Ronan Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini

Revisão: Marina


Volume 1

Capítulo 57: A Primeira Semana (2)

No dia seguinte os alunos tiveram mais uma aula com o professor Felix, mas dessa vez, não na sala A-102, mas no Centro de Práticas Arcanas. Local onde foi prometida uma aula prática para compensar as horas maçantes do dia anterior.

Como se tratava da Manipulação Defensiva, Felix mostrou como projetar um escudo dispersor com o ar. Ronan acabou fascinado com a simplicidade. Bastava canalizar a energia na palma da mão, sincronizar com o ar e jogá-lo para frente e para os cantos.

A principal função da barreira era proteger o manipulador de chamas ou objetos leves disparados em sua direção, mas nem nas mãos de um poderoso conjurador aquilo impediria um projetil atirado em alta velocidade, como uma flecha.

Apesar de parecer algo um tanto simples, a turma levou o dia inteiro para dispersar o ar em tantas direções de uma só vez, com exceção de Dario e Nathalia.

Como era terça-feira e o dia letivo havia terminado, Ronan foi à biblioteca ajudar Anna a pesquisar sobre a Conjuração Curativa. Juntos eles passaram o resto da tarde e parte da noite revisando todo o conhecimento já obtido e catalogado, além de folhearem a lista de livros já vasculhados para não pegarem o mesmo volume duas vezes.

Porém, um assunto delicado martelava na cabeça de Ronan, que decidiu perguntar a ela:

— Como está o seu pai?

— Não sei, não vi mais ele desde o mês passado.

— Não está com medo dele? Depois de… — tomou coragem —… tudo aquilo?

— Ronan… — anunciou séria. — Ele não é mais meu pai, não oficialmente. Além do mais, já sou capaz de me defender dele sem remorso. Não precisa se preocupar comigo. — Ela o encarou sem expressão alguma. — Mas obrigado por se importar. — terminou com um sorriso.

Ronan sentiu um toque morno em seu braço. A mão dela agora envolvia o seu pulso esquerdo. Embaraçado, Ronan apontou o braço apalpado para o livro que ela lia agora a pouco, desfazendo o toque.

— Está acabando este ai?

— Poxa Ronan! — Bufou irritada com algo que só ele não percebia.

— O que foi?

— Nada, não é nada! — esbravejou retomando a leitura do livro.

Conservando o clima tenso, a sessão de estudos chegou ao seu precoce fim, pois Anna foi para casa a passos apressados, sem se despedir do colega.

Na quarta-feira da primeira semana de agosto, os alunos da sala A-102 conheceram o professor que lecionaria: Manipulação Ofensiva I.

Era um sujeito careca de estatura mediana que vestia uma camiseta branca de botões por baixo de uma jaqueta marrom de gola alta. Poderia ser alto, mas ele caminhava com a coluna torta, mãos nas costas e a cabeça levemente inclinada para cima.

De frente à mesa organizada com o seu material, ele se apresentou aos alunos:

— Prazer em conhecê-los, eu me chamo Fernando Valadar e comecei a lecionar nesta instituição faz dois semestres. Tenho 43 anos, mas servi como Procurador do Império por 21. — Aquilo fez o olhar dos alunos arregalar. Fernando percebeu aquilo e logo emendou: — Não precisam fazer essa cara assustada, eu passei meus dias de Procurador trancafiado no quartel cuidando da burocracia. Não quero me gabar, mas meus dias de investigação passaram rápido, em menos de dois anos eu já tinha me tornado general.

O queixo de todo mundo caiu no chão.

Fernando sorriu encabulado.

E Jonas Brando não conseguiu conter sua surpresa.

— Um general… dando aula… aqui, pra gente — sussurrou alto demais.

— Espero não ter intimidado vocês assim no primeiro dia, mas podem ficar calmos, vou pegar leve com vocês… por enquanto.

Aquilo não ajudou muito.

Ocupando uma das bancadas do fundo, Ronan permanecia incomodado com os acontecimentos do dia anterior.

Anna não tinha o cumprimentado e nem sequer havia virado para trás desde que chegou, ao contrario de Nathalia, que trocava insultos e provocações esporádicas com Dario.

O professor Fernando deu inicio à aula introdutória:

— O professor Felix veio se encontrar comigo semana passada. Ele me contou um pouco sobre vocês e mencionou que já tinha lhes entregado o livro sobre a manipulação arcana em sua forma pura. Ele falava a verdade?

Anna levantou seu exemplar do livro: Lições da Manipulação Arcana, para o professor Fernando ver.

— Ótimo. Então vamos aprender um pouco sobre como manipulá-la. Se Felix foi sincero comigo, ele já teve ter lhes apresentando o conceito mais avançado sobre a canalização, Anna respondeu com um “sim professor” e logo se tornou a queridinha do professor-general.

Ronan sentia-se aliviado e angustiado por não ter de estudar com Anna nas quartas-feiras. Aliviado por não ter de encará-la e angustiado por ser obrigado a falar com ela amanhã devido ao compromisso firmado em ajudá-la em suas pesquisas.

É claro, poderia simplesmente não falar nada e nem ir, mas isso poderia piorar o clima entre os dois. Pensou em perguntar para Dario, mas hesitou ao imaginar as piadinhas idiotas que ele poderia fazer.

Era melhor resolver aquilo sozinho, amanhã.



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