Volume 5
Capítulo 250.1: Sophiette Verdadeiro
Três carruagens deixaram a vila, todas seguiam na mesma direção: o orfanato da irmã Rose.
Wilberg andava com o coração partido. Se deixasse o remorso consumir a sua alma, acabaria tirando a própria vida com a espada carregada em mãos.
Um pé após o outro, subiu uma pequena colina, a partir dali, não conseguiria mais visualizar a sua vila — nem deixaria que os outros a encontrassem, pois usou um feitiço de ocultação.
Só podia rezar para que a pequena Luminus tivesse uma viagem tranquila.
Sabia que a vida dela jamais seria a mesma, ser desprezada pelos pais e não poder contar com o apoio de alguém que considerava como um avô foi um golpe cruel demais para aquela garotinha.
Mas foi tudo para a segurança dela.
Tudo que Wilberg fazia era para proteger os seus, ele jamais trataria Luminus daquela maneira se não fosse a última opção, preferia a morte àquilo.
— Revele-se, demônio dos infernos, eu sei que você está aí — rugiu o ancião com fúria, brandindo a sua lâmina fina.
Aquilo em suas mãos era um Tesouro de Karllos Sophiette, uma arma capaz de prender a alma de qualquer ser no seu fio — era de uso único.
— Oras, isso não é maneira de se falar com uma dama como eu. Vamos lá, seja mais gentil, isso foi bem rude, Grande Ancião.
Ao escutar aquela voz, seu corpo tremeu.
Quando mais jovem, Wilberg Sophiette lutou em diversas campanhas, enfrentou desde humanos de corações impuros a semi-divindades, mas jamais se sentiu tão intimidado como naquele momento.
Aquele inimigo adiante não era como os outros, era como se seu ser fosse composto apenas pela maldade.
Azazel van Elsie era a encarnação do mal.
A demônia repousava no alto de uma árvore. Ela esteve ali por todo o tempo, mas Wilberg não podia vê-la, aquele ser vil conseguia manipular todos os sentidos dos humanos.
— Você não vai facilitar as coisas para mim, não é? Eu só quero a Reencarnação de Astarte. — Azazel saltou e aterrissou no chão graciosamente, deixando o seu vestido subir de propósito. — Ops! Você viu algo?! Kyaaa! Que velho safado!!! Parece que você ainda não broxou de tudo.
O homem só pôde entrar em sua base de combate.
Aquela criatura não levava nada a sério, o mundo era um grande playground onde ela podia fazer o que lhe desse na telha, nunca haveria consequências, pois nem os deuses ou budas poderiam puni-la.
Sem perder mais tempo, Wilberg avançou. Ele faria aquele trabalho de aplicar punições pelas divindades.
Quanto mais tempo escutasse aquela coisa, mais seus sentidos seriam afetados, ele não podia hesitar e deveria matá-la o mais rápido possível… ou pelo menos ganhar tempo suficiente para Luminus chegar ao orfanato.
— Que selvagem!
A demônia chutou o chão com força e tomou distância, saltando apenas com uma perna ao longo da colina.
Novamente, ela apenas brincava, queria cansar o oponente para humilhá-lo ainda mais.
O Grande Ancião cerrou os dentes e parou de segui-la, só estaria desperdiçando sua energia. Ao invés de continuar a perseguição irracional, estendeu as mãos e juntou mana nas pontas dos dedos.
Zap!
Cinco raios finos seguiram na direção de Azazel van Elsie, as luzes voaram em uma velocidade que poucos conseguiam acompanhar com os olhos e explodiram no ar.
— Minha nossa, seu ataque consegue passar pela minha Área de Ação e Reação… isso quer dizer que você me penetrou? Espero que esteja pronto para assumir a responsabilidade por isso.
Wilberg ainda não deu atenção para os dizeres vulgares dela.
Ele juntou mana nos pés e usou toda a sua força para usar o Deslocamento Relâmpago e surgir nas costas de demônia, pronto para dar um golpe que a decapitaria.
— Vamos lá, não seja tão precoce, não precisamos terminar tão rápido — retrucou a coisa.
Com um giro rápido, Azazel ficou em frente ao oponente e usou as unhas afiadas para segurar o golpe da espada.
Mas unha e fio nunca se tocaram.
O homem recuou ao ver aquele movimento estranho.
Caso cortasse o seu inimigo, a alma dele ficaria selada eternamente dentro da espada, por que alguém tentaria usar uma defesa com uma parte do corpo?
Ela tinha algo em mente, por isso não ousou tocá-la de maneira tão descuidada. Estudaria mais, tinha uma ideia aproximada do plano dela.
Enquanto a demônia o subestimasse, teria uma chance.
Se tivesse que colocar em números, diria que Azazel não usou sequer 5% do seu poder verdadeiro, ela estava fora do alcance das pessoas comuns.
Outrora, Wilberg fora um campeão que lutou diversas vezes e teve uma taxa de sucesso muito alta. Em seu ápice, não havia ninguém capaz de derrotá-lo em todo o mundo.
Mas estava velho, viver tanto tempo pacificamente o deixou enferrujado.
Mesmo sendo um Sophiette, possuía seus limites.
— Já está jogando a toalha tão cedo? Vamos lá, você ainda tem vigor, sei que sou deliciosa, mas você pode comigo, apenas se esforça mais!
— Ahhhhhhhhhhh!
Rugindo mais uma vez, avançou. Decidiu que pelo menos aleijaria aquela demônia, já que ia morrer mesmo.
O que pensou antes é que havia a possibilidade de Azazel amputar um dos seus membros caso fosse tocada pela lâmina, e isso era bom.
Tirar uma mão ou um pé daquele ser já diminuiria seu poder, mas sua esperança era atingir a cabeça.
Vosh!
Cortes e mais cortes irromperam pelo ar.
A habilidade conhecido como Área de Ação e Reação daquela coisa não amedrontava Wylberg, uma vez que o fio tocasse sua oponente, era o fim dela.
Mas Azazel van Elsie era tão rápida quanto um demônio idaten.
Ela moveu o corpo para todos os lados, evitando o toque gélido e mortal da lâmina por pouco. Uma máscara cobriu aquele rosto bonita.
A dificuldade daquele combate acabou de aumentar.
O homem saltou algumas vezes e afastou-se, precisava tomar um pouco de ar antes da próxima salva de ataques.
Podia sentir dali um poder maligno emanando do artefato no rosto da inimiga, o objeto era dividido em duas parte, uma preta e outra branca, com os olhos e o sorriso macabro contrastando.
Muitos falavam sobre aquela máscara de bufão e o terror no coração causado por aquela que a usava.
Novamente, Wylberg avançou ignorando o medo. Ele não podia fraquejar, precisava garantir que Luminus estivesse longe o suficiente quando deixasse aquele plano.
Azazel continuou estática, ela poderia desviar facilmente após aumentar o seu poder com a máscara, mas a outra parte esperava continuar sendo subestimado após suas investidas falharem.
E quando fosse subestimado o suficiente, seria hora de agir.
Mais um rugido reverberou pela floresta, talvez os moradores da vila pudessem escutar aquilo.
Escamas marrons surgiram na pele do homem, sua pupila ganhou um novo formato e a íris foi preenchida por um amarelo vibrante.
Ping!
Saliva caiu da boca quando caninos enormes emergiram. O tamanho do corpo do homem também aumentou devido ao crescimento dos músculos.
Pôde ver uma leve hesitação surgir no corpo de Azazel. Até um deus ou um buda teria arrepios com aquela sede de sangue emanando do corpo de Wylberg.
— Sophiette Verdadeiro, hein? — Elsie murmurou enquanto tomava um pouco de distância daquela aura assassina.
Apenas um Sophiette digno poderia alcançar a forma, aquela aparência provava que era reconhecido pela sua progenitora e poderia pegar emprestado todo o poder do seu sangue para lutar.
Wylberg poderia matar uma Besta Divina com apenas um golpe naquele momento.
Mas aquela coisa à sua frente não recuou. Pelo contrário, ela só ficou mais interessada nele.
Vosh!
O homem, se assim ainda podia ser chamado, avançou na velocidade do som. A habilidade da demônia não podia ser mais inútil que naquele momento.
Um soco imbuído em mana seguiu na direção da inimiga e uma enorme explosão ecoou por toda a floresta, devastando a vegetação.
Árvores, rochas, troncos e alguns animais voaram como penas. Poucos seres conseguiriam sobreviver a um golpe daqueles… e Elsie era uma daquelas exceções.
Contudo, o Grande Ancião na forma de Sophiette Verdadeiro já esperava por aquilo e deu mais socos seguidos, cada golpe era uma explosão capaz de destruir reinos inteiros.
Hematomas começaram a surgir nos braços da demônia na defensiva. Notando aquilo, ela tentou saltar e tomar distância, mas foi agarrada por algo inesperado.
O seu inimigo possuía uma cauda, que escondeu para esperar um momento oportuno. Aquele membro segurou Azazel no ar e um punho aproximou-se em uma velocidade insana.
Crack!
O som doentio ecoou no ar e aquela coisa saiu voando pela floresta devastada.
Wylberg seguiu-a, ele não podia dar qualquer chance da demônia se recuperar, cada segundo era precioso, pois não podia ficar naquela forma por muito tempo.
Ele juntou as mãos e raios surgiram nas suas palmas.
Vosh!
Um raio surgiu e explodiu na sua oponente, fazendo-a ir bem alto e esbarrar no chão com força ao descer.
As roupas de Elsie não foram rasgadas e havia apenas poucas marcas em seu corpo, mas aquilo era suficiente.
Aproveitando-se do momento que a demônia tentou levantar, Wylberg rugiu como um louco e fez asas surgirem em sua costas.
Ele voou e deixou a gravidade fazer seu trabalho enquanto caía com a lâmina direcionada para o pescoço da demônia.
Tudo que foi escutado a seguir foi o som de carne sendo cortada.
A cabeça de Azazel van Elsie separou-se do corpo e rolou pela grama.
O homem ficou ofegante, mal acreditando no seu próprio feito.
— Isso é o que aconteceu quando subestima seus oponentes…
Ele mal conseguia estabilizar seu corpo. Estava velho, muito velho para usar aquela forma, sua energia vital era sugada de maneira absurda.
Balançou a espada e preparou-se para guardá-la.
Mas quando pensou que já poderia relaxar, sentiu algo anormal na sua lâmina. A arma… estava vazia ainda, nenhuma alma foi aprisionada ali.
Wylberg levantou o mais rápido possível e tomou distância do corpo da sua oponente. Só havia uma maneira de sobreviver a uma corte daqueles…
— Dullahan… quem diria que a Presidenta do Inferno seria uma raça de demônio tão insignificante assim.
Enquanto amaldiçoava seu descuido, Azazel, ou melhor, o corpo dela, pegou a sua cabeça no chão e a colocou de volta — nesse instante, uma risada sádica surgiu.
O homem na sua forma de Sophiette Verdadeiro ficou de joelhos ao sentir a aura esmagadora vinda daquele corpo esguio e obsceno. Ela elevaria o nível da luta, contudo…
Aquele era apenas 8% do poder de Azazel van Elsie.