Volume 1 – Arco 5

Capítulo 47: Lua e Estrelas

Nada poderia se equiparar à felicidade de Seraphs naquele momento, dançava pelo quarto com suas vestes formais, os cabelos completamente brancos e longos voavam ao redor do corpo, em contraste com sua pele completamente preta. 

Estava trajada de uma blusa vermelha com uma longa saia da mesma cor, as costuras eram prateadas formando belos padrões que lembravam montanhas, talvez as que ela morava:

— É uma pena que não sabemos falar o idioma comum. — Ela se lamentou finalmente se sentando na frente da penteadeira.

Mizandra estava ali também, sentada com suas roupas também muito bonitas, praticamente do mesmo modelo, mas azuis, estava nervosa, torcia os dedos sobre aquilo.

E se aquela princesa humana fosse rude? E se ela não gostasse de elfos como sua família? Eram tantas coisas que sua cabeça parecia rodar e seu coração um tambor de tanto que batia:

— Eu deveria ter aprendido a falar comum. — Mizandra finalmente soltou aquilo, interrompendo sua irmã que lhe olhou sorrindo. — E se ela me odiar? 

Seraphs finalmente percebeu a ansiedade de sua irmãzinha, soltando tudo que estava nas mãos para se sentar perto dela, Seraphs tinha marcas pelo rosto e pescoço, mostrando que era uma elfa portadora de magia, assim como Mizandra:

— Ela nunca vai odiar você, é adoravel. — Seraphs abraçou a irmãzinha com carinho, sem ligar para amassar sua bela rouba, fazendo as pequenas pedrinhas que foram costuradas soarem fazendo barulho.

— Mas e se não for suficiente?

A irmã mais velha deu uma risada, beijando o rosto de Mizandra, sujando com o batom que usava, mas quando se afastou, passou os dedos limpando:

— Você se importa demais para uma criança, por favor, apenas se divirta numa festa de aniversário.

A porta do quarto finalmente se abriu, o irmão mais velho, Amashis, entrou. Vestia uma camisa longa de cor azulada, com pedrinhas prateadas formando padrões, uma calça mais justa preta e simples, o cabelo estava solto, caindo pelas costas, mas perfeitamente alinhado, como sempre era esperado:

— Que bela cena, mas já estão prontas? — A voz não era julgadora, era sempre aquela voz sempre calma, com o toque de superioridade sutil que ele tinha.

— Oh, você chegou. — Diferente da voz de Amashis, a de Seraphs sempre era animada e amável. — Pode me ajudar a colocar o véu?

— Vai usar ele hoje? — O irmão se aproximou vendo a outra se levantar para procurar o véu.

— Quero usar os cabelos soltos no baile de aniversário!

Seraphs entregou o longo lenço ao irmão mais velho, se sentou no banco da penteadeira, o reflexo dela era incomum, mas ninguém poderia negar, ela era belíssima.

A mais bela elfa do reino, simplesmente não existia quem pudesse se equiparar à beleza daquela garota.

Seus longos cabelos brancos foram presos num coque baixo, e então veio o véu, avermelhado mas ainda transparente, com detalhes prateados que brilhavam quando a luz batia. O véu foi preso no coque, e outras duas pontas nos anéis pratas que ela colocou em seus dedos maiores.

Os olhos de Mizandra brilharam quando viram a irmã pronta, desde as jóias, até o rosto emoldurado entre o véu belíssimo que usava:

— O que acharam? — Ela rodopiou com a roupa, sorrindo para os irmãos.

— Está linda.

— A mais linda de todas as jóias. — Amashis ofereceu a mão para sua irmã. — Vamos?

Seraphs deu uma risadinha, aceitando a mão do irmão para saírem do quarto, Mizandra pulou da cama para acompanhar seus irmãos mais velhos ao encontro do pai.



O nervosismo deles era visível, os três filhos estavam atrás do pai, o Monarca, muito bem vestido, mas menos pomposo e chique que estavam acostumados, sem a capa, sem a coroa, mas ainda sim… Ainda sim tinha ali toda a pose de alguém importante.

Estavam chegando de carruagem ao castelo dos reis humanos, torciam os dedos e então finalmente a carruagem parou:

— Chegamos. — A voz sempre calma do monarca chegou aos ouvidos dos filhos.

Mizandra levantou o olhar, Amashis respirou fundo e Seraphs finalmente parou de torcer seus dedos, colocando no rosto seu mais belo sorriso, aquele que usava para agradar quem estava ao redor e acalmar sua família.

Seraphs era o extremo oposto de sua irmãzinha mais nova, enquanto a mais nova tentava colocar uma expressão minimamente neutra no rosto, mas o nervosismo não deixava, já Seraphs continuava com seu belo sorriso tranquilizador:

— Primeiro quem desce é Amashis, depois Seraphs e por último Mizandra, lembram a ordem? 

— Sim. — Os três falaram para o pai.

A porta da carruagem foi aberta, como combinado, o primeiro filho, Amashis, foi o primeiro a descer, logo após, Seraphs que recebeu a mão do irmão para descer com toda sua graça, e por último Mizandra, que quase tremia, mas apertava as mãos atrás do corpo para evitar aquele constrangimento, por último o pai.

De frente para a família real de elfos lunares estava a família real do reino de Serphs: Ricardo, o patriarca e rei estava à frente deles, com suas roupas sempre vermelhas, símbolo do regente do reino de Serphs, Elengaria estava logo ao lado dele, com seus cabelos brancos sempre soltos, caindo por seus ombros desnudos, usava sempre tons de lilás ou rosa, e sua filha Eliassandra acompanhava nessa paleta com um vestido rosado e leve.

 Ana Bael estava à direita, seus cabelos castanhos trançados caiam pelos ombros nus e pelo busto visível, seus olhos esverdeados eram sempre amáveis como seu filho Ian, usava verde, um belo vestido justo em um verde floresta, já Ian usava uma camisa abotoada verde com detalhes em dourado.

 E sozinho, à direita, estava Ferrer, trajado com calças brancas e uma camisa azul de mangas longas e detalhes brancos tanto na gola quanto na manga, Leopolda, sua mãe estava se sentindo mal naquela manhã e não pôde comparecer a essa recepção, coisa que preocupava seu filho único:

O monarca élfico sorriu ao ver o monarca humano:

— Meu caro amigo, há quanto tempo.

— Clarenity, digo o mesmo, caro amigo.

Agora ambos já falavam no idioma comum, coisa que as duas garotas não sabiam, e o primeiro príncipe entendia vagamente, então os três ficaram calados.

Mizandra olhou para a família, passando os olhos pelos membros, todos os filhos tinham olhos cor de sangue, seria uma prova de paternidade? Não sabia dizer, mas sua análise parou sobre a pequena princesa, Eliassandra se não falhava a memória, os olhos eram diferentes, um deles era cor de sangue, o outro lembrava um céu meio estrelado em tons de amarelo e azul, e aqueles olhos… Se focaram nela.

A princesa élfica não sabia o que falar, nem fazer, olhou para sua irmã que não estava prestando atenção, então tomou coragem e acenou para a outra princesa.

E quão grande foi sua surpresa quando aquela princesa do reino de Serphs se aproximou de si, segurando o vestido para fazer uma reverência:

— Prazer altezas, sou Eliassandra, terceira filha de Serphs.

Tanto Mizandra quanto Seraphs arregalaram os olhos em surpresa quando a princesa respondeu se apresentou em élfico, carregado e cheio de sotaque? Sim, mas ainda sim…

— Você nos entende? — Seraphs falou completamente desacreditada naquilo antes de sorrir largamente, se abaixando na altura da menina: — Sou Seraphs, essa é minha irmãzinha Mizandra.

Tanto a família do reino de Serphs quanto a élfica estavam surpresos com aquilo:

— Não sabia que sua filha mais nova falava nosso idioma nativo. — O monarca élfico declarou após o choque inicial, sorrindo para a cena.

— Nem eu sabia. — Ricardo admitiu tão surpreso quanto, como poderia não estar?

Eliassandra era mesmo uma caixinha de surpresas sem igual, mas agora… Ela havia trapaceado.

O idioma élfico era simples para Eliassandra, aprendeu na vida anterior e agora usava como um trunfo escondido, ao menos podiam conversar mais facilmente com as duas, ao menos ela achava que seria algo bom, mas a outra princesa mais nova, Mizandra, a encarava fixamente a princesa humana.

Como ela aprendeu aquele idioma e ela não sabia comum?! Aquilo parecia ferir profundamente seu orgulho como ser alguém inteligente, que sempre se considerou, e agora ela… Sendo até mais nova, conseguiu aquilo tão facilmente?

Tentava não demonstrar muito toda sua inveja, mas ainda sim era uma criança e suas expressões era fáceis de ler, quer dizer, para seus dois irmãos que a conheciam, para Eliassandra, ela sequer sabia o que estava acontecendo:

— Bem, se nossos filhos podem se comunicar minimamente, por que não os deixamos juntos para dialogarem? — O monarca élfico sugeriu com aquele sorriso calmo.

Ferrer pareceu entender aquilo como um pedido para ficarem sozinhos, não tinha a facilidade de sua irmã mais nova para aquele idioma, mas se aproximou dos três irmãos, estendendo a mão para a princesa élfica:

— Senhoria Seraphs, poderia nos acompanhar? — Ferrer tinha um sotaque ainda mais forte que sua irmãzinha, ele não sabia muito, apenas algumas expressões mais básicas.

Os olhos esbranquiçados de Seraphs se arregalaram antes de brilharem de animação:

Sim! Quer dizer… Sim, por favor. — Conseguiu falar em comum, aceitando a mão do príncipe humano.

Amashis encarou aquela cena no mínimo curiosa, os olhos do mais velho encontraram os do pai, que acenou com a cabeça para acompanhar os dois.

Ian se aproximou também, mas agora tinha algo que apenas dois iriam conseguir lidar: Traduzir as conversas.

Eliassandra já previa a dor de cabeça que iria ter de agora em diante, estava tentando não se arrepender daquilo, respirou fundo e voltou sua atenção para a princesa Mizandra, olhando a marca que estava no seu rosto. Sabia pouco sobre os elfos do pico da lua, sempre foram misteriosos para si:

Quer dar uma volta, alteza? — A princesa humana ofereceu com toda sua cortesia que aprendeu naqueles anos.

Mizandra procurou com os olhos seus irmãos, mas sua irmã mais velha já estava abraçando o braço de Ferrer, tentando trocar palavras com ele, mesmo que fosse estranho e difícil para ambos.

Já Ian estava ali apenas para acompanhar os dois, e já tentava conversar com Amashis, mas aquilo soava quase constrangedor:

Sim, alteza. —- Mizandra finalmente aceitou.

Mas seus olhos ainda fuzilaram as costas da princesa, sentia nele um ar de arrogância sem igual, os ombros não estavam caídos, tinha uma superioridade que não conseguia identificar.

Tentava não demonstrar muito sua raiva, como ela sabia aquele idioma? Desde que se lembrava, os elfos sempre foram afastados do resto das raças, e aquela criança…

Quem parecia não se darem qualquer importância para aquele fato que corroía a pequena elfa eram Ferrer e Seraphs, envoltos numa atmosfera divertida que apenas eles conseguiam entender.

Ferrer não entendia as palavras da garota, apenas uma aqui outra ali, mas acompanhava a risada dela, era como se mesmo sem palavras, conseguissem aquela comunicação:

—- Ei. — Eliassandra chamou a atenção de Mizandra.

A criança élfica ficou tanto tempo remoendo que  era inútil e que aquela garota era uma metida, mas a voz fria da princesa humana lhe tirou de seus devaneios:

— Você está bem?

“Você? Ela não me respeita?!” — Aquele pronome de tratamento enfureceu a princesa dos elfos, encarando a outra que tinha aqueles olhos frios sem emoção.

E aquele olhar… Lhe irritou ainda mais:

— Sim, estou. — Empinou o nariz, encarando a menina humana.

Olhando agora, ela com toda certeza era mais velha que a humana, e também mais alta, aquilo até fez seu coração bater mais forte com orgulho de que naquilo era “melhor” que Eliassandra, um orgulho infantil e ingênuo, mas o que esperar? Ainda era uma criança, afinal.

Mas quando os olhos se voltavam para Eliassandra de novo, só conseguia ver aquele olhar frio e sem interesse, como se não desse importância para a existência de Mizandra:

— Não precisa me dar tanta atenção, alteza, acho que tem outros convidados. — Mizandra soltou, com um toque de irritação, e essa irritação apenas piorou vendo o rosto de Eliassandra inclinar para o lado.

— Na verdade não.

Nem perceberam quando os quatro irmãos mais velhos já tinha se distanciado, andando mais a frente com aquelas risadas de pessoas que pareciam estar se entendendo mesmo sem falar nada:

— Ficamos para trás. — A voz de Eliassandra sempre estava naquele tom indiferente? Ela estava mesmo se achando tão melhor que ela por falar outro idioma?

Eliassandra, a princesa de Serphs parecia tão distante, e até mais madura que ela, como ela poderia ser assim? Aquele jeito era irritante, apertava os punhos tentando achar palavras para falar algo:

— Senhorita, quantos anos você tem? — E foi aquela garota humana que puxou assunto.

— Ah? Eu tenho sete. — A garota elfica disse meio perdida.

— Entendi, planeja entrar na academia Malial? — Mais uma pergunta direta.

A elfa ficou encarando a outra, tentando entender onde ela queria chegar, por que aquelas perguntas? No que ela estava interessada afinal? Os olhos estavam focados na princesa humana, enquanto Eliassandra esperava sua resposta:

— Eu não sei. Meu povo é bem… — Não sabia a palavra que usar naquele momento. — Mas temos boas escolas de magia, então…

— Eu espero que estude lá, você parece ser legal. — Eliassandra começou a andar.

Mizandra não teve qualquer escolha, então apenas aceitou a seguir, não tinha para onde ir, seus irmãos já tinham sumido de vista, e aquela menina parecia conhecer o local:

— Como você sabe…

— Você já sabe magia não é? Pelas marcas no rosto.

— Como você sabe disso tudo?

Mas a pergunta caiu em ouvidos mudos, pois Eliassandra já estava colocando os dedos nos lábios e puxando um assobio alto.

Mais uma vez, Mizandra sentia-se desrespeitada, aquela garota nada respondia, não parecia que estava realmente interessada no que ela tinha a dizer!

Se perguntava qual era o problema de Eliassandra, mas seus olhos se focaram em algo correndo pelos jardins, era azul, e parecia um… Coelho?

— O-O que?

— Esse é o o Lynn, ou a Lynn, não sei ao certo. — A princesa humana pegou o coelho azul nos braços, mostrando para Mizandra. — Ele parece algo das estrelas, achei que você soubesse algo dele e… Na verdade pensando bem parece meio preconceituoso.

Mas Mizandra não estava mais se importando, com o que a mais baixa falava, seus olhos brilhavam com o animalzinho novo que nunca sequer tinha visto:

— Posso fazer carinho?

Agora foi a vez de Eliassandra ficar surpresa, mas acabou sorrindo, entregando Lynn para que Mizandra segurasse e fizesse carinho sem muitos problemas.

Nunca tinha visto um elfo tão de perto, ainda mais os do Pico da Lua, agora podia olhar uma tão de perto, como seria tocar nas suas orelhas?

Se conteve naquilo, não queria causar qualquer desconforto enquanto a pequena elfa brincava com o coelho, não sentia qualquer simpatia por Mizandra em si, mas lá no fundo, sentia algo semelhante à admiração.

Aqueles momentos, vendo outras crianças tendo o que nunca teve em sua vida passada lhe davam um pouco de inveja, e também uma vontade de lutar para continuar tendo aquilo, se pegou encarando demais a princesa antes de virar as costas e começar a andar:

— Vamos, seus irmãos devem estar preocupados. — Disse apenas, não dando mais nenhuma explicação sobre aquilo.

Andava na frente, quase deixando Mizandra para trás, mas a mesma bufou, bateu e o pé e correu atrás da princesa humana, como ela pode ser tão mau educada?

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