Volume 11
Prólogo
— Eh? ... Quem seria essa adorável dama?
Dentro da Joia.
Vendo a mulher tomando um lugar na mesa redonda e acenando para mim, inclinei minha cabeça.
Quando vim por ter sido chamado, com exceção do Quinto — que estava sentado com uma expressão grave — os ancestrais pareciam bastante confusos.
Olhando para a mulher, eu não podia deixar de lembrar da Miranda, e então notei que ela era a forma madura da Milleia-san, a quem eu vira nos quartos de memórias.
— Poderia você ser a Milleia-san?
Quando a vi em uma memória, ela estava em sua adolescência. Mas aquela diante dos meus olhos parecia estar no meio de seus vinte.
『Correto, Lyle. Mas como você me viu em minha juventude, sua reação é um pouco devagar. Após ver o rosto de alguém pela primeira vez, lembre seu nome junto. Isso não foi lhe ensinado?』
Eu aprendi essa habilidade. Mas eu não tive a chance de colocá-la em prática na minha infância.
Ouvindo essas palavras pela primeira vez em algum tempo, olhei para o Quinto em confusão.
Levantando-se de seu assento, ele se inclinou sobre a mesa redonda, e soltou um suspiro:
『Por que a Milleia está aqui, você pergunta? Diabos que sabemos. É por isso que estamos tão confusos. De acordo com a própria, existe uma necessidade de você saber tudo, pelo que ela disse.』
Uma necessidade de eu saber de tudo?
Curioso com o que esse “tudo” indicaria, lancei um olhar para Milleia-san. Seus cabelos violetas ondulados e olhos dourados me lembravam da Shannon.
Mas suas feições faciais e atmosfera eram mais parecidos com os da Miranda. A estrutura corporal também era da Miranda...
(Parece que alguém pegou os pontos positivos das duas?)
Se o interior dela fosse como o da Miranda, as coisas seriam problemáticas. Se fossem como o da Shannon, eu não sentiria nada além de pena. É claro, eu não tenho a menor ideia do tipo de pessoa que ela é.
『Lyle, você nunca entrou em seu próprio quarto de memórias, então eu tive que sair aqui para agir como uma guia.』
Olhei para a porta atrás do meu assento.
Minha porta era diferente daquela dos ancestrais. Ela não replicava apenas memórias. Ela havia se tornado um tipo de algo diferente.
Não era necessário para nossa presente situação, então eu havia ignorado-a.
(A Joia não vai permitir que eu ignora, imagino?)
Mas também havia outra razão para eu não entrar.
— Hm... estou ocupado no momento, então é possível deixar isso para outra hora?
Com uma expressão perturbada, Milleia-san olhou para os ancestrais em volta.
O Terceiro falou com sua atitude de sempre.
『Sim, você tem um ponto. Estamos ocupados, então está tudo bem deixar isso para depois? Nesse momento, mesmo se você nos disser que é “tudo”, será meio problemático.』
O Quarto corrigiu o posicionamento de seus óculos.
『Eu quero ouvir os desejos da minha neta, mas isso está baixo na lista de prioridades.』
O Sétimo, levemente incomodado:
『Mesmo sendo um pedido da titia, isso é impossível. Porque estamos ocupados.』
Eu acabei de notar que isso faria dela a tia do Sétimo. Milleia-san olhou para o Quinto.
Ele coçou sua cabeça.
『... Eu não sei o que você deseja que o Lyle faça. Se beneficiar nosso lado, eu irei priorizar isso.』
Nisso, a Milleia-san sorriu:
『Como imaginado, você realmente é bondoso, pai. Mesmo assim, essas memórias dos chefes históricos realmente são problemáticas. É meio triste como vocês distorceram o meigo Lyle.』
E como exatamente eu deveria reagir a isso?
(Se estiver lidando com esses ancestrais, você acaba distorcido querendo ou não.)
Milleia-san se levantou, e caminhou até o meu lado. Ela bondosamente levantou ambas as minhas mãos.
Meu coração acelerava, mas não era por conta da pessoa do sexo oposto. Era mais... uma impressão maternal.
『Lyle, há necessidade de você saber tudo sobre Skills. O porquê da gema da Casa Walt ter se tornado uma Joia... e o que gemas originalmente deveriam ser.』
Eu relembrei o que as irmãs da Mônica uma vez haviam colocado em palavras no Labirinto.
— Memórias, não era? Acredito ter ouvido uma coisa dessas.
Ela assentiu:
『Isso mesmo. Gemas e Joias não são nada mais que mídias de armazenamento de memória. Os registros de nossas vidas, e até nossas personalidades foram gravadas... a gravação de Skills foi apenas um subproduto.』
Ouvindo suas palavras, o Terceiro...
『Como pensei. Achei que era estranho. Uma situação onde ensinamos nossas Skills ao Lyle não pode ser chamada de eficiente. Então não deveria ter havido outro propósito originalmente? ... Por exemplo, transferir personalidades para outrem?』
Não com sua atitude descontraída, ele e os outros ancestrais lançaram olhares afiados para Milleia-san.
Apesar de eu ficar perturbado por eles, Milleia-san sacudiu sua cabeça com um sorriso.
『Isso também está errado. É por isso que há uma necessidade de fazermos o Lyle saber de tudo. Atualmente, muitas gemas foram perdidas. A aparição de Ferramenta Mágica também significou o declínio de gemas, afinal.』
O Sétimo tomou suas palavras com mistério.
『Significando que se as coisas seguissem seu curso natural, as gemas não teriam sido descartadas? Poderia ser alguém puxando os fios nos bastidores?』
Sem responder a essas palavras, Milleia-san puxou minha mão, e começou a caminhar rumo à porta.
『Lyle, aprenda tudo. Do contrário, sua história será deixada incompleta.』
Levado pela mão, não ofereci resistência, enquanto abria e entrava na porta com ela.
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Quando entrei em meu quarto de memórias, os arredores estavam brilhantes demais.
Eu não conseguia manter meus olhos abertos. Milleia-san chamou-me:
『Este é seu quarto de memórias... assim com as memórias da Joia. A Joia queria que você soubesse. Foi por isso que reproduziu uma vista tão anormal.』
Lentamente abri meus olhos, e lá se expandia uma vila da qual eu não tinha memória absolutamente nenhuma. Não, talvez uma metrópole?
Olhando em volta, as pessoas tomavam bebidas e faziam farra independentemente da altura do sol no céu.
— Onde estamos?
『... Isso começou como bondade. Essa é a capital de um país do passado distante. Um país que caiu alguns milhares de anos atrás. Você também conhece, não conhece? O Vilarejo do Mago?』
Parecia que eles não estavam vivendo nenhum pouco diferente de como vivíamos atualmente, mas agora que ela mencionou, havia uma sensação meio antiga a isso.
As roupas que as pessoas usavam, seus sapatos...
O álcool que bebiam era de um tipo só. A comida enfileirada era apenas coisas simples. Talvez eu devesse chamar de frugal em contraste com sua escala?
(Mas se era o passado, isso seria possível? E por que a Joia têm gravações tão antigas? O Primeiro comprou sua gema duas ou três centenas de anos atrás, não foi?)
Na capital que não era nem Bahnseim ou Sentras, eu seguia atrás da Milleia-san.
As vozes que podia ouvir me levaram a acreditar que todos estavam em clima festivo.
— Isso é algum tipo de feriado?
Os adultos festivos. E as crianças brincando.
Mas a resposta da Milleia-san diferiu:
『... Isso era um dia de semana normal para esse país. Lyle, consegue ver aquele edifício?』
Na direção que seu dedo apontava estava um edifício ainda sob construção.
Lá, eu podia ver as figuras de bonecos de lama trabalhando.
— Magia?
Olhando de perto, havia muitos golens trabalhando em volta. Mas não parecia haver um mago por perto.
Prossegui caminhando com a Milleia. Nós caminhávamos diretamente à frente, e um edifício comparativamente simples em construção ao resto da metrópole entrou em vista.
『Sim, é magia. E a pessoa mantendo essa cidade é apenas um único mago.』
Eu percebi.
— Então o que se tornou a base para a estória do Vilarejo do Mago foi...
『... Este país. E o “mago” deste país é 【Septem】. A Sétima Deusa.』
Ouvindo sobre Septem, lembrei-me da Joia da Celes.
Na frente de um simples edifício, os golens agiam como Guarda-Portões. E conforme nos aproximamos, eles abriram o caminho, e nos deixaram passar.
Aquela propriedade modesta, apesar de estar posicionada no centro da cidade, era pequena o bastante para dizer que estava fora de lugar.
Eu não podia sentir a menor presença de pessoas em seu interior. Os únicos trabalhando eram golens.
Levado pela Milleia-san, entrei em um certo cômodo.
Lá, em uma cama pequenina, repousava uma mulher idosa.
『... Minha nossa, que raro. Para visitantes virem à mim.』
A idosa de aparência bondosa repousava com uma figura enfraquecida. Mesmo assim, ela nos olhava com um sorriso.
— Eh? Ela pode nos ver...
Milleia-san assentiu, e trouxe duas cadeiras do outro lado do quarto.
『Lyle, se você não se sentar, Septem-sama não será capaz de se acalmar.』
— Eh, não, hm... Septem-sama? H-huh?
Eu tinha pensado que Septem era a pessoa nos bastidores. Apesar de não estar certo se ela a estava manipulando ou era uma cúmplice. Mas não conseguia imaginar essa pessoa de aparência bondosa como a Celes.
『Poderia se sentar, por favor? Está me fazendo sentir mal.』
Uma magreza murcha, seus cabelos eram brancos, e havia um reluzir em seus olhos violetas. Mas talvez seu corpo não conseguisse se manter com esse brilho, já que ela não estava se movendo.
Um golem entrou no quarto e mexeu com a cama da idosa... de Septem, levantando seu torso da cama para que ela pudesse conversar conosco.
『Eu realmente sinto muito. Tenho certeza que você não entende nada ainda. Eu sou Septem... não, alguém que herdou suas memórias. Eu herdei as memórias de uma deusa.』
Ouvir isso apenas aprofundou minha confusão. Milleia-san ofereceu uma explicação para mim.
『Lyle, você conhece as histórias de deusas e deuses malignos, não conhece? Dentre elas, quem é a mais venerada?』
— Número sete... a última deusa.
『Isso. Tanto magias quanto Skills foram algo que a Sétima Deusa concedeu aos humanos. E gemas foram desenvolvidas por essa Septem-sama aqui.』
Eu olhei para Septem com surpresa. Seu rosto sorridente definitivamente não se parecia com o de uma pessoa que cometeria o mau.
Milleia-san prosseguiu:
『A gema da Casa Walt. É uma das originais que ela fez. Muitas outras são apenas imitações feitas pela Agrissa... não, talvez ela tenha copiado a original para fazer algo mais completo. Tal é a Joia que a Celes carrega. Para este fim, ela produziu incontáveis gemas, então acabaram entrando na moda trezentos anos atrás.』
Septem olhou para mim apologeticamente.
『Nunca pensei que as gemas que fiz seriam usadas desse modo no futuro. Sinto muito, Lyle. Parece que aquelas garotas estavam certas.』
— Aquelas garotas?
Quando perguntei, Septem falou:
『Isso. Nihil, Octō, e Novem... uma não é mencionada, e as outras duas foram feitas de deusas malignas.』
— ... Novem... e até Nihil. Então você quer dizer...
Milleia-san falou para mim:
『Novem é o mesmo que a Septem-sama. Ela deve carregar as memórias de uma deusa. É claro, pelo ponto de vista do mundo, uma deusa maligna.』
Ouvindo essa verdade, recebi um leve choque.
(Não, se você sabe dessas coisas, então fala, Novem.)
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Dentro da Joia.
Quando deixei a porta com a Milleia-san, os Ancestrais aguardavam por nós.
O Quinto olhou para minha expressão.
『Então descobriu alguma coisa?』
Assenti, mas não era como se eu houvesse descoberto tudo. Parece que havia mais que ela queria me dizer, mas a Milleia pediu uma pausa.
— Isso e aquilo. Sobre como a Novem carrega as memórias de uma deusa. Sobre como o clã da Novem carrega o sangue de uma deusa, e como a Joia da Casa Walt é uma original. Coisas assim. E parece que quem fez a gema foi a Septem.
Ouvindo isso, o Quarto:
『... Não, se você não explicar direito, nós não vamos entender, sabe?』
Milleia-san olhou para os ancestrais.
『Lyle, volte para a realidade. Eu explicarei o resto.』
— ... Deixo isso com você. Melhor dizendo, foi um choque meio grande demais para mim.
Milleia-san olhou para mim.
『Tenho certeza que a Novem tem suas circunstâncias. Então não culpe ela por isso. Tenho certeza que aquela garota irá lhe servir, mesmo se você rejeitá-la. Mas isso seria triste demais de se ver.』
Eu imediatamente...
— Não, eu não odeio ela, sabe? Mas quando penso sobre quem ela é, isso significa que eu realmente sou amado por uma deusa... esse tipo de coisa?
Milleia-san arregalou seus olhos, e levou ambas as mãos à boca.
『... Lyle, você está sendo corrompido demais pelos seus ancestrais.』
O Sétimo, talvez protestando contra essa opinião:
『Do que é que você está falando, titia? É simplesmente assim que homens da Casa Walt são.』
Os ancestrais ofereceram uns “Isso, isso” antes de rirem entre si.
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Quando abri meus olhos, estava na pousada no porto.
Abrindo meus olhos em nosso quarto alugado, vi que a noite já havia chegado ao fim. Próxima, ao meu despertar, Mônica ativou.
— Oh, você levantou mais rápido que o normal hoje. Puxa vida, por favor pense nos problemas da sua empregada. Mas que frangote problemático você é. Mas eu amo essa sua parte também.
Vendo-a agir como normal, senti um leve alívio.
— Desculpa por isso. Hoje é nossa partida, não é?
Mônica se moveu, pegou um balde, e começou a produzir ferramentas do espaço entre seu avental e saia, e começou a encher o balde com água quente.
— Sim. Confirmamos com a Vera-san, então não há dúvidas. Parece que há muita carga para levar até Beim nessa viagem. Eles estão bastante ocupados. Por causa disso, foram incapazes de se encontrarem com a Rainha de Cartaffs, ou alguma coisa do tipo.
— O que você quer dizer com “alguma coisa”? Bem, posso entender eles estarem ocupados.
— Nenhum dos lados pôde abrir tempo para o outro. A Rainha deste país também está bastante ocupada... não pode ser que você também está planejando adicioná-la ao harém? Eu irei te seguir não importando o quão canalha você possa ser, mas ir atrás de uma Rainha fará até mesmo eu questionar suas preferências. Maldito masoquista!
Senti que estava sendo zombado, então me levantei, e refutei:
— Errado! Não, apenas pensei que seria bom poder me encontrar com ela.
Eu tinha pensado em requisitar cooperação contra a Celes. Eu não tinha nenhum outro objetivo.
Tendo sido despachado de Beim para Cartaffs por um pedido da Guilda, com os Dragões Terrestres subjugados, nós estaríamos retornado diretamente para Beim.
Nós tínhamos que viajar uma distância considerável, e quando retornamos ao porto, o navio que planejávamos subir a bordo partiria em poucos dias.
Nós realizamos o trabalho a tempo, mas havia outras coisas que me incomodavam.
— ... Aqueles atacantes. 【Larc Maillarde】, não era? De acordo com os rumores, parece que suas ações eram tão elusivas que era difícil contatá-lo.
Nós havíamos discernido suas identidades e objetivo. Mas sem evidência, não podíamos tomar ação legal contra eles; além do mais, não conseguíamos sequer descobrir para onde eles haviam desaparecido.
As informações que havíamos coletados — ‘incorrigível,’ ‘sociável,’ ‘bem comportado,’ ‘lixo,’ ‘o aventureiro que quero ser quando crescer’— eram tão variadas quanto.
Pelas constantes altas avaliações que ele recebia de mulheres, podia ser concluído que ele tinha uma Skill que funcionava contra o gênero oposto.
Não era algo com o qual pudéssemos lidar nos poucos dias que tínhamos antes de deixar Cartaffs. Isso deixava alguns arrependimentos, mas se não fôssemos para Beim, não receberíamos uma recompensa pelo nosso trabalho.
— Não temos tempo para cuidar do Larc, eu acho. Há muitos problemas que temos que resolver quando voltarmos também.
Mônica realizava os preparativos matinais enquanto respondia à minha opinião.
— O problema monetário é grande. Mas eu, Mônica, estou disposta a trabalhar sem salários, eu não lhe abandonarei como aquelas outras vadias por aí. Está tudo bem se você me elogiar mais, sabe?
— Você... não pode nem se mover se não receber Mana de mim, não é...
Nossa conversa matinal de sempre terminou, e eu lavei meu rosto e aceitei uma toalha dela.
Janela afora, o sol matinal estava muito bonito.
Um enorme número de barcos se enfileiravam no porto, oferecendo uma vista espetacular.
— Agora, quando retornamos, as coisas ficarão ocupadas de novo.
O caso da Novem, e Septem, e Joias...
Havia muita coisa acontecendo, mas não posso me fixar nelas por enquanto.
(Eu terei que aprender muitas coisas. E questionar a Novem quando isso acontecer... há muitas coisas para se fazer até lá.)