Sangue Azul Brasileira

Autor(a): NAI


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 19: O meio do fim.

Dia 03 mês 09. Em algum lugar do Reino Tsin.

Em meio aos destroços, Louis e Nihilo avançavam juntos, procurando pelo corpo de Nyx. Após alguns segundos de busca no local, avistaram um corpo caído, soterrado por uma grande pedra. Ao se aproximarem, confirmaram: era o corpo de Star.

O olhar de Louis mudou instantaneamente. A garota à sua frente parecia inocente acima de tudo. Isso não se encaixava em seu ideal, entretanto no instante seguinte, sua mão esquerda se moveu. Ainda havia uma centelha de esperança.

Nihilo agarrou a pedra com ambas as mãos e a arremessou em direção à floresta. À medida que o rosto deformado da garota se tornava visível, ele viu  também seu outro braço e ambas as pernas quebradas. Mesmo diante dessa cena angustiante, Louis ainda mantinha a esperança de poder salvá-la.

Ele colocou a mão sobre sua barriga e lentamente a envolveu sob uma barreira avermelhada de seu próprio Mukai. Não podia prever quanto tempo levaria, mas mantinha a esperança de que poderia salvá-la.

Em seguida ambos os dois se sentaram, em alguns destroços em volta e voltaram a aguardar.

— Eu não pensei…Merda! Eu devia ter pensado que isso poderia acontecer — Levou a mão direita sobre a cabeça.

— Já passou tempo demais sem eu saber — suspirou — tá na hora de você me contar, no que você me meteu e no que você está metido.

Louis se virou para Nihilo e começou a contar o que o levou até ali.

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A conversa durou cerca de 15 minutos, interrompida apenas pelo despertar repentino de Star. 

Os dois se aproximaram e viram: ela havia se recuperado. Boa parte de seu corpo havia se regenerado, restando apenas alguns ferimentos mais leves. Por mais que estivesse recuperada, sua consciência ainda não havia sido retomada por completo.

— Sangue azul?! Mestres caçadores de magia? — Nihilo ria —  o mundo parece ter piorado desde aquela época.

— Me surpreende que você não tenha reparado no meu sangue antes… — Louis desviava o olhar lentamente.

— Não me importo com essas coisas, além do mais eu achava que isso era apenas um mito, nunca acreditei no que aqueles curandeiros diziam. — Cruzava os braços. 

— Mito? O que você quer dizer com mito?

Antes que Nihilo pudesse dizer algo, Star acordou abruptamente, saltando do chão e pousando sobre uma das pedras ao redor.

— Droga, droga, cadê, cadê — ela corria dentre os destroços — achei! — puxava com força algo. Depois de um certo esforço, retirou. — Que bom que não perdi você, Beila. — Segurava com força seu martelo, sem nenhum arranhão pela destruição.

— Ei, não vai me agradecer? — Louis franzia a testa lhe encarando.

— Uhm? — Ela levava a mão esquerda à cabeça tentando se lembrar — VOCÊ!! EU DEVERIA TE MATAR — Avançava prensando o chão — você queria matar a bruxa ou eu?

— Você está viva não está?! — Colocava a mão na cintura — já a Nyx, não consegui achar seu corpo ainda.

—  E não conseguirá. — Começou a andar em círculos — antes de eu ser atingida por você, eu a vi entre as pedras, saindo por um portal vermelho. Foi rápido o suficiente para que não pudesse fazer nada. 

— Isso não importa agora — Nihilo tomou a frente — aquela caverna era só uma distração, então  certamente as duas devem estar dentro dessa fortaleza. Entramos lá e matamos elas — sinalizou com a mão.

— Nem pensar! — Parou e voltou a encarar Nihilo — nós estamos investigando a corte de sangue a meses, para vocês chegarem e simplesmente tomarem a frente.

Louis suspirava, fincando a espada no chão.

— Afinal quem são vocês? Parece que temos um objetivo em comum, então teremos que entrar em acordo.

— uff — suspirava sentando em uma pedra ali perto — a história é meio longa, mas, todos nós temos um assunto pendente com a bruxa Aldeni.

—  “Nós?” só vi você até agora, cadê os outros?

— Estão chegando — Levantava o polegar da mão direita.

Louis e Nihilo olharam para cima ao mesmo tempo, tentando enxergar o que estava por vir. Após alguns segundos de observação, perceberam um enorme objeto cilíndrico, com mais de 50 metros de altura, caindo do céu. A cada instante, ele se aproximava mais, sem dar qualquer indício de que iria parar.

O objeto era grande demais para desviarem naquele momento. Nihilo tomou a dianteira mais uma vez, preparando um soco. Ele recuou o braço direito e flexionou as pernas, encarando aquela que poderia ser sua morte com um sorriso no rosto.

— Ei! — Star se levantava rapidamente — o que pensa que está fazendo?! 

— Calada. — Pressionava com cada vez mais força o próprio punho — estou amando esse novo mundo.

Com o maior dos sorrisos no rosto, o Ken’jin enfim se soltou, pronunciando levemente ao vento.

Sombra final; Dragão.

Quando o punho de Nihilo alcançou sua posição máxima, como se estivesse tocando o ar, ele lançou uma onda tão poderosa que pulverizou o objeto acima deles em milhões de pedaços instantaneamente. As árvores da floresta atrás deles foram derrubadas, enquanto o ar ao redor se tornou  tão rarefeito que por alguns segundos, mal conseguiam respirar.

O vento gerado pelo soco foi tão intenso quanto o impacto em si. Louis e Star foram lançados alguns metros para trás apenas pela força desse vento. Aos poucos os milhares de pedaços caiam, parecendo uma leve garoa. 

— Que merda você fez?! — Star se levantava, ainda respirando lentamente — aquele era um meio de transporte oficial! Que porcaria você tem na cabeça seu gigante idiota?!.

— Aquela coisa iria nos esmagar, você deveria me agradecer criança. — falava, enquanto batia uma mão contra a outra, limpando a poeira. 

“Eu deveria ter deixado ele com o Morya” , pensou Louis sacudindo a poeira de sua roupa.

— Se os seus companheiros estavam lá, então… — continuava a sacudir a poeira. 

— Quem são esses Star? — Uma voz vinha ao lado direito deles, no maior pedaço que restou da caverna.

— BARROTE!! — Ela pulava em êxtase. 

Conforme a fumaça se dispersava, era possível enxergar um grupo de seis pessoas, todos com o mesmo uniforme e carregando sorrisos no rosto. O maior deles, Barrote Zarross, era careca, tinha cerca de 2,8 metros de altura, olhos vermelhos e diversos símbolos na testa.

— Legião dos 7 escudos, em formação! — gritava, Barrote

— Você — O menor deles, usando um óculos escuro apontava — grandalhão, por algum acaso você sabe a origem daquele objeto? — ele coçava a barba lentamente.

— Eu deveria? — pressionava os próprios punhos com um sorriso — encarem isso como sobrevivência.

— Ignore ele, Pytrari. Não parece ter modo algum, mesmo diante de nós — falava o homem de chapéu preto, passando a mão entre seu cabelo. 

Todos avançavam de maneira igual e calma em direção ao centro onde ficava a antiga caverna. Conforme passavam entre Louis e Nihilo, lançavam olhares furtivos por cima deles, até que finalmente pararam à sua frente.

— Me chamo, Barrote Zarross, o juiz e comandante oficial da legião do reino Tsin — o sorriso em seu rosto se fortaleceu, seguido de uma forte respiração —  e vocês 2 quem seriam?

Louis tomou a frente de Nihilo, forçando-o a ficar quieto. 

—  Louis do reino Celeste.

— Uhm? — Barrote se inclinava em sua direção — está bem distante de casa, criança.

— Não pretendia estar aqui — pegava a espada fincada no chão — mas o destino me quis aqui, então agora, tenho assuntos a resolver com uma pessoa dentro dessa fortaleza.

— Enigmático não? Bem seus motivos não me importam, nós somos responsáveis por essa missão e independente de quem esteja lá dentro, esta é uma missão oficial do reino. 

O silêncio tomou conta do lugar, quebrado apenas pelos sons dos passos de Barrote e sua equipe, que caminhavam em direção à fortaleza.

— Não... Você acha que sabe tudo, mas não sabe porra nenhuma — disse Louis, virando-se e segurando sua espada com força.

— O que você quer dizer? — ele se virava.

— Eu posso não saber o que está acontecendo aqui, nem qual é sua verdadeira missão, mas... — começou a andar em sua direção — vocês não são os únicos com um objetivo. Você não faz ideia do peso que vai carregar ao matar a pessoa — respirou lentamente, levantando o braço esquerdo e apontando para a fortaleza — que está lá dentro.

— Haha… O que você poderia suportar a mais que nós? Você é uma criança perdida, longe de sua casa, andando ao lado de um velho decrépito, que não sabe distinguir bons modos a simples falta de educação — se aproximava de seu rosto — enquanto sai por aí tentando resolver  problemas, onde não foi chamado, então me diz, Louis de Celeste, o que você pode suportar mais que nós?

— É só dizer garoto — Ken’jin se aproximava de seu ouvido, estalando as mãos.

— A morte de um mestre. — Ele se inclinava, pressionando o próprio punho — o que as notícias vão dizer, quando oficiais de um reino vizinho, matarem um grão-mestre oficial do reino vizinho?

Zarross pela primeira vez pareceu ter perdido a compostura. Os semblantes dos demais da equipe, mostravam clara preocupação e medo. Em seguida, Barrote  tentou retomar a postura, endireitando-se novamente e devolvendo o sorriso sinistro ao rosto.

— Um mestre? Uma legião? Nada disso me importa. Eu arrumaria guerra com o resto do mundo se for preciso para completar nosso objetivo, e... — ele se aproximou ainda mais do rosto de Louis — tome cuidado com a maneira como vai se dirigir a mim na próxima vez.

Nihilo estava prestes a agir, mas em um movimento rápido, Star apareceu entre eles. Com um gesto firme, ela colocou seu martelo sobre o peito de Ken'jin, impedindo-o de avançar.

— Barrote, acredito que esses dois podem ser úteis. Especialmente ele — ela apontava para Louis — me parece que ele tem bons motivos para te encarar desse jeito.

O gigante careca observava a situação com um sorriso constante no rosto. As palavras de Star penetravam lentamente em sua mente quando, de repente, uma enorme coluna de fumaça ergueu-se atrás da muralha. Nihilo e Louis foram os primeiros a notar, seus olhares fixos na direção da fumaça, seguidos rapidamente pelos demais.

— Estamos perdendo tempo demais aqui, Barrote! — gritava a mulher de cabelo rosa e olhos brancos.

— O nascimento… — a palavra saltava da boca de Louis.

— O que quer dizer com isso? — Star se virava.

— Uma velha problemática, seu nome é Aldeni pelo que sei.. Disse que em cerca de 1 dia o nascimento de seu “rei” iria acontecer.

— Impossível! — gritou Pytrari, o anão de óculos, cerrando os dentes. — Barrote?! A informação foi que teríamos ainda mais 2 semanas até seu nascimento.

Todos os presentes, pouco a pouco, cediam à pressão da situação. No centro de tudo, Barrote ouvia, com calma, os gritos incessantes ao seu redor, que aguardavam por alguma ordem.

— Parece que você está bem por dentro da situação, rapaz. — Ele deu dois passos à frente. — O Grão-Mestre presente aqui... deve ter acelerado seu surgimento. Pytrari, Star e vocês dois de Celeste, venham comigo. Annie, Jerael e irmãos Artross, voltem para a capital e informem o rei. Preparem as defesas. Se falharmos aqui, a segurança do reino deverá ser prioridade.

— Não foi para isso que — Pytrari rapidamente interrompeu Jerael, estendendo uma de suas pistolas douradas.

— Uma ordem é uma ordem, Jerael. Por mais que eu deteste essa situação, Barrote foi condecorado pelo rei, e eu não vou tolerar insubordinação.

 

O jovem apenas ergueu os braços em sinal de paz, estalou os dedos como fazia de costume e virou-se, começando a caminhar lentamente na direção oposta. Annie e ambos os irmãos Artross o seguiram logo atrás.

— Espero que saiba o que está fazendo, Barrote. — Ele estalava os dedos novamente.

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Os cinco caminhavam juntos, quase em perfeita sintonia, em direção à fortaleza. Os enormes portões estavam abertos, como se os convidassem a entrar. Além dele, uma densa névoa cinza cobria tudo; seria preciso atravessá-la para enxergar o que havia no interior.

Após mais alguns segundos de caminhada, eles pararam diante dos portões. A curiosidade os consumia, mas nenhum deles ousava dar outro passo sem antes enxergar o que os aguardava adiante. O silêncio opressor foi quebrado pelo som alto da pisada de Nihilo no chão de terra molhada.

— Eu tomo a frente então — estalava seu pescoço lentamente — vamos ver se tem algo que possa matar esse velho.

Nihilo atravessou a fumaça e, no instante seguinte, desapareceu, como se tivesse sido teletransportado. A espada que Louis segurava, ainda conectada ao corpo de Ken'jin, foi arrancada de sua mão com força e sumiu na neblina. Os demais se preparavam para segui-lo, mas Louis os segurou.

— Barrote um de nós deve ficar aqui — ele o fitava — a espada que eu carrego, está ligada a alma do Ken’jin-san, porém sob uma condição: distância.

Zarross levava a mão esquerda ao queixo em sinal de pensamento, enquanto encarava a neblina a frente.

— Qual o tamanho da distância?

— Não sei ao certo, mas já nos afastamos por mais de 150 metros e isso não aconteceu, um de nós deveria ficar aqui, até estabelecermos alguma noção das coisas lá dentro.

— Eu fico — Pytrari ajustava sua pistola em sua roupa — o garoto não vai ceder, principalmente agora que seu companheiro entrou, vá com eles Barrote.

Mesmo em silêncio, todos pareciam ter concordado com Pytrari. Louis foi o próximo a avançar, cerrando os punhos com força antes de dar um passo firme e desaparecer na neblina. Star, por outro lado, entrou pulando com entusiasmo, o martelo balançando com cada movimento, como se a tensão à sua volta fosse apenas um jogo. Barrote deu dois passos lentos, hesitantes, antes de parar. Seu olhar se fixou em Pytrari por um instante.

— Quatro…Se nós não voltarmos em quatro horas, se junte aos demais. 

No instante seguinte, ele atravessou a neblina. Um vento gelado percorreu seu corpo, fazendo-o estremecer. O sorriso habitual em seu rosto desapareceu, dando lugar a uma expressão de incômodo. O cheiro forte de terra molhada, misturado com um aroma amargo, invadiu seu olfato e chegou a seu paladar, deixando um gosto desagradável no ar.

Quando finalmente atravessou a névoa por completo, deparou-se com uma floresta imensa. As árvores gigantescas pareciam ultrapassar os 50 metros de altura, e ao redor dele, pequenos lagos se espalhavam, lembrando pântanos. A luz forte do sol, surpreendentemente, conseguia atravessar as copas densas, iluminando o chão úmido e refletindo nas águas escuras.

Nihilo, Louis e Star não pareciam ter passado por ali. Barrote olhou para um caminho de pedras à sua frente, enquanto a passagem por onde ele passou, sumia lentamente. Mesmo com um certo desconforto, ele seguiu em frente a passos cautelosos.

Após alguns segundos de caminhada, Barrote avistou ao longe um enorme lago. No centro, uma figura se destacava: um homem sentado sobre uma pedra, vestindo um kimono preto, com quatro espadas flutuando ao seu redor, como se o guardassem.

À medida que Barrote se aproximava, a visão se tornava mais nítida. O homem tinha cabelos negros, olhos brancos, uma marca vermelha no lado esquerdo do rosto e um físico claramente bem treinado.

— Barrote Zarross, 46 anos. Perdeu ambos os pais em um evento trágico aos 14 e decidiu se tornar militar para erradicar a injustiça. — O homem misterioso levantou a cabeça, abandonando a postura relaxada, e fixou o olhar em Barrote. — Agora me diga, o que um 'defensor da justiça' veio fazer em minha humilde morada?



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