Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 55: RESSONÂNCIA

A floresta estava mais barulhenta que o comum, explosões coloridas emergiam da escuridão entre as árvores, sem cuidado, incêndios se espalhavam pela vegetação densa.

Uh! Uh! Ah!

O caos era acompanhado pelo guinchar feroz de macacos selvagens.

A lâmina atravessou o pescoço do primata com “dentes-de-sabre”, ao redor centenas de corpos de monstros amontoados.

Fairy observou a tela do aplicativo.

O jogador não encontrou nenhuma peça!

Tempo restante: 51 min

Os seus aliados também viam a notificação.

— E agora? — perguntou Bai Long, levando as mãos à cabeça. — Não encontramos nada ainda.

“Macacos sem as peças, uma contagem de tempo, a área do círculo.” Fairy avaliava os fatores do jogo. “Talvez... sim...”

— Precisamos de uma pista — interviu Lumière.

Os olhos deles se voltaram para a Estrategista, tornou-se a consultora oficial do grupo.

— Tenho uma ideia de como achar as peças — relatou Fairy, tentou impor um tom confiante.

— Isso! — comemorou Bai Long.

Os outros se alegraram com a notícia, em resposta fizeram a saudação que parecia um gesto ensaiado, envolvendo uma batida dos punhos, bater das palmas e um estalar de dedos, tudo sincronizado.

— Geralmente em um jogo como esse o que precisamos está com as criaturas — disse Fairy.

— Nós matamos vários deles — retratou Himmel. — Nenhuma peça.

— Sim, o que é estranho — respondia encarando os monstros mortos —, pois o tamanho do círculo mostra uma área muito grande para ficarmos procurando as peças sem rumo.

Fairy exibiu na tela do celular o mapa do jogo, era enorme.

— Ou seja, existe um lugar em que elas estão e o jogo nos deu a dica, tá na discrição da partida — constatou ela.

De imediato, todos pegaram o celular para visualizar a mensagem.

Bem-vindo!

Monte o quebra-cabeça!

Vencem os que conseguirem antes do tempo acabar!

Ah! Seu inimigo vai querer bananas!

Tempo Restante: 47 min

Boa Sorte!

 — Tá falando da parte “Seu inimigo vai querer banana” — relatou Bai Long, tentando acompanhar seu raciocínio.

— Mas essa não é uma dica sobre o tipo de monstro? — indagou Lumière, confuso.

— Foi o que pensei a princípio, mas não é! — disse Fairy, assertiva. — É uma informação de onde estão as peças.

— Espera, quer dizer... as peças estão com as bananas?! — A voz assustada de Himmel deu ênfase na última palavra.

— Para ser específica... nas bananeiras! — respondeu ela, de prontidão. — Local onde possivelmente vão estar a maior quantidade de macacos. 

O sorriso pasmo era a resposta da equipe que, aos poucos, se tornou uma gargalhada em conjunto.

— Eu acredito nela — alegou Bai Long, cessando o riso devagar.

— E se estiver errada? — protestou Lumière. — Isso é loucura.

Fairy baixou a cabeça diante dos olhares de julgamento sobre ela.

— Você tem ideia melhor? Cabeça-oca! — A Lutadora intervia a seu favor.

— Estou com ela também — decretou Himmel. — Mas como achamos as bananeiras? Caçando os macacos?

— Deixa... deixa... — A timidez retornou a voz de Fairy, em silêncio, eles aguardaram completar a frase. — Deixa... isso comigo.

 Os três jogadores observaram-na caminhar até um ponto afastado e fazer uma enorme bola de energia nas mãos.

A Combustão de Energia Mágica de Fairy começou a fluir por seu corpo pulsando na esfera com o brilho azulado das chamas. Em seguida, a tonalidade vermelha da Combustão de sua Energia Física se manifestou, obedecendo ao mesmo padrão e se misturando, aos poucos a cor roxa foi surgindo fazendo tudo ao redor se movimentar em uma espiral energética.

— Vai demorar muito?! — falou Lumière, impaciente.

— Cala a boca! E observe! — alertou Bai Long, com seriedade. — Essa garota vai fazer algo que um idiota, provavelmente, nunca vai conseguir.

Os Experts eram jogadores excepcionais por usarem mais de uma habilidade, únicos capazes de usar a Combustão Vermelha ou Azul. Contudo, para uma pequena parcela que cumpria certa condição, ser um Expert da Classe Única de Lutador, Atirador, Elemental ou Psíquico, possibilitava algo novo capaz de mesclar os Efeitos Inatos das suas habilidades, a Ressonância.

Last Fairy era uma Expert Psíquica, ou seja, única classe e duas habilidades.

Clin!

O jogador acionou o Efeito Inato de Prescrição dos Céus...

ERUDIÇÃO CELESTE!

A Prescrição dos Céus, sua Ascensão Mental lhe concedia o Efeito Inato chamado Erudição Celeste, que a deixava capaz de manipular, modelar e materializar sua energia mágica de várias formas.

Clin!

O jogador acionou o Efeito Inato de Estigma do Conhecimento...

ESPLANDECER!

Do mesmo modo, sua outra Ascensão Mental, Estigma do Conhecimento, fornecia o Efeito Inato Esplandecer, permitindo retirar informações de objetos que tocasse com as mãos.

Há algum tempo a Estrategista buscava o domínio da sua Ressonância. No entanto, a tarefa consistia em algo bem mais complicado do que imaginou, para obter maestria do efeito era obrigatório mesclar Energia Mágica e Física na proporção perfeita.

Erudição Celeste... Esplandecer...” Fairy fechou os olhos mantendo o foco nas suas habilidades.

O vento parou e o silêncio tomou conta do clima.

— O que é...

— Shii!

Bai Long interrompeu Himmel, tampando com as mãos a sua boca. Naquele instante, nada poderia intervir na concentração da Estrategista.

Ressonância — cochichou Last Fairy, abrindo os olhos.

A energia arroxeada formou uma esfera ao seu redor e, de modo estupendo, explodiu.

Sem avisos, a intensidade da energia passou arrastando os jogadores. Como medida, Bai Long se abraçou na árvore mais próxima, enquanto Lumière girou pelo chão até encontrar uma raiz que servisse como âncora. Contudo, sem sorte, Himmel foi lançado pelo ar, parando em um galho robusto que encontrou suas costas.

“Consegui!”, pensou Fairy, contente. “Sei onde estão!”

Uma Ressonância era bem simples, se o jogador conseguisse a missão espartana de realizá-la seus poderes se misturavam em algo único, uma duração de poucos segundos, mas capaz de um resultado extraordinário. No caso de Fairy, sua Energia Mágica se expandia por quilômetros extraindo informação de tudo que tocasse, a mistura perfeita dos seus efeitos inatos.

 “No Rei dos Melhores ser um Expert de Classe Única era uma vantagem surreal.”

— Ach...

A voz de Fairy sumiu ao notar os jogadores desfigurados a encarando com os olhos arregalados.

— Caramba! Uhu! — gritou Bai Long, correndo e abraçando-a forte. — Isso foi mesmo uma Ressonância?! Que poder incrível!

— Eu não sei o que você fez... — Himmel saiu dos arbustos com as mãos na coluna, completou impressionado. — Mas foi muito louco!

— Podia ter avisado que ia mandar a gente pelos ares! — resmungou Lumière, limpando a boca-suja de areia. — Quase me fez sujar as calças!

 A expressão de pânico em Lumière desencadeou risos na equipe, amenizando a tensão de poucos segundos atrás.

— O que fez com essa coisa? — perguntou a Lutadora, curiosa.

— Consigo retirar informação do que minha Energia Mágica tocar — explicou Fairy.

— Sério? De tudo? Até de jogadores?! — indagou Bai Long, envolvendo seus ombros com o braço.

— Não... — respondeu, tímida. — Informações de jogadores e itens mágicos estão fora dos meus poderes.

A Lutadora a soltou, sorrindo largamente.

— As peças do quebra cabeça são itens mágicos, né? — indagou Himmel, continuou quando ela confirmou com a cabeça. — Então... que informação você encontrou?!

— Sei onde estão todas a bananeiras da floresta — disse ela, alegremente.

Novamente os jogadores se entreolharam, soltando risos.

***

Um terreno de vegetação densa não deixava fácil seguir qualquer direção sem desvios, mas com as informações adquiridas, Fairy sabia exatamente como se orientar.

— Sua vez! — gritou Bai Long.

A missão da Lutadora era atrair as criaturas até as diversas barreiras de energia montadas como armadilhas. As criaturas caiam, esbarravam ou desviavam gerando o tempo necessário para serem atingidas pelos disparos dos Atiradores.

— Ainda acha que foi perda de tempo salvar ela? — falou Bai Long, na direção de Lumière, que apenas deu de ombros a sua provocação.

Os macacos eram facilmente abatidos.

— Aí sim! — Himmel vibrava com uma peça do quebra-cabeça nas mãos. — Você é um gênio, Fairy!

Em cada bananeira havia uma peça quadrada emitindo um brilho dourado.

“Eu já sabia, mas muito obrigada.” Agradeceu em sua mente, a timidez não deixou expor suas palavras.

— São animais — relatou Bai Long. — Precisamos encontrar quatro peças para montá-los completamente.

— Se confiarmos nela vamos encontrar — afirmou Lumière.

“Sim, vamos todos vencer esse jogo”, pensou Fairy, mas falar sobre suas premissas em quem não confiava por completo a deixava claramente desconfortável, em diversas situações do jogo depositou sua confiança em pessoas que traumatizaram no final, traíram ou a descartaram.

Com o direcionamento da Estrategista continuaram atrás das bananeiras da floresta.

O jogador encontrou 03 peças!

03/04

Falta pouco!

Tempo restante: 22 min

Fairy mostrou suas peças que formariam um pássaro, especificamente, uma coruja, o restante dos jogadores com a mesma quantidade, porém animais diferentes.

— É tão difícil achar a pata de um elefante na floresta — resmungou Bai Long.

No caminho descartaram várias peças repetidas.

— Como foi que achamos quatro animais diferentes?! — Himmel avaliava seus três pedaços de um tigre.

— Eu nem sei qual o meu... — relatou Lumière, rindo de nervosismo.

— É uma iguana — informou a Estrategista.

Os olhos sérios dele a fizeram baixar a cabeça.

— Mas é bom serem animais diferentes — alegou Himmel, alegre. — Caso contrário, teríamos que brigar para completar nossas figuras.

Todos assentiram.

— Espera... não é por caso, né?! — insinuou Bai Long, encarando a Estrategista. — Tá nos guiando pra peças diferentes por esse motivo, pra não gerar intrigas!

Fairy balançou a cabeça, confirmando a hipótese da Lutadora.

— Naquela direção! Tem ma...

Fairy apontou a direção correndo, mas antes de completar sua frase tropeçou e caiu na grama alta.

— Aqui, desastrada.

Lumière ofereceu sua mão.

— Quando terminarmos esse jogo... — falou ele, coçando a cabeça. — Podíamos formar um clã.

— Eu topo! Vamos lá, galera?! — Himmel aceitou sem pensar duas vezes, incentivando os restantes.

Fairy pensou por um momento, mas concordou balançando a cabeça, para a comemoração dos Atiradores.

— Tenho um nome pro clã! Que tal...

Lumière parou de falar com um impacto nas costas. Em segundos, o atirador baixou a cabeça olhando para a região entre os peitos.

A ponta da lâmina surgiu, atravessando seu corpo. Logo atrás, Bai Long retirou a adaga suja de sangue, após transpassá-lo em um golpe no coração.

— Que merda é essa?! — gritou Himmel, tentando puxar o arco, mas não houve o tempo para disparar.

“Mas... o quê...?!” A mente de Fairy levou alguns segundos para processar a situação.

Em um piscar de olhos, a Lutadora estreitou a distância com o Atirador, acertando um soco forte no estômago que o fez cuspir sangue, em seguida, envolveu seu pescoço com um dos braços e torceu facilmente.

Em silêncio, Bai Long soltou o corpo sem vida de Himmel no chão.



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