Volume 4
Capítulo 217.1: Primeira Campanha De Sophiette
Novamente, estavam reunidos na sala de reunião.
Sophia havia convocado todos ali com emergência. Ao redor da pequena mesa de madeira, as principais peças do jogo doentio proposto por Azazel van Elsie mantinham expressões sérias no rosto.
— É o primeiro movimento dela desde o início da ditadura de Andeavor — começou a marquesa Sophiette. — A Presidenta do Inferno vai tentar tomar para si a cidade de Vim, sabem o que isso significa?
— Ela tá tentando nos cercar — respondeu Rhyan Gotjail.
A cidade em questão ficava nas proximidades das terras de Sophiette, no norte, mas para chegar até lá, Azazel van Elsie teria que dar a volta no território inimigo.
— A Presidenta do Inferno tem controle de quase toda região ao sul de Sophiette, porém o norte permanece intocado por conta da resistência dos jovens guerreiros — Sophia pôs o mapa de Andeavor sobre a pequena mesa, havia pinos vermelhos nas localizações citadas.
— Vim é conhecida por ter jovens bem habilidosos, a maioria dos aventureiros tem o Rank acima do C, não é de se impressionar que a demônia esteja tendo problemas com eles — comentou Linda, a antiga mestra de guilda de Grain.
A mulher que tomou a palavra era responsável pela zona sul de Sophiette. Ela gerenciava todos os aventureiros que se registravam na guilda improvisada do seu território. Se estavam tentando se manter como uma área independente, precisavam controlar a economia de tudo.
Recentemente, a “guilda de Sophiette” começou a pagar por missões simples. A estrutura deles era mais organizada que a antiga da vila Grain, tudo devido ao investimento feito pela marquesa.
Muitos aventureiros de outros países estavam tendo interesse em se juntar a eles, e isso era perfeito, pois havia uma regra para o registro de novos jovens: o aventureiro não poderia ser filiado à guilda de Nova Andeavor. Mesmo que o dano fosse baixo, estavam conseguindo enfraquecer a ditadura de Azazel van Elsie aos poucos.
— O norte é um local focado na agricultura, não temos estrutura para nos defender se eles tomarem a cidade de Vim e decidirem atacar primeiro o setentrião das terras de Sophiette — observou Brain, a responsável pela zona citada.
O mais provável era haver um espião ali que analisou com cuidado as quatro zonas de Sophiette e decidiu que seria mais fácil atacar a parte focada na agricultura.
Quase todos que viviam na zona da agricultura eram mestiços ou empregadas demônias, isso podia ter feito o espião pensar que não havia quase investimento direcionado para eles, mas era aí onde ele estava errado.
Todos admiravam Sophia por ser uma marquesa que se importava com o seu povo de verdade. Raça, idade ou sexo não interessavam para a nobre, tudo o que ela queria era transformar suas terras em um lugar que todos poderiam viver em paz.
Sua mãe, a senhora Sophys, pensava dessa maneira também. Quando Noah acordasse, a marquesa queria mostrar a ela o que essa terra tornou-se.
Sim, Noah, a empregada que considerava como uma filha, podia acordar a qualquer momento. Lao Shi usou magia nela, levaria um tempo até ela funcionar efetivamente, mas havia a garantia que em menos de uma semana a garota já estaria bem.
Quando escutou essa notícia, Sophia quase não conseguiu acreditar. Não tinha mais esperanças de um dia ver Noah novamente, mas, graças ao Arquifeiticeiro, poderia vislumbrar aquele sorriso inocente mais uma vez.
— Claro que Azazel não vai atacar depois de tomar Vim, — explicou a marquesa — ela é um oponente que pensa em todos os seus atos, seu objetivo é nos cercar e atacar ao mesmo tempo, mesmo que isso leve mais um ou dois anos.
— Eu não me envolverei nisto, estou aguardando o retorno da Besta Negra com notícias da mestra Astarte — falou O’Blood Renfield, já pronta para deixar a sala.
— Não se preocupe, já temos pessoas encarregadas de impedir a marcha dos soldados de Azazel, só queria que vocês ficassem cientes do que está ocorrendo, peço para que sejam cautelosos, principalmente você, Brain.
— Certamente serei, mas se mal lhe pergunto, senhorita Sophia, quem são os responsáveis por chutar a bunda do exército de Azazel?
— Orcus, Amélia, os jovens recrutas e os orcs trazidos pelo Arquifeiticeiro. Azazel provavelmente não sabe sobre eles, será um ataque perfeito se tivermos uma boa estratégia, porém…
— Há os rumores sobre a droga que a Presidenta do Inferno tem em mãos — completou Rhyan Gotjail.
Os espiões de Sophiette relataram sobre a aliança da demônia tirana com os traficantes de Fallen. Não se sabia muito por conta do cuidado que Azazel teve para tentar ocultar isso, mas era certo que havia um laboratório de pesquisas no castelo.
A própria segurança elevada e a cautela da demônia eram provas que apontavam que ela tentava realmente esconder algo importante ali. Se as drogas existissem, certamente Sophiette ficaria em desvantagem, mesmo com muitos guerreiros.
Certa vez, Sophia lutou contra Ruthy, a jovem que considerava Noah sua irmã mais nova. Aquela traficante jamais teve um treinamento intensivo ou qualquer coisa do tipo, mas conseguiu acompanhar bem os movimentos da marquesa em seu auge durante a luta.
O motivo por trás das habilidades da criminosa era nítido: ela usou muitas drogas que melhoraram seu físico. Se na época eles conseguiram fazer algo nesse nível, a droga em posse de Azazel poderia virar o jogo em instantes.
“Precisamos ficar atentos a todos os movimentos daquele monstro”, pensou a jovem olhando para as pessoas ao redor.
Lao Shi fora ajudar no campo de batalha, Dora que saiu para procurar “Rory” e Kastella Andeavor, o Demônio do Oriente, ainda estava a caminho de Dart. Um sorriso discreto apareceu no rosto da marquesa.
Ela jamais imaginou que algum dia fosse trabalhar com tantas pessoas. A única pessoa que importava em sua vida era Noah, não conseguia confiar nos outras, mas ali viu que ter companheiros podia ser algo bom.
Claro, havia pessoas como O’Blood Renfield e Kastella Andeavor, ainda não confiava nas duas demônias, mas tentava sempre se dar bem com elas.
— Ah, — Sophia chamou a atenção de todos de repente, eles quase alcançavam a porta — quase esqueci de falar… um dos nossos espiões dentro do castelo contou algo interessante ao Orcus.
Inri, a sacerdotisa da igreja da deusa Cecily, foi alvo do olhar curioso da marquesa. A Jovem e o ex-Santo Ávios Bishop normalmente ficavam em silêncio nas reuniões, eram quase imperceptíveis.
— Aparentemente, Azazel teve um encontro estranho com o líder dos Heróis Ádvenas de Saint Tower, conhecendo aquele menino, Lyllo, isso deve ter acabado com diminuição do patrimônio da demônia
Ao escutar o nome daquele menino, Inri engoliu em seco. A garota era uma Heroína Ádvena, apesar de não ter falado muito sobre sua origem, todos sabiam que o líder, Lyllo, tentou matar alguns dos Heróis, e Inri foi um dos seus alvos.
Sophia mais do que ninguém sabia a verdade por trás do poder dos Ádvenas, pois seu antepassado, Karllos Sophiette, fora o responsável por criar as dez armas usadas por eles. A Arma Divina de Inri era um grimório preso a um báculo, certamente o motivo da aliança de Lyllo com Azazel van Elsie era tomar para si aquela Arma Divina, quando Inri fosse morta.
— Lyllo está atrás de mim… — murmurou Inri após alguns segundos de meditação. — Para invocar um Herói Ádvena, é necessário ter em mãos a Arma Divina e esperar até a próxima Sucessão Lunar… eles têm uma arma em mãos, provavelmente vão querer tomar a minha antes da Sucessão Lunar…
— Você quer dizer que eles mataram um dos seus amigos e tomaram a Arma dele? — Rhyan perguntou um pouco curioso. Esse jovem, tão narcisista e orgulhoso antes, perguntou em um tom educado, demonstrando que entenderia se Inri não quisesse explicar.
Antes de responder, a sacerdotisa suspirou profundamente. Ávios Bishop, ao lado dela, mantinha uma expressão difícil no rosto, o tempo que passaram juntos gerenciando o leste de Sophiette fê-los amigos próximos.
— Era alguém bem importante para mim… não direi nomes, mas ele era o irmão da Heroína conhecida como a “Dama da Lâmina Cega”. Lyllo foi um covarde, por isso… — ela olhou de relance para Ávios, ao que ele respondeu balançando a cabeça, e voltou o olhar a dupla de nobres — por isso, marquesa Sophia e senhor Rhyan, eu gostaria de matar Lyllo com minhas próprias mãos!
O jovem mestre da casa Gotjail pôs um sorriso satisfeito no rosto. Sophia sabia que era de pessoas com esse espírito que o seu companheiro admirava, ele mesmo nutria um ódio mortal direcionado à pessoa que roubou a sua amiga de infância.
Em uma guerra, determinação era sempre importante, por isso os guerreiros de Sophiette possuíam vantagem. Todos de Nova Andeavor lutavam por medo de Azazel, enquanto os do lado da marquesa tinham alguém ou algo para proteger ou vingar.
Amélia, Rhyan Gotjail, Kastella Andeavor, Edgar… a lista era imensa, mesmo alguém como O’Blood Renfield possuía um ente querido.
— Perfeito, então precisamos agir, não poderemos derrotar Lyllo se deixarmos o exército de Azazel tomar Vim. — Sophia cerrou os punhos e encarou a mestra de guilda. — Linda, você consegue contatar os aventureiros de lá para juntarmos nossas forças?
— Tentarei o meu melhor, senhorita Sophia.
— Vou mandar um mensageiro avisar a Amélia que teremos reforços assim que eles confirmarem a participação. Pessoal, essa será a nossa primeira campanha, a primeira de muitas, então vamos estrear com chave de ouro, certo?
Ela não precisava que ninguém respondesse, pois a expressão de todos era suficiente. Sim, ao seu lado estavam os melhores, não apenas companheiros de guerra, mas amigos também.