Volume 2
Prólogo
── Noite de 7 de setembro – Perspectiva de Ichijou Ai ──
O domingo estava chegando ao fim.
Depois de terminar meu encontro com o Senpai, soltei um suspiro no meu quarto, agora solitária. O tempo de felicidade havia acabado e, em seu lugar, veio de repente uma onda de solidão. Fui lembrada, mais uma vez, de como eu realmente sou fraca.
Eu odeio ficar sozinha. Eu quero uma família. Quero voltar àquele tempo feliz. É por isso que eu amo tanto o calor do Kitchen Aono. Quero ficar com todos para sempre. Mas aquele momento foi como o baile da Cinderela. Quando o relógio bate, tudo termina. Um instante passageiro.
E então, sou puxada de volta para esta realidade.
Meu suspiro não era só por causa da solidão. Eu também estava pensando no que tinha acabado de acontecer. Eu tinha feito algo um pouco ousado. O arrependimento começou a se infiltrar enquanto eu me deitava no sofá, absorvendo as emoções que ainda restavam do dia. Você não está realmente arrependida, disse a mim mesma.
Talvez fosse por causa de toda a caminhada, ou talvez pelos sentimentos desconhecidos — eu estava cansada. Abraçando um bichinho de pelúcia, comecei a cochilar. Segurá-lo assim quase me fazia sentir como se ainda estivesse naquele encontro com ele.
Lentamente, fui sendo levada para o mundo dos sonhos.
Eu tive um sonho. Imediatamente soube que era um sonho — porque já o tinha visto tantas vezes antes. Era o dia em que perdi minha mãe.
Meus pais tiveram o que você chamaria de um casamento político. Meu pai veio de um novo conglomerado poderoso, e minha mãe de uma distinta família antiga. O casamento foi benéfico para os dois lados. A família do meu pai ganhou o prestígio da linhagem nobre e fez pleno uso das conexões da minha mãe. Ouvi dizer que a família da minha mãe esperava que um homem talentoso como meu pai ajudasse a reviver sua casa. Normalmente, um casamento assim resultaria em um casal frio e distante. Se tivesse sido assim, eu nunca teria subido no telhado naquele dia.
Mas os dois eram amigos de infância. Pelo que ouvi da minha mãe, acho que provavelmente foram o primeiro amor um do outro. Então, mesmo que fosse um casamento arranjado, foi uma união feliz para ambos. Sempre que minha mãe falava sobre meu pai, seu rosto se iluminava como o de uma garota apaixonada. Agora que finalmente me apaixonei por alguém, provavelmente tenho o mesmo olhar que ela tinha.
Fui criada em meio ao amor. Isso é uma coisa que nunca poderei negar. Aqueles dias perdidos ainda são uma memória calorosa e preciosa no fundo do meu coração. Meus pais eram ocupados, mas eu nunca me senti sozinha.
Comecei a frequentar uma prestigiada escola particular em Tóquio desde o ensino fundamental. Quanto mais eu me esforçava nos estudos ou nos esportes, mais eles me elogiavam. Meu pai estava sempre ocupado com o trabalho e raramente em casa, mas era um homem gentil que ainda arranjava tempo para a família. Ele sempre aparecia nas visitas escolares e nos festivais esportivos.
Abri o álbum de fotos da família guardado na estante. Em todas as fotos, eu estava sorrindo. E em quase todas elas, meus pais sorriam felizes ao meu lado. Cada uma era uma lembrança preciosa.
Mas então, há dois anos, naquele dia… eu perdi tudo. Minha mãe e eu nos envolvemos em um acidente.
Tínhamos planos de viajar naquele dia.
Era para ser nós três, mas meu pai precisou cancelar no último minuto por causa do trabalho. Fiquei tão desapontada que não consegui me arrumar direito, e acabamos saindo um pouco atrasadas.
Esse foi o erro. Se ao menos eu tivesse me preparado mais cedo… Se eu tivesse pensado mais no papai… Talvez as coisas tivessem sido diferentes.
De forma incomum, minha mãe era quem dirigia naquele dia. Como estávamos só nós duas, não pedimos para o motorista vir. Era uma viagem pela qual estávamos animadas. Meu pai planejava terminar o trabalho e se encontrar conosco logo depois. Eu não precisava ter ficado tão chateada com isso. Então, por que…
“Está melhor agora, Ai?”
Minha mãe me provocou levemente.
“Estou bem. Só fiquei um pouco irritada.”
“Você conhece o seu pai — ele vai terminar logo e compensar a gente.”
“É… você tem razão.”
Eu sabia, no fundo, que o trabalho do meu pai sempre trazia mudanças repentinas de agenda. E sabia que, com suas habilidades, ele conseguiria terminar rápido e se juntar a nós. Só viajaríamos separados por um tempo.
Agora que perdi tudo, percebo como aquilo era trivial. Deveria ter sido só mais uma daquelas histórias engraçadas de família que contaríamos depois, rindo.
Depois disso, me acalmei, e conversamos normalmente no carro. Eu realmente acreditava que aquela felicidade duraria para sempre. Mas então…
Quando entramos num túnel, tudo mudou.
Houve um estrondo alto dentro do túnel, e um impacto violento deixou tudo escuro. Ouvi o som de freios rangendo, o estrondo de metal se chocando e algo esmagando—sons agudos e pesados ecoando no túnel estreito.
Quando recobrei a consciência, vi uma parede na minha frente. Será que sofremos um acidente? Olhei ao redor. Podia ouvir a respiração pesada da minha mãe. Através da janela traseira quebrada do lado do motorista, observei a situação. O túnel havia desabado, e os arredores estavam cheios de escombros.
O banco do motorista estava meio esmagado, e sangue escorria da parte inferior do corpo da minha mãe. Detritos haviam perfurado seu corpo, e ela parecia sentir uma dor intensa.
“M-Mãe, você está bem!?”
Eu não conseguia processar o que estava acontecendo. Tudo o que pude fazer foi gritar de medo e segurar seu ombro, tremendo.
“Ai… você está machucada?”
Mesmo sendo ela quem mais sofria, perguntou sobre mim primeiro. Forçou um sorriso, tentando desesperadamente não me preocupar.
“Eu estou bem… mas você, mãe…”
“…Entendo. Que bom.”
Mamãe sempre se preocupava apenas comigo, nunca pensava em si mesma. Nos olhos dela, vi algo que lembrava resignação. Mas mais do que isso, havia um alívio profundo, materno — um amor puro por saber que sua filha estava salva. Pensando agora, com a cabeça mais clara, acho que ela já sabia que não iria sobreviver.
Fiquei sem palavras. Tudo o que consegui fazer foi repetir a mesma coisa.
“Mãe… mãe, mãe…!”
Com um rosto cheio de resignação e afeto, ela balançou a cabeça. Era a expressão gentil de alguém que já havia aceitado seu destino. Com a mão esquerda, quase sem forças, ela acariciou levemente minha cabeça. Eu podia sentir seu corpo ficando lentamente frio. O medo de perdê-la se aproximava, sufocante.
“Ai, não se preocupe comigo. Você precisa sair daqui. Pode haver… um incêndio. A equipe de resgate… deve estar… chegando…”
“Eu não posso te deixar, mãe. Vou esperar a ajuda com você.”
O corpo dela esfriava cada vez mais. Eu me agarrava desesperadamente à sua mão.
“Por favor… seja feliz…”
[Almeranto: Permissão para chorar, soldados.]
Vendo o quanto tinha se tornado difícil para ela até mesmo falar, desabei em lágrimas em seu ombro. Ela deve ter dito tantas outras coisas também, mas eu não conseguia lembrar de nenhuma delas — o choque havia apagado tudo. Sua respiração foi enfraquecendo aos poucos, e a fumaça começou a encher o túnel.
Um incêndio havia começado. Se eu não agisse, a mamãe… Eu precisava buscar ajuda. Com esse pensamento, disse: “Vou buscar ajuda agora mesmo” e, de alguma forma, consegui me arrastar para fora do carro.
Minha mãe não disse nada.
Do lado de fora, o túnel era um pesadelo vivo. O caminhão estava completamente soterrado por destroços. Vi pessoas saindo de um carro que estava atrás do nosso — um homem e uma mulher.
“Por favor, ajudem! Minha mãe ainda está naquele carro! O banco do motorista está esmagado pelos escombros, ela não consegue se mover!”
O homem correu imediatamente para verificar o carro em que estávamos. Seus olhos se arregalaram. Pensando agora, é óbvio — detritos enormes haviam perfurado o banco do motorista. Não havia nada que uma pessoa pudesse fazer. Deve ter sido por isso que ele balançou a cabeça.
A jovem mulher me abraçou.
“Você também precisa sair daqui. Se ficar—”
Ela segurou minha mão.
“Não! Eu vou ficar! Me solta!!”
Gritei repetidas vezes, mas o casal se recusou a me soltar. Minha memória depois disso é confusa. Em algum momento, acordei em uma cama de hospital. Foi lá que o pai me contou que a mãe havia falecido.
E então eu me lembrei. Nosso carro havia parado ligeiramente fora da direção do tráfego. Finalmente percebi que a minha mãe havia pisado no freio e virado o volante para manter o meu lado longe dos escombros — para me proteger.
Se ao menos eu não tivesse demorado tanto para me arrumar…
Se ao menos eu não estivesse no carro…
Se ao menos eu tivesse ficado com ela…
Talvez as coisas tivessem sido diferentes. Talvez a mamãe ainda estivesse viva. O arrependimento, a culpa e a tristeza me sufocaram. Tudo o que pude fazer foi pedir desculpas ao meu pai, que havia corrido para ficar ao meu lado.
Porque tudo era culpa minha.
“Papai… me desculpa. Me desculpa mesmo. Foi culpa minha… A mamãe… a mamãe…”
Desabei em lágrimas. Meu pai não disse uma palavra.
No fim, eu nem cheguei a ir ao funeral da minha mãe — ainda estava no hospital. Joguei tudo nas costas do papai, mesmo ele devendo estar sofrendo tanto quanto eu.
Depois disso, minha vida mudou drasticamente.
Primeiro, o papai mudou. Talvez fosse a dor de ter perdido a mamãe, mas ele se enterrou no trabalho e quase nunca mais voltou para casa. O homem gentil e carinhoso que eu conhecia se tornou frio — como se tivesse começado a ver as pessoas como objetos.
Depois veio os ataques. O acidente me tornou famosa, e isso só alimentou o ressentimento das minhas colegas de classe — ainda mais porque eu sempre chamava atenção desde o começo.
A mídia me rotulou como a "sobrevivente milagrosa". Essa atenção me transformou no alvo de toda a maldade delas. Por fora, minhas colegas agiam como se tudo fosse normal. Mas pelas costas, me chamavam de sem coração — a filha demoníaca que sobreviveu sacrificando a mãe. A pior parte foram as ligações anônimas para meu celular — alguém imitando a voz da mamãe, dizendo: “Está doendo.” “Me ajuda.” “Por que você não me salvou?” — me acusando.
Minha mãe jamais diria isso. Eu sabia disso. Mas quando ouvi aquilo repetidas vezes, aquilo começou a me destruir por dentro.
Paralisada, eu só ficava lá, com o telefone na mão. De novo e de novo.
Me formei no colégio particular e me mudei para um lugar onde ninguém me conhecia. Comecei uma nova vida. Mas o pai não veio comigo — acho que ele também queria distância. Isso só me fez me sentir ainda mais sozinha. As ligações pararam, mas eu já tinha perdido tudo.
Teria sido melhor se eu tivesse morrido com a mamãe naquele dia.
Mesmo ela tendo arriscado tudo para me salvar, eu me odiava por desejar ter morrido junto com ela. Se ao menos eu tivesse ficado, talvez eu não estivesse nesse inferno. Talvez eu não estivesse sofrendo assim. Eu só queria vê-la de novo.
Será que o pai me perdoaria se eu morresse…?
Esse desespero — foi isso que me levou até o telhado naquele dia.
Mas foi lá que eu encontrei ele.
Ele me puxou das profundezas do inferno.
Mesmo estando naquela escuridão junto comigo, ele me trouxe luz. Ele me disse: “Obrigado por me salvar.” Mas na verdade, foi ele quem me salvou. Ele me deu um lugar para pertencer, me lembrou do calor das pessoas e me ensinou o quanto pode ser feliz se apaixonar.
Não tinha como eu não me apaixonar por alguém assim.
Dessa vez, meu pesadelo de sempre acabou de forma diferente — reescrito pelo Senpai.
※
Meu celular tocou.
O som me despertou com um sobressalto, as lágrimas ainda grudadas nos meus olhos. O bichinho de pelúcia que eu abraçava no lugar do Senpai ainda estava ao meu lado. Isso me trouxe um pequeno alívio. Normalmente, depois daquele sonho, eu ficava esmagada pela solidão, afundando na culpa, desejando poder morrer…
Olhando para o rostinho do bichinho, de repente me lembrei do beijo na bochecha que tinha dado impulsivamente nele mais cedo. Vergonha — e um pouco de culpa — tomaram conta de mim. Mas foi graças àquele momento que consegui espantar o terror que o pesadelo havia deixado.
Talvez… talvez ele tenha me salvado quando eu estava prestes a cair de volta no inferno.
Só de pensar nele, meu coração ficou mais leve. As últimas palavras da minha mãe ecoaram no meu peito:
“Por favor… seja feliz…”
É verdade. Foi isso que ela me disse. Então eu preciso encontrar a felicidade. Nunca tinha percebido isso antes. Ou talvez eu não quisesse perceber. Mas graças a ele, finalmente entendi. Parecia que aqueles pesadelos estavam sendo reescritos pelo Eiji-senpai — sua presença os reescrevendo um a um. Eles nunca desapareceriam completamente, mas ninguém jamais poderia distorcer o desejo que minha mãe tinha para mim.
Por causa dele, eu finalmente reconheci o quão tola eu fui — o quão perto estive de jogar fora a vida pela qual minha mãe deu tudo para proteger.
Obrigada, Senpai.
Obrigada, mamãe.
Você fez bem, eu.
“Eu quero vê-lo… A gente acabou de se ver, e já quero vê-lo de novo. É assim que a felicidade é? O que você acha, mamãe?”
Olhei para o celular. Mensagens do Senpai tinham chegado de forma intermitente na última hora. Corri para ligar de volta.
Meu coração estava mais quente do que antes.
※
── Perspectiva do Eiji ──
Mais cedo, eu tinha mandado uma mensagem para a Ichijou-san agradecendo pelo encontro, mas ela não tinha respondido.
Talvez ela tivesse adormecido… ou estivesse tomando banho.
Como ela não respondia, achei melhor ir dormir sem pensar muito nisso. Mas, por algum motivo, o calor daquele momento de mais cedo não passava, e eu continuava completamente desperto. Não havia chance de conseguir dormir desse jeito.
"Aquele beijo... Só de pensar nisso, meu coração dispara."
Achei que dizer em voz alta pudesse ajudar — mas só me deixou ainda mais inquieto. Eu nunca teria esperado ser surpreendido assim pela Ichijou-san. Não combinava em nada com a imagem que ela passava — da beldade impecável e inalcançável que rejeitava todas as confissões.
Talvez para os outros ela parecesse distante e difícil de se aproximar, mas por causa do jeito incomum como nos conhecemos, nunca senti isso vindo dela.
Sempre que estávamos juntos, ela parecia genuinamente se divertir. Não importavam os riscos ou as consequências, ela sempre agia por minha causa. Mesmo depois de ter sido traído pela Miyuki, minha amiga de infância e melhor amiga... por que ela estava tão disposta a me ajudar?
Meu celular tocou.
Sim! Uma resposta. Eu estava tão ansioso esperando, checando o tempo todo se ela tinha lido a mensagem. Tinha me convencido de que talvez ela só tivesse adormecido, mas o silêncio ainda me deixava inquieto. Feliz, olhei para a tela — e não era uma mensagem.
Era uma ligação. Da Ichijou-san.
Uma ligação — muito mais assustadora do que uma mensagem para um estudante do ensino médio. Respirei fundo antes de apertar o botão de atender.
"Ah, é a Ichijou. Oi, Senpai. Desculpa ligar tão tarde. Você tem um minuto?"
"Tenho sim."
"Desculpa. Acabei cochilando um pouco e nem percebi, então queria me desculpar."
"Não precisava. Não era nada urgente."
Mentira. Eu estava um desastre, atualizando sem parar para ver se ela já tinha lido.
"E também... queria dizer direito, diretamente. Eu me diverti muito no nosso encontro hoje. E... desculpa por ter feito algo estranho do nada. Eu te surpreendi, né?"
O jeito como ela enfatizou "encontro", evitando dizer "beijo" diretamente — era bem a cara dela.
"Eu também me diverti muito no encontro. Mas é, você me pegou de surpresa."
"Eu imaginei... Para falar a verdade, nem sei por que fiz aquilo. Mas, Senpai—"
"Hm?"
"Eu... nunca beijei ninguém fora da minha família antes."
Ouvir ela dizer isso de forma tão clara quase fez meu coração parar. Só a palavra "beijo" já era o suficiente para fazê-lo disparar descontroladamente.
Como estávamos falando ao telefone — o que raramente acontecia — ela parecia ainda mais próxima do que o normal, como se eu pudesse sentir sua respiração contra o meu ouvido.
"Eu também não."
Quando disse isso, pude sentir que o humor dela se elevou — ela parecia genuinamente feliz. Eu tinha sido traído pela Miyuki antes mesmo de ter a chance de me aproximar dela, e isso me deixou com uma desconfiança profunda. Por isso, nunca imaginei que me aproximaria tanto de alguém que conheci há tão pouco tempo. De certo modo, isso realmente parecia um milagre. Toda essa situação aconteceu por uma cadeia de coincidências... talvez até destino. Eu não queria reduzir isso a uma palavra tão simples — mas, mesmo assim, uma parte de mim ficava feliz em acreditar nisso.
"Huh, então foi a primeira vez para nós dois?"
Ela soava mais infantil do que o normal, e senti uma estranha alegria ao ouvir esse lado dela. Normalmente, ela parecia tão composta — tão elegante e inacessível.
"Sim, foi mesmo."
Tentando não deixar que sua provocação me afetasse, respondi com um tom despreocupado. Ela soltou uma risadinha suave e doce que fez cócegas no meu ouvido, me dando a sensação de que ela estava bem ali ao meu lado.
"Que bom. Assim vai ser algo que nós dois vamos lembrar pelo resto da vida."
Algo que vamos lembrar para sempre, hein?
As palavras me atingiram mais forte do que eu esperava. Se eu não tivesse encontrado ela naquele dia no telhado, talvez eu tivesse morrido. O fato de estarmos os dois ainda caminhando juntos agora — isso realmente é um milagre. E pouco a pouco, estamos aprofundando nossa ligação. Como isso não me deixaria feliz?
E mais do que tudo, parecia que ela estava me dizendo que não me esqueceria — e isso me deixou verdadeiramente feliz. Se isso vinha dela, eu tomaria como uma honra.
"Você é incrível, Senpai... Continua seguindo em frente, não importa o quanto as coisas sejam dolorosas."
O elogio repentino me deixou um pouco sem graça. Mas a verdade é que não foi tudo graças a mim. Se ela não estivesse lá, eu poderia ter morrido. Mesmo que tivesse conseguido aguentar, ainda estaria preso no fundo daquele inferno — aprisionado em um mundo de bullying que parecia pior que a morte.
Talvez seja porque passei por isso que consigo entender a dor dos alunos que tiraram a própria vida por causa disso.
"Foi porque você estava lá, Ichijou-san... É por isso que eu—"
"Mesmo assim. Eu só fui a faísca. Mas foi você quem escolheu seguir em frente. Você conversou com sua família. Você pediu ajuda. Você até fez com que outras pessoas se apresentassem, oferecendo apoio. Eu não consegui fazer nada disso. Mas você conseguiu — e eu realmente admiro isso em você."
Eu soube na hora do que ela estava falando — daquele dia em que ela quase desistiu. Ela deve ter engolido tudo, carregado tudo sozinha, até não aguentar mais. Já suspeitava há um tempo que ela estava afastada da família. Eu queria estender a mão e perguntar, mas me lembrei de como ela tinha deixado vago isso de propósito. Ela ainda não estava pronta — não o suficiente para falar sobre isso comigo. Não enquanto ainda carregava o arrependimento de nunca ter conseguido pedir ajuda.
Se eu estivesse lá naquela época... será que poderia ter mudado algo para ela?
Eu sabia que era inútil pensar nisso, mas não conseguia evitar.
Tudo o que eu podia fazer agora... era ficar ao lado dela.
Então, eu deveria confiar nela e esperar.
"Até te conhecer, acho que eu sempre desconfiava dos outros. Mas você foi diferente. Nem pensou duas vezes antes de me ajudar, mesmo correndo riscos. Por isso que... você é especial para mim."
Isso soava quase como uma confissão de amor. Não — talvez fosse. Nós nem nos conhecíamos há tanto tempo, mas de alguma forma, já parecia que um laço havia se formado entre nós — algo profundo, como camaradas de armada. Mais profundo que o amor, até. No mínimo, éramos duas pessoas se apoiando mutuamente.
"Obrigado."
"Eu é que deveria dizer isso. Obrigada... por ter me encontrado naquele dia."
Como se quiséssemos ter certeza de que ambos entendíamos o quanto éramos importantes um para o outro, continuamos conversando devagar, suavemente — exatamente assim.
※
── Perspectiva da Ichijou Ai ──
Depois da ligação, me deitei no sofá. Em algum momento, já estávamos no telefone há mais de uma hora. Eu ainda podia sentir a doce atmosfera que havia preenchido o espaço entre nós.
O terror persistente daquele pesadelo tinha desaparecido sem que eu percebesse.
Agora, a única coisa que restava neste quarto… era um pequeno fio de esperança de uma garota apaixonada.
"Por que é tão difícil… simplesmente dizer ‘eu te amo’?"
Ninguém respondeu a essa pergunta.
Mas ainda assim — eu acreditava que, se a minha mãe estivesse viva, ela teria ficado feliz por mim.
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