Volume 1
Capítulo 12: A Rainha de Hilusia
Abri um portal para que Annaelia retornasse para Atalanta.
Era preciso ir mais cedo para que ela conseguisse marcar um encontro real com a rainha de Hilusia.
Após ela entrar no portal, fixei meus olhos com curiosidade para Kay. Não só eu, mas Isael também estava curioso para saber o que havia acontecido.
— Então, quer começar a contar, comandante? — disse Isael.
— Saí do reino depois que Hestia disse aquilo sobre o Galrian — Kay assumiu uma postura ereta.
— Não preciso que me defenda — estreitei meus olhos. — Não me importo com a opinião de Hestia.
— Mas pela primeira vez chorou nos braços da Annaelia — Isael moveu seus olhos em minha direção.
— Calado.
— A evidência do assassino, ela aponta para Adrian — Kay colocou os olhos em nós dois.
— Oh? E o que a Hestia acha disso?
— Ela desconfia mas, ao mesmo tempo, não.
— Mas é uma idiota mesmo, hein — Isael cruzou os braços.
O cristal do trono começou a emitir o sinal, e nós três olhamos na direção. Não sei por que, mas sabíamos quem era.
Estendi minha mão para Isael e movi-a em direção ao trono para que ele atendesse.
Ele balançou a cabeça em negação e olhou para o comandante Kay. Para minha decepção, nem mesmo o comandante queria atender a Hestia.
Suspirei e me sentei no trono, toquei no cristal e aqueles olhos azuis estavam prontos para derramarem uma cachoeira de lágrimas.
— Galrian!!!! — Hestia começou a chorar. — O Kay me abandonou aqui.
— Por que está chorando para mim? — coloquei uma expressão de desgosto em meu rosto.
— Convence ele a voltar — ela colocou as mãos nos olhos.
Ela fez a mesma atuação enquanto pedia para que eu comprasse o doce favorito dela. Essa garota acha que vai me fazer convencer o comandante Kay.
— A escolha é do comandante, não minha — fechei meus olhos.
— Eu preciso dele para governar o reino.
— Isso não é da minha conta, afinal... — Abri os meus olhos. — Luminara está prestes a me ver como inimigo. Parece que o Adrian quer me ver morto mesmo.
— Eu não tenho nada a ver com isso — a expressão dela se tornou séria.
— Você é a rainha, você me trouxe um problemão. Ainda bem que a Annaelia vai me ajudar a tentar resolver isso.
— Annaelia, Annaelia — ela me encarou — que merda, você se torna um rei lendário e derrepente a várias meninas a sua volta, você deveria ser meu, só meu, mas agora até a Johanna tá te seguindo!
— Isso é...— Isael fez uma expressão de surpresa — ciúmes?
Coloquei minha mão esquerda sobre o rosto
— se decida se vai me chamar de lixo ou se vai ficar com ciúmes de mim
— Eu não estou com ciúmes! Apenas é a verdade!
Toquei no cristal e desliguei, me levantei do trono e olhei para o comandante Kay, o cristal começou a tocar novamente, Isael, eu e Kay deixamos a sala do trono e fomos até a parte de fora, ao olhar para a enorme muralha, deixei escapar um suspiro
— Que tal um treinamento? — disse Kay
— Não quero destruir o castelo — falei com desinteresse
— Não quero ajudar o Galrian a destruir o castelo — disse Isael
— Fala sério, que problema o Adrian está querendo me trazer? Eu não fiz nada para aquele príncipe desgraçado
[...]
Finalmente o dia havia chegado, o encontro aconteceria no castelo de Atalanta, estava já pronto para sair, Johanna se aproximou de mim com o seu arco e quiver em suas costas.
— Eu vou com você — disse ela enquanto cruzava seus braços
— Tem certeza? — estendi minha mão para a frente e abri o portal de sombras
— Sim
— Certo
Entramos lado a lado no portal de sombras e emergimos em uma sala onde havia uma mesa de 5 metros no meio dela com apenas três cadeiras, uma garota de cabelos pretos e olhos verdes estava assentada na cadeira da ponta e Annaelia estava sentada na cadeira do meio.
— Galrian, essa é a Rainha de Hilusia, seu nome é Elowen Ainsworth — disse Annaelia
— O príncipe Adrian disse que você era desprezível, um assassino, mas não estou vendo os olhos de um assassino, apesar de seus olhos serem negros como a noite
— É um prazer conhecê-la, Majestade — puxei a cadeira da outra ponta e me sentei — sou Galrian Wolfhart, o rei das sombras, e essa é uma das minhas companheiras, Johanna Ycelion
— É bem educado também, acho que o Adrian me passou a ideia errada sobre você
— Por que declarar guerra contra mim? Majestade, creio que não fiz nada de errado contra o seu reino
— Você é um perigo para todos os reinos, Wolfhart; soube que você eliminou os soldados de Luminara junto de um de seus aliados para escapar.
— Eu fui acusado injustamente de assassinar o rei — suspirei —, mas entendo onde queres chegar, Majestade.
— Ótimo, sabe que essa guerra será inevitável.
— Elowen! — Annaelia a encarou.
— Você é a minha amiga, então fique de fora, meu alvo é o rei das sombras.
Johanna pegou o arco e ergui minha mão direita. Ela recolocou o arco nas costas e cruzou os braços.
— Que seja — falei — então vamos fazer um acordo aqui, Majestade.
— Que acordo?
— Eu mostrarei que você está errada nessa guerra e quando você e Luminara perderem, eu ficarei com Hilusia e você se tornará minha concubina.
— O que?! — Johanna e Annaelia arregalaram os olhos, surpresas.
— E se eu vencer? — Elowen colocou um sorriso misterioso em seu rosto.
— Deixarei o cargo de rei das sombras e serei seu servo.
— Tire o seu casaco e sua camisa.
— O que?
O que essa pervertida quer que eu faça?!
— Faça isso, é assim que eu julgo se você será um bom servo ou não.
— Certo! — me levantei.
Retirei o meu casaco e Johanna o segurou. Hesitante, coloquei as mãos sobre a camisa e olhei para as duas. Fiquei corado e levantei minha camisa.
— Pare aí mesmo! — Elowen estendeu seu braço direito — Seu corpo é saudável, já vi isso.
Baixei minha camisa, peguei o casaco, vesti e me sentei sobre a cadeira novamente.
— Então nos vemos no campo de batalha, Majestade, não é?
— É, nos vemos no campo de batalha.
Minha tentativa de evitar essa guerra foi por água abaixo. Atalanta não poderia se envolver e os exércitos de Luminara e de Hilusia ultrapassavam mais de 200.000 tropas se juntássemos os dois exércitos.
Ao meu lado, só havia uma maga, uma espadachim, um lutador e uma arqueira.
Claro, comigo, que podia criar armas, e mesmo que eu invocasse o exército das sombras, minha mana acabaria em apenas 3 horas de batalha.
Mas se fosse eu sozinho, era provável que eu morreria. Ou seja, essa guerra está perdida.
Me levantei com a cabeça baixa.
— Me desculpe, não poderei te ajudar... — disse Annaelia.
— Tudo bem, essa guerra é minha — abri o portal de sombras — Eu tenho um plano.
Adentrei o portal de sombras junto de Johanna. Ao retornar para o castelo, todos estavam reunidos na sala do trono.
Passei por eles e me sentei sobre o trono enquanto mantinha os olhos fechados.
— Preparem-se, a guerra irá começar — abri os olhos com um olhar de determinação.
[...]
— Você nunca foi de escolher um rei que está em desvantagem — disse Annaelia irritada.
— Minha atuação foi tão convincente que até você está acreditando? — Elowen sorriu.
— Atuação?
— Sim, eu não sou louca de me levantar contra o rei das sombras. Hilusia está sendo entregue de mão beijada a ele.
— Por que está fazendo isso?
— Não é óbvio? Eu quero que ele mate o Adrian nessa batalha. O olhar dele não é mais de um humano, Annaelia, é de um demônio.
— Demônio?
— Você sabe que é preciso sangue de um membro da família real para obter poder demoníaco. Eu acredito que o Adrian tenha feito isso.
— Então você...
— Vou entregar Hilusia e ainda de quebra serei a concubina do rei das sombras — Elowen fixou os seus olhos em Annaelia — Me pergunto se ele já tem uma consorte.
[...]
Hestia estava a caminho de seu quarto, murmurando sobre como Galrian a deixou irritada por ter desligado na cara dela.
Ela ouviu gemidos do quarto ao lado, parou e colocou os olhos na fresta. Arregalou os olhos e se afastou.
— E-eu não acredito... — disse — Adrian...
Hestia começou a correr em direção ao seu quarto, abriu a porta, entrou e fechou a porta. Encostou-se na porta e colocou a mão direita na boca.
— Ele é a empregada... — murmurou.
Ela olhou em direção à sua escrevinhada, se aproximou e começou a procurar papel e caneta.
Iniciou a escrita de uma carta para Elowen, com a esperança de que ela cessasse a guerra contra Galrian, carimbou-a com o brasão real e retornou próxima à porta.
Ao tocar na maçaneta, foi surpreendida por Adrian, que abriu a porta.
— Oh? O que é isso, querida? — ele pegou a carta da mão dela e olhou.
— I-isso é uma carta para a minha tia.
— Com o destinatário Elowen Ainsworth? — ele mostrou a frente da carta.
— E-eu...
Ele abriu a carta, leu o conteúdo e depois a rasgou. Seus olhos brilharam em vermelho enquanto Hestia engolia em seco.
Ela sentiu uma mana assustadora emanar de Adrian, deu alguns passos para trás até a antiga espada de Galrian. Ele se aproximou dela e segurou no braço esquerdo dela.
— Acho que vou dar um castigo em você, querida.
Hestia arregalou os olhos enquanto seu corpo começava a tremer.
[...]
Senti uma leve pontada em meu peito direito enquanto estava ao lado de Arya.
Nós dois estávamos no campo de treinamento, já que Isael resolveu treinar Jules para a guerra.
Coloquei a mão sobre o peito, o que chamou a atenção dela e a fez mover os olhos em minha direção.
— tsc, o que foi isso? — falei enquanto olhava para Arya — senti uma pontada no peito agora.
— O que? — ela moveu a cabeça para o lado — Você deve estar preocupado por causa dessa guerra.
— Talvez, mas estou com uma sensação esquisita.
Arya olhou para a frente.
— Ei! Pensa rápido! — Isael arremessou uma pedra em minha direção.
As botas e luvas de sombras apareceram em mim, e soquei a pedra que se tornou em simples pedregulhos.
— Se vai lutar na guerra, é preciso treinar também, Galrian — Kay disse enquanto se aproximava.
— Vamos lá, eu também vou — Isael sorriu.
Arya e Jules se afastaram para um local seguro. Eu, Isael e Kay ficamos frente a frente, desativamos as botas e luvas que usávamos e assumimos cada um sua respectiva posição de luta.
Nos três sorrimos e saltamos. Eu chutei o rosto do comandante, e o punho direito de Isael atingiu meu lado esquerdo do rosto.
Nos afastamos e avançamos, dessa vez o rosto do comandante Kay foi acertado com os nossos punhos.
Ele foi arremessado em direção à muralha do castelo, se levantou com um sorriso e apareceu em nossa frente com os punhos prontos para acertar nossos rostos.
Eu e Isael levantamos nossas guardas e defendemos o soco que nos jogou alguns metros para trás.
— Vamos logo, vocês dois — ele disse.
Eu e Isael nos olhamos e seguimos na direção dele.
Chutei, e ele desviou por alguns centímetros. Isael ergueu seu punho e colidiu com o punho esquerdo do comandante.
Cai em pé atrás deles e criei uma esfera de sombras, a liberei em direção a Kay e Isael, que saltou.
Ele caiu ao meu lado, e a esfera de sombras atingiu em cheio o comandante, que saiu do ataque com apenas alguns arranhões, o que impressionou nós dois.
— Vocês são incríveis — ele sorriu e ergueu os braços — os mais fortes dos reinos, o rei das sombras e o herói dos punhos.
Jules e Arya estavam surpresas, enquanto eu e Isael apenas sorrimos em sua direção.
Continuamos a treinar até o pôr do sol, precisávamos ficar mais fortes para a guerra que se aproximava.
Treinamos até que eu e Isael desmaiássemos, assim como fazíamos antes.
Eu e Isael estávamos deitados no chão, e o Comandante Kay se aproximou de nós. Estendeu suas mãos, nós ajudou a nos levantar, e caminhamos de volta para o lado de dentro do castelo.