos:
"É meu dever ajudar os outros? É isso que significa ser o 'Escolhido'? Implica sempre fazer o bem, independentemente de quem seja? É essa a essência da minha missão?"
Apesar de sua mente estar repleta de dúvidas, a decisão de ajudar a criança nunca vacilou. Sua ação não dependia da condição do garoto ou do cumprimento de um dever específico; era uma extensão natural de sua própria bondade. Desde sempre, o "Escolhido" havia sido um jovem amável e altruísta, cuja bondade não se restringia a um título ou a um reconhecimento. Era a sua natureza que o movia a agir em prol do bem, sem hesitação.
A noite havia se instalado, cobrindo o mundo com seu manto escuro, e o medo havia se apossado do coração do "Escolhido." Nunca antes ele havia passado tanto tempo longe de seu avô, e a solidão da noite só amplificava seu desconforto. Pior ainda, as lendas sobre um monstro terrível que assombrava os esgotos ameaçavam sua mente inquieta, fazendo cada ruído ser aterrorizante.
Subitamente, o garotinho começou a se mexer, seus pequenos movimentos sendo visivelmente agitados.
— Por favor, não me machuca… — A voz do garoto tremia, e sua pele estava pálida como a lua. — Eu não tenho nada… Por favor.
— Ei, relaxa, eu não vou te machucar. — O "Escolhido" estava sentado próximo à fogueira, com as pernas cruzadas e uma distância confortável entre ele e o garotinho. — Como falei antes, eu também estou perdido aqui. Vamos nos ajudar a sair dessa, e depois eu te levo para sua casa, tudo bem?
— …Eu não tenho casa. — As palavras saíram do garoto como um suspiro doloroso, cada sílaba carregada de tristeza.
O jovem ficou em silêncio, com um olhar que refletia um misto de espanto e incredulidade. Embora soubesse da existência de órfãos no reino, nunca antes tinha se deparado com um de perto. As palavras de seu avô ecoavam em sua mente: "O rei e os nobres desprezam crianças mendigas e, por isso, as enviam para orfanatos, longe dos olhos da sociedade."
Era por isso que essas crianças eram uma visão tão rara nas ruas, invisíveis aos olhares da alta sociedade que, em sua indiferença, as relegava à obscuridade de um orfanato maltrapilho. Isso era chamado de "Limpeza de Ruas". Então, não era surpreendente o jovem nunca ter visto uma. Após um momento de estupefação, ele respirou fundo, forçando um sorriso gentil, e disse:
— Hmmm... Relaxa, eu te levo para a minha então. Não se preocupe, meu avô saberá como ajudar. — Ele usou as mãos para se apoiar enquanto permanecia sentado. — O que acha?
O garotinho soube que ele não estava mentindo, pois quem mente não teria um sorriso tão puro. Então, um pequeno sorriso começava a se abrir em seu rosto e seus músculos relaxavam. O pequeno sorriso tornou-se grande em instantes.
Não conseguindo conter a onda de emoções, ele se levantou, suas palavras saindo com uma mistura de esperança e incredulidade:
— Verdade? Está falando sério ou é alguma brincadeira de mal gosto ? — Cada palavra era acompanhada por um suspiro. Seus olhos estavam brilhando, ameaçando transbordar em lágrimas. — Tipo... Vou ter onde dormir? Vou poder comer?
Um turbilhão de emoções se formou em sua mente, uma mistura de esperança e gratidão, enquanto ele começava a vislumbrar uma possibilidade de um futuro mais seguro e acolhedor.
— Sim, é a pura verdade, mas como é seu nome? — perguntou o “Escolhido” de uma forma inocente.
Rapidamente o clima mudou; o garotinho que antes estava com músculos relaxados, os enrijeceu. Seus olhos, que antes brilhavam com uma vivacidade infantil, estavam fixos no chão. A transformação em seu semblante era notável, e ele falou com uma seriedade carregada de tristeza:
— Eu não sei... Quando perguntei a alguns homens, há pouco tempo, eles me chamaram de apenas órfão. E, disseram que pessoas como eu são apenas fardos para o mundo, não merecendo um nome... — disse ele com uma expressão que misturava melancolia e resignação, mantendo a cabeça baixa e os olhos vidrados no chão.
Em questão de segundos após essas palavras, sons de passos ecoaram, inicialmente distantes e depois mais próximos até cessar completamente. O garotinho sentiu algo inesperado tocar sua pele, envolvendo-o de forma acolhedora, um abraço carinhoso. Essa sensação era inusitada para o garotinho, que nunca havia sentido o calor de um abraço antes, ou não se lembrava de já estar experimentando algo assim. Sem dizer uma palavra, seu rosto ostentava o mais puro sorriso. Após alguns segundos de abraço, o garotinho decidiu expressar algumas palavras:
— O que você tá fazendo? Pare, eu estou todo imundo e suas roupas parecem limpas, vai sujar — falava em tom de preocupação, mas o mesmo não interrompia o abraço.
— Relaxa, só saiba que agora você terá um nome. — O jovem o soltou, após dizer essas palavras, que mais pareciam algum tipo de ilusão, um sonho que a tanto pareceu inalcançável.
— Sério!? — Era notável sua extrema alegria, junto a toda sua ansiedade. — E qual será?
— Será A-
No mesmo segundo que completaria o nome, algo apareceu por detrás do garotinho, sua sombra o sobrepôs totalmente. Algo que só se via em lendas, a criatura que o "Escolhido" escutava apenas nas histórias que seu avô contava, surgiu à sua frente: o "Rei dos Ratos".
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Notas:
Aviso: Todas as ilustrações presentes na novel foram geradas por IA — já que atualmente não possuo recursos para contratar um ilustrador. — Reconhecemos que a IA não é perfeita, portanto, a ocorrência de erros é inevitável. O objetivo é simplesmente proporcionar uma representação visual do que o autor imaginou inicialmente. Lembre-se de que as ilustrações são apenas uma interpretação básica e, por vezes, podem não estar totalmente em conformidade com a descrição fornecida. Recomendamos que considere sempre a descrição como a verdade principal, utilizando as imagens como um guia básico. Pedimos desculpas antecipadamente caso algo cause desconforto visual.
Deuses citados para caso não seja de seu conhecimento:
- Luna, deusa romana da lua
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