Volume 7
Capítulo 113
Meu primeiro dia na prisão.
Aqui eles servem três refeições além de ter uma boa cama, mas minha única reclamação é que fica no subsolo, por isso não tenho direito à banho de sol.
De vez em quando também recebo visitas. Na verdade é apenas uma, Nuno e o que mais gosto nisso é que vem trazendo a luz, mas é só isso. Sério, é só isso mesmo.
— Se tivéssemos continuado a lutar ontem, quem teria vencido?
Sim, a conversa com esse cara é sempre chata. A única coisa que tenho para fazer é rolar na cama e conversar com Nunu, que não sabe falar sobre coisas divertidas.
— Eu iria. Você passaria mal lutando comigo.
— Sé é como diz, então deveria ter me vencido e fugido para se encontrar com o chefe.
— Como eu já disse, não vim aqui para brigar. Só queria perguntar uma coisa a ele e pronto.
— Entendo. Tristana e eu ainda estamos discutindo sobre como lidar com você, por isso não pense em tentar fugir. Se fizer, vamos executá-lo sem qualquer aviso.
— Eh~ e você acha que consegue?
Resumindo, esse era um lugar horrível que faria qualquer um perder as esperanças. Depois que o Nunu saiu comecei a pensar seriamente que deveria fugir daqui.
◇◇◇
Segundo dia de prisão.
Hoje, a comida veio na hora marcada novamente. Para ser bem sincero era bem gostosa, por isso achei que fugir talvez não fosse uma boa.
O chato do Nunu não veio me visitar, mas ao invés, um cara baixinho e esquisito apareceu. Notei ele quando uma luz pálida se acendeu quando desceu as escadas, mas infelizmente o homem vestia um manto com capuz, cobrindo o seu rosto.
Diferente de Nunu, ele não trazia a luz. O lugar era tão escuro que mal dava para ver os próprios pés. Esse cara vai ficar bem?
De qualquer forma, o que ele veio fazer aqui em baixo?
O homem se agachou em frente a minha cela.
— Ei, o que está fazendo?
— HIIIIIIIIIII!!!!!!!!!???
O pobre coitado quase morreu de choque quando falei.
— T-em alguém aí!?
— Sim, fui capturado ontem e jogado nesse buraco. Pela sua voz posso dizer que não é nem Tristana nem Nuno.
— Hm? Ah, sim, não sou. Então você foi pego por eles. Por acaso é mais um assassino?
— Nah, sem chance. Só estou aqui temporariamente.
— Que azar. Acontece que há tantos assassinos que não se pode baixar a guarda nunca. Espero que não guarde rancor por causa disso.
— Não vou, afinal a comida é ótima. Além disso, se as coisas ficarem muito feias, só preciso fugir.
— Hmph, que confiante. Ah, eu não deveria estar conversando com você.
— Hou? Então não te mandaram aqui para falar comigo?
— De fato não. Vim aqui por causa de outra coisa.
Ele moveu-se para longe da minha cela e continuou a falar. Depois de alguns passos já não dava mais para vê-lo por que a única luz que tinha no lugar era uma bem fraquinha que vinha das escadas quando a porta foi aberta.
— Está esperando os seus olhos se acostumarem com a escuridão?
— Exato. — Ele me respondeu não muito longe da cela.
Embora não conseguisse enxergá-lo, sua voz era clara e ecoava bem no lugar.
— Tem alguma razão para não acender a luz?
— Tem. Diga-me, você sabe com o que lidamos nessa companhia, não sabe?
— Na verdade não.
— Eh!? Ah… mesmo? Que estranho.
Embora não tivesse visto, tive certeza de que ele deu um passo para trás em choque. Sério, foi mal por ser um cara desinformado!
— Nós vendemos ervas medicinais e outros suplementos nutritivos. Ah e temos expandido nossos negócios para áreas diferentes recentemente.
— Hmm…
— Você não parece muito interessado, mas tudo bem. Em cada andar desta torre estão sendo desenvolvidos novos produtos e inclusive realizamos as negociações neles. Acontece que para cada localização cultivamos algo diferente.
— Hmm…
— Você realmente não se importa, hein? De qualquer forma, esse subsolo é uma exceção, porque não dá para plantar ervas aqui onde o sol não bate.
— Por isso transformaram este lugar em uma prisão. E pelo visto, num armazém também, eu suponho?
— Sim, mas temos tentado criar algumas novas variedades. Sementes que não precisem do sol ou que odeiem a luz. Se der certo, poderemos produzir em vários outros lugares!
— Oh, isso é incrível.
— Finalmente se interessou?
Nós só podíamos ouvir um ao outro, mas a impressão era como se estivéssemos tendo uma conversa franca, cara-a-cara. Eu gostei desse cara, foi o que pensei.
— Estranho, geralmente odeio gente, mas com você parece apenas natural conversar.
— Pensei na mesma coisa.
— Espero que provem a sua inocência e que saia logo daqui.
— Também espero. Em todo caso, você sabe alguma coisa do chefe? A razão pela qual vim foi justamente para encontrá-lo.
— Bem, é claro que conheço.
— Que tipo de pessoa ele é?
— Que tipo… não muito amigável.
— Então o chefe odeia gente também. Isso é bem ruim para a companhia.
— Suponho que sim.
Tanto o chefe como os empregados não gostam de pessoas. Além disso, a maioria deles são combatentes. Que lugar esquisito.
— Algo mais? O que pode me dizer sobre o chefe?
— Hmm, sobre o que exatamente quer saber? Eu sei de tudo sobre o chefe, então sinta-se livre para me perguntar qualquer coisa.
Essa resposta inesperada veio do meio da escuridão. Quanta sorte a minha. Meu chute era que os dois se davam bem por ambos odiarem pessoas e por isso esse cara acabou ganhando uma posição de destaque na companhia.
— Ah, é mesmo! Certo, certo, por que ele quer se tornar o senhor do território Helan? Era isso que eu queria perguntar.
— O território helan, hein… Não sei porque quer saber sobre isso, mas vou lhe responder. Aquele lugar é muito importante para o chefe.
— Muito importante para o chefe? Não é só porque a família Dartanel está interessada nele?
— Não, não é por uma razão estúpida dessas. Helan é… sim, Nuno e Tristana são de lá. Por volta de três anos atrás… bem, acho que você não sabe sobre isso.
Oho? Ele acha que sou um completo desinformado, mas a verdade é que pelo menos disso eu sei. Embora faça pouco tempo que aprendi.
— Houve algum tipo de incidente no território, certo? Até eu sei disso.
— Hm? Isso é uma surpresa. Sim, as pessoas de Helan estavam sofrendo. Foi então que a nossa companhia surgiu e fez diversas doações de nossos ganhos e, depois disso, Nuno e Tristana vieram até nós para trabalhar como forma de mostrar gratidão. Desde então, eles têm sempre nos protegido.
— Essa é uma bela história.
— Não é?
O homem encapuzado deu uma pequena risada em embaraço. Apesar de que só podia-a ouví-lo tive certeza de que sua risada foi por isso.
Ainda assim, acabei descobrindo algo interessante. A companhia GAP não estava apenas tentando se opor a família Dartanel, mas sim, querendo ajudar o povo que vivia naquela região desde muito tempo atrás.
Agora já não tenho mais razões para me encontrar com o chefe. Estou certo de que as pessoas ficarão felizes se um homem assim virar seu novo senhor.
— Muito obrigado por isso, agora o meu propósito foi completado.
— Seu propósito?
— Sim. Vim apenas saber qual o interesse da companhia em Helan. Se o seu chefe não tem más intenções, então não tenho nada para dizer a ele. Acho que vou dar no pé agora.
— Você não acha que era melhor não ter me dito isso? O que fará se eu decidir contar para o Nuno?
— Não diga uma coisa dessas. Nós não nos tornamos bons amigos agora há pouco?
— Suponho que sim. São poucas as pessoas com que consigo conversar amigavelmente, então acho que vou dispensá-lo dos problemas. Ah certo, antes de ir, leve algumas dessas ervas medicinais com você. Elas vão ajudar se ficar gripado, basta beber isso e, se nos encontrarmos novamente, me fale quantos foram os efeitos colaterais.
— Como assim quantos foram os efeitos colaterais!? Você espera que tenha mais de um!? Por que não simplesmente pede alguém da companhia para testar!?
— É mais divertido quando eu experimento assim nos outros sem eles saberem.
— Ora porra!
O homem encapuzado começou a colher as ervas. Não dava para vê-lo, mas tive certeza de que estava se divertindo.
Algo que pensei desde a primeira vez que o vi foi que esse cara realmente gostava de plantas. Mesmo enquanto conversávamos, considerando o cheiro medicinal que se espalhava pela sala, ele deveria estar manejando elas. Provavelmente todo os dias esteve repetindo isso, por essa razão o cheiro deve ter ficado impregnado em sua pele ao ponto de que já é difícil se livrar dele.
Apesar disso, eu gosto de gente assim. Se não tivéssemos nos encontrado dessa maneira, poderíamos ter sido grandes amigos. Bem, infelizmente agora era hora de escapar.
Criei uma lâmina de vento e cortei as barras da prisão. Nesses dois dias, acabei encontrando um camarada realmente decente, sem contar que a comida era boa, por isso acredito que não tenha sido um desperdício.
Depois que sai da cela, senti a presença de alguém ao meu lado, mas era só homem encapuzado. Ele pegou minha mão e colocou as ervas.
— Tudo que precisa fazer é moê-las e então tomar com água. É um pouco amargo, mas quem não gosta disso?
— É, quem não gosta?
Quanto mais amargo for o remédio, melhor. Isso te faz pensar que está sendo mais efetivo.
— Muito obrigado. Agora preciso ir.
— Tenha uma viagem segura.
Dei o meu adeus para a pessoa cujo a face não conseguia ver.
Ele moveu-se para o canto da sala e continuou mexendo em suas ervas, mesmo quando eu estava indo para a escada. Talvez ele realmente gostasse delas.
Antes que eu atingisse a porta, decidi fazer uma última pergunta.
— A propósito, qual o seu nome?
— Eu… Tristana me proibiu de falar para os outros, mas acho que para você não tem problema.
— Ho? Por quê?
— Não ligue. De qualquer forma, meu nome é Toto Gap.
Toto Gap, hein? Hm? Gap? Ei, não é esse o nome da companhia? Será uma coincidência?
— Por acaso você é algum parente do chefe?
— Não, eu sou o chefe.
— Ah, saquei…
Isso foi uma bela surpresa. Então estive conversando com o chefe esse tempo todo. Não pude ver o seu rosto ainda, mas já era hora de escapar.
Hmm, acho que vou desistir de ver o seu rosto.
— Posso acreditar no que disse sobre Helan, posso?
— Sem sombra de dúvidas. Estes foram os meus sentimentos sinceros.
— Entendo. Como agradecimento, vou lhe contar o meu nome também. Eu sou Kururi Helan, um ferreiro. Foi um prazer, Toto!
Abri a porta e corri o mais depressa possível. Os empregados ficaram em choque ao me ver, mas apenas continuei correndo. Agora que sabia que o chefe era um cara legal, não queria usar de violência contra eles.
Fui capaz de chegar ao lado de fora e, quando me virei, percebi que Nuno e um homem encapuzado estavam lá atrás. Talvez fosse o chefe com quem me encontrei no subsolo.
De qualquer forma, isso era um adeus. Aproveitando-me das pequenas imperfeições no muro, escalei a muralha e acenei para eles com um sorriso.
Bem, acho que agora é a vez do Palácio Real!
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