Volume 1

Capítulo 1: Descoberta de Infidelidade e Bullying

30 de Agosto

 

Suspiro

Eu sou Eiji Aono, um estudante comum do segundo ano do ensino médio.

Enquanto eu tomava chá de cevada e assistia TV preguiçosamente, apareceu uma matéria sobre um acidente em um túnel de alguns anos atrás.

Sentindo uma onda de melancolia se aproximando, desliguei a TV.

Bem, acho que é melhor sair de casa.

Minha mãe e meu irmão mais velho estão ocupados com o trabalho, então decidi sair sem avisar ninguém.

O som das cigarras era constante, como se nunca fossem parar.

O calor intenso do verão fazia o suor escorrer sem parar pelo meu corpo.

“Hoje era para ser meu encontro especial de aniversário…”

Hoje era 30 de agosto.

As férias de verão estavam chegando ao fim.

No último Natal, confessei meus sentimentos para minha amiga de infância, Miyuki Amada, e finalmente nos tornamos um casal.

Estamos ligados desde o ensino fundamental — embora ela costumasse dizer de brincadeira que era um laço incômodo.

Sinceramente, se não fosse pelos anos de amizade, eu nunca teria tido coragem de falar com alguém tão radiante quanto ela, muito menos me tornar seu namorado.

Mesmo agora, meio ano depois do início do nosso namoro, ainda não criei coragem para beijá-la.

Eu realmente queria dar um passo adiante.

Por isso me esforcei tanto para planejar o encontro de aniversário de hoje.

Mas esta manhã, ela me mandou uma mensagem repentina: “Desculpa, Eiji. Surgiu uma coisa urgente no clube e não vou poder ir.”

Seria o nosso primeiro encontro de aniversário desde que viramos um casal, mas ela cancelou.

Fiquei arrasado.

Tanto que acabei pegando um trem sem rumo e fui parar na capital da província, longe de casa.

Eu tinha planejado ver um filme e ir ao fliperama, mas fazer tudo isso sozinho parecia miserável.

“Que piada, hein? Eu mesmo…”

Andar sem rumo já estava começando a parecer estúpido.

Decidi voltar.

Talvez eu passe naquela loja de ramen na estação, a que sempre recebe boas avaliações, e comemore meu aniversário sozinho.

Pensando como um homem de meia-idade solitário, virei de volta em direção à estação.

Típico das capitais provincianas do interior, havia um distrito de entretenimento adulto não muito longe dali.

E, bem... eu tinha pesquisado sobre o lugar antes, achando que talvez um dia se tornasse um “lugar memorável”.

Meus pés inconscientemente começaram a se mover naquela direção.

Deus, que patético.

Enquanto pensava nisso, meus olhos vagaram para um prédio à distância.

E então — minhas pernas começaram a se mover sozinhas, rompendo em uma corrida.

“O quê—?”

Lá, bem na minha frente, estava alguém que não deveria estar aqui.

Será que eu estava tão desesperado para vê-la que comecei a ter alucinações?

Esfreguei os olhos e olhei de novo.

Não, aquilo não era uma alucinação.

O que eu vi era inconfundivelmente real.

Cabelos longos e pretos, tão familiares.

Uma silhueta esguia, de modelo.

Aquele vestido favorito dela.

Mas... a maquiagem estava mais carregada do que o normal.

Ela parecia mais arrumada — mais séria — do que quando estava comigo.

“Miyuki…”

Ela me notou e congelou por um momento.

O cara que andava ao lado dela, com o braço entrelaçado no dela, franziu a testa desconfiado, mas logo percebeu para onde o olhar dela havia se voltado.

Então, ele caiu na risada.

““Por que você está aqui?””

Falamos nós dois em monótono.

Parado ao lado dela estava Kondo-senpai, o craque do time de futebol.

Um tipo espalhafatoso, mulherengo, famoso por ser popular entre as garotas.

Por quê... Por que ela está com ele e não comigo? E logo no meu aniversário!?

“Miyuki!”

Antes que eu percebesse, já tinha agarrado o braço esquerdo dela.

“Au,” ela soltou um gritinho, e eu imediatamente a soltei, percebendo que tinha apertado forte demais.

“D-desculpa…”

Assim que comecei a me desculpar, um impacto violento acertou minha bochecha esquerda.

Antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, meu corpo inteiro foi lançado para longe.

Enquanto eu ainda pairava no ar, caiu a ficha: eu tinha acabado de levar um soco.

“Seu desgraçado! O que pensa que está fazendo com a minha garota!?”

O veneno na voz dele fez todo mundo ao redor se virar para nos encarar.

“Do que você está falando...? Quem traiu foi você…”

A dor me deixou sem fôlego enquanto eu o encarava com todo o ressentimento que conseguia reunir.

“Hã? Quem diabos é você? Algum stalker da Miyuki ou algo assim?”

O que... O que esse cara está falando?

“Ei, Miyuki. Por que você não fala alguma coisa para ele também? Você vive falando dele quando está deitada ao meu lado, não é? Coisas do tipo que não conseguia recusar porque ele é seu amigo de infância, mas que ele é entediante. Ou de como é nojento quando ele segura sua mão e a palma está toda suada.”

Eu podia praticamente ouvir o som da minha dignidade se despedaçando em mil pedaços.

Por favor, nega isso! Implorei em silêncio, me agarrando a um fio de esperança enquanto olhava para o rosto dela.

O rosto dela estava pálido, trêmulo.

“O que foi, Miyuki? Se você realmente se importa tanto com ele, vai lá e escolha. Vamos acabar com isso aqui. Vai terminar comigo ou com ele? Qual dos dois vai ser?”

Parecia que eu estava diante de um juiz, esperando uma sentença.

Ela se agarrou ao braço dele, com um olhar de desespero estampado no rosto.

“Não! Não me deixe! Se você, Senpai, me deixar, eu não vou conseguir continuar vivendo!”

Minha visão ficou branca.

“Então, quem ele é para você? Diz alto e claro.”

Eu já tinha passado do ponto do desespero. Meu coração estava morto.

“O Eiji é só... meu amigo de infância. Mas ele é pegajoso, tipo um stalker, e o pior tipo de namorado abusivo.”

“Mi...yuki...?”

Mal consegui pronunciar o nome dela, minha voz não passou de um zumbido fraco de mosquito.

Então era isso que significavam esses dez anos para ela.

Eu não era nada além de...

“Vai, deixa isso bem claro para ele. Diga de uma vez para esse stalker delirante.”

Instigada por Kondo-senpai, ela me deu o presente de aniversário mais cruel imaginável.

“Desculpa, Eiji. Eu não posso mais ficar com você. Nem fale mais comigo na escola.”

E assim, o nosso relacionamento chegou ao fim.

 

31 de Agosto

Ontem, acabei ficando de cama por causa do choque. Não comi nada; só me enfiei debaixo das cobertas e esperei o tempo passar, como um cadáver vivo. Meu desastroso aniversário chegou ao fim, e eu me tranquei no quarto para evitar que minha mãe visse minha bochecha inchada.

Meu pai faleceu há três anos por causa de uma doença. Agora somos só nós três — minha mãe, meu irmão mais velho e eu. Os dois andam ocupados administrando  o restaurante da família, o Kitchen Aono, que o pai deixou para trás. Eles trabalham até tarde, então, por sorte, não perceberam nada.

Ontem, mandei uma mensagem para eles: “Não estou me sentindo bem, então vou ficar no quarto descansando.” Depois tranquei a porta.

Quando minha mãe voltou do trabalho, preocupada, falou comigo pela porta. A culpa me corroía enquanto eu respondia: “Deve ser só um resfriado de verão, não quero passar para ninguém, então vou ficar na cama hoje,” mentindo descaradamente.

Preocupados, eles deixaram mingau de arroz, pudim e bebidas esportivas do lado de fora da porta. Comi um pouco, quase no automático, e voltei a dormir sem pensar em nada. E assim, minhas preciosas férias de verão como estudante do segundo ano do ensino médio chegaram ao fim.

Sufocado por uma sensação de vazio inescapável, caí num sono agitado, atormentado por pesadelos.

 

 

Tive o mesmo pesadelo de novo e de novo.

Nele, eu só podia assistir, impotente, através de um monitor, enquanto Miyuki e Kondo-senpai se abraçavam nus num quarto de hotel, se beijando apaixonadamente.

“O Eiji é tão nojento. Só tratei ele bem porque éramos amigos de infância, mas ele entendeu tudo errado e se declarou para mim.”

“Esquece logo esse cara esquisito. Olhe só para mim agora.”

“Sim!”

Mesmo depois de passar dez anos juntos como amigos de infância, eu não consegui nem encostar nela. Enquanto isso, Kondo-senpai se deliciava fazendo a Miyuki falar mal de mim sem parar, tirando prazer das palavras dela.

[Almeranto: Não desejo esse tipo de sonho nem pro meu pior inimigo, slk… | Del: Falou e disse.]

Mesmo que fosse só um sonho, a náusea não parava. Minha dignidade como ser humano estava sendo despedaçada. Eu podia ouvir o som do meu coração se partindo.

Por favor... só pare. Por que isso está acontecendo comigo?

Eu sabia muito bem o que casais faziam naquele distrito de entretenimento. Mesmo alguém tão tolo quanto eu entendia.

O motivo pelo qual ela cancelou nosso encontro de aniversário não foi por alguma circunstância inevitável — foi porque o Senpai era mais importante para ela do que eu.

Eu não valia nada como homem.

 

 

Acordei do pesadelo encharcado de suor. Meu coração batia furiosamente.

Percebi que agora eu tinha medo até mesmo de dormir.

 

1 de Setembro

Comecei o novo semestre escolar com uma sensação insuportável de inquietação. De alguma forma, consegui vestir meu uniforme e ir para a escola. O mundo parecia ter perdido toda a sua cor. O caminho íngreme até a escola parecia nada menos que uma tortura.

“Ei, não é ele?”

“Sim, é ele.”

“Que nojento.”

No portão da escola, me vi sob o olhar atento de alunos desconhecidos. Pelo uniforme, provavelmente eram do mesmo ano que eu. Eu não fazia ideia do motivo de, de repente, ser o centro das atenções. E para piorar, por que eu tinha que ouvir pessoas que nem conhecia me chamando de “nojento”?

Tentando não me abalar, apressei-me para a minha sala de aula.

“Bom dia.”

Quando cumprimentei todos como de costume, eles responderam. Graças a Deus — pelo menos aqui as coisas pareciam normais.

Todos estavam ocupados conversando sobre as memórias das férias de verão.

“Ei, Eiji, como foi com a Amada-san? Teve algum progresso lá?”

Um colega relativamente próximo me perguntou, mas eu desconversei com uma resposta vaga. Só de ouvir o nome da Miyuki, meu coração doía.

Ela estava sentada na frente da sala. Como antes das férias de verão, sorrindo enquanto conversava com nossos colegas, mas para mim, sua expressão parecia ligeiramente vazia.

 

 

Hora do almoço. Eu não consegui me concentrar nem um pouco no conteúdo da cerimônia de abertura ou da aula de hoje.

Nosso professor responsável, Takayanagi-sensei, estava afastado da escola por causa de uma competição de clube que estava supervisionando. Satoshi havia mencionado algo parecido antes. Eu queria conversar com ele sobre isso, mas não queria atrapalhar suas atividades do clube. Decidi esperar antes de enviar uma mensagem.

Enquanto eu estava sentado ali, notei Miyuki terminando seu almoço e saindo sozinha para o corredor.

Por impulso, eu a segui. Eu não podia deixar as coisas terminarem assim — dez anos de relacionamento reduzidos a nada. Pelo menos, eu queria saber o motivo.

“Miyuki!”

Chamei o mais casualmente que consegui. Ela se virou, assustada, com a expressão tingida de tristeza.

“Eiji? Por que você...”

Mesmo parecendo confusa, ela tentava me encarar.

“Eu... ah...”

Estendi a mão lentamente em sua direção, mas antes que eu pudesse me aproximar mais, outra pessoa se colocou entre nós. Era sua melhor amiga, Murata Ritsu.

“Pare de incomodar a Miyuki, seu pervertido violento!”

“O quê!?”

Por que a Murata estava dizendo isso para mim?

“Vamos, Miyuki. Eu não vou deixar você continuar sendo incomodada por ele.”

Murata agarrou o braço da Miyuki, puxando-a para longe.

“Você precisa ignorar stalkers como ele, Miyuki. É a única maneira de lidar com esse tipo de gente.”

“E-eu sei…”

Eu só consegui ficar parado e assistir enquanto as duas desapareciam pelo corredor.

Enquanto suas silhuetas sumiam de vista, percebi, com o coração afundando, que eu não teria nem mesmo a chance de conversar com a Miyuki de novo. O desespero tomou conta de mim por completo.

 

 

De algum modo, consegui passar o dia na escola e fugir de volta para o meu quarto.

Sem pensar, enfiei-me debaixo das cobertas e me encolhi, tremendo. De novo e de novo, ondas de desespero caíam sobre mim. Por que eu estava sendo acusado de perseguição? Eu nunca fiz nada disso. Eu nunca usei violência.

Será que… eu fiz algo errado? Tudo o que eu queria era passar meu aniversário com minha namorada e comemorar com ela.

Meu celular vibrou.

Será que é… a Miyuki?

Agarrei-me a uma esperança fraca e rapidamente olhei para a tela.

Era uma conta desconhecida do X (antigo Twitter). O nome de usuário era uma sequência aleatória de letras… uma conta descartável? Sentindo um calafrio de desconfiança, abri a mensagem direta.

“Morra. Você é nojento.” Isso foi tudo o que dizia. Provavelmente só uma brincadeira idiota.

Sentindo um mal-estar, apaguei a mensagem. Mas dez minutos depois, chegou outra DM — de uma conta diferente.

“Seu pervertido violento. Nunca mais apareça na escola.”

Um arrepio percorreu minha espinha. As palavras se sobrepunham ao que Miyuki e Murata-san haviam dito mais cedo. O medo tomou conta de mim, e joguei o celular na cama.

Mas as mensagens não paravam. A cada poucos minutos, outra DM de ódio aparecia.

“Só o pior tipo de lixo parte para a violência depois de ser dispensado.”

“Escória agressora, abandone a escola.”

“Perseguidor. Você é o pior.”

A malícia era inconfundivelmente direcionada a mim. E não vinha de uma pessoa só — estava vindo de várias contas.

O medo dentro de mim continuava crescendo, como se pedaços do meu mundo estivessem sendo arrancados um a um.

Eu estava cada vez mais apavorado de adormecer.

 

2 de Setembro

No final das contas, não consegui pregar os olhos e me arrastei até a escola. A tontura era esmagadora, e os olhares dos outros alunos me enchiam de pavor. Parecia que eu estava sendo observado o tempo todo. A paranoia se infiltrava em mim, fazendo-me questionar quem era inimigo enquanto eu caminhava pela trilha familiar até a escola.

Parei em frente à sala de aula. A porta que deveria estar bem diante de mim parecia incrivelmente distante, como uma miragem. Eu estava com medo de abri-la.

Se ao menos a sala pudesse ser um refúgio... não, não é isso. Se ao menos houvesse uma pessoa — um aliado — em quem eu pudesse confiar...

Reunindo coragem, abri a porta da sala de aula, apenas para ver minhas esperanças sendo esmagadas num instante.

“Ei, sobre ontem... ah.”

“Tsk.”

O grupo perto da porta, liderado por Aida, me notou e imediatamente parou de falar, um deles até estalando a língua em irritação.

“Bom dia…”

Consegui forçar uma saudação, mas minha voz saiu fraca e fina. Ninguém respondeu.

Em vez disso, protestaram em silêncio com olhares frios, como se eu fosse um lixo a ser descartado.

“Por que ele ainda está aqui? Já devia ter largado a escola.”

“Eu não quero estar na mesma sala que um stalker violento.”

“Ele provavelmente vai ser expulso logo de qualquer forma.”

Embora ditas em sussurros, as palavras foram altas o suficiente para que eu ouvisse. Meus colegas não faziam questão de esconder o desprezo. Miyuki ainda não tinha chegado.

“Mas que diabos... Eu não fiz nada.”

Murmurei para mim mesmo, mas minhas palavras provocaram uma reação furiosa.

Murata bateu as mãos na mesa com força.

“Cala a boca! Você é um stalker! Não tem como a Miyuki mentir sobre uma coisa dessas. Até o ás do clube de futebol viu tudo. Em quem você acha que as pessoas vão acreditar? Em dois alunos populares ou num criminoso como você?”

Eu não queria ouvir mais nada. Como as coisas chegaram a esse ponto? Incapaz de retrucar, desabei sobre a mesa, tentando me desligar do mundo ao meu redor.

Mas os sussurros, aquelas palavras cortantes, não paravam. Pouco a pouco, elas corroíam meu coração.

 

 

Era a hora do almoço. Fugi da sala e comi sozinho no pátio. Meu almoço era um bentô de hambúrguer cozido feito com sobras do restaurante da família. Deveria ser meu prato favorito, mas hoje não tinha gosto de nada. Eu estava exausto, mas não conseguia dormir.

Quando voltei para a sala, ela estava vazia. Por quê? A primeira aula da tarde deveria ser História Mundial. Será que o horário mudou? E ninguém se deu ao trabalho de me avisar.

Engolindo a humilhação e a sensação de isolamento, contive a vontade de chorar. Pegando apenas meu caderno, saí para tentar descobrir para onde a turma tinha ido. A Sala de Economia Doméstica e o Laboratório de Biologia não eram os lugares certos. A aula já tinha começado, e eu podia sentir minha ansiedade crescendo a cada segundo.

Ao passar pelo Laboratório de Química, troquei olhares com Murata. Parecia que a aula de História Mundial tinha sido movida para lá. Sua expressão se tornou visivelmente amarga, e ela desviou o olhar.

“Com licença, desculpe pelo atraso,” disse ao entrar no Laboratório de Química, apenas para ser recebido por olhares frios.

O professor de Química, um veterano chamado Yasaku-sensei, olhou para mim com preocupação e perguntou:

“Está tudo bem? Está se sentindo mal?”

“Sim,” respondi. “Eu não estava me sentindo bem, então dei uma pequena descansada.”

“Entendo. Não se force demais. Se se sentir mal durante a aula, me avise imediatamente.”

Suas palavras gentis ofereceram um leve vislumbre de conforto. Mas, é claro, eu não tinha me preparado para Química. Nem mesmo estava com o livro.

Ninguém se ofereceu para dividir o seu comigo.

Não havia mais ninguém naquela sala que pudesse ser chamado de aliado.

O pequeno alívio que as palavras de Yasaku-sensei me deram logo foram engolidas pela escuridão mais uma vez.

 

3 de Setembro

Eu finalmente me tornei completamente isolado na minha classe. Não havia mais ninguém em quem eu pudesse confiar.

Talvez, só talvez, o Clube de Literatura ainda me aceitasse. Agarrando-me a um tênue fio de esperança, pensei nessa possibilidade.

No entanto, durante o almoço, a presidente do clube enviou uma mensagem dizendo que a reunião de hoje tinha sido cancelada em cima da hora.

Mesmo assim, não consegui evitar ir até a sala do clube. Achei que ainda pudesse haver alguém lá.

Mas o que encontrei destruiu totalmente aquela esperança frágil.

As luzes da sala do clube estavam acesas. Acreditando que alguém estivesse lá dentro, busquei uma salvação e me movi para entrar.

Mas então, ouvi vozes do outro lado da porta — as vozes de Tachibana, a presidente do clube, e dos outros.

“Ei, presidente? Você avisou ele direito?”

“Sim, mandei uma mensagem para ele durante o almoço.”

“É assustador até pensar em se encontrar com ele, não é?”

“Sim, um pouco.”

“Mas o que vamos fazer com o manuscrito que ele escreveu? Sabe, aquele para a revista do clube que vamos vender no festival cultural...”

“Vamos jogar fora. Honestamente, isso prejudicaria a reputação do clube.”

“Com certeza! Isso é ridículo.”

“Não tem jeito, né?”

“Ele não tem talento, e mesmo assim se esforça tanto para escrever. É realmente patético.”

As palavras que eu nunca quis ouvir perfuraram meu coração. Do lado de fora da sala do clube, vi o manuscrito do romance que escrevi no ano passado, rasgado em pedaços e jogado em um saco de lixo.

Minha mente ficou em branco. Tudo pelo que eu tinha trabalhado tanto foi totalmente negado. Traído pela amiga de infância em quem confiava há dez anos. Abandonado pelos colegas que me tratavam normalmente a até apenas dois dias atrás. Até os membros do Clube de Literatura, que eu considerava como companheiros nos últimos dois anos, não eram aliados. Eu não tinha mais ninguém.

Num desespero, mandei uma mensagem para meu outro amigo de infância, Satoshi, dizendo: “Preciso falar com você.” Meu melhor amigo, que supostamente estava fora para um torneio do clube, nem sequer leu.

Talvez... um professor, pensei.

Nosso professor titular, Takayanagi-sensei, estava em uma viagem escolar para atividades do clube, mas a professora assistente, Ayase-sensei, ainda estava aqui. Ela era jovem, recém-formada, na casa dos vinte anos, e relativamente fácil de conversar por causa da nossa pequena diferença de idade.

Ela deveria estar na sala de aula naquele momento.

Quando voltei para a sala de aula e me aproximei da porta, congelei. Lá dentro, consegui ver Ayase-sensei conversando com Miyuki e Murata. Instintivamente, me escondi, ouvindo a conversa delas.

“Sensei, a Miyuki anda preocupada ultimamente. Você poderia talvez conversar com ela alguma hora?”

“Claro. Mas é raro a Amada-san se preocupar com algo. Conhecendo-a, provavelmente foi por ser bondosa demais e acabar se metendo em algum tipo de problema, não é?”

Ayase-sensei e Murata continuaram a conversa enquanto Miyuki permanecia ao lado, com um sorriso levemente preocupado.

“Sim, algo assim,” respondeu Murata.

“Não se preocupe,” disse Ayase-sensei, sorrindo calorosamente. “Estou do seu lado. É raro ter uma estudante tão notável quanto você — uma aluna exemplar. Sempre vou te apoiar.”

Essas palavras me atingiram como uma adaga.

Será que a professora acreditaria em mim se eu contasse? Comparado à Miyuki, eu sou apenas um aluno comum, sem destaque. Miyuki, por outro lado, é o exemplo da aluna perfeita. Os professores naturalmente se aproximam dela. Ayase-sensei acabara de dizer — ela sempre estaria do lado da Miyuki.

Talvez... talvez o errado seja eu. Mesmo sabendo que sou inocente, esse pensamento invadiu minha mente.

Nem meus colegas nem os membros do clube estavam dispostos a me ouvir.

Eu corri. Não havia mais o que fazer. Mas até esta escola não me deixaria escapar.

Meus sapatos haviam sumido do armário na sapateira. Para piorar, o armário estava pichado com palavras escritas com marcador vermelho grosso: “Morre,” “Lixo de agressor,” “Stalker nojento,” “Desiste logo.”

Dentro do armário, encontrei um folheto do Kitchen Aono, nosso restaurante familiar. No verso do folheto havia uma mensagem ameaçadora rabiscada: “Se dedurar, faremos uma visita ao seu restaurante.”

Ficou dolorosamente claro: não havia mais lugar para mim nesta escola.

Encontrei meus sapatos em uma lixeira próxima.

Chorando, puxei-os de lá e corri para casa o mais rápido que pude.

Assim que cheguei em casa, passei pelo Kitchen Aono.

“Oh, bem-vindo de volta. Nenhuma atividade do clube hoje?”

Minha mãe e meu irmão mais velho estavam fazendo uma pausa antes de se preparar para o turno da noite, parecendo um pouco cansados.

“É, foi cancelado de repente.”

“É mesmo? Você parece um pouco indisposto ultimamente, então aproveite para descansar hoje.”

As palavras gentis dela quase me fizeram chorar.

“Obrigado. Desculpem por causar preocupação, mesmo sabendo que vocês estão tão ocupados.”

Quando disse isso, os dois sorriram.

“As crianças não precisam se preocupar com os pais.”

Desde que o pai faleceu, minha mãe nunca demonstrou uma lágrima, sempre colocando um sorriso para que não nos preocupássemos.

“É verdade,” acrescentou meu irmão, sorrindo de forma meio sem jeito. “Tudo que você precisa fazer é aproveitar a escola. Meu sonho é te ver se formar na faculdade sem problemas.”

Depois da morte do papai, meu irmão assumiu o papel de pai na família. Ele passou os seus vinte anos — um tempo que deveria ser dedicado a buscar sonhos e se divertir — inteiramente dedicado a nós e ao restaurante. Sem reclamar, se entregou para preservar as receitas e o legado do pai.

Eu não queria fazer eles se preocuparem mais do que já estavam. Talvez o bullying parasse se eu aguentasse firme por tempo suficiente. Se eu resistisse, ninguém mais precisaria sofrer.

“É, vou fazer o meu melhor,” disse, forçando um sorriso.

[Almeranto: Dá vontade de chorar vendo o que o nosso menino Eiji está passando… é realmente triste. | Del: Apesar de aqui de certa forma ainda ser uma obra, ainda caio no pensamento de que situações como essa não são exatamente incomuns. É osso.]

 

Perspectiva da Miyuki

Desde aquele dia, não consigo mais dormir. Meu querido amigo de infância me pegou no flagra traindo. Como as coisas chegaram a esse ponto? Eu achava que ele era a pessoa mais importante da minha vida.

Já se passaram alguns dias desde que terminamos. Perco a consciência só quando o sol começa a nascer, para acordar momentos depois. Essa tem sido a minha realidade desde aquele dia.

Talvez aquele dia tenha sido apenas um pesadelo. Talvez eu acorde desse sonho ruim e tudo volte ao normal. Foi nisso que continuei acreditando.

Mas os boatos que Kondo-senpai espalhou já tinham se espalhado por toda a escola. A dura verdade da situação me deixou sem saída. Eu não queria terminar. Se o Kondo-senpai não estivesse na mesma escola, eu teria chorado e me agarrado ao Eiji.

Ver o Eiji sendo intimidado quase me fez chorar. Não, eu não podia chorar. Eu não tinha esse direito.

No começo, era só uma simples conversa de quem se gaba.

Eu disse para minha amiga: “As coisas não estão progredindo muito com o Eiji, mas só de estar com ele já me deixa feliz.”

Esse foi meu erro. Ela entendeu como se eu estivesse desabafando sobre um problema. Um dia, ela me chamou de repente e me apresentou ao “experiente” Kondo-senpai.

Tentei recusar, dizendo: “Não é nada sério, estou bem.” Mas ela insistiu: “Vai lá, o Kondo-senpai se ofereceu para te ajudar com seu problema! Ele é o craque do time de futebol, e praticamente garantiu uma vaga na faculdade com bolsa esportiva. Não é todo dia que se tem a chance de falar com alguém assim.”

Pensando que seria inofensivo, concordei em tomar um chá.

Ele era tão gentil e cavalheiro. Diferente do Eiji e de mim — primeiros amores ingênuos e iniciantes — ele tinha uma perspectiva mais madura, um charme de mundo que me cativou.

 

 

“Vamos, não tem como um cara não se sentir atraído por uma namorada tão fofa como você, Miyuki-chan.”

“Se fosse eu, já teria tomado uma atitude. Ah, brincadeira, brincadeira.”

“O que você quer beber agora? Eu pago.”

“Você é realmente uma mulher encantadora. Talvez seu amigo de infância esteja só intimidado por isso.”

 

 

Ser tratada como uma princesa e receber tanto cuidado e atenção naturalmente me fez baixar a guarda.

Trocamos contatos no Line, e eu pedi conselhos sobre relacionamentos várias vezes. Até fui às compras com ele para escolher roupas para encontros. Ele continuava cavalheiro, me enchendo de elogios que aumentavam minha autoestima.

Os conselhos sobre relacionamento e as idas às compras foram lentamente se tornando desculpas. Não era mais pelo Eiji — era por ele e por mim. Naquele ponto, era quase como se estivéssemos namorando.

Depois do nosso terceiro encontro, aconteceu. Em uma trilha à beira do rio, banhada pelo brilho do pôr do sol, ele de repente roubou um beijo. Eu estava tão encantada por ele, corpo e alma, que quase não resisti. Aceitei — e tudo o que veio depois.

Não demorou para que tudo o que eu deveria dar ao Eiji fosse tomado pelo Kondo.

Eu me senti culpada por isso. De verdade.

Mas...

“É culpa dele por não tomar uma atitude com alguém tão encantadora como você, Miyuki.”

“Você não tem culpa. O errado é seu namorado — ele é um fracasso como homem.”

Ele me oferecia essas justificativas repetidamente, me dando uma rota de fuga a cada vez. E assim, comecei a transformar minha culpa em um tempero distorcido que dava emoção aos nossos encontros.

Eu me odiava por ser tão superficial, mas também me tornei dependente do abraço reconfortante dele, que parecia aceitar tudo sobre mim.

Provavelmente eu era um alvo fácil.

Mesmo sabendo disso, me tornei tão dependente dele que não conseguia fazer nada para mudar.

 

 

“Ei, dia 30 estou livre porque não tenho atividade do clube. Quer dar uma volta comigo?”

“Mas... nesse dia é o aniversário dele...”

“Então, esquece. Vou chamar outra garota.”

“Espera... o quê?”

“Vamos, você sabe que é verdade. É bem óbvio que eu quase não tenho espaço no seu coração. Você sempre coloca esse cara, o Eiji, em primeiro lugar. Sinceramente, estou cansado de correr atrás de você. Eu sei que não deveria ser eu a dizer isso, mas... vamos acabar com esse relacionamento torto. Vai ser melhor para nós dois.”

 

 

Eu lembro daquela mensagem ameaçadora. Aquela do dia em que cancelei meu encontro de aniversário com o Eiji...

A mensagem que virou o ponto decisivo do meu destino...

E naquele momento, escolhi o Senpai em vez do Eiji.

O Eiji é gentil. Ele me perdoaria se eu pedisse desculpas. Mas essa poderia ser minha última chance com o Senpai.

Esse medo me dominou, e eu tomei a pior decisão possível. Me aproveitei totalmente da bondade do Eiji.

Meu amigo de infância. A pessoa com quem estive por mais de dez anos. Aquele com quem eu estava destinada a ficar. Eu tinha certeza de que nos casaríamos e passaríamos a vida juntos. Esse pensamento me deixava incrivelmente feliz, mas outra parte de mim — aquela mulher dentro de mim — sussurrava algo diferente.

“Se o Senpai for embora, o único homem que você conhecerá será o Eiji. Você realmente está bem com isso?”

Desejo e orgulho como mulher. Foram essas coisas que machucaram o Eiji. Minha autopreservação rasa o empurrou ainda mais para o desespero.

Eu deveria apenas contar tudo. Uma parte de mim dizia isso. Eu deveria admitir que o Eiji foi falsamente acusado, que fui eu quem traiu, e que fui eu quem mentiu.

Mas não conseguia. Eu era covarde demais. O problema já tinha crescido demais para consertar. Se eu confessasse, perderia tudo o que construí até agora. Tinha medo demais disso, então não fiz nada.

Só pude assistir enquanto o bullying continuava.

Um arrependimento que me assombraria para sempre tomou conta do meu coração e se recusava a sair.

[Del: Correção, ela tem culpa, pois o arrependimento envolve mudança de atitude.]

 

-Traduzido por Moonlight Valley: https://discord.gg/4m4E6zxRRk

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