Rei dos Melhores Brasileira

Autor(a): Eme


Volume 1

Capítulo 53: FAKER

A estrutura era alta, colunas de mármores detalhadas e uma abóboda com desenhos de anjos que pareciam sobrevoar o local, além disso, o lustre majestoso no centro dava um toque com o brilho de cristais reluzentes, a pintura no teto fazia contraste com a iluminação, geravam a sensação que aquele lugar era parte do paraíso divino.

O jogador esperava sentado na cadeira do enorme salão oval. Ao fim da partida, Fairy indicou o lugar para conversarem, tinha dúvidas se ele realmente viria, mas estava lá.

— Meu nome é Last Fairy — disse ela, cordialmente, estendendo a mão para um aperto amigável.

— Que lugar é esse? — perguntou ele, seus olhos estavam fixos no teto, ignorando seu gesto.

— É um museu antigo... — respondeu ela, retirando a mão lentamente, após receber sua antipatia.

As paredes estavam recheadas de obras de arte com desenhos coloridos, a partir do salão havia vários corredores para outros locais de exposição.

O velho museu abandonado, aquele era o lugar favorito da Estrategista.

— Quem é a pessoa que pode enfrentar a Valhalla? — disse Dark Onyx, assim que terminou de encarar o ambiente.

— Pois é... conheço alguém... — desviava o olhar de propósito. — Não pessoalmente, mas...

As frases incompletas fizeram ele suspirar alto.

— Confiar em alguém a beira da morte é um erro, anotado — declarou ele, puxando o celular.

— Espera! — Fairy gesticulou com as mãos para ficar. — Existe uma pessoa que a Valhalla não consegue vencer, alguém que até os jogadores do mais alto escalão tremem só de ouvir seu nome.

O jogador exibiu a expressão séria, só havia uma pessoa com aquela fama.

— Já ouviu falar da jogadora, Scarlet Moon?! — disse Fairy, cheia de empolgação.

***

 “Voltamos ao início.” Gabrio respirou fundo e deixou-se cair na cadeira desmotivado. “Isso deve ser uma maldição daquela ruiva.”

— Já ouviu, não é?! — Fairy insistia em receber uma resposta. — Lógico, um jogador do seu nível deve ter escutado.

— Scarlet Moon morreu — retrucou Gabrio, controlando o tom, para não exibir sua inquietação.

Fairy fez silêncio, já havia escutado muito aquela frase ultimamente.

— Se era essa a pessoa... — Começou a explorar o mapa do jogo. 

— Eu não acredito que simplesmente morreu — disse ela, deixando escapar sua irritação. — Sei que está viva e eu...

— Ah! Uma das fãs da Rainha Demônio — expressou ele, irônico. — Sério, melhor aceitar ou vai se juntar a ela se metendo em problemas como os de hoje.

Sua frase arrancou um olhar de fuzilamento.

— Não sou fã dela — rebateu, áspera. — Apenas sei que ela não foi morta por eles.

Gabrio aprendeu a ignorar qualquer coisa que achasse irrelevante, pela primeira vez, olhou com atenção a pessoa na sua frente, a garota usava um lenço rosa que enfaixava seu rosto, o casaco bege e longo a cobria até próximo dos pés, luvas e botas pretas, obviamente se escondia por trás das roupas largas, não deixando nada a não ser seus olhos a vista.

— A Rainha Demônio não pode ser derrotada assim... ela... é... — Fairy tentava montar seu argumento, mas a expressão dele só refletia um fato, que parecia mesmo uma fã.

— Forte demais? Um monstro? A mais poderosa? — sugeriu ele, completando a frase dela.

— Não... é... sim... mas... — Fairy buscava escolher as palavras, como se fosse algo difícil de explicar.

“Foram longos três meses...” Gabrio pensava em todas as suas tentativas frustradas. Por muito tempo, não mediu esforços em procurar qualquer pista da ruiva, em achar a pessoa com histórias sinistras, algumas tão bizarras que preferiu fingir que não ouviu.

A Rainha Demônio que muitos pintavam estava longe de ser a jogadora preguiçosa e com péssimos modos que conheceu. Contudo, não podia negar que sabia mais sobre ela agora.

— Garota... Scarlet se foi, supera! — bramiu ele, voltando para o mapa.

Fairy estreitou os olhos, deixava explícito sua vontade de revidar, mas por algum motivo não fazia.

— Eu avaliei a desordem estatística de vários dados que adquiri, peguei os fatores relevantes, juntei tudo e... — parou ao ver que ele observava, cético. — Eu calculei que ela tá viva.

Fairy terminou o final da sua frase em um sussurro, dizer aquilo deixava mais complicado de explicar.

— Qual método usou como base analítica? — indagou ele, erguendo-se da cadeira e guardando celular no bolso.

Fairy piscou várias vezes, a pergunta dele era pertinente.

— Criei um algoritmo de discriminação pessoal e integrei com a teoria de campo — falou nervosa, Dark Onyx se aproximava.

— Inventou uma forma de encontrar uma agulha em um palheiro — deduziu ele, a centímetros dela.

— Você entendeu o que eu disse?! — constatou, surpresa.

Ele balançou a cabeça, confirmando.

“Genial, mas... será?!”, pensou Gabrio, enfrentar mais uma tormenta de sentimentos, depositando suas esperanças em outra reles possibilidade.

— Calma — pediu ele, ao vê-la deixar sua energia mágica escapar como um aviso para que não chegasse muito perto. — Você fala baixo demais, eu queria escutar direito.

Gabrio entrou em modo reflexivo, fitando o teto do salão novamente.

— Talvez se você me ajudar podemos achá-la — disse ela, aumentando a intensidade da voz, após a crítica.

— E depois? — perguntou ele, ainda observando o vazio. — Após encontrá-la, o que você vai fazer?

— Acho que... — Ela hesitou em responder, por um momento a pergunta não pareceu ser para ela. — Unir forças, talvez.

“Unir forças?!” O pensamento que o inundou fez surgir um sorriso espontâneo. Demasiadamente, começou a rir, em segundos, estava gargalhando como se alguém estivesse fazendo cócegas.

 — Para de zombar de mim! — esbravejou Fairy, liberando mais energia.

As cadeiras e parte da mesa estouraram em pedacinhos.

— Você é bem estressada...

Gabrio levantou as mãos fingindo rendição.

— Não estou zombando, pelo contrário, você me convenceu.

Fairy baixou sua energia, respirando pausadamente.

— Sério? — disse sarcástica, a atitude dele não era de alguém que concordava.

— Sim, mas por questões pessoais... não confio em ninguém que use máscara — revelou ele, apontando para suas roupas.

Ela manteve-se em silêncio, dando alguns passos para trás.

— Então, isso é um adeus! — disse ele, percebendo sua relutância.

— Não! Eu... é...

Ela parou de falar, aos poucos, começou a retirar o lenço do rosto.

A pele clara exibia uma feição preenchida de traços juvenis, os cabelos loiros com as pontas repicadas apresentavam um corte assimétrico, onde a parte da frente alongava-se até a região dos ombros e a detrás encurtava-se próximo à nuca.

Fairy jogou o lenço em cima da mesa.

O nariz fino e arrebitado harmonizava com seu rosto triangular, a boca rosada com lábios cheios possuía o inferior levemente maior que o superior, pareciam ter sido desenhados, mas o que absolutamente chamava atenção eram seus olhos, ambos hipnotizavam embaixo dos cílios longos, exibindo um verde puro quase sobrenatural, não havia diferença entre eles e a cor de uma exímia esmeralda.

— Satisfeito?! — disse ela.

Gabrio fez o círculo com os dedos, indicando o restante das roupas. Como resposta, Fairy baforou de irritação, mas o retirou o casaco largo, por baixo usava calça jeans justa, blusa de collant preto e sem mangas, típicas das usadas por bailarinas.

O seu corpo de curvas graciosas exibia volume em pontos específicos como nos seios, quadris e coxas. Entretanto, também possuía formas esguias presente na sua cintura e braços magros, mãos e pés pequenos, além disso, era cerca de um palmo mais baixa que ele.

— Hum... essa é nova... uma fã da Rainha Demônio que não é ruiva — constatou ele, após avaliá-la da cabeça aos pés.

— Já disse que não sou um fã! — rebateu Fairy, cruzando os braços.

— Claro, com certeza não é... — debochou ele.

Gabrio virou de costas na direção de um dos corredores, havia tomado sua decisão, iria mergulhar mais uma vez em uma esperança mínima.

***

— Espera! — chamou ela. — Aonde vai?

— Quero dá uma olhada nesse lugar — respondeu, continuando o caminho.

Fairy seguia de longe, de olho nos seus passos.

— Minha ideia inicial se baseava em tratar tudo como um sistema probabilístico complexo, só que... — Ela tentava exibir segurança na voz, falando com determinação.

— A entropia relativa é muito desequilibrada, fazendo com que seus cálculos se reajustem constantemente — deduziu o restante da frase dela. — Traduzindo, você precisa de mais informações, mas não sabe onde procurá-las.

 “Alguém que não vai me fazer soletrar o que falo”, pensou ela, tendo a certeza que ele tinha a veemente compreensão do assunto.

 — Se tentarmos redefinir as variantes e... — Parou de falar ao ver que não possuía mais sua atenção.

 “Quantas vezes ele vai me ignorar?!” Avaliava todos os momentos que a falta de empatia dele interrompeu sua fala.

— Onde nós estamos especificamente?

Ele se preocupava mais em investigar o salão.

— Um museu de arte holandês — falava sentindo-se ludibriada ao ter sido ignorada novamente. — Essa cidade foi o local de um jogo.

— O que o Remake fez nesse lugar?

— Algo relacionado a um vírus que colocou a cidade inteira de quarentena — respondeu ela, cruzando os braços e batendo o pé impaciente. — Isso faz muito tempo.

— Se faz tempo... por que as pessoas não voltaram?!

— Não sei qual foi o tipo de jogo aqui, mas o vírus é real — falava enquanto o seguia mantendo uma distância que achava segura. — Você sabe, o RDM nos deixa imune.

— Entendi. — Deixou escapar uma expressão de lamento.

“Ele ficou triste com isso?!” Fairy já havia conhecido vários jogadores experientes, todos já haviam se expurgado do mundo comum.

“A não ser que...” Uma dúvida começou a importunar sua mente.

— Desculpa te perguntar... — Ela parou de caminhar se escorando na parede. — Quanto tempo faz que você entrou no jogo?

Dark Onyx parou diante de um quadro, parecendo entrar em uma espécie de regressão espiritual, visualizando fixamente a figura.

“Acho que ele também não confia em mim” Fairy se queixava, em pensamento, mas sabia que esse fato era o método comum de sobrevivência.

— Hoje faz três meses e meio — respondeu, quando ela já havia desistido de ter sua resposta.

“Alto nível em tão pouco tempo...” Ela estabelecia algo entre cinquenta e sessenta baseada no que viu durante o jogo. “A estratégia de evolução que usou deve ser extraordinária.”

Ele continuava observando o quadro com a visão de alguém que parecia não compreender, mas algo o prendia diante da pintura retratando flores murchas em um vaso quebrado, tudo em preto e branco.

— Fairy, o que você acha? — disse ele, apontando para quadro. — Será que flores estavam murchas antes do vaso quebrar ou murcharam depois que ele quebrou?

“Que sujeito esquisito”, pensou ela, ao notar o seu semblante impressionado encarando a figura mórbida. 

— Não sei — respondeu confusa com sua visão remota das flores. — Qual sua opinião?

— Acredito que não faz diferença — disse ele, imerso na obra de arte. — Antes ou depois, não interessa... murchar é o destino das flores que são arrancadas do jardim.

“Muito esquisito.” Refletia sobre a sua atitude no mínimo exótica. “Sorte desgraçada! Sempre me faz ficar perto de loucos.”

Fairy aproximou-se um pouco para ver de perto o motivo dos seus devaneios.

— Mas será que não valeu a pena?! — interviu ela, interagindo com seu momento filosófico.

— Como assim?! — indagou ele.

— Sair e conhecer um lugar novo — continuou ela. — Não é melhor que murchar sem nunca saber o que estava além do jardim?!

— Tá me dizendo que o vazo deu um conhecimento pra elas que jamais teriam se não fossem arrancadas?!

Fairy balançou a cabeça, indicando seu sim.

— Nunca pensei por esse lado... que magnifico — revelou ele, sentindo-se iluminado. 

Os olhos verdes dela cintilaram por um momento, sua atitude era incomum aos grandes competidores.

— Dark... Ei... qual... o... — Estava receosa em terminar a frase. — Qual o seu nível?

Ela preparava para ser efetivamente ignorada dessa vez, aquela pergunta era algo que jogador nenhum revelava de forma gratuita.

— Atualmente, vinte seis — relatou ele, prontamente.

“Isso é muito baixo, não... extremamente baixo!” Fairy não conseguia acreditar, aquilo era diversamente inferior ao que supôs.

— Impossível! — bramiu ela. — Ninguém com esse nível venceria o líder do clã Spartan... Exceto se...

Naquele instante, sua mente calculou diversas possibilidades, mas só havia uma resposta. Dentro do Rei dos Melhores, havia jogadores de alto nível que tinham por distração participar de jogos mais fáceis, com um objetivo obscuros, se aproveitar de jogadores mais fracos, matar por matar, torturar e humilhar os novatos só por diversão, competidores assim, verdadeiros psicopatas, eram conhecidos como Faker.

Fairy deu alguns passos para trás involuntariamente, um marco de um dos piores casos da sua vida veio de Faker que a enganou sobre seu nível para fazê-la baixar a guarda.

“Alguém que salvou minha vida, entende sobre meus cálculos e mente seu nível...” Refletia os detalhes da situação que se encontrava. “Sim, tudo igual aquele dia.”

— Tive uma nova ideia. — Fairy retirou o celular do bolso enquanto se distanciava. — Nos encontramos nesse mesmo local daqui a uma semana.

“Vai para o inferno, sorte! Dessa vez vou fazer diferente.” Pensava arquitetando novos planos. “A vida usando o mesmo golpe.”

— Você pensa e... — Ela parou, mais uma vez, suas palavras estavam sendo completamente desperdiçadas.

Dark Onyx virou para fitar os olhos da jogadora com o semblante assustado, a cada passo que dava na sua direção era correspondido por ela, em um para trás.

— O medo fica exposto em você — afirmou ele, a alguns metros de distância.  — Entendi o porquê de esconder seu rosto.

— Fique longe! — avisou ela, erguendo a mão esquerda. — Vou te atacar!

Dark Onyx deu mais dois passos para frente, em resposta, o seu disparo de energia saiu como um projetil, era apenas um aviso, mirando na parede lateral, a poeira e a fumaça do impacto preencheram o local.

— Você tem um gatilho apressado. — Observava a abertura superior ao tamanho da sua cabeça estragar a parede. — E potente.

Fairy correu na direção da saída aproveitando a leve distração que seu ataque causou, só precisava chegar ao ar livre. Sentiu o vento agitar seus cabelos, era o resultado da velocidade com que passou por ela, estava a um metro de distância e não havia mais cadeiras, mesas ou quadros, o salão estava vazio.

— Você poderia se acalmar — pediu ele.

— Não vou cair nessa de nível vinte seis! — bramiu ela, disparando várias esferas de energia, seu objetivo não era acertá-lo, mas causar distrações dificultando sua visão. — Óbvio que é muito mais que isso.

— Ah! Então é esse o problema — relatou ele.

Dark Onyx usou sua velocidade para segurar seu pulso. Como um ato involuntário, a energia dela se descontrolou, amassando a parede com o choque e rasgando parte de suas roupas.

Fairy puxou o braço se desequilibrando e caindo quando ele soltou, o chão começou a tremer, as rachaduras nas paredes se intensificaram e a energia que fluía do corpo dela pulsava em ondas que abalavam o lugar.

— Aaaaaah! — gritou Fairy, soltando junto a energia assustadora.

O poder liberado por seu descontrole lançou Dark Onyx para longe, atravessou duas paredes antes de alcançar o chão, em seguida, o museu inteiro desmoronou.

Para se proteger ela fez vários escudos de energia que sustentaram o peso dos destroços, conseguiu sair do museu pulverizando os enormes blocos de concreto, mármore e ferragens no caminho.

“Droga! Droga!” Se repreendia por perder o controle.

— Será que matei ele? — Preocupou-se por instante.

— Caramba... E qual o seu nível?! — A voz surgiu das suas costas.

Fairy virou rapidamente erguendo a mão para atacar, mas cessou.

Dark Onyx estava por cima de um dos joelhos, com a respiração ofegante, mantinha o celular erguido.

PERFIL DO JOGADOR

Nome: Dark Onyx

Altura: 1,78 m      Idade: 23 
Classe: Elemental     Nível: 26

Clã: Indefinido
Especialidade: não obtido
Título: não obtido

A tela caiu no chão em um baque seco, Dark Onyx desmaiou.



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