Volume 1 – Arco 1
Capítulo 7: Uma decisão
dia parecia mais pesado, Ricardo não encontrava o momento certo para falar com sua esposa sobre aquela proposta do dracônico, mas ela parecia recusar sempre que o assunto parecia ser mencionado.
Entendia que ela era a mãe, seu primeiro filho, mas Eliassandra estava doente, desacordada, e precisavam de ajuda especializada que eles não podiam se dar o luxo de esperar demais, Quevel tinha hora para voltar para casa afinal.
Elengaria ora estava ao lado da filha desacordada ora no templo rezando aos deuses pela sua pequena princesa, e Ricardo apenas deixou que dois dias passarem, observando sua esposa ficar cada vez mais sem esperança, pois nenhum outro médico parecia saber tratar aquela condição.
Mas ao terceiro dia não pôde mais esperar, tinha recebido um aviso do dracônico: ele iria embora na manhã do quarto dia.
Entrou no quarto de sua esposa que tinha acabado de tomar banho, e já estava pronta para voltar para sua vigília ao da filha:
— Elen, tem um minuto?
— Eu preciso render a Leopolda…
— Eu vou deixar Quevel levar Eliassandra. — Interrompeu.
Foi um choque, sabia disso, mas precisava chamar a atenção da albina, que parou seu movimento no ar, virando o rosto para encarar o marido como se não reconhecesse mais o homem à sua frente:
— Como disse?
— Agora você está prestando atenção? Ótimo.
— Você não pode tomar uma decisão dessas sozinha, ela é minha filha Ricardo.
— Ela é minha filha também, Elen, tão minha quanto sua, e você não pode tomar a decisão de não tratá-la sozinha.
— Eu não vou mandar minha filha para longe. — Elengaria parecia ter encerrado a conversa, apenas voltando a olhar seu reflexo no espelho.
— Nossa filha Elen, ela é nossa filha.
— Então por que quer mandar ela pra longe? Ela precisa ficar com a família!
— Por que ela vai morre!
Aquela frase fez a rainha parar, olhando para o marido em completo choque, a boca tremia levemente como se fosse falar algo, mas nada saía, até o rosto se contorcer em uma careta de choro e as lágrimas começarem a cair, Ricardo abraçou a mulher, apertando contra si.
O corpo de Elengaria tremia em soluços violentos enquanto chorava nos braços de seu marido, sua filha, seu pequeno milagre estava doente, uma condição que não poderia tratar perto de si, isso lhe dava medo, aflição, dor física.
Não queria acreditar nisso.
Era doloroso sentir que sua filha precisava se afastar para ficar bem, não queria acreditar naquilo, queria ela perto de si:
— Eu não vou suportar isso, Ricardo, minha filha não …
Ela tentava falar mais, mas as palavras ficavam muito complicadas de sair entre soluços, Ricardo sentia seu peito doer, mas era necessário, temia pela vida de sua filha mais nova.
Pela vida de sua pequena princesa.
Demorou vários minutos até que o choro parasse, mas ela não soltava o marido, uma decisão precisava ser tomada, mas não queria… Não agora:
— Eu gostaria de uma xícara de chá quente.
— Eu vou fazer pra você. — Ricardo garantiu, mas não soltou a esposa.
Queria ficar ali com ela um pouco mais, no fundo também precisava daquele conforto, era sua filha afinal.
Sua pequena princesa que poderia nunca mais acordar e aquilo o aterrorizava demais, nada o preparou para aquele momento, se é que tinha como se preparar para aquilo, nunca ouviu falar sobre algo parecido.
Sabia que os servos rezavam dia após dia pela princesa, mas não só eles, suas próprias esposas também se esforçavam para isso.
Ao lado do grande castelo tinha um templo para os deuses locais, uma igreja por assim dizer, e lá estava Leopolda, de joelhos e mãos juntas após oferecer um incenso para a deusa mãe, pedindo segurança pela sua princesa, sua quase sobrinha como considerava.
A Mãe, como chamava, era a deusa mãe dos outros deuses, uma mulher de corpo gordo de uma mulher que já teve muitos filhos, era a deusa protetora de todas as mães e crianças. Para ela que Leopolda rezava sempre que podia.
Escutou passos se aproximando, reconheceu imediatamente quando Ana Bael, com seus passos sempre ligeiros, se ajoelhou ao seu lado:
— Bom dia. — Ana saudou.
— Como ela está?
— Ainda não acordou. — Respondeu simples, juntando as mãos para também rezar.
Ficaram ali em silêncio, ambas em seus próprios pedidos por ajuda àquela criança moribunda que não acordava de jeito nenhum, aquilo angustiava as duas tias que não sabiam o que fazer.
Após quase uma hora de reza, Leopolda se levantou, em sinal de humildade, não usava qualquer jóia, apenas um vestido cinza de tecido simples e pesado. A consorte se sentou num dos bancos, olhando para o altar em reverência à Mãe.
Parecia que aquilo estava testando até mesmo sua fé, pois nunca foi muito religiosa, e agora estava aqui, rezando por uma criança:
— E o médico dracônico? — Ela perguntou quando Ana se ergueu.
— Ele quer levar a Elia para longe.
Mais uma vez Leopolda ficou em silêncio, com sua expressão apática e olhar distante.
Ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo, mas era grave, quase duas semanas que Elia foi encontrada quase sufocando naquela gosma preta e ainda sim não acordou:
— Nunca pensei que o veria de novo.
— Você conhece ele? — Leopolda perguntou encarando Ana Bael.
Ana Bael acenou com a cabeça, sorrindo para Leopolda, sentando-se ao seu lado:
— Quevel foi um dos guerreiros mais violentos que já vi, um dos poucos que bateu de frente com aquela maga monstro e voltou vivo.
— Aquela maga… Ana, você chegou a vê-la?
Ana negou com a cabeça, sequer chegou perto daquela pessoa:
— Não tenho uma aura, não posso usar magia, então normalmente eu não iria para a linha de frente dos magos.
Apesar de uma guerreira, numa guerra como aquela Ana não poderia atuar contra os magos, então não teve qualquer contato com aquela maga inimiga, apenas histórias que outros contavam:
— Acha que Elengaria e Ricardo vão deixar Elia receber esse tratamento? — Ana perguntou após um longo silêncio
— Eu espero que sim, afinal ela realmente precisa ser salva. — Leopolda respondeu com calma.
— É a escolha racional.
— Você tomaria essa decisão?
Ana ficou calada mais uma vez, encarando o altar de Mãe, com um olhar pensativo e distante:
— Eu não sei. A situação de Elen é algo que nunca imaginei.
— E como estão as conversas no castelo?
— Todos estão preocupados com a princesa mas…
— Mas…
Mais uma vez o silêncio de Ana, pensativa sobre se falava ou não com aquilo para Leopolda:
— Eu odeio quando você fica desse jeito após perguntarmos algo importante. — Leopolda repreendeu.
— Estão dizendo que talvez fosse bom afinal…
— Ferrer vai ascender ao trono.
Leopolda completou finalmente se levantando, como se a conversa tivesse sido encerrada:
— O que acha disso?
— Eu não acho nada, Eliassandra é a herdeira, meu filho terá outro papel no reinado dela, e eu não admito ninguém falando besteiras do meu filho ou da minha enteada.
Ana Bael deu uma risada, olhando para a outra consorte mais alta, seu olhar era divertido e amoroso:
— Você chamou ela de enteada. — Cantarolou aquilo se divertindo com aquilo.
— Ah vai se catar, Ana.
Leopolda marchou para fora do templo, deixando Ana Bael sozinha, que voltou a se ajoelhar para rezar pela sua enteada, e também pela rainha Elengaria, talvez nessa confusão, a rainha era a que mais precisava de apoio.
Finalmente uma decisão foi tomada.
E a decisão surpreendeu até mesmo Quevel, que estava pronto para ir embora naquela manhã:
— Então a criança vai comigo? Achei que iriam rejeitar minha oferta.
— Confiei minha vida à você uma vez Quevel, não existe pessoa melhor para cuidar de Eliassandra melhor que você. — O rei Ricardo sorriu de forma triste.
Elengaria tinha olhos inchados de tanto chorar, claro que estava completamente abalada pela partida de sua filha:
— Eu não posso ir junto mesmo? — A voz de Elengaria era tremida, as mãos também tremiam enquanto movia elas.
— Infelizmente a viagem até meu local de trabalho é complicada, precisaria proteger sua filha e você. — O dracônico agora com sua aparência mais humana falava. — Seria inviável.
Elengaria não queria deixar, mas Ricardo a convenceu que seria a melhor escolha, a escolha que ela poderia sobreviver, afinal não tinha ninguém no reino que poderia tratar sua filha. E queriam mantê-la viva:
— Bem, se quiserem uma garantia a mais, podemos reafirmar um pacto de servidão. — Quevel sugeriu aquilo estendendo a mão para Ricardo.
O rei sorriu e empurrou a mão do dracônico de volta:
— Eu confio em você.
— Minha rainha? — Ele ofereceu o mesmo pacto a Elengaria.
A rainha sorriu, segurou a mão de Quevel e beijou seus dedos com respeito:
— Cuide bem do meu milagre senhor Quevel.
O dracônico desviou o olhar, mas bufou soltando uma fumacinha, pareceu sem jeito com aquela confiança toda daquele casal em si:
— Certo, mas mesmo assim será melhor mantermos contato, então preparei um pequeno presente.
Tirou de dentro da bolsa enorme que carregava para todo lado uma bola de cristal azul e entregou a Elengaria, era tão bem lustrada que podia ver seu reflexo distorcido pela bola:
— Isso é uma bola de cristal, pode falar comigo pela que eu tenho lá no meu laboratório, onde vou tratar sua filha.
— Obrigada, isso significa muito para mim. — Ela abraçou a bola contra seu peito, adorando aquilo. Assim poderia se comunicar com aquele que estava cuidando da sua filha.
Quevel esperou que se despedissem da garotinha desacordada, os olhos da criança ainda estavam fechados mas ao menos parou de tossir. O corpo pequeno estava todo enrolado em mantas pesadas, à pedido de Quevel, seria mais seguro para ele transportar assim:
— Então vai usar magia para transportar minha filha? — Ricardo sugeriu.
— Magia?
O dracônico sorriu, então as asas escamosas de dragão se abrirem, em um tom vermelho assim como suas escamas, se aproximou da garotinha ainda desacordada e a pegou nos braços:
— Eu vou curar sua filha.
Com aquela garantia, Quevel bateu asas voando para longe do reino de Serphys
Finalmente Ricardo deixou as lágrimas caírem pelo rosto, demonstrando toda aquela preocupação, sua pequena filha estava indo para longe, mesmo que confiasse em Quevel ainda tinha medo.
E se ela nunca acordasse?
Aquele medo lhe consumia, mas precisava ter fé e confiar naquele que um dia lutou para deter aqueles magos de continente inimigo.
Ficou parado ali com sua esposa, olhando aquele homem dragão sumir no horizonte com sua filha ainda desacordada:
— Que os deuses os protejam.
— Eles irão. — Ricardo garantiu. — Eles irão.
Precisa acreditar que sua filha voltaria bem, ela só tinha 3 anos, quatro não completos e já parecia passar por tanta coisa, e agora ia para longe de sua família, sem qualquer proteção.
Quevel era confiável, voava numa altura segura, às vezes o corpo de Elia tremia com suas tosses, às vezes leve, às vezes mais violentas de modo que precisava abraçar mais aquele corpinho pequeno contra o seu.
Não iria para o reino dracônico, na verdade sua “casa”, por assim dizer, era na floresta negra, ainda mais dentro dela, na parte mais adentro da mesma. Pousou na entrada da floresta, iria seguir o caminho andando.
Como o nome já dizia, a floresta negra era um lugar com pouca luz, mesmo durante o dia era difícil andar por ela sem conhecer bem onde pisava, que não era um problema para Quevel que já conhecia bem o local, passando por cada raiz alta, cada pedra que não saia do lugar até finalmente chegar a uma pequena cabana no meio da floresta:
— Eu voltei. — Anunciou o dracônico abrindo a porta.
A cabana era cheia de coisas por dentro, logo passos puderam ser ouvidos quando um garotinho de cabelos negros e dentes afiados apareceu sorridente, ele parecia ter uns seis anos humanos, mas de acordo com o tamanho de draconicos deveria ter uns três ou quatro anos no maximo:
— Senhor Quevel! Demorou, quem é essa? — A fala era rápida, andava ao redor do mais alto que acabou rindo.
— É a princesa do reino humano, ela está doente e precisa de tratamento.
Quevel caminhou até uma cama vaga e colocou a criança humana ali que logo tossiu de novo fazendo o corpo tremer e chacoalhar de novo, o garotinho correu para ver a criança que era menor que ele:
— Ela é tão pequena, e parece frágil. — Comentou olhando o corpinho fraco.
— Ela está doente, mas humanos são pequenos mesmo, é a primeira que você vê, não é?
— Sim, nunca vi, eles sempre são assim? Pequenos? — Ergue a mão para tocar o rostinho da criança adormecida.
Mas a criança tossiu violentamente de novo, cuspindo aquela gosma negra fazendo ele se afastar no susto. Quevel deu uma risada daquilo, se aproximando para fazer carinho nos cabelos da criança dracônica:
— Eu disse, doente.
O dracônico mais velho começou a andar pelo quarto, procurando algumas coisas para ajudar nas coisas:
— Ela vai ficar aqui em tratamento?
— Sim, para um amigo próximo.
Quando achou o que queria o médico se apressou para fazer algumas inscrições no chão então puxou uma banheira de madeira pro centro daquelas inscrições:
— Por favor, pegue as ervas, vamos fazer um ritual de purificação.
— Vamos? — Os olhos da criança brilharam.
Mas Quevel suspirou quando ele pareceu muito animado:
— Você ainda não sabe como fazer esse ritual de purificação é difícil, muito difícil, Ahrija.
O médico mágico voltou a se aproximar a criança que ainda tossia desacordada, o seu pupilo, ou seja lá o que aquele garotinho era, começou a jogar as ervas dentro da água cristalina. Quevel logo voltou com o corpo desnudo da criança para colocar delicadamente na água:
— Pode ficar para observar.
O mais velho instruiu antes de se abaixar e por suas mãos sobre as inscrições, passava sua mana para aqueles símbolos escritos começaram a brilhar em cores diversas até ficar branco. Linhas brancas de energia começaram a subir pela banheira até que o corpo da criança começou a ter essas mesmas linhas.
Demorou alguns minutos até a primeira vomitada daquela gosma preta sair, as linhas ficavam numa coloração escura pelas partes do corpo que ainda tinham impurezas, quase todo ele na verdade, apenas o rosto elas estavam brancas como deveriam, mas Quevel não quis continuar, parou o ritual e se levantou até a criança, a tirando da banheira:
— Jogue essa água fora, o corpo dela é frágil, não seria prudente continuar com isso.
— Humanos são tão frágeis.
Quevel sorriu com aquela fala de seu “pupilo”, para ele, tanto Ahrija quanto Elissandra eram pequenos e frágeis.
O corpo já vestido de Elia foi colocado na cama, ela ainda não estava se movendo, mas respirava, teria uma longa trajetória para se livrar das impurezas e que ela finalmente despertar.
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