Volume 1
Capítulo 44: RELATIVO
As agulhas, lâminas finas e bolas gigantes de ferro maciço, por qualquer lado que olhavam, um ataque chegava no mais puro ímpeto.
... 1º Campeão... 3º Campeão... 5º Campeão...
... 40 s... 37 s... 31 s...
Os Ursos Kamikaze queriam apenas demonstrar seu amor, compartilhar da sua crença de morte honrada, sem dor e explosiva. Porém, cercado pelo redemoinho mortal de esferas coloridas, havia alguém que não simpatizava com a causa.
Sem empatia, os monstros eram eliminados rapidamente.
... 7º Campeão... 9º Campeão... 11º Campeão...
... 28 s... 24 s... 22 s...
Gabrio movimentava os dedos, controlando as esferas através das combinações químicas nas mãos.
Não demorou muito, limpou a área inteira, mas o custo foi alto.
Clin!
O jogador utilizou 99% da Energia Mágica!
... utilizou 97% da Energia Física!
... perdeu 35% da Vitalidade!
O aplicativo bipou.
Ele tentou dar dois passos à frente, mas suas pernas cederam.
— Não... eu tenho que...
Os efeitos eram simples de compreender, o uso excessivo das habilidades esgotava a Energia Mágica, por consequência, seu corpo estremecia com a fragilidade. Do mesmo modo, cansaço e esgotamento atingiam a Energia Física, contudo, acabar totalmente com aquilo resultava na perda eminente da consciência. Com o fim desse dois, o resto afetava a Vitalidade, nesse caso, a regra era única.
Clin!
Atenção Jogador!
Se a Vitalidade chegar a Zero...
Fim de Jogo!
Gabrio puxou o celular, uma pedra de saúde e tudo estaria resolvido.
— Não! Mas que merda... que merda eu fiz?! — bramiu ele, encarando a tela do celular.
Atenção!
Encontre as 7 chaves antes do tempo acabar!
Os primeiros 15 colocados ganham!
Ah! É melhor recusar os abraços!
O tempo Restante: 12 segundos!
A dinâmica do jogo era uma coleta, simplesmente, encontrar as sete chaves antes do tempo acabar no meio daquele gelo, apenas os quinze afortunados que cumprissem essa condição estariam entre os campeões. Além disso, a frase “Ah! É melhor recusar os abraços” era uma indicação clara que deveria ignorar os ursos.
Por imprudência, Gabrio esqueceu totalmente disso.
— Doze segundos! Tenho que achar... as... as... cha...
Tentar se mover rapidamente esgotou suas forças, a Energia Física foi completamente consumida
Clin!
12º Campeão Surgiu! Três vagas restantes!
O jogador coletou 00 chaves!
Outra notificação surgiu, porém, não estava mais consciente para ver.
... 5s... 4s... 3s... 2s... 1s...
Dark Onyx, desmaiou.
... 0,99999998s... 0,9999997 s... 0,9999996 s...
O intervalo entre um e zero, para muitos, era imperceptível, no entanto, nas mãos daquele jogador se tornava extremamente relativo.
Como se estivesse com o ponteiro quebrado, o relógio se movia lentamente, o tempo praticamente parou.
— Hehihi! Mas que idiota! Hehihi! — disse rindo, após acender mais um dos seus charutos cubanos.
Cronos Vermillion encarava o jogador desmaiado.
Do seu lado, a garota de pele bronzeada e cabelos curtos estava boquiaberta.
— Fala sério?! Há! Ele realmente... Há! Esqueceu do jogo! Não acredito! — bramiu Cleópatra, segurando o riso com as mãos.
— Iiihá! Eu falei! Ganhei a aposta! Otária! — comemorou o jogador, alisando seu cabelo moicano com o pente.
Do outro lado, Rhino Punk exibia seu sorriso presunçoso.
— Eu disse! O cara é um dos meus! Um completo maluco! — completou ele.
Os três observavam as ações incomuns daquele jogador e, por diversão, Rhino Punk e Cleópatra fizeram uma aposta, um afirmando que esqueceria totalmente de caçar as chaves, o outro que ninguém seria tão idiota assim.
— Ah! Espera... não valeu! — reclamou ela. — Devia ter desconfiado... um idiota reconhece o outro!
— Ei! Nem vem com essa! — protestou Rhino. — Vai ter que me servir o dia inteiro!
Ele levou a mão ao queixo, pensativo.
— Acho que uma roupinha sexy de empregada cairia bem em você! — falou ele, com o sorriso malicioso.
— Vai se f...
— Calem a boca! Os dois! — mandou Cronos, interrompendo a briga.
O motivo do atirador manter seus olhos naquele sujeito era outro, fugia da curiosidade, beirando mais a nostalgia.
— Hum... Alguém que esquece do jogo... só para salvar civis... que mundo pequeno! — murmurou Cronos.
Aquela atitude lembrava um antigo amigo, alguém que, assim como esse jogador, possuía uma mistura de insanidade e sorte. Em casos normais, o jogo já deveria ter sido encerrado, contudo, não havia participantes suficientes para preencher todas as vagas de campeões, um efeito claro da interferência dos ursos.
— O que faremos agora?! — perguntou Cleópatra.
— Consigo alongar o tempo por mais alguns minutos — informou Cronos. — Traga as chaves até ele.
— Que merda! Nossa missão era só fechar o círculo! — resmungou ela.
Cleópatra torceu os lábios, contrariada, mas cumpriu a ordem. Rapidamente, esticou as mãos, lançado suas joias no ar. Em seguida, tomaram o formato de ratos dourados. Sendo uma Elemental do Ouro, seu poder lhe permitia transformar o elemento em animais de vários portes, com isso, bastava dar a ordem as criaturas recém-formadas.
— Busquem as chaves! — comandou seus ratos de ouro.
— Faltou só uma flauta — debochou Rhino, comparando-a com o “Encantador de Ratos” da história infantil.
— Cala a boca! Babaca! — rebateu ela.
O trabalho dos animais demorou alguns minutos, logo, trouxeram entre os dentes dourados sete cilindros brilhantes, bastava que despejassem as chaves sobre o jogador, em seguida, era contabilizado.
13º Campeão Surgiu! Duas vagas restantes!
... 0,86668s... 0,86665 s... 0,86661 s…
A notificação surgiu ao soltar da sétima chave.
— E aí?! Vai recrutá-lo?! — indagou Rhino, confirmando o fim do trabalho.
Com um estalar de dedos, o tempo voltou ao normal.
Clin!
O som da notificação veio encerrando aquela partida. Por consequência, o brilho do Reload começou a cobri-los, seus status seriam restaurados.
— Deus me livre! Hehihihi! — grunhiu Cronos, com sua risada estridente. — Já tenho idiotas demais na equipe.
— Então... Por quê? Por que tá ajudando esse cara?! — retrucou, confuso.
— Ele me divertiu um pouquinho... — declarou Cronos. — Além disso... é só um novato! Se um dia aprender o que é o Rei dos Melhores... talvez mereça um lugar na mesa.
— Acho que vai se matar antes disso — interviu Cleópatra.
— É... achava que a morte era clara pra um louco parecido com esse — falava entre as baforadas de fumaça —, mas hoje todos querem matá-lo e ninguém consegue.
— Tá falando do...
— Já terminamos aqui! O círculo não vai mais voltar! Missão comprida! — interrompeu Cronos, conversar sobre aquilo não lhe agradava.
Os dois perceberam, trocando olhares curiosos.
Obedecendo à ordem, marcaram no mapa sua retirada.
— Boa sorte... — disse Cleópatra, na direção do jogador desmaiado.
— Não acho que ele faça seu tipo — comentou Rhino, alisando o queixo.
— Ah! Vai se ferrar! Seu idiota! Babaca! Imbecil! — iniciou uma série de xingamentos.
— Vaca! Acéfala! Piriguete! — rebateu ele.
Cronos suspirou, os dois começaram a milésima briga do dia. Com os olhos ávidos, fitou o jogador imprudente.
“Viver ao lado daquele cara está me deixando fraco”, remoeu ele, em pensamento.
— Não se julga um homem por como começa — relatava a frase que mais escutava na vida —, mas sim, como ele termina.
Um leve sorriso montou-se no rosto e, assim que lançou o charuto para o alto, sumiram.
***
O baque surdo do objeto tocando o chão não despertou Gabrio, porém, por coincidência abriu os olhos naquele exato momento.
— O que...
Ao seu redor, estava apenas o caos e um odor esquisito, algo que não vinha das criaturas, era diferente.
"Será aquilo?!", presumiu ele, observando o charuto fumaçanado no chão gelado.
Ele estava confuso, mas o brilho dourado do Reload indicava que conseguiu concluir a partida.
Com alguns cliques, confirmou a hipótese.
Parabéns!
Você é o 13º Campeão!
Você Subiu de Nível!
Seus Atributos Foram Melhorados!
“Será que foi como aquela vez?!”, pensou ele, lembrando do dia que a Ligação Astral assumiu seu corpo. “Mas nem chamei a espada...”
— Pelo visto, tem muita coisa que ainda não entendo... — conclui ele.
Com o fim da partida, tanto suas roupas quanto seus atributos foram regenerados. Logo, correu para o local que a garota se escondia.
Luz estava deitada em cima da tampa do contêiner de lixo.
— Mirian?! — chamou, abrindo a tampa lentamente.
Dentro do local a menina tremia, coberta pelo excesso de sacos de lixo.
Gabrio suspirou aliviado, ao ver aqueles olhos assustados.
— Ei! Está tudo bem agora — disse ele, tentando acalmá-la suavizando a voz — Os monstros já foram.
Estendeu a mão para ajudá-la, a menina saiu abraçando-o com força pela cintura.
— Pens... que... fos... mor... — As palavras dela saiam incompletas devido ao seu choro exagerado.
— Não se preocupe, tudo acabou — retribuiu envolvendo-a nos braços, acalentando suas lágrimas. — Vou te levar para casa.
Miriam caminhava grudada em seu braço, percebia os corpos carbonizados, além de pernas, braços e cabeças decepadas, espalhadas por todo o lugar, a maioria das residências estava completamente destruída e havia vários carros em chamas.
Pessoas também surgiam correndo, gritando em pânico por presenciar uma pequena demonstração do inferno.
— O que eram aquelas coisas? — perguntou Mirian, quando se distanciaram do local tumultuado.
— Eu não faço ideia, mas acabou — mentiu, explicar sobre o jogo para uma criança ia ser muito surreal.
Os efeitos destrutivos do jogo diminuíam quanto mais se aproximavam do limite do círculo amarelo, até chegarem ao ponto que não notavam qualquer sinal da catástrofe.
O pânico ainda era generalizado, mas não havia prédios ou carros fora do lugar. Ao chegar ao parque, o coração de Gabrio esquentou, repleto de tranquilidade.
— Sabia que ia conseguir... sua velhinha abençoada! — relatou, admirando as ações de Anna.
De longe, conseguia ver a idosa e as crianças.
— O que foi? — perguntou Gabrio, percebendo ela parar de caminhar, porém, já sabia a resposta.
A menina estava estática, com os olhos arregalados, não piscava, sua expressão congelou.
— É... moço — voltava a si, piscando e olhando confusa para ele —, você pode me entregar a gatinha?
— Mirian, você se lembra quem eu sou?
Ela balançou a cabeça para dizer que não.
— Tudo bem — Gabrio entregou Luz nos braços dela deitando-a no seu colo. — Vá nessa direção, vai achar o resto do pessoal.
— Obrigada! — Mirian correu para o local indicado.
“O Remake começou”, concluiu ele, acompanhando a menina com os olhos.
Não precisava de tanta pressa, estava a uns duzentos metros de distância.
O que mais assustava a menina era o fato de não lembrar o porquê de estar segurando forte no braço daquele estranho, além disso, não tinha ideia de como veio parar ali com ele.
— Quem era... era... — Miriam esqueceu o que estava tentado relembrar.
Quando a menina chegou na van, tanto ela quanto os que estavam lá já tinham deletado totalmente o rapaz que passou um tempo com eles.
Gabrio observou até o momento do encontro, estava satisfeito com a segurança deles.
Olhou para o aplicativo com dúvidas do que iria fazer, a mensagem estava vibrante na tela.
O jogo finalizou, deseja ir para onde?
Marque no mapa.
— Se eu quiser chegar no nível dela... — disse passando o dedo na tela. — Vou me esforçar e trabalhar dobrado.
No mapa, havia diversos círculos amarelos e azuis que poderia escolher.
— Sempre quis ir ver a Torre Eiffel — disse ele, marcando o círculo azul no meio do território Francês.
Gabrio suspirou, olhando na direção das pessoas que salvou, uma última vez, desejando que aquelas crianças ficassem bem.
Miau...
A gata branca com três listras pretas o encarava de longe.
— De nada! — respondeu, imaginando que o miado seria um “obrigado” de um ser que não o esqueceu.
Com a emissão de um flash, a pedra o transportou.