Reinos Arcanos: O Despertar da Magia Brasileira

Autor(a): Otávio Bento

Revisão: Guixxx11


Volume 1

Capítulo 16: Missão Concluída

Ao presenciar aquela cena, a raiva de Yuta transbordou. Elevando sua mão, ele a pressionou contra o olho direito da árvore, o qual o encarava no fundo de seus próprios olhos com sua pupila retraida. As gotas de chuva que aumentavam junto ao fogo de Yuta, estando ao seu máximo, porém, ela já havia absorvido boa parte da energia a sua volta, e junto da chuva, não estava sendo afetada pelo fogo.

Mesmo sabendo disso, Yuta tentava elevar seu fogo, que já estava completamente inútil naquele momento. Por que tentar? Por que tentar, mesmo sabendo que não ajudaria em nada? Yuta, diferente do comum, queria tentar não só por seus amigos, mas também por ele; ele queria deixar em sua memória que… ele tentou, independente de sua falha ou dificuldade.

Com sua energia quase esgotada, ele já não estava tendo forças para se manter de pé.

Flip

Um dos galhos o agarrou, também o direcionando a sua boca. Preocupado, Zeldres tentava cortar a criatura, se segurando com seus pés entrelaçados, e perfurando-a com sua espada diversas vezes, entretanto, com o aumento de sua energia, seu caule não estava sendo afetado por seus cortes. Um dos galhos agarrou seu braço fortemente, fazendo ele também ser levado em direção a sua boca.

Lado a lado, os três conseguiam sentir um sentimento único, mas com intensidade diferentes: O sentimento de Morte.

— É isso? — perguntou Yuta, olhando para o chão.

— Nós vamos dar um jeito — disse Zeldres.

— Espero que isso seja verdade — respondeu Yuzumi, fechando seus olhos.

Como seu último ato, o grande monstro os jogou em sua boca, satisfeita com sua refeição, e agora indo em direção a pequena vila.

Na floresta, o homem ainda corria, mas sempre olhando para sua retaguarda. “Aqueles moleques eram doidos, tentando lidar com a minha Innalent! E ainda tiveram sorte dela estar incompleta, se não eu mesmo estaria lá para vê-los morrer.” pessou o homem, inesperadamente escutando um imenso estrondo vindo da direção deles.

— Quem você pensa que é para devorar meus alunos? — gritou Hemetsu, depois de ter vindo dos céus e acertado um soco em cheio, atravessando a árvore, quebrando seu coração e fazendo-a cair no chão.

“Não posso me distrair.” pensou Hemetsu, correndo em direção ao homem. O tempo que Hemetsu havia destruído a árvore, foi o suficiente para que os três não sofressem danos graves e fossem digeridos por ela.

Desesperadamente, o homem correu seguindo em frente, temendo o que poderia ter acontecido em sua retaguarda.

— Alguém destruiu minha árvore sagrada?! — disse o homem, preocupado e correndo cada vez mais.

— Foi eu mesmo.

Assustado, o homem congelou olhando para Hemetsu; seu suor estava gelado, suas mãos tremendo suavemente e seu olhar exaltado.

— C-Como vo…

Sem deixar o homem terminar de falar, Hemetsu desferiu um soco profundo em seu rosto, deixando inconsciente instantaneamente e o jogando em uma árvore próxima.

Enquanto Hemetsu o colocava em seu ombro para levá-lo, Yuzumi, Zeldres e Yuta conseguem o alcançar depois de longos minutos correndo.

— Como você chegou tão rápido? — perguntou Zeldres, olhando para o chão inclinado e bufando de cansaço.

— Essa não é a pergunta… Como você derrotou aquele bixo em um soco?! — perguntou Yuta, cansado e se sentando no chão.

— Eu tenho meu jeito — respondeu Hemetsu, com um sorriso em seu rosto.

— De qualquer maneira… obrigada — agradeceu Yuzumi, também extremamente cansada.

Depois de alguns minutos, o homem abriu seus olhos, porém, ele já estava amarrado e sentando no chão; vendo que os três ainda estavam vivos, ele ficou extremamente surpreso.

— Como… — murmurou o homem, percebendo que estava amarrado. — Me soltem daqui, pirralhos!

Plaf

Estressado, Hemetsu chutou a cara do homem e o fez cair no chão.

— Me diga seu nome antes que eu perca minha paciência com você.

— Eu me chamo… Endrick.

— De qual organização você é? — perguntou Hemetsu, o encarando seriamente.

— E-Eu… sou da LAP

— O que é LAP? — perguntou Yuta, curioso.

Legião do Abismo Profundo é uma organização maligna que está matando criaturas, pessoas e roubando vários artefatos — respondeu Hemetsu, explicando Yuta — Imagino que pretendam fazer algo com tudo isso, certo?

Endrick apenas ficou em silêncio, se sentando novamente.

— Mas por que você estava na vila? — perguntou Yuzumi.

— Não posso dizer… — disse Endrick, enquanto Hemetsu estava seus dedos — OK… O meu chefe me mandou aqui para coletar dados.

— Quem é seu chefe? — perguntou Hemetsu.

— Eu não iria dizer nem que vocês me matassem!

Hemetsu suspirou, fechou seus olhos e abaixou sua cabeça, mas rapidamente se recompôs.

— É sempre assim, eles nunca falam quem é o chefe deles.

Retirando sua espada da bainha, Zeldres a apontou para a garganta de Endrick.

— Já que ele não será útil, vamos matá-lo — disse Zeldres, com um sorriso de canto.

— Claro! Concordo com você Zeldres! — disse Yuta.

— Vamos fazer isso logo — inclementou Yuzumi.

Hemetsu rapidamente sacou o que estava acontecendo: O plano dos três era deixar Endrick com medo para que ele falasse sobre as informações.

— Infelizmente terei que concordar com vocês  — disse Hemetsu, enquanto Endrick olhava para eles desesperado.

— VOCÊS NÃO PODEM FAZER ISSO!

— Talvez se ele desse alguma informação importante poderíamos deixar ele vivo — disse Hetmetsu, olhando para os três.

— O que você prefere? — perguntou Zeldres a Endrick, sorrindo de sua expressão.

— Tudo que eu sei é que eles vão estar na festa da filha do Rei.

— Filha do Rei? De onde? — questionou Hemetsu.

— Reino de Britânia, ao norte.

— Na festa da Kaori… — murmurou Hemetsu, com a mão em seu queixo e pensando.

— Isso é tudo que eu sei!

— Parabéns, você foi útil — disse Hemetsu, assim ele estendeu sua mão e rapidamente a bateu no pescoço de Endrick, o desmaiando novamente. — Vamos voltar.

Hemetsu pegou Endrick no ombro novamente, e junto dos três, eles partiram em direção ao portal, levando-os novamente para a corporação. Entrando no prédio principal, eles seguiram para o subterrâneo; em um dos corredores, uma grande porta de aço se abriu, revelando um lugar com várias celas.

— É aqui que ficam todos os prisioneiros? — perguntou Yuta, encarando as celas que continham os prisioneiros.

— Sim. Aqui é onde ficam todas as pessoas que capturamos.

— Isso é… um pouco assustador — disse Yuzumi — Ver que todas essas pessoas já fizeram mal a alguém.

— Pessoas ruins dificilmente mudam.

— Você acha que todo mundo pode ser mudado, Hemetsu? — perguntou Yuta, esperando sua resposta.

— Mudar ou não mudar não é algo que pode ser escolhido por mim — respondeu Hemetsu, parando e olhando para Yuta — As pessoas nesse mundo decidem seus caminhos com base no que elas acham certo, então vai de sua índole achar certo mudar ou não.

Hemetsu continuou caminhando, subindo as escadas e chegando a uma pequena sala onde havia um homem. Ele tinha um grande cabelo cacheado e bagunçado, também usando um jaleco branco, junto de seu grande óculos. Sua expressão era alegre, mesmo que sua face demonstrava cansaço.

— Hemetsu! Achou mais deles por aí?

— Infelizmente — respondeu Hemetsu, passando pela porta e colocando o cara ainda desmaiado em uma cadeira que estava na sala branca. — Agora é só esperar ele acordar.

— Foi difícil capturá-lo?

— Perguntando isso logo para mim?

— Foi quase impossível! — disse Yuta, relembrando a luta.

— Vocês se acostumam depois de alguns anos — disse o homem, com uma leve risada.

— Em alguns anos?! — disse Yuzumi, intrigada.

Apenas o homem olhando para a porta, ela se fechou com a tecnologia avançada. Dentro da sala, luzes foram jogadas no rosto do Endrick, fazendo ele despertar. A sua frente havia um vidro transparente para quem estava do lado de fora e escuro para quem estava dentro da sala.

— Onde eu estou? — perguntou Endrick, desesperado e tentando se soltar da cadeira, que agora estava com algumas barras metálicas o prendendo.

— Boa tarde, Endrick… Me chamo Mark… Não vamos te machucar, mas você deve nos responder nossas perguntas.

Viim

Uma grande tela se abaixou em frente ao rosto de Endrick e o mostrou um círculo girando repentinamente.

— Endrick, eu preciso que você me responda — disse Mark, olhando fixamente para Endrick, que já quase babando — O que você sabe?

— É... Eu? — questionou Endrick, já não demonstrando mais estar normal. — O aniversário vai ser bem legal… Vai ter muitas ondas e peixes né?

— Ondas e peixes, Endrick? — perguntou Mark, tentando entender do que ele estava falando.

— Sim… Muitos peixes… Mar… Tudo no Mar! Vai ter ondas iradas.

De repente a porta da maçaneta virou lentamente, e quando se abriu, uma jovem garota de cabelos azuis escuros entrou na sala, olhando seriamente para todos.

— Olá a todos vocês, pelo visto cheguei na hora certa.

— Você sabe que não era pra estar aqui, não é Kaori? — disse Mark, rindo levemente.

— Não tem problema, não vou interferir em nada — respondeu Kaori, andando até próximo ao vidro.

“Kaori… esse nome me é familiar” pensou Yuta. Ele então se lembrou das palavras de Hemetsu quando estavam conversando: “Na festa da Kaori…”

— VOCÊ QUE É A KAORI?! — gritou Yuta, se afastando dela e apontando para seu rosto.

— Sou sim — confirmou Kaori, colocando a mão sobre sua boca e dando uma risadinha. — Vocês devem ser Zeldres, Yuta e Yuzumi, certo?

— Exatamente — disse Yuzumi, amigavelmente. — Você é a princesa do Reino de Britânia?

— Eu mesmo. Vocês devem ser Zeldres, Yuta e Yuzumi. — Kaori, conversando com os três, encarava o vidro à sua frente, com uma expressão curiosa.

— O Hemetsu falou sobre nós? — perguntou Zeldres.

— Não, quem me informou sobre vocês foi a Helena — disse Kaori, vendo que havia alguém do outro lado do vidro — O que está havendo?

— Estamos coletando informações sobre uma possível invasão em sua festa — disse Hemetsu, se concentrando no que ele queria falar. — Tem algo a mais nisso.

— Águaaa! Todos adoramos águaaa! — disse Endrick, batendo palmas e ainda hipnotizado.

— Esse cara tá bem?   — perguntou Yuta, preocupado.

— Ele vai ficar bem… — respondeu Mark, mexendo em uma mesa próxima deles. — Pelo visto, não vamos conseguir pegar informações com ele agora, imagino que foi a quantidade de gás inalado por ele.

— Gás? — perguntou Yuzumi, olhando estranhamente para Mark.

— O Gás de óxido nitroso, ou como vocês costumam chamar: Gás do riso. Esse gás está sendo emanado por meio de pequenas aberturas que fiz nessa sala, o suficiente para deixar uma pessoa igual a ele está.

— Isso não seria perigoso? — perguntou Yuzumi.

— Um pouco, mas somente se eu não soubesse a quantia que deve ser emanada. Caso haja uma alta concentração e uma exposição prolongada desse gás, uma pessoa poderia vir a óbito facilmente por falta de ar, porém, além de controlar a quantia de gás emanado, consigo controlar o fluxo de ar dentro da sala, para que assim ele não morra.

— Ótimo, mas como vamos tirar informações dele se ele está daquela forma — disse Zeldres, apontando para cadeira que Endrick se contorcia e ria.

— Simples! A sala também contém captação de onda cerebral, então tudo pensado por ele enquanto estava nessa sala está transcrito no painel — explicou Mark, enquanto um painel descia em cima dos botões de controle. — Aqui está! Pelo oque vemos, ele queria dizer sobre… O mar? Ele não estava viajando? 

Direcionando seu olhar ao grande painel, Hemetsu pode ver claramente as palavras destacadas por um verde limão, que algumas linhas que rodeavam a tela haviam formado. Aquelas palavras não só tinham um significado, mas ele não achava que naquela situação, o Endrick teria mentido para eles.

— Acho que já está bom. Vou retirá-lo da sala e deixá-lo em uma das selas lá embaixo.

— Calma, Hemetsu! A sala ainda não está apropriada para a entrada das pessoas, entrar nela poderia interferir diretamente em sua mente.

— Relaxe um pouco, um gás desse não me afetaria. — Com todos se afastando da porta, Mark a abriu de uma distância segura e Hemetsu normalmente entrou na sala. As garras metálicas se juntaram novamente à parte interna da cadeira, enquanto duas pequenas luzes azuis à sua volta piscaram, liberando o rapaz que ainda estava em uma situação deplorável. 

Com uma expressão séria, Hemetsu o pegou em seu colo, e o colocou em um de seus ombros, mas toda a sua marra se foi em um instante, pois naquele exato momento, uma grande gota de saliva estava escorrendo em sua mão.Todo seu corpo se estremeceu, sua expressão se retraiu.

Todos na sala explodiram em gargalhadas ao verem Hemetsu, claramente enojado, sacudindo a mão vigorosamente em todas as direções. No processo, ele inclinou bruscamente o ombro onde Encrick estava, quase derrubando-o. Após limpar a mão na roupa de Endrick, Hemetsu passou pela porta e os encarou com um rosto sério, porém, sua expressão se quebrou, fazendo um rosto sério se tornar uma grande risada.

— Não vão contar isso pra ninguém em! Eu vou levar esse cara para uma das selas que estiverem livres, vocês 4 me esperem aqui, quero conversar algumas coisas com vocês. — Calmamente, Hemetsu caminhou para as escadas e desceu lentamente, segurando firmemente Endrick. Depois de descer para um subsolo mais profundo, as escadas, que antes eram feitas de aço, grudadas na parede e com um corrimão lateral — impedindo riscos de acidentes — se tornaram grandes escadas de concreto bruto.

Hemetsu desceu as escadas e se deparou com um quadrado vermelho no chão, circundado por um círculo branco. Ao pisar no círculo, uma câmera principal no teto, reforçada por vigas de aço e protegida por uma cápsula de um material misterioso e prateado, começou a emitir uma camada fina e roxa que varreu Hemetsu de cima a baixo. Com a luz verde acesa, o portão à sua frente se abriu, e gritos de raiva e ódio ecoaram de todos os lados. Tranquilamente, Hemetsu caminhou até um círculo branco, brilhante e elevado do chão, ignorando todas as vozes dos prisioneiros, fossem insultos ou súplicas. Ele sabia que sua missão ali era apenas deixar o prisioneiro em sua cela e sair, nada mais, nada menos.

Mechendo na cabine ao lado do círculo mágico, ele selecionou a sala “23 A”, uma das selas que ainda se encontrava vazia. O brilho se intensificou, levando Endrick desacordado par sua cela.

Os prisioneiros gritavam furiosamente, tornando-se um centro de retrações, raiva e ódio. Hemetsu, sem se importar com nada, voltou para o portão principal, assim, o imenso portão se fechou, gerando um som estrondoso. As vozes sumiram, e tudo que restou foi apenas um silêncio, que se manteve até que Hemetsu terminasse de subir todas as escadas.

— Você demorou bastante, Hemetsu. — Kaori observou com uma expressão impaciente. 

— Não é fácil deixá-los lá embaixo, sabia? Tenho que descer essas escadas sem fim.

— Porque você queria que eu viesse?

— Era para que você conhecesse Yuta, Zeldres e Yuzumi, mas como você já conhece eles, eu vou ir atrás do Shin para repassar as informações.

— O QUE?! VOCÊ NÃO ME FEZ SAIR DE ONDE EU ESTAVA PRA VIR AQUI SOMENTE PRA ISSO NÃO É?

— Relaxa, você agora é colega de quarto de Yuzumi, já que o quarto dela estava com uma cama vaga.

— A Helena me contou sobre isso hoje. Era só isso?

— Sim. Boa sorte para vocês! — Hemetsu ligeiramente correu para a porta, passou a mão  no detector e assim que ele a atravessou, a porta se fechou completamente. Ainda abafado eles escutaram: “Depois eu vejo vocês!”

Com um olhar deprimente, Kaori, que estava com sua mão estendida e aberta em direção a porta que havia se fechado, a abaixou e com um bocejo, ele olhou para os três.

— Vamos ter um longo caminho agora em diante.



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