Volume 1
Capítulo 87: Visita Inesperada (3)
Quanto as lágrimas findaram, Dario e Nathalia permaneceram em silêncio, sentados no banco virado de frente ao orgulhoso monumento de pedra, onde os nomes de dois irmãos foram eternizados.
O fluxo de visitantes foi reduzindo conforme as horas passaram. No momento, apenas uma meia dúzia, somando os dois, permanecia dentro do enorme circulo, vigiado por quatro guardas, um em cada entrada. Nathalia segurou uma mecha de cabelo e começou a enrolá-la na ponta do indicador.
— Sobre o Mário, tiveram mais alguma noticia sobre o grupo que o emboscou?
— Nada além das mesmas suposições, a Irmandade Rubra continua como suspeita número um.
Os fios loiros desenrolaram do dedo dela.
— A gente vai pegar eles.
Dario pôde sentir a seriedade emanada pela voz dela, mesmo assim, aquilo parecia um absurdo a se dizer.
— Você pretende caçá-los pessoalmente, Leonhart? — O sobrenome não foi verbalizado com o sarcasmo costumeiro.
— Nós iremos! — Aquela seriedade mais uma vez. — Pode não ser agora, ou daqui um mês, um ano, pode ser depois de nos formar ou após nos aposentar. De qualquer jeito, nós faremos justiça.
As sobrancelhas de Dario arquearam e seus lábios contraíram.
— Sério mesmo? — Acompanhou aqueles olhos azulados sacudirem duas vezes em movimentos verticais.
— É uma promessa, um compromisso, o que você acha?
— É claro, pode ser sim...
— Eu quero que você se comprometa, Zeppeli, eu não estou para brincadeiras.
Ele se remexeu no banco. Aquelas palavras o perfuraram como setas disparadas por bestas. Aquele olhar, aquele azul o encarou com uma determinação assustadora.
Encheu o pulmão de ar e respondeu encarando-a com a mesma seriedade:
— Eu prometo.
Um sorriso confiante se formou nos lábios da garota.
— É isso que eu queria Zeppeli.
— Não sou teu cachorrinho para abanar o rabo quando você quiser, Leonhart.
Mas ela nem deu bola.
— Falando em cachorro — ela começou. — Você precisa dar um jeito naquele seu amigo.
— O Ronan?
— Você tem outro amigo por acaso?
— Tem o Jonas, o César tem o... — O terceiro dedo em sua mão não levantou.
— Você é muito popular mesmo — ela zombou em meio a risos. — Mas continuando, você vai ou não falar com o rapaz?
— Sobre?
— A Anna, seu cabeça de vento. O menino não se toca que ela é caidinha por ele.
— Ela é?
Nathalia levou a mão ao rosto e bufou em incredulidade.
— Outro tapado...
— Não sou tapado. Eu até desconfiava... um pouco, mas ouvir em primeira mão é outra coisa. — Coçou o queixo para refletir. — Caramba, então é verdade.
— Eu até vi os dois juntinhos na biblioteca.
— Se beijando? — Exaltou-se Dario, chamando a atenção dos guardas mais próximos.
— Fala baixo, cabeça de vento. É claro que não, senão a gente não teria essa conversa idiota. Eu os vi juntinhos, lado a lado lendo um livro na biblioteca.
— Mas juntinho como?
Nathalia se aproximou, chegou perto o suficiente para seus flancos se encostarem, um gesto íntimo para os dois sentados no banco da Praça dos Heróis.
— Eles estavam juntos assim — disse ela, morrendo de vergonha. — Até a mão dos dois se encostavam e viravam as páginas juntos. — Ela soltou um riso. — Foi a coisa mais fofa do mundo. — Afastou-se um pouco, cessando o contato corporal entre os dois.
A mente de Dario estava uma bagunça. Muita informação teve de ser assimilada em poucos instantes. Sentiu-se estranho, inundado por um nervosismo intimidade nunca antes experimentado. Pensou, precisava dizer alguma coisa.
— De longe ele foi o que mais nos surpreende, não é? Mas pra compensar, ele é tão tapado em certas coisas.
Nathalia o encarou com uma seriedade grotesca que se desmanchou quando caiu em um inesperado ataque de risos, contagiando-o. Por um tempo eles apenas riram, riram o bastante para que lágrimas brotassem de seus olhos.
Dario nem sabia o motivo daquilo tudo.
Quando ela se acalmou o suficiente para falar, mas ainda com a mão na boca para abafar os risos insistentes, Nathalia proferiu uma observação sobre o amigo:
— Sabe... nunca imaginei que uma criança orgulhosa e sem noção como você fosse capaz de chorar.
— E eu nunca imaginei que uma convencida, mas genial filhinha de papai tivesse um coração por baixo dessa carapaça.
A vergonha impediu que ele olhasse na direção dela. Sentiu um empurrão que balançou seu corpo para esquerda e quando recobrou o equilíbrio, sentiu os corpos se chocarem. Dario não soube dizer se o empurrão o fez deslocar à direita na volta...
...Ou ela se aproximou num movimento frio e calculado.
— Sou genial é? Decidiu admitir a minha superioridade, garoto do vento?
Não se olharam.
— Vai ficar se achando agora?
Nathalia sentiu como se todos os seus problemas não existissem mais, como se fossem evaporados por um raio misterioso. Adorava ser elogiada, talvez mais que qualquer coisa, mas ouvir de um rival era diferente, pois era verdadeiro, do fundo do coração. Isso fez a respiração dela pesar.
Suas mãos repousavam nas coxas, então algo as envolveu.
Agiu por instinto.
E as bochechas de Dario arderam com o choque daquela palma, daqueles dedos. Ele já esperava ser esbofeteado, ainda mais por ela, mesmo assim, achou injusto ser golpeado por tentar segurar aquela mão.
— Bastava ter dito que não. Eu iria entender, não sou um...
Ela o interrompeu, com um sorriso no rosto:
— É que você não pediu permissão...
Dario não pôde acreditar no que ouviu, mas não tinha jeito, precisava entrar no jogo criado por ela.
— Posso?
Mas ela não respondeu de imediato, em vez disso, aninhou a cabeça em seu ombro, jogando centenas, ou talvez milhares dos fios do seu cabelo dourado no gibão do garoto, que não se moveu um centímetro sequer. Quando se sentiu confortável o bastante, ela disse apenas que:
— Pode sim...
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