Volume 1
Capítulo 11: Passado do Norte
— Relaxa, minhas espadas são invocadas mesmo.
— Mas isso tem que mudar, jovenzinho — Aldebaram decidiu falar. — Porque, elas dependem de sua mana e se você estiver sem, já era.
Alaric por um segundo, ficou sem resposta e decidiu apenas aceitar o que Aldebaram falava.
— Amanhã, vamos à cidade. Irei mandar fazer espadas para você — falou Aldebaram, enquanto pegava um pedaço do assado já pronto.
— Ei! Espere por mim — gritou Alaric, já indo em direção a carne.
— Alaric! Me espere. — Correu Gideon também.
Astrid deu um leve sorriso ao ver isso.
— Vocês dois aí, antes devemos orar — dizia o ancião, dando um tapa na cabeça dos irmãos.
— Isso aí! — exclamou Aldebaram, que já estava colocando a carne em sua boca
Dolbrian segurou a mão de Aldebaram.
— Você também, senhor.
Todos se sentaram em volta da carne na mesa, e fecharam os olhos. O ancião, começou a orar:
— Com gratidão sincera, elevamos nossos corações à deusa Luna, a protetora da noite e senhora da caça. Comemos em comunhão, partilhando o fruto da caça que a senhora da noite nos concedeu. Que sua luz sempre ilumine nossos caminhos nas florestas sombrias, e que a colheita seja honrada em seu nome. Assim seja.
— Assim seja. — Todos ali reunidos completaram a prece.
— Mas, Aldebaram, você não cultua outro deus? — questionou Gideon, sem entender o porquê de Aldebaram ter agradecido a Luna.
— Sim. Tyr, deus dos guerreiros, mas todo caçador que se preze, deve agradecer a deusa da caça também. E, como as mitologias se misturaram, Luna é uma das deusas da caça para todos os habitantes do continente — respondeu Aldebaram.
Com a fusão de mitologias, alguns deuses passaram a ser venerados em todo o continente. Luna destacava-se entre essas divindades, transcendendo as escolhas específicas de cada país ou povo. Sua reverência persistia universalmente como a deusa lunar e caça.
Agora todos estavam prontos para compartilhar a refeição ao redor do fogo, sob o olhar cuidadoso de Dolbrian. O ancião sábio da cabana e do olhar ainda mais sábio e poderoso da deusa, que abençoou essa refeição.
Com todos terminando suas refeições, eles foram dormir.
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"Não eu, eu não te matei, foi sem querer. Não era minha intenção... Nãoooooo!!!!" Gideon acordou com esse pesadelo terrível, após os acontecimentos da guerra, ele sempre tinha esses pesadelos.
“Vou dar uma volta lá fora para ver se me acalmo um pouco”, pensou Gideon, que logo levantou e foi em direção a porta.
Ao abrir a porta, ele observou Alaric sentado na sacada, observando a lua.
— Alaric?
— Oi, Gi — respondeu o jovem ainda admirando a lua.
A noite estava clara como sempre, graças a lua e, fria, proveniente do clima do norte. A neve caía incansavelmente, tudo isso, acabava por criar um clima melancólico.
— O que faz aqui? A essas horas ainda — questionou Gideon, curioso.
Ele após fazer a pergunta, caminhou até próximo a seu irmão e sentou ao seu lado. Um vento singelo batia nos dois, agitando seus cabelos brancos e vermelhos.
— Desde depois dos acontecimentos em Reven e, que eu assassinei Galdric.
— Para Alaric, você não o assassinou. Você estava fora de seu controle.
— Que seja, no final das contas.... Ele está morto. Bom, todo dia eu acordo assustado… Tenho pesadelos com Galdric.
Essas palavras mesmo que simples, acertaram Gideon como uma flecha envenenada. Alaric nunca havia falado sobre isso, ao mesmo tempo isso o abateu profundamente.
“Como um irmão, não percebe uma coisa dessas”, pensou ele, se auto criticando.
— Meu irmão.... Eu nunca soube que você se sentia assim. — Gideon o abraçou. — Por que nunca me contou?
— Não desejo parecer fraco, Gideon. Desde a minha promessa de ser seu cavaleiro, evitei a fragilidade a todo custo — respondeu Alaric, finalmente abandonando sua couraça de insensibilidade e revelando o garoto frágil que ainda habitava dentro dele.
— Irma-
Gideon foi interrompido por seu irmão ainda em seus braços. Lágrimas começavam a escorrer pela face, mesmo que jovem, já marcada de Alaric.
— O que eu sou!? O que eu fiz!? Matei, matei, matei… e isso não me levou a lugar algum, isso não tirou minha dor! Apenas aumentou… Agora carrego o peso de inúmeras vidas que terei!
A conversa mudou rapidamente, o clima ficou pesado e o vento se intensificou.
Gideon não sabia o que responder, ele nunca viu seu irmão assim. Na verdade, o jovem que era o frágil da relação, mas agora Alaric estava ali, aos prantos, chorando de soluçar.
— Eu pensei que matando outros… eu ia me livrar da culpa… Droga! — Ele dava socos no assoalho de madeira, soluçando intensamente. — Pensei que matando tantos soldados, Galdric ia ser só mais uma morte, mas não, Gideon... Galdric na realidade é a morte mais pesada de se carregar em minha alma… Maldição! Maldição! Porque tem que ser assim!?
— Oh, irmão… Não se sinta assim. Você não tem culpa, eu que tenho Alaric… — Gideon falava enquanto abaixava a cabeça, seus punhos cerraram. — Eu devia ter te impedido de ir treinar aquele dia, mas não, eu apenas dei chilique e não fiz mais nada.
— Gi... Pare com isso. Você não tem culpa.
Alaric apertou o abraço que já durava alguns minutos. Seu choro já havia cessado, mas seus olhos ainda continham vestígios de seus mais profundos sentimentos .
— Mas eu tenho Alaric, se eu tivesse sido mais forte… Que espécie de escolhido sou eu? — Gideon mordia os lábios, sua expressão era a de pura dor. — Que não consegue nem… salvar o próprio irmão de suas dores...
Gideon começava a sentir seu coração acelerar, sua respiração começava a ficar pesada. De novo, ele passava por aquele quadro, que ainda não compreendia.
— Irmão. — Alaric virou Gideon em sua direção e olhou em seus olhos. — Você fez o que pode e o que não pode também. Sendo o escolhido ou não, você ainda é meu irmão, meu salvador.
Gideon sem reação começou a chorar, um choro diferente, pois era misto de felicidade e tristeza. Os dois se abraçaram novamente, os irmãos iluminados pela lua.
Após toda essa conversa, eles ficaram exaustos e foram dormir em seus respectivos lugares.
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— ACORDEMMM!!!! — berrou Aldebaram.
Os dois garotos acordaram assustados, mas logo entenderam do que tratava-se. E, já tinham se acostumado, durante os 6 meses que ficaram aí, Aldebaram os acordava todos os dias aos gritos, mas hoje foi especial.
— Cidade? — questionou Alaric.
— Exatamente — confirmou Aldebaram.
Desde que chegaram à cabana, apenas foram a vilas pequenas nas proximidades, mas nunca na real cidade desse país. Eles nem sabiam como era.
— Bom, antes de irmos para a cidade, gostaria de uma breve contextualização de onde estamos — pediu Gideon, querendo entender onde tinha se metido.
Aldebaram, começava a explicar. No momento eles estavam nas montanhas de Windefel, o reino nórdico dos gigantes.
— Gigantes!? — exclamou Alaric.
— Exatamente — ao falar apontou para uma veia saltada em seu braço. — Em minhas veias correm um pouco do sangue dos antigos gigantes.
— Explique — pediu novamente Gideon.
Aldebaran explicou, que antigamente, gigantes dominavam os reinos nórdicos. Eram feras enormes e implacáveis com um único desejo: a dominação.
A raça expandiu-se até na época a fronteira de Sidi, o reino humano mais ao norte. Diante do temor de serem completamente aniquilados pelos gigantes e sua força esmagadora, os habitantes de Sidi decidiram tentar uma negociação com as feras, algo impensável na época.
Já que os gigantes eram conhecidos por não serem diplomáticos e muito menos amigáveis, mas o rei de Sidi, Julian Sidinfel 1°, naquela época decidiu arriscar. Ele partiu em uma comitiva pelas terras geladas até o então castelo de Windefel, onde encontrava-se o rei gigante.
Ao pararem perante a entrada do castelo, avistaram dois gigantes de armadura dourada esperando.
— Papai, então é aqui que se encontra o rei desse povo? — perguntou Beatrice Sidinfel.
— Sim, minha filha, agora vamos — disse o rei, preocupado com a situação.
Sua filha tinha implorado para o acompanhar, e a uma noite antes, ele sonhou com o seu deus o orientando a levá-la.
Ao descer da carruagem, Beatrice revelava a beleza que a destacava em meio à paisagem fria e hostil. Seus cabelos dourados, como raios de sol, caíam suavemente sobre os ombros, contrastando com o manto real azul que a protegia do frio cortante. Seus olhos azuis refletiam a cor do céu nórdico, transmitindo curiosidade e determinação.
O rei desceu logo em seguida e por outro lado, carregava a dignidade de seu cargo em cada passo. Vestido com uma pesada capa de pele vermelha, seus olhos experientes e barba grisalha denotavam anos de liderança. Seu semblante refletia não apenas a coragem de um líder disposto a negociar com gigantes, mas também a preocupação paternal ao trazer sua filha para esse encontro arriscado.
Assim, pai e filha enfrentariam não apenas os gigantes imponentes, mas também a incerteza de uma negociação que poderia moldar o destino de Sidi.
— Papai! Olha o tamanho dessa porta!! — exclamou a princesa, com toda sua inocência. Seus cabelos balançavam graças aos ventos nórdicos.
— Sim filha. Bom, afinal eles são gigantes, né — respondeu o rei, tentando quebrar a tensão que pairava sobre ele.
O mesmo olhou para os guardas que estavam na porta, seu tamanho era inacreditável, facilmente acima dos 3 metros. O que poderia não parecer muito, mas comparado a pessoas que em média tinham seus 1,80 de altura, eram imensos. Seus rostos eram sérios, não demonstravam nenhuma emoção, apenas a frieza nórdica.
Suas peles eram azuis, de resto tinham aparência bem humanas, o que deixou o rei mais confiante.
“Se a aparência é humana, sentimentos não devem ficar muito longe também”, pensou ele.
— Me acompanhem — falou o gigante com uma voz grave, que fazia jus a seu tamanho.
Todas as raças falantes tinham o mesmo dialeto, graças à fusão mitológica, que fez as culturas desenvolverem-se igualmente na parte oral, para assim louvar e cultuar os mesmos deuses sem qualquer dificuldade.
O gigante se aproximou da enorme porta do castelo, que abria-se sozinha majestosamente diante dos visitantes, talvez por magia.
Ornamentos intrincados representavam cenas épicas da história dos gigantes, esculpidos com habilidade artística que ecoava a grandiosidade de sua raça. A madeira da porta, robusta e envelhecida, revelava os vestígios do tempo e das muitas estações que enfrentou.
Ao atravessar essa entrada colossal, os visitantes deparavam-se com o castelo, uma fortaleza imponente que se erguia contra o céu nórdico. Torres imensas, como pilares de gelo, se elevavam acima das muralhas, enquanto a pedra cinza-claro contrastava com a paisagem nevada ao redor. Bandeiras gigantes tremulavam, adornadas com símbolos ancestrais, indicando a herança e a glória dos gigantes.
Os arredores do castelo eram decorados com estátuas esculpidas em homenagem aos antigos líderes e guerreiros, testemunhas silenciosas das eras passadas. O som distante do vento uivando pelos corredores das muralhas ecoava a grandiosidade e a solidão desse reino. Enquanto os visitantes adentravam o castelo, sentiam a presença imponente de uma civilização antiga, guardiã de segredos e mistérios que desafiavam o tempo.
“Essa raça! Os gigantes não são uma raça subdesenvolvida, com pouca inteligência. Na verdade eles talvez sejam os mais desenvolvidos, do que o continente inteiro”, pensou o rei, enquanto admirava-se com tudo.
O preconceito sobre a raça gigante havia sido quebrado, o pensamento de que eles eram apenas selvagens que buscavam destruição, se provou mentira, bom, quase mentira.
— Papai, olha isso! — A princesa apontava para uma enorme sala.
Ao fundo desta majestosa sala, destacava-se um trono monumental, uma obra-prima de mármore adornada com detalhes tão variados quanto exuberantes, enriquecido pela estofagem de quimera divina e bordado em seda.
O percurso que conduzia a esse trono era traçado por um tapete azul imenso, ladeado por pilares esculpidos em mármore. Ao longo desse trajeto, estátuas magníficas e tesouros de diversas naturezas adornavam o ambiente. O chão, feito de vidro temperado, refletia a grandiosidade do espaço em um brilho resplandecente.
À retaguarda do trono, uma enorme bandeira de Windefel se estendia, orgulhosamente pendurada na parede. Brasões das tribos gigantes aliadas adornavam os pilares de mármore.
Sentado no trono, o rei gigante, uma figura colossal vestida em armadura reluzente, dominava o trono com uma presença majestosa.
Sua pele toda com um tom azul índigo, seus cabelos brancos fluíam como cascata, olhos intensos refletiam sabedoria, e uma barba entrelaçada com joias adicionava autoridade. O rosto marcado contava a história de batalhas e conquistas, enquanto suas mãos poderosas seguravam um cetro de autoridade. A voz profunda ecoava e impõe medo e respeito, personificando a ligação entre o passado glorioso e o futuro de seu reino.
— Ai, meus deuses! — exclamou o rei.
— O que foi, pai!? — perguntou Beatrice preocupada com seu pai.
— Estamos diante do ser mais poderoso deste mundo — disse o rei, claramente em desespero. É óbvio que estaria, diante a tal criatura sublime.
— Silêncio! — exclamou o rei gigante, enquanto levantava seu cetro.
A sala que além dos reis e a princesa, também contava com a presença dos mais variados tipos de gigantes; líderes de suas tribos, soldados e cidadãos comuns. E, todos estes, ficaram em silêncio absoluto ao escutar a ordem de seu rei.
O rei gigante ao ver a princesa que acompanhava o rei Julian, ficou momentaneamente atordoado, e vermelho.
Ele apontou para Julian, e com uma voz grave, silabou:
— Você aí.
O rei Julian, olhou para a figura quase divina à sua frente.
— Você veio até aqui, para firmar uma aliança, certo? — perguntou o gigante.
— Sim, esse é meu desejo — Julian respondeu, enquanto se recompõe.
O gigante olhou para a jovem princesa, e olhou de volta a Julian.
— Formarei a aliança.
Tais palavras pegaram todos de surpresa, gigantes e o próprio rei, que ficou sem acreditar, mas ele sabia que tinha algo aí. Não ia vir de graça essa aliança.
— Eu também sou um rei, e sei que somos movidos por interesses. Então, o que deseja? — questionou Julian, finalmente mostrando alguma imponência.
— Sua filha.
Seco e direto, palavras simples, mas com poder destrutivo imenso para o rei e pai Julian.
— O que!!!!?? — Os gigantes na sala estavam inquietos.
Eles recusariam isso, mesmo sendo civilizados; a essência de sua cultura era a invasão. Além disso, a necessidade de invadir era imperativa para garantir sua subsistência, especialmente porque os gigantes consumiam muito mais que os humanos comuns, e o cultivo nas terras nórdicas era desafiador.
— Não irei aceitar uma coisa dessas, só porque você quer uma mulher humana! — exclamou um general de uma das tribos, presente no local.
Em segundos após dizer isso, algo voou em sua direção, como uma flecha, mas não era uma. Na realidade, era o cetro real e em milésimos atravessou seu pescoço, sua cabeça caia lentamente. Enquanto ainda tinha consciência, ele olhava para o rei gigante e o amaldiçoava.
Todos na sala ficaram em silêncio após tal ato, não queriam ter o mesmo destino. O rei Julian, que já não tinha esperanças, apenas aceitou tal proposta.
— Filha me perdoe-
Ele foi interrompido por Beatrice. Cabisbaixa, com lágrimas escorrendo timidamente por seu rosto, falou:
— Não precisa se desculpar papai, eu entendo. Eu já tenho 18 anos. Já era hora de me casar também.
“Maldito, maldito! Seu reino irá cair gigante, eu lhe prometo”, pensava e amaldiçoava o rei.
Com o passar do tempo, o rei gigante e a princesa uniram-se em matrimônio. Embora os gigantes possuíssem a habilidade de reduzir seu tamanho, era algo que consideravam humilhante, mas o rei optou por fazê-lo, para assim poder gerar seus descendentes.
E assim nasceu o primeiro mestiço da raça, agora conhecido como “Giganóide”. Graças à aliança entre humanos e gigantes, as guerras cessaram, abrindo fronteiras e resultando no nascimento de muitos giganóides, já que os gigantes preferiam as humanas. Isso, por sua vez, foi responsável pela baixa natalidade dos gigantes puros, sendo o primeiro motivo para a extinção da raça.
O segundo motivo foi a insatisfação. Tribos contrárias à aliança, repletas de ódio e repúdio aos giganóides, iniciaram guerras, forçando os giganóides a se unirem em uma única nação para se defender. O reino gigante, antes unido, agora se dividia em dois.
Logo, mais insatisfação gerou revoltas, resultando em mais divisões de terras. Agora, eram cinco reinos (2 gigantes e 3 giganóides). Lindenfel e Asdenfel e Ciantefel, reinos giganóides modernistas, decidiram abandonar completamente ou quase completamente a tradição milenar dos gigantes, causando um atrito imenso entre as nações e dando origem à famigerada guerra das tradições. Nela, Lindenfel, Asdenfel e Ciantefel, enfrentaram as duas últimas nações gigantes, Estudenfel e Windefel.
Os giganóides estavam prestes a perder, mas antes do início da guerra, aliaram-se aos reinos humanos, incluindo Sidi. Na época, comandada por Julian 5°, que herdara a vontade de seu avô de derrubar os gigantes por vingança.
Desta forma, os reinos gigantes, já sem homens para lutar devido à baixa natalidade, foram totalmente derrotados e exterminados. Levando à extinção da raça gigante e à criação da atual geografia do norte.
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Notas:
Venha bater um papo conosco e discutir sobre a novel no Discord ficarei muito feliz de saber suas opiniões.
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