Volume 1
Capítulo 2
— Então, o que você quer de mim? — perguntou Asher.
— Está indo à cidade? Se não for incômodo, gostaria de compartilhar a viagem. Claro, se estiver tudo bem para você.
Asher estudou a amiga por um momento. Seus olhos demonstravam apreço, todavia, ele não tinha certeza se seguir adiante era a melhor escolha.
— Acho que dependerá mais de você. — Ele olhou para trás.
— Perdão?
— Estou com meus instrumentos de caça. — Ele tocou na bolsa amarrada na traseira do cavalo. — Talvez a machuque com o tempo, mas se estiver disposta…
— Eu poderia ajudá-lo a guiar o cavalo, não? — Rose brincou com a crina do animal, que relinchou assim que ela tocou suavemente em seu nariz.
Asher ficou em silêncio, arqueando a testa; um choque momentâneo que paralisou os músculos de seu rosto.
— Rose… — Ele coçou o pescoço.
— Sim?
— Você é casada. Não será bom se os outros a verem comigo.
— Qual o problema? Você estará ajudando uma amiga. Não importa o que os outros irão pensar.
— Eu não estou preocupado com os comentários. Já tenho meus motivos para simplesmente ignorá-los… — Ele a observou. —, mas tenho a impressão de que você não enxerga o homem à sua frente.
— Que homem? — ela debochou. — Tudo que vejo é um garotinho preocupado com a reputação de sua amiga. É como você disse, afinal, eu também tenho os meus motivos para ignorar a existência deles. Eu sei o que eles pensam. — Ela ajustou a cesta no antebraço, reparando na aliança em seu anelar esquerdo.
Asher sentiu uma pontada no peito, mas nada que o abalasse. Ele se preocupava com o bem-estar dela, mais do que ela imaginava.
— Hah… está sendo imprudente — ele arfou, dobrando os braços sobre o peito. —, mas se é isso que você quer…
De inesperado, ele segurou a cintura dela com firmeza e a colocou sobre o cavalo.
— AH! — Ela se surpreendeu. — Ao menos avise, poxa!
Rose se sentiu como uma insignificante folha nas mãos dele.
— Se você não fosse da altura de um anão, tornaria o processo mais fácil.
— Ei! Escute aqui seu…!
— Vamos, apronte-se! — O jovem exigiu, apoiando o pé no estribo. Ele tocou nas mãos de Rose. — Segure a guia e…
— Eu sei como é! — ela retrucou, imóvel durante os minutos que pensava em uma solução para sua inabilidade com o animal e os objetos.
Enquanto isso, Asher estendeu as mãos no ar, pois ele não era ninguém comparado à pessoa que, com perspicácia, se atrapalhava com o corcel insatisfeito.
— Está bem, o que eu faço agora? — Seus olhos suplicaram a ele uma dica — qualquer uma estava de bom agrado.
Num suspiro, Asher pressionou com leveza o calcanhar no estribo e, sutilmente, ensinou-lhe os comandos.
— Seja mais gentil com ele.
Em apenas alguns passos, o cavalo se afastou do lugar, e Rose não pôde conter o sorriso que brotou em seu rosto.
E ao notar a alegria em seu semblante, Asher, confiante de sua ousadia indiscreta, moveu sua cintura e se inclinou para perto do ouvido dela, sussurrando:
— Eu poderia ensiná-la a cavalgar.
— Não tenho tempo. Creio que Timothy me ajudará com isso no futuro — ela respondeu, sua atenção na crina bem-cuidada do animal.
Asher desviou o olhar de baixo para cima. Em um instante, sua expressão amigável se transformou em — uma séria uma que poucos conseguem discernir entre raiva e indiferença.
— Bem, você sabe onde me encontrar caso mude de ideia.
— Obrigada. Aliás, qual é o nome dele? — Os dedos dela afundaram nos fios da crina.
— Varlosy.
— O quê? — Ela franziu as sobrancelhas. — Que nome ridículo para um cavalo! — afirmou.
— Varlosy é o nome do cavalo de um grande guerreiro.
— De algum livro? — Ela apoiou as costas no peito dele.
— Não. Ele viveu há muito tempo, nas primeiras batalhas. Varlosy é um animal lendário, igual ao seu mestre. Ele era um dos melhores soldados de sua época.
— Uau, então ele realmente existiu?
— É o que dizem. Ouço essa história desde os meus dez anos, então, quem sabe se o cavaleiro de Ford realmente existiu.
— Espero que sim. — Ela olhou para ele. — Você faz uma expressão engraçada quando fala sobre algo que gosta. — Sorriu.
— Não enche! — Asher virou o rosto.
Entretanto, em vez de provocá-lo, Rose escolheu omitir o momento em que constatou as bochechas dele corarem, seus fios de cabelo flutuando ao vento quando a brisa da floresta os envolveu pelo tranquilo caminho.
À margem da ribeira, o trajeto se desenrolava em completa quietude. O passeio era acompanhado pelo domínio dos insetos e dos pássaros que enchiam o ambiente com uma sinfonia de diferentes sons, estes, que se fundiam ao rugido da majestosa cachoeira, escondida pelas grandes árvores da extensa floresta.
Asher, porém, não previu que o percurso que costumava levar trinta minutos se estenderia para uma hora. Seu objetivo era deixá-la no mercado e partir para mais uma caçada diária, mas por alguma razão, parecia que eles não saíam do lugar.
— Asher. — Rose fitou os olhos para o cenário paradisíaco, em destaque para os peixes cujas nadadeiras dançavam em baixo da água.
— Sim?
— Por que cancelou o seu noivado?
Enquanto o vento brincava com os galhos das grandes árvores, os cabelos da jovem eram carregados até os olhos de Asher, o qual observava suas orelhas de tamanho discreto, que se uniam com a lateral de seu rosto e destacava a suave silhueta de suas bochechas redondas.
— Por que esta pergunta de repente?
— Eu lembro como se fosse ontem. É uma memória que outrora aparece.
Não era uma cena que Rose se orgulhava de ter visto aos quinze anos.
— Ela gritava e, tudo que você fez foi inclinar a cabeça sem dizer uma única palavra. Você deixou que ela gritasse, batesse em seu peito enquanto as lágrimas escorriam…
Inerte ao comentário, Asher abaixou o olhar sem dizer uma única palavra.
— Foi um assunto bastante comentado na vila. Mesmo que tenha se passado tantos anos, você continua solteiro. Por acaso, você se arrepende? — ela insistiu.
Asher, contudo, entregou as rédeas nas mãos de Rose e, de surpresa, envolveu os braços na cintura dela, descansando a cabeça em seu ombro ao quebrar o silêncio numa respiração exausta, dizendo:
— Hah… Estou cansado. — Ele escondeu o rosto e jogou o peso do corpo sobre ela. — Não acha que está sendo um pouco inconveniente? — murmurou.
Capítulo novo toda sexta.
Acompanhe também…
Príncipe de Olpheia