Sakurai Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume Único

Capítulo 33: Homem dos pássaros correio

A saída do vazio foi completamente deselegante. Hiroshi caiu de cara na neve fofa e teve dificuldade para se levantar por conta do forte e incessante vento frio que batia com violência em seu corpo. Andar também foi uma tarefa difícil, pois suas pernas que haviam se acostumado ao terreno firme e sólido do vazio, de uma só vez foram jogadas em um terreno irregular e escorregadio. Até ficar parado era um incômodo, pois em poucos segundos, a neve soterrava por completo suas pernas. 

— Que recepção calorosa... Ou seria fria? — Ele olhou em volta, mas tudo que encontrou foi neve e mais neve. Sua expressão, no entanto, era mais serena que antes. Hiroshi não conseguia conter seu sorriso de empolgação. — Onde será que eu estou? 

Ele caminhou por algumas horas em linha reta, encontrando algumas pessoas e animais no caminho. Tentou se comunicar com as pessoas, mas elas falavam uma língua que nem sequer reconhecia. Com muito esforço conseguiu usar sinais para pedir um pouco de água e comida, mas essas pessoas pareciam desconfortáveis quando ele os seguia. 

— Então estou fora do Japão. Que ótimo! Devo conseguir alguns ingredientes novos antes do esperado... Mas será mesmo que estou fora? Ainda não confirmei que ano é, esse país pode muito bem ter mudado com o tempo em mais aspectos que eu imaginava, nada garante que houve uma guerra e a língua do país mudou. — Falar seus pensamentos em voz alta se tornou um mau hábito de Hiroshi. 

Um canto de um pássaro vindo do céu chamou a atenção de Hiroshi, interrompendo seu pensamento. Ele usava uma espécie de colar vermelho e voava com dificuldade contra o vento em uma altura considerável, lutando com todas as suas forças, mas mal saindo do lugar, até que eventualmente se cansou e caiu. 

Hiroshi partiu correndo em direção ao pássaro para tentar salvá-lo, mas no meio do caminho trombou com tudo contra um homem que também pareceu ter tido a mesma ideia. 

— Me desculpe! O pássaro era seu? — perguntou Hiroshi 

O homem se irritou e soltou gritos e xingamentos incompreensíveis para Hiroshi.  

Um louco? O que está murmurando aí sozinho? Fale algo que... Argh! — Os insultos desse homem foram interrompidos pela queda em cheio do pássaro em sua cabeça. 

Ah, você está bem? Olá! ...Você fala japonês? 

Hiroshi tentou se comunicar com o homem, mas novamente não conseguiu entender uma palavra que ele havia dito. Esse sentimento pareceu recíproco, o outro homem também fez uma expressão confusa. 

Após uma longa sessão de encaradas e falhas tentativas de comunicação, o homem teve um ultimato, resmungou o que parecia ser alguns xingamentos e apontou seu dedo indicador para Hiroshi, que sorriu. 

— Que sorte. Já encontrei um de vocês? 

Quando o homem revelou ser um mago, Hiroshi se preparou para lutar. 

— Mas logo que eu voltei, mesmo sendo um de vocês eu não queria... Hm, parece que não tem jeito mesmo, vou ter que reaprender a controlar minha força — disse Hiroshi, desviando dos raios que eram atirados contra ele. 

Hiroshi avançou tão rápido que o homem não conseguiu reagir. Ele poderia muito bem atravessar o peito do homem, o matando instantaneamente, porém, dadas as circunstâncias, isso seria um tremendo desperdício. 

Ao invés disso, Hiroshi apenas o empurrou, o derrubando na neve, e começou a tentar compreender e imitar o poder dos magos. Os ataques continuaram e após cinco minutos de luta, Hiroshi dominou por completo como roubar a energia dos seres vivos. 

— O que? Tão fácil assim? 

Não cansa de desviar!? Vamos, lute para valer! 

Em poucos minutos, Hiroshi conseguiu o imitar com perfeição. Mas mesmo curioso para testar as diferentes possibilidades de uso para esse novo poder, ele parou de tentar usá-lo e voltou apenas ao seu físico.  

O ódio sobre esse poder nojento ainda permanecia soberano sobre a curiosidade. Alguns poderiam considerar um desperdício, mas Hiroshi havia descoberto muitas coisas durante esse curto uso. Primeiro é que por essa facilidade anormal de aprendizado, e controle como se sempre tivesse tido, provavelmente esse era uma habilidade de nascença. Assim como ele conseguia ver o que a maioria não via, o mesmo devia se aplicar ao manejo desse poder. 

Talvez eles não soubessem do terrível mal que aquilo causava, apenas usavam por ser natural, foi uma das possibilidades que Hiroshi considerou. Segundo, mesmo que desagradável, em última instância, ele agora sabia que era capaz de usar esse poder contra um mago. Terceiro, ele aguçou e muito sua percepção dessa energia, o que se tornou claro a descobrir um vilarejo ou cidade há quilômetros de distância, precisamente. 

Pronto para finalizar a luta, Hiroshi foi impedido por um grito de longe. 

O que está fazendo? Idiota! — O homem era coberto dos pés à cabeça com roupas apropriadas e visivelmente caras de frio, vestia um colar de cruz com uma pedra preciosa verde em seu centro, sobre a roupa, propositalmente colocado para ser visível a todos. 

O pássaro caído instintivamente se levantou voou para o braço desse homem, que começou a brigar com o mago. 

— O pássaro era seu? 

O homem que cuidadosamente colocou o pássaro em uma bolsa aquecida, olhou com espanto para Hiroshi. 

— Você é japonês!? Como é que parou aqui? — perguntou o homem. 

— Digo o mesmo, como que você fala japonês na... Onde quer que a gente esteja.  

O homem deu uma alta risada, ofereceu uma garrava para Hiroshi e disse: 

— Estamos na Rússia. Sei um pouco de japonês por causa da minha esposa. - O homem riu. — Pode me chamar de Pavlov, é mais fácil que meu nome.   

— Que homem simpático. Que ano estamos?  

— Estamos em... Como que fala mesmo?  

— Os humanos já descobriram o caminho para a imortalidade?  

— Ainda não.  

— Tudo bem, é o suficiente. — Depois de analisar a garrafa, Hiroshi bebeu um gole e fez uma expressão de quem come algo azedo. — O que é isso? 

— Uma bebida das boas! — respondeu Pavlov. 

— Forte demais para meu paladar, o pássaro está bem? 

O que diabos vocês estão falando? Que língua é essa? — perguntou o mago. 

Aquieta um pouco aí! Você já quase matou meu entregador, agora quer espantar meu novo amigo aqui também!? — gritou Pavlov. — Me desculpe por ele. Esse é um pássaro correio em treinamento. 

— Não seria pombo? 

— Mas ele não é um pombo. 

— Faz sentido. 

— Enfim, já falei muito de mim, quem é você e como veio parar aqui? 

— Meu nome é Hiroshi, para ser sincero, nem mesmo eu sei ao certo de como vim parar aqui. 

— ...Estou ficando na casa desse rabugento aí por enquanto, mas logo vou dar uma passada na minha casa para buscar meu filho e minha esposa para partir para o Japão, quer vir comigo? 

— Por que está sendo tão gentil com um estranho? 

— Deixa dessas dúvidas e só responde, quer ir comigo de volta ou quer ficar por aqui mesmo? Eu também posso te arranjar um lugar em uma vila aqui por perto. 

— Sim, se eu puder, eu vou querer ir com você. 

— Excelente! Viajar sozinho é um saco! 

Após mais algumas discussões, os três voltaram para a casa do mago. 



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