Reino da Verdade Brasileira

Autor(a): Lucas Baldi


Volume 1

Epílogo

O ar frio balançava a janela do meu quarto, a única luz presente aqui era os vestígios que a lua me dera. Meu pai esteve tenso durante o dia, queria tudo apagado, em silêncio.

Sem ao menos me dizer o porquê.

Ver Lumi Kai ontem foi um pouco decepcionante. Nos jornais, ele parecia um esplêndido lutador, meu pai, o próprio rei 10, resolveu testá-lo. Mas na festa ele era só uma pessoa qualquer que não podia usar magia. 

Ainda assim, eu gostaria de lutar com ele, saber sua real força e como conseguiu sobreviver.

— Miguel — disse meu pai da porta, seu olhar pesado e sombrio. — Venha comigo, quero que participe de uma coisa. 

Sem questionar, eu o segui. Nenhum criado, guarda. Os corredores estavam completamente vazios, as luzes quase todas apagadas. Até nossos passos faziam menos barulho enquanto caminhamos para sei lá aonde.

Uma aura diferente, forte, veio de cima; do alto do castelo. Foi quando Alud começou a subir o lance de escadas. Hesitei um momento antes de subir o primeiro degrau, mas após um olhar de confirmação de meu pai eu consegui. 

— Se lembra do menino Kai? — perguntou ele sem olhar para trás. — Não tenho um interesse particular nele. Para mim ele é apenas… um jovem qualquer que sobreviveu com sorte.

—Você foi testá-lo, quando podia deixar qualquer outro fazer isso, por quê?

Uma leve risada, estávamos na metade do caminho.

— Alguém queria saber sobre o poder dele e se ele tinha posse de uma certa espada… por mais que eu acredite que ainda esteja com Kanro Kai. Alguém que pode me oferecer dinheiro — Uma pausa, seus olhos bem abertos finalmente em mim. — e poder. Você não gostaria disso? De se tornar muito mais forte?

Do que você está falando, pai?

— Eu-eu não entendo. Como alguém te ofereceria poder? Nós-

Quando chegamos ao topo da torre, Alud parou, suas mãos apoiadas na grande porta de madeira, o ambiente totalmente escuro. Meu coração começou a acelerar, cada pelo do meu corpo queria fugir. 

Algo perigoso estava atrás daquela porta.

— Não tome atitudes — Um sussurro dele.

As portas foram abertas e nós entramos. A única luz que jazia no quarto vinha da janela, e um silêncio diferente me afligia. Não estávamos só, eu sentia outra presença aqui.

Alud sentou-se no sofá acolchoado e colocou um papel sobre a mesa. Uma gota de suor desceu pelo meu rosto enquanto eu o encarava. Que loucura era essa, porra!? Até que uma respiração alcançou minha nuca, e meu corpo paralisou.

— Miguel. Enguerrand — Uma voz masculina, grossa, confiante. — Você realmente tem potencial — O homem mascarado apareceu ao meu lado, e eu não conseguia parar de arregalar os olhos. — Não se assuste, rapaz — Ele virou para meu pai. — Rei Enguerrand.

Meu pai… Pela primeira vez, eu o vi sentir medo.

O mascarado se sentou no sofá frente ao dele, enquanto eu continuava paralisado. A energia desse cara era sem igual. A fluidez, a periculosidade. Todo o sangue e gritos que ele viu e ouviu, de alguma forma, era expostos ali como um prêmio. 

Isso era estar na presença de um Ritualista? Meu pai ficou maluco. Puta que pariu. 

— Eu-eu fiz o que pediu — Ele tentou levar a mão ao papel na mesa, mas falhou. — Avaliei Lumi Kai e medi sua força atual, assim como garanto que a Cair da Noite ainda está sob a pose de Kanro.

— Ótimo, ótimo — Uma voz mais… infantil agora. Meus dentes ainda estavam cerrados, que pressão desgraçada. O homem puxou o papel para si, lendo em alguns segundos. — Hum. Huum. Sombra. Um nível Sombra? — Uma risada adulta, seguida por uma infantil. — Como um Sombra matou a manada de goblins que enviamos para a casa dele? Como sobreviveu ao Minotauro que se ergueu por sua causa? — A voz engrossava, alternando entre uma criança triste e um adulto irritado. — Hein, porra!? Hahahahah.

Minhas mãos… não conseguia me mover. A energia de meu pai, aos poucos, se manifestou em seu corpo. Mas comparado a daquele cara não tínhamos nenhuma chance. 

— Está tudo bem — Ele se pôs de pé, deixando uma espécie de essência escura nas mãos do meu pai. — Isso pode potencializar os poderes de vocês dois — Seu olhar veio a mim. — Por mais que o rapaz tenha muito mais potencial que você. 

Ele andou até a janela e permitiu que todo o ar gelado entrasse…

E simplesmente se jogou nela. Da janela mais alta do castelo.



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