Sinfonias Galáticas Brasileira

Autor(a): Yago.H.P


Volume 1

Capítulo 13: Duas Opções

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Elizabeth: Escritório

O escritório era um espaço ao qual raramente ficava, já que passava a maior parte do tempo na ponte de comando. No entanto, diante das notícias recentes e de tudo que se desenrolou, preferi permanecer ali.

Localizado acima da ponte de comando, o escritório era um ambiente espaçoso e único. Acessá-lo era possível por dois métodos distintos: através de um elevador posicionado ao lado esquerdo da minha cadeira de comandante, que levava diretamente ao lado esquerdo do cômodo, ou através da minha própria cadeira, que se elevava e parava logo atrás de uma imponente mesa de carvalho.

Em frente a mim, uma enorme janela proporcionava uma vista panorâmica do espaço sideral, permitindo-me observar as vastidões cósmicas diante dos meus olhos.

"Como chegamos a isso..." Me peguei refletindo sobre o caminho que nos trouxe a este ponto, enquanto observava a foto cuidadosamente enquadrada acima da minha mesa. Na imagem, estou ao lado dos meus pais no dia da minha formatura na Academia Militar, os sorrisos radiantes saltavam da fotografia, não apenas os meus, mas também os deles.

"Como eles reagiriam às notícias?" Deixei-me cair para trás na cadeira, contemplando o teto enquanto a balançava suavemente. O único elo tangível com eles era o pingente da broca que sempre carregava comigo, agora entre meus dedos, admirando-o enquanto a luz da lâmpada no teto obscurecia minha visão. O silêncio ao meu redor era quase ensurdecedor…

O silêncio foi abruptamente quebrado pelo som da porta do elevador deslizando para o lado, liberando um aroma reconfortante de baunilha que preenchia o ambiente antes mesmo de sua saída.

— Sarah... — minha voz ecoou suavemente, ao ver minha médica no elevador, acompanhada pela sua presença cativante. Seus cabelos vermelhos cintilavam enquanto ela se aproximava. — Você não me avisou que viria...

— Desculpe-me, é que... — Ela não conseguiu sustentar o olhar inundado pela tristeza e baixou.

— Está tudo bem. — Eu me ajeitei na cadeira, oferecendo-lhe o assento à frente da mesa, o qual ela prontamente ocupou. — Então, o que deseja a minha médica favorita, com este humilde ex-comandante?

Ela me encarou com apreensão, suas mãos ocultas sob a mesa enquanto mordiscava o lábio inferior.

— É justamente isso que me preocupa, o seu estado mental, após tudo o que aconteceu...

— Você sabe que sou forte mentalmente... No fim, estou bem. — Descansei o cotovelo no apoio da cadeira, usando os punhos para sustentar minha cabeça. — Apesar de tudo... E você, como está se sentindo?

— Estou aliviada agora que sei que você está bem... — Ela forçou um sorriso, embora seu belo rosto estivesse inundado pela tristeza, e logo o sorriso desapareceu. — Na verdade, estou arrasada, Ezekiel... Mesmo sem ter ouvido nada... Eu... eu ouço os gritos de socorro das pessoas... eu...

Eu já esperava que ela estivesse em um estado semelhante a esse. Sempre preocupada mais com os outros do que consigo mesma. Era uma mulher bondosa, de coração amável.

A luz da lâmpada refletia em seus brincos com os símbolos do Bastão de Esculápio, que brilhavam, enquanto lágrimas também brilhantes escorriam de seus olhos.

— Me desculpe... Eu vim aqui para ver se você está bem... e acabo te preocupando... — Ela retirou os óculos, passou a mão nos olhos para limpá-los e depois os colocou de volta, dirigindo-me uma pergunta: — Sobre aquilo, tem certeza?

— Sim, absoluta certeza... — Levantei-me e caminhei até ela.

— O que você... — Ela me olhou perplexa, mas logo compreendeu e levantou-se, abrindo os braços.

Assim, nos envolvemos em um abraço apertado e reconfortante, um abraço que significava que estaríamos ali um para o outro, não importando o que acontecesse.

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Elizabeth: Hangar

Aquilo que Sarah havia falado era isso, havíamos manobrado a nave até alguns asteroides errantes, e ativado o modo de camuflagem. Neste momento, estávamos na imensidão do hangar da nave Elizabeth, eu me encontrava sobre uma passarela que se estendia ao longo da parede, ladeado por meus oficiais. Abaixo de nós, a tripulação se reunia, aguardando minhas palavras com expectativa. Chamei-os ali para compartilhar algo de extrema importância.

As cores das vestimentas delineavam as diferentes funções e hierarquias a bordo. À frente, destacava-se um grupo coeso de homens e mulheres vestidos de preto, a tropa especial de Sofia. Ao lado, os trabalhadores da nave trajavam laranja, enquanto alguns usavam azul e outros vermelho, representando as diversas áreas da nave. Apesar das diferenças, todos estavam unidos, com uma curiosidade compartilhada.

Segurando firme no corrimão, inclinei-me para frente. Atrás de mim, Poul e Victor mantinham-se lado a lado, seus braços entrelaçados em um gesto de apoio mútuo. Sarah e Suzuhara compartilhavam um apoio semelhante, enquanto Sofia e Vincent mantinham uma postura militar imponente.

— Como todos sabem, nossa missão foi um fracasso. Não apenas falhamos, mas também perdemos milhares de vidas devido aos nossos erros. — Não poder desviar o olhar era doloroso ao pronunciar aquelas palavras, mas eu tinha que me manter firme.

A multidão abaixo refletia a gravidade da situação em suas expressões. Alguns exibiam tristeza ou melancolia, apoiando-se uns aos outros ou ocultando o rosto entre as mãos, incapazes de conter as lágrimas.

— Estávamos preparados para enfrentar as consequências de tais erros e estávamos dispostos a aceitá-las de bom grado, pois reconhecemos a gravidade de nossas falhas.

Após essas minhas palavras, as expressões dos presentes começaram a se tornar sombrias, evidenciando suas dúvidas sobre o rumo da conversa. Embora todos estivessem cientes das possíveis punições para os líderes da nave, não era necessário compartilhar esses detalhes com eles, pois poderia minar a confiança da tripulação em nossa liderança. Então, eles estavam confusos do porquê estava compartilhando assim.

— Mas o que descobrimos foi muito além do que esperávamos — continuei, sentindo o peso das palavras. — A partir de agora... somos considerados criminosos pelo governo de Londres.

As pessoas foram tomadas pelo choque, pegos de surpresa por uma revelação inesperada. Gritos irromperam imediatamente, como era de se esperar em uma situação tão tumultuada. Não apenas os oficiais, mas também, todos ligados à Elizabeth, estavam envolvidos. A exigência por explicações ecoou entre a multidão, exceto pela tropa especial, treinada com a mesma disciplina impecável de Sofia.

— Por favor, acalmem-se! — A voz grave de Victor soou como um trovão, silenciando a agitação. — Nosso comandante tem mais a dizer!

— Agradeço, Victor… — Voltei-me para a multidão, meu olhar transbordando convicção. — Acreditamos em nossa inocência acima de tudo. Não importa o que afirmem. No entanto, sabemos que sem provas, não seremos acreditados. Isso significa que seremos caçados e teremos que lutar. Não vou mentir, haverá derramamento de sangue inocente por ordem daqueles no poder. Diante disso, ofereço duas opções: entreguem-se ao governo e vivam com registros criminais menores, e eu providenciarei todo apoio para ajudá-los a voltar para casa.

A maioria pareceu inclinar-se para essa escolha, considerando-a a mais segura. Não os julgaria por isso, nem em mil anos, até, ofereceria ajuda da maneira que pudesse. Contudo, percebi alguns rostos hesitantes, e foi para esses que direcionei a segunda opção. Firmei minha mão no corrimão, intensificando meu olhar, franzindo as sobrancelhas.

— E agora, a segunda opção, mais arriscada: juntem-se a nós nesta jornada para provar a inocência de cada alma presente e talvez impedir algo ainda maior. Pois há algo mais por trás disso tudo! Podem chamar de loucura, de insensatez, mas não nos importamos, pois a verdade prevalecerá. Sei que dentro de cada coração aqui presente há uma chama, uma chama que se acende para lutar contra a injustiça. Me concedam o calor dessa chama e juntos faremos uma labareda maior do que as garras daqueles que se consideram detentores do poder. Juntos e somente juntos, conseguiremos. Então, o que dizem? Escolham!

Ergui o punho para o céu com determinação estampada no rosto, e todos os meus oficiais seguiram o gesto. Logo em seguida, a tropa especial inteira se uniu a nós. Eles eram os mais receptivos à minha liderança. 

No entanto, agora enfrentava o desafio de convencer os membros da tripulação comum, os mais difíceis de persuadir. Sentia uma ansiedade aflitiva enquanto observava os primeiros punhos se erguendo, eram poucos, mas significativos. No final, o que eu temia se concretizou: mais da metade da tripulação da Elizabeth decidiu se render.

— Ezekiel, não era o que você esperava... está tudo bem? — perguntou Suzuhara, ao meu lado, tocando meu peito e me encarando com preocupação.

— Estou bem — respondi, até porquê, os que permaneceram estavam agora comprometidos com a luta até o fim. — Aqueles que aceitaram: saibam que juntos vamos superar isso! Juntos enfrentaremos uma nação e sairemos vitoriosos!

Os que ergueram os punhos bradaram como guerreiros prontos para a batalha. Houve gritos e lágrimas, eram pessoas boas, talvez eu estivesse guiando-as para uma morte certa, mas naquele momento, isso não importava. Enquanto os que se recusaram cruzaram os braços, observando em silêncio, temendo possíveis represálias. No entanto, eu nunca faria mal a eles; afinal, eram apenas pessoas que valorizavam a própria vida.

— Não se preocupem, aqueles que decidiram sair. Vou providenciar meios para que retornem à terra e se entreguem. E para aqueles que escolheram permanecer ao nosso lado, proíbo qualquer forma de discriminação. Eles estão apenas seguindo seus corações.

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Elizabeth: Ponte de comando

Após informar a tripulação e fazer um discurso, dirigi-me à ponte de comando, onde estavam os oficiais indispensáveis: Poul, Suzuhara, Sofia e Vicent. Sarah estava na sala médica, enquanto Victor ainda se recuperava de seus ferimentos.

"Que dor..." Minhas costas latejavam novamente, tão intensamente que fui obrigado a tomar alguns comprimidos que mantinha discretamente guardados. Tornara-se um hábito, ingeri-los para aliviar a dor persistente. E, eu não tinha ideia de que merda era essa que não curava, mesmo com os nanobots trabalhando a dias, nem eu, nem o Victor, nos curamos… Precisava investigar isso direito, mas naquele momento tinha outro foco.

Acomodando-me em meu "trono", observei atentamente cada oficial em seus respectivos postos, com Sofia ao meu lado como minha almirante. Juntos, contemplamos a vastidão do espaço através dos painéis de vidro.

Desviando meu olhar do cenário estelar, fixei meus olhos em Suzuhara, que parecia ter se recuperado um pouco, embora apenas algumas horas tivessem se passado desde a explosão. No entanto, não tínhamos tempo a perder com lamúrias; lidaríamos com a tristeza posteriormente.

— Suzuhara, trace o curso para a colônia Lanius — ordenei com firmeza.

— Mas, comandante, tem certeza disso? A Lanius é uma colônia sem lei — questionou Suzuhara, lançando-me um olhar de preocupação.

— É verdade, lar de criminosos de todas as categorias: ladrões, mafiosos, piratas, terroristas... Ezekiel, é furada, hein…

As preocupações deles estavam totalmente justificadas. Afinal, Lanius era uma colônia separatista que se transformou em um verdadeiro fracasso. 

Não era incomum que colônias se rebelassem e se libertassem do controle de potências como Londres ou Rússia, formando seus próprios reinos ou países. Mas elas representavam tão pouco interesse para essas grandes nações que o custo de enviar exércitos para reprimir a revolta era muitas vezes evitado. 

O que tornava Lanius umas das mais problemáticas, era o fato de que, ao contrário de outras colônias separatistas, ela não mantinha qualquer tipo de ordem governamental. Em vez disso, tornou-se uma terra sem lei, onde não havia ninguém correto comandando tudo, apenas uma monarquia fragmentada, quase inexistente, transformando-se em um refúgio e ponto de encontro para criminosos de todo tipo. Mas fazer o que? Não tínhamos outra opção.

— O único lugar onde poderemos encontrar naves para comprar, sem levantar suspeitas do estado, é no mercado clandestino daquele lugar — expliquei.

— É... o único local que me lembro onde podemos comprar naves é lá — ponderou Poul, levando a mão ao queixo e franzindo a testa. — Hmmmm. Depois só na Terra, não é?

— Exatamente — concordou Sofia, com os braços cruzados sobre o peito, olhando determinada para frente. — E para adquirir naves, precisariamos de uma ordem expedida pela filial. 

— Isso complica as coisas — disse Poul, coçando a testa. — Se for assim, não nos resta outra opção mesmo…

Assim, Suzuhara traçou meticulosamente nossa rota até alcançarmos o limite do sistema, onde a colônia Lanius se erguia como um farol distante no cosmos. Embora distante da Terra, nossa proximidade recente com Prometeus, tornava a jornada menos árdua.

— Há algum tipo de liderança lá? — questionou Suzuhara, os dedos deslizando sobre a tela holográfica em busca de informações.

— Existia a chamada "família real", aqueles que lideraram a revolta inicialmente. No entanto, acabaram sendo abandonados pela maioria, resultando no caos que agora domina aquele lugar — expliquei, relaxando na cadeira. — Desde então, tornou-se um território sem lei, exceto uma; a lei do mais forte prevalecer. E, gangues e mafiosos assumiram o controle.

Poul, com pequenas chamas dançando em sua mão, parecia desconfortável na cadeira, uma mão apoiada em suas costas enquanto ele indagava:

— A gangue mais poderosa é a liderada pelo tal Flaco, certo?

— Flaco? — Suzuhara ergueu uma sobrancelha, confusa.

— Flaco La’Penã, um dos criminosos mais temidos do sistema solar — respondi, um sorriso surgindo em minha mente ao recordar de nossos encontros com ele.

Um arrepio pareceu percorrer o corpo de Suzuhara, evocando lembranças de seu complicado histórico com criminosos. Seus olhos buscaram os meus, cheios de questionamentos.

— Ele era assim, tão perigoso?

— Bem, eu e Sofia conseguimos detê-lo — afirmei com confiança, mas o olhar gélido que recebi em resposta indicava que minhas palavras não trouxeram qualquer emoção. — Chegou a congelar minha alma...

— Não entendi, senhor — Sofía parecia alheia como sempre, igual uma porta, como se estivesse perdida em meio à conversa. — De qualquer forma, lembro-me da nossa missão de captura.

Poul, ainda emitindo pequenas labaredas de suas mãos, me encarou com certo ressentimento, erguendo uma sobrancelha.

— Você está se esquecendo de mencionar minha participação nisso! — Ele estava certo, ele havia sido crucial. — Eu carbonizei aquele traseiro gordo dele.

— E depois pegou a mulher dele... — Deixei minha cabeça cair, sentindo-me desanimado. — Ahh, ele deve nos odiar profundamente. Quando chegarmos lá, seremos alvos fáceis como patinhos em um lago cheio de caçadores.

— Às vezes esqueço o quão tempo vocês passaram juntos... — lamentou Suzuhara, com um peso evidente em sua voz.

Ergui o olhar ao ouvir suas palavras, deparando-me com a expressão desanimada dela.

— Você está certa. O primeiro foi o Victor, depois o Poul, seguido pela Sofia e pela Adaeze... Droga! — A ficha caiu de repente. Levantei-me rapidamente e ordenei a Suzuhara: — Entre em contato com a Adaeze e o Diego imediatamente!

Como pude esquecer dos dois oficiais que ficaram na Terra? Foi tanta coisa passando pela minha mente que simplesmente não me dei conta.

— Senhor! Mensagem enviada!… Resposta recebida! Vou transferi-la para a tela principal.

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Adaeze aqui. Estamos bem, eu e Diego. Assim que percebemos movimentações suspeitas próximas a nós, fugimos. Estamos no esconderijo conhecido apenas por vocês. Evitaremos contato até que venham nos resgatar. Cuidem-se.

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Respirei profundamente, sentindo um leve alívio ao constatar que estavam todos a salvo; afinal, o refúgio estava bem camuflado, jamais seria descoberto pelo governo. Contudo, resgatá-los não parecia ser uma opção viável naquele momento.

— Suzuhara, e quanto aos nossos suprimentos? — indaguei, recostando-me no "trono" com um semblante mais tranquilo.

— Vou verificar — respondeu ela, seus dedos deslizando habilmente sobre a tela holográfica enquanto todos observavam atentamente.

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[Nave]

Codinome: Elizabeth

Classe: Cruzador | Geração:

[Opções de oficial Operação]

Suprimentos | Energia | Tripulantes

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Ela clicou em “suprimentos”.

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[Suprimentos]

Alimentos: 30% | Medicamentos: 78%

Munições: 100%

[Ver detalhadamente?]

Sim|Não 

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Era um balanço meticulosamente calculado pela máquina, exibindo as porcentagens com precisão. Se desejasse uma análise mais detalhada, poderíamos fornecê-la, porém, naquele momento, não parecia necessário.

— Vou verificar o consumo de energia agora — afirmou ela, direcionando sua atenção para as telas e clicando na opção "Energia".

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[Energia]

Combustível: 40%| Baterias: 15%|

Outros: Nenhuma Outra Fonte de Energia Detectada.

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Estávamos à beira do esgotamento de nossos suprimentos, o que era compreensível, já que nossa preparação era para uma missão rápida em Prometeus e retorno imediato. Mas como as coisas se desenrolaram, parecia que o destino tinha outros planos.

— Vicent — Chamei-o, encontrando-o como de costume, em silêncio. — Provavelmente este será nosso último salto. Então, ligue o motor de dobra, vamos para Lanius.

Sabíamos que este seria o derradeiro salto. Nossas baterias estavam praticamente exauridas, desempenhando suas funções finais. Era chegada a hora de seguirmos rumo ao nosso novo destino: a colônia sem lei em Lanius. E posso lhes assegurar que as coisas lá não serão nada tranquilas…



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