Volume 13
Capítulo 2: Cartarffs
... Calabouços do castelo de Cartaffs.
Dentro de sua câmara de tortura, amarrada em uma postura indecente, a Rainha de Cartaffs, Ludmila, vestia trajes restritivos negros colados em seu corpo, enquanto mordia uma mordaça.
Ao seu lado punham-se duas atendentes para cuidar dela. A sala estava preenchida com instrumentos de tortura, mas Ludmila estava ilesa.
Ela fora selada nos calabouços em seu estado atual simplesmente para agitar seu medo, e para rasgar seu orgulho.
Ouvindo passos na sala, ela abriu seus olhos, e encarou a porta. Seus longos cabelos roxos se prendiam à sua pele, os negros calabouços iluminados pela fraca luz oscilante de uma vela.
O próprio indivíduo que a prendera.
Larc Mallard, levando consigo suas próprias companheiras... suas subordinadas, visitara o calabouço.
Confirmando o rosto de Larc, Ludmila mordeu fortemente a mordaça.
Seus cabelos cinzentos estavam penteados para trás, e contrário ao seu habitual estilo aventureiro, ele trajava vestes e estilo nobre.
Seu colarinho estava solto, e exibindo seu peito, Larc dirigiu um sorriso vulgar enquanto olhava para Ludmila.
— Yo, Ludmila-sama. Como está indo? Amarrada desse jeito você está exibindo seu lado vergonhoso. Parece que você não estava me levando muito a sério... pois bem, já não é hora de me oferecer aquela respostinha positiva?
Sabendo que sua Skill demonstrava alta efetividade apenas com o sexo feminino, as redondezas de Larc estavam com mulheres.
As atendentes removeram a mordaça de Ludmila, e após cuspir um pouco, Ludmila fitou o homem.
— Você gosta mesmo de falar arrogantemente. Acha que não sei sobre como você fez parecer que estou imóvel por causa de uma doença? Parece que você conseguiu se infiltrar no castelo e obter algum status, mas esse status é frágil demais para fazer qualquer coisa, não é?
Larc devolveu o encarar. Talvez estivesse tentando usar sua Skill para fazê-la se apaixonar por ele, já que virou o rosto dela para si à força.
E pelas Skills dele, aos olhos dela, o homem de seus ideais... ou pelo menos sua figura se sobrepôs com a de Larc, mas ela afastou isso com sua força de vontade, e desviou seus olhos.
Larc soava irritado.
— Após fazer pouco de mim, e ficar presa nesse estado, não haja tão arrogantemente!
Era exatamente como ele dissera. Ludmila não tinha palavras para retrucar a isso. Além disso, ela passara a odiar as ações de Cartaffs que mesmo agora ainda havia de resgatá-la.
(Puxa vida, a que ponto eles vão para preservar a ordem. Que problemático.)
Ludmila teve aquelas em sua volta enfeitiçadas, e após ele ter obtido um pouco de status, Larc viera enfeitiçá-la dessa vez, em uma artimanha para se tornar rei de Cartaffs. Ela já havia descoberto o plano.
E ao mesmo tempo, entendia que para isso, ele era incapaz de feri-la. Ela entendia que não podia ser morta, e fez uso desse fato.
— E ainda assim, o homem assustado demais para colocar um dedo em uma única mulher amarrada faz-se soar tão arrogante. Qual o problema, não tem vergonha nenhuma maior que essa? Você... é um homem muito pequeno.
Quando Ludmila falou isso, uma veia estourou na testa de Larc. Ele pegou um chicote próximo em sua mão, imediatamente começando atacá-la.
Ela foi assolada por uma dor aguda, mas Ludmila não deixou sua voz escapar. E, de sorriso arreganhado e às risadas enquanto olhava para Larc, ela o provocava. Vendo-a assim, Larc perdeu o fôlego, e deu uma ordem para as atendentes.
— Usem o melhor remédio para tratá-la!
Com essas palavras, Larc pegou suas subordinadas e deixou a sala. As atendentes abaixaram suas cabeças para despedirem-se dele, e ao fechar a porta, uma delas ficou de guarda.
Outra se aproximou de Ludmila, retirou suas amarras, e começou a tratar seus ferimentos. Falando para ela preocupada:
— Vossa Majestade, já não deveríamos dar um fim nisso...
Ludmila sorriu para a atendente preocupada.
— Oh, não está tudo bem? E só consigo rir daqueles subordinados inúteis que deixaram o Larc conversar com as criadas do castelo por ser um costume. Quando eles ficam ruins a esse ponto, não entenderão nada a menos que sofram.
Alongando-se, Ludmila sentou-se sobre a cadeira onde esteve amarrada, e cruzou suas pernas.
É verdade que ela falou para que interagissem com o Larc, mas ela nunca teria imaginado que conseguiriam apenas agir de acordo com os costumes.
Então Ludmila se deixou ser capturada de propósito. As duas atendentes eram suas empregadas de confiança, e fez com que elas agissem como se houvessem sido encantadas.
Mas parecia que essas atendentes não aguentavam mais.
— Mas nesse ritmo, o país vai começar a se inclinar à vontade dele.
À essa declaração, Ludmila falou:
— Mesmo sem o problema do Larc, esse país eventualmente pereceria por levar seu caráter longe demais. Há muitos que priorizam as leis para fugir da responsabilidade, afinal. Até agora, essa podia ser considerada como nossa força, mas levada aos extremos, é uma falha fatal.
A característica nacional de Cartaffs envolvia uma forte inclinação a enfatizar regras. Às vezes, isso dera luz a esplêndidos resultados, mas a essa altura estava indo em uma direção ruim. Aqueles responsáveis não assumiam porque tinham agido de acordo com as regras.
Eram as regras, então não tinha outro jeito. Esse problema estava ficando grande demais. Mesmo se mais leis fossem criadas, quantas pessoas por aí realmente eram capazes de entendê-las?
Ela era chamada de Rainha, mas Ludmila havia apenas assumido o papel do Rei anterior de acordo com as regras, e era praticamente só uma representante.
Cartaffs era de linhagem masculina, e eventualmente seu marido seria o rei do país. Então Larc havia almejado esse assento no trono.
— Puxa vida. Ao invés de mim, eles deveriam ter escolhido um homem dos ramos da família Real. O Pai estava realizando ações com essa intenção, mas as conversas avançaram antes que uma decisão fosse tomada.
Talvez por causa da característica nacional, os outros ramos da família não se opuseram à coroação dela como Rainha. O noivo de Ludmila em essência seria o próximo Rei, então isso não era considerado um problema.
Mas para Ludmila, era uma história bastante problemática.
— Por acaso alguém suspeita da minha ausência?
Enquanto confirmava com suas atendentes, uma assentiu e relatou:
— Quase todos notaram alguma coisa estranha. Mas a questão é se eles agirão sob essas suspeitas ou não.
Ludmila pareceu irritada com essa resposta.
— Muito bem, então aquele que me salvar desta cela será o próximo rei. Espalhe esse rumor. Se mesmo isso não fizer eles se moverem, então terei que me virar com o Larc mesmo. Que lamentável.
Apesar da empregada estar confusa com a decisão dela, Ludmila olhou para o teto.
— Hmm, nada mal. Eu não sou mais uma Princesa, mas... o Príncipe ou herói que me salvar, eh? Me casar com alguém assim é o desejo de qualquer mulher da linhagem real. Aproveitando a situação, que tal convidarmos participantes de fora do país também? Preciso fazer nossos próprios homens sentirem um pouco de pânico, ou não chegaremos a lugar nenhum.
Enquanto Ludmila assim declarava e se divertia, as duas atendentes aquiesceram como se tivessem desistido...
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Despejei um líquido conhecido como água benta sobre a Katana em minha mão direita.
Era um fluído transparente, mas emanava uma leve luz, e uma vez despejado na Katana, parecia como se a lâmina estivesse brilhando nas escuras passagens do Labirinto.
Agarrando a espada em ambas as mãos, joguei a garrafa de água benta de lado, e Shannon — que segurava uma cesta — a pegou.
Atrás de todos nós como uma carregadora de bagagens, Shannon coletava as garrafas jogadas por nossas companheiras uma após a outra, e as guardava na cesta.
A câmara mais profunda do Labirinto que havia se manifestado no forte era um largo saguão no quinto andar inferior. Era uma sala vasta, mas o teto não era muito alto, e era como se os muito pilares irregularmente posicionados mal estivessem aguentando.
O desmorto diante de nós era um Cavaleiro esquelético trajando uma armadura completa. Em termos de tamanho, talvez possuísse por volta de três metros de altura?
Armadura e escudo sinistros, sua espada era de uma absurda, perigosa feitura para qual eu não tinha palavras. Mais que uma lâmina, parecia mais com uma massa de ferro.
Miranda, Aria e Mônica eram a vanguarda comigo, as Unidades Valquíria Um, Dois e Três atrás delas, e Shannon nos fundos.
Com uma lança em mãos, Aria deu uma enorme guinada para frente, antes de estourar rumo ao inimigo diante de nós.
Enquanto aquele Cavaleiro esquelético segurando sua espada gigante em uma mão deu uma varrida horizontal, soltando fagulhas enquanto ela se esfregava contra o chão.
Quando Aria pulou para se esquivar, pareceu como se o escudo do inimigo estivesse prestes a mandá-la voando. Porém, Miranda lançou sua adaga, o forçando a usar seu escudo para bloqueá-la para o lado, e dali, seus movimentos ficaram estranhos.
Miranda estava estendendo um fio da ponta dos dedos de sua mão esquerda, e usando um pilar como polia, arrancou o escudo do Cavaleiro.
— Aria!
Quando Miranda exclamou, Aria desceu sua lança do agora aberto braço esquerdo do Cavaleiro esquelético. Em velocidade relâmpago... colocando várias Skills em um único golpe, o ataque da Aria era realmente digno da descrição.
Aria não era hábil com magia, mas como resultado de polir suas Skills e artes marciais... a esse ponto, ela era a vanguarda fundamental do grupo.
Com seu braço esquerdo cortado e voando pelo ar, o Cavaleiro abriu sua boca, e soltou um grito de rasgar os ouvidos.
Shannon estava segurando suas orelhas com ambas as mãos...
— Mas de onde é que está vindo a voz dessa coisa!? É só ossos e armadura, não é!?
— enquanto olhava para o monstro e berrava que não fazia sentido. Eu também era da mesma opinião. E enquanto ele tentava balançar sua enorme espada contra a Aria, Mônica a bateu para o lado com seu martelo.
Do outro lado do martelo, fogo brotava para aumentar sua força, aparentemente.
— Essa realmente é uma arma romântica! Um golpe da mais forte empregada Mônica, que entende verdadeira fantasia... toma isso!
Com sua espada, ombro direito, e seu lado esquerdo em geral sendo afundados pelo golpe, o Cavaleiro esquelético desarmado soltou um baixo rugido. Uma porção dos ossos brancos e armadura se reuniram na direção dele, mas...
Eu olhei para a cena.
— Bem como pensei, a água benta está desacelerando a regeneração. Lamento, mas estarei acabando com você de uma vez só.
Enquanto eu corria adiante, as Valquíria ofereceram suporte com suas armas de fogo. Enquanto lutava com sua regeneração não ocorrendo conforme desejava, o cavaleiro tentou me dar uma cabeçada quando cheguei na frente dele.
E conforme fazia isso, elmo e tudo...
— ... morra.
... Um único corte vertical. Conforme a linha passava por ele, o Cavaleiro esquelético recuou, antes de desmoronar em pó branco.
Água benta efetiva contra desmortos havia sido aplicada à lâmina, e fora uma ajuda enorme com o quanto era efetiva. Se esse não fosse o caso, nós teríamos que continuar atacando até que ele caísse, ou explodi-lo todo com magia.
Mas dessa vez eram passagens de um forte, e com muitas salas estreitas, então era uma provação enorme o modo como não conseguíamos obter as condições para usar magia.
Mesmo em uma sala ampla dessas, usar água benta era mais eficaz.
Vendo o Chefe deixar uma Pedra Mágica para trás conforme desaparecia, Aria falou:
— Se você não se importa com materiais, desmortos realmente são convenientes. Faz a coleta ser fácil e tranquila.
Era realmente útil como nós não precisávamos colocar luvas e abrir um monstro para coletar suas partes valiosas. Era uma tarefa simplesmente horrenda, então havia muitos aventureiros que simplesmente deixavam com o suporte.
Esfreguei a lâmina da Katana com um pano.
— Realmente era duro quando eu era um principiante. Eu sempre falhava, e a Zelphy-san berraria comigo para não ficar desperdiçando.
Quando falei dessa história, Aria também recordou.
— É, no começo eu não conseguia tocar em sangue. A Zelphy agarrou a cabeça quando viu isso, mas... agora eu acho que entendo um pouco o sentimento dela.
Enquanto Aria contava uma história de nossos dias de novatos, Miranda se aproximou. Enquanto conversávamos, parece que ela havia clamado o tesouro na câmara mais profunda.
— Recordar é bom e tudo mais, mas poderia confirmar isso aqui? Lyle, é a recompensa dessa vez. Eu não acho que seja ruim.
Em suas mãos havia um Metal Raro... um metal banhado no poder de Mana... prata além disso. Era uma quantidade considerável, e caso vendido, certamente renderia cem ou duzentas moedas de ouro.
Mas nós havíamos comprado água benta para esta empreitada, então também tivemos muitos gastos.
Se voltássemos um pouco no tempo, isso seria o bastante para manter o grupo. Mas a esse ponto, depois de trabalhar por tanto tempo, ganhos desse nível não eram o bastante, ou assim era minha honesta impressão.
— Não é ruim, mas com isso, temos apenas ganhos escassos. Como esperado, continuar assim será difícil. Mesmo o grupo da Alette-san sendo favoravelmente dirigido para Labirinto lucrativos.
Comparação com outrem não nos levaria a lugar nenhum, mas eu podia claramente sentir as intenções da Guilda.
Mônica confirmou a situação em volta, e reportou para mim.
— Frangote, as preparações para a retirada estão completas. Os monstros já pararam de nascer.
No interior do Labirinto. Eu havia posicionado as Valquírias, e feito elas coletarem Pedras Mágicas. A bateria externa dessas garotas, ou melhor, a fonte de energia delas era à base de Pedras Mágicas, afinal.
Elas as derretiam e usavam como combustível.
A atmosfera do Labirinto ficou quieta. Enquanto confirmando que a subjugação estava completa, decidir partir.
A Unidade Um carregava a Pedra Mágica do enorme monstro chefe esquelético. Miranda entregou a prata que havíamos recebido para a Unidade Dois.
Shannon verificava o conteúdo de sua própria bagagem.
— Há bastante garrafas que ainda têm alguma coisa dentro. Essas não são bem caras? Além do mais, têm uma data de validade. Uma data de validade que está para expirar muito em breve além disso... Não consigo perdoar o fato de que elas valem mais que a minha mesada.
A Shannon tinha muitos gastos inúteis. Ou melhor, ela despejava a maioria dela em canções élficas e recitações.
Levando-a para se divertir, ela principalmente apenas escutaria canções, e para refeições, ela preferia lugares onde se pudesse ouvir músicas ou histórias.
Miranda sorriu, e bruscamente afagou(?) a cabeça da Shannon.
— Se aprender a usar um pouco mais sistematicamente, eu aumento para você. Então comece a não gastar tudo no mesmo dia que eu te dou.
Shannon ainda era inútil como sempre, mas após se encontrar com a Milleia-san, ela havia crescido um pouquinho... ou essa era a sensação que eu tinha. Mesmo que chamasse apenas de assistência, ela havia concordado em participar na batalha contra o chefe.
Eu pensei enquanto deixávamos o vasto saguão:
(Pois bem, terei que retornar uma vez para Beim primeiro. O relatório de subjugação do Labirinto... isso poderá vir depois que eu observar a situação um pouco.)