Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 209.1: Serei Cauteloso, Baal

Os movimentos frenéticos mudavam a cor do cubo rapidamente. Os dedos pequenos, mas habilidosos, giravam o objeto com destreza, mas o mais assustador era a falta de expressão no rosto do garotinho.   

— Ei, coroa, ela ainda vai demorar muito? — ele perguntou com um sorriso maligno. Seu tom diabólico não condizia com a feição infantil.

— Mestra Azazel estava no laboratório de pesquisas, mas ela já está a caminho, peço para que tenha um pouco mais de paciência, senhor Lyllo — respondeu o mordomo que atendia pelo nome de Baal.

Esse homem tinha uma postura inabalável e voz firme, mesmo alguém como Lyllo não conseguiria irritá-lo como normalmente fazia com os outros adultos, fossem eles demônios ou humanos.

Poucos segundos após o mordomo fechar sua boca quase oculta pela barba branca cortada sob medida, a porta do salão abriu-se e a figura esbelta apertada em um uniforme de maid roubou a atenção de todos.

— Bastou falar no diabo — comentou o menino, olhando com malícia para o corpo obsceno de Azazel van Elsie. — Não é educado deixar os seus convidados esperando, tia. 

Baal franziu o cenho ao ver o tom de deboche usado pelo garotinho para se referir a Azazel, no entanto a demônia pareceu mal levar em conta as palavras ditas e sentou-se na outra extremidade da mesa.

— Lyllo, líder dos Heróis Ádvenas, fico contente que tenha aceitado meu convite para essa reunião. — A demônia estalou os dedos e Baal serviu-lhe uma xícara de chá. — Não lhe ofereço porque somos inimigos no momento.

Oh, se você não me chamou aqui para me matar envenenado com seus chás de quinta categoria, qual seria o tópico da vez? — ele falou em tom relaxado e voltou a brincar com seu “cubo mágico”.

O artefato que não deveria existir nesse mundo era um dos seus passatempos favoritos quando não tinha o que fazer, mexer nele revelava seu desinteresse em Azazel van Elsie.

— Gostaria apenas de lhe fazer uma proposta de aliança entre Nova Andeavor e Saint Tower. — Ela pegou a xícara com cuidado, usou a mão livre para afastar os cabelos negros e degustou a bebida quente. Seus atos lhe passavam um ar de dama nobre, quem não a conhecesse pensaria que ela era alguém da mais alta classe, apesar de isso não ser totalmente mentira. — O que me diz?

— O poder subiu tanto à sua cabeça que apertou os seus neurônios? — Lyllo depositou o brinquedo em mãos sobre a mesa e encarou Azazel com dúvida. — A demônia que traiu até mesmo o Conselho do Inferno está tentando propôr uma aliança, esqueceu que apenas a minha aparência é de criança?

Azazel van Elsie sorriu e colocou sua xícara com elegância sobre a mesa. Os olhos vermelhos e sedutores miraram o garotinho à frente e a boca banhada em um batom forte começou a mover-se:

— No nosso tabuleiro atual, há muitas coisas fora de ordem para o xeque-mate, sabia? Há algumas peças bem incômodas impedindo o avanço de meus peões, mas posso dizer que há 7 Pilares neste jogo; eu e você somos um deles.

Um sorriso presunçoso formou-se no rosto de Lyllo, finalmente Azazel atraiu a sua atenção, a prova disso foi o ato dele guardar o seu cubo mágico e depositar toda a sua atenção na mulher à frente. Eles eram iguais nisso: ambos gostavam de tratar tudo como um jogo de tabuleiro.

— Sophia Sophiette Sophys III, logicamente, é o terceiro pilar, podemos dizer que é a rainha do time humano — continuou Azazel. — O quarto pilar é Kawaii Kyuto.

— A que usou a Voz do Mundo, não é? Eu tava dormindo quando isso aconteceu, queria ter presenciado tal cena. Quem são os outros?

— O Rei Demônio, ou quem quer que esteja liderando o Conselho do Inferno atualmente, eles têm algo em mente para não terem tentado me tirar do cargo de Presidenta ainda. Em sexto lugar, temos nosso querido Monarca do Oriente, sendo que o perigo maior são os seus servos, não ele, um verdadeiro rei cercado por suas peças.

— Suponho que o Mestre das Lâminas de Nova Canaan deva contabilizar como um dos “Pilares”.

— Bingo! Que menininho inteligente! Há outros candidatos, mas como não estão envolvidos diretamente nesta guerra, como a xamã Hyze, vou deixar de fora. — Ela levantou-se e suspirou. — E como pode ver, há dois Pilares do lado de Sophia.

— Nova Canaan e o Continente Oriental são algumas das maiores potências quando se trata de poder de combate, mas você espera conseguir a minha colaboração? Não acha que faria mais sentido eu me juntar à Sophia, como os Ádvenas do passado sempre fizeram?

Azazel van Elsie podia ser forte, mas todos envolvidos naquele tabuleiro estavam contra ela. Mesmo possuindo o título de Presidenta do Inferno, alguns membros do Conselho estavam pagando alto para quem levasse a cabeça da demônia a eles.

— Seria lógico alguém que tem o trabalho de manter o equilíbrio do mundo juntar-se à humanidade… se essa pessoa não fosse tão gananciosa.

Uma expressão repugnante formou-se no rosto do garotinho após essas palavras. Todo o ar de inocência ao redor de Lyllo simplesmente desapareceu, dando lugar a uma aura perversa.

— Então, acho que é hora de acabarmos a enrolação, não é mesmo? Quanto está disposta a pagar pelos serviços dos Heróis Ádvenas, tia?

— Imagino o que Karllos Sophiette diria se soubesse no que os seus preciosos Heróis Ádvenas se tornaram… oferecendo seus serviços a um demônio por… cem mil moedas, que lamentável…

— Realmente, é vergonhoso para mim aceitar um suborno de duzentas mil moedas para ajudar a Presidenta do Inferno.

— Cento e cinquent…

— … E setenta e cinco. Cento e setenta mil moedas de ouro e Sophia Sophiette terá que enfrentar os lendários Heróis Ádvenas de Saint Tower na guerra. O que acha? É um bom acordo, não?

— Cento e sessenta mil e a localização de dois companheiros seus: Hime e Inri. Elas deviam estar mortas, não? Assim como aquele irmão da heroína Hime…

— Inri está sob proteção de Sophia Sophiette. — Lyllo suspirou e deu de ombros. — E Hime está indo para Dart, ela chama tanta atenção que parece ser proposital… com certeza está nos chamando para brigar. Enfim, cento e sessenta e cinco mil moedas de ouro.

— Você tem o espírito de um verdadeiro negociador, mas acho que estamos em um acordo… E caso eu acabe ficando com a arma da heroína Inri, posso vendê-la a você por um preço acessível.

Os lendários Heróis Ádvenas possuíam armas que outras pessoas não conseguiriam usar, eram as Armas Divinas deixadas por Karllos Sophiette. Azazel van Elsie não era idiota, dificilmente cumpriria sua palavra e venderia os espólios de batalha para Lyllo.

O que quase ninguém conhecia era que, na verdade, as Armas Divinas eram Orbes com deuses aprisionados. Dez deuses deram sua vida para que os Heróis Ádvenas surgissem… o que eles poderiam estar pensando sobre os atos dos Heróis?

Reflexivamente, Lyllo olhou para a arma no coldre da sua perna direita. Era tão fina quanto um estilete, mas sua forma verdadeira era mortal.

— Então, tia, acho que já terminamos aqui, certo? Preciso voltar aos meus a fazeres…

— Não vou mais tomar o seu tempo, sei que o ritual para invocação de um novo Herói Ádvena é delicado e necessita de muito cuidado. — Elsie fez uma expressão presunçosa. — “Como você sabe disso?” É segredo, mas não pretendo me intrometer.

Havia espiões ao seu redor, foi a primeira coisa que Lyllo pensou ao escutar as palavras provocativas da demônia. Ninguém estava a salvo dos olhos de Azazel van Elsie, ele precisava ser mais cuidadoso.

— Baal, acompanhe ele até a porta.

— Como a senhora Azazel desejar — o mordomo respondeu pondo a mão oculta pela luva branca no peito e curvando-se.

Lyllo seguiu-o em silêncio, a postura dele, com as costas perfeitamente eretas e os braços para trás, dava-lhe um ar imponente, era diferente de qualquer empregado que vira antes.

— Deve ser bem difícil ser servo dela, não é, coroa?

— Mestra Azazel nunca me decepcionou. — Aquele tom usado pelo mordomo provocou calafrios no menino. O exterior não demonstrava, mas era provável que, internamente, ele não gostava tanto assim do seu trabalho como servo. — Ah, sinto que eu devo lhe dizer para levar em conta mais uma pessoa no contador dos Pilares.

— Outro Pilar? Alguém que até a própria Azazel se esqueceu de contar… ou ela mentiu para mim?

 — É o novo Arquiduque do Inferno. Por não ter um clã, ele está disponível para se juntar a qualquer um deles. Mestra Azazel não concorda, mas sempre confio em meu julgamento, certamente ele será alguém formidável em um futuro não muito distante.

O menino lançou um olhar de interesse para o mordomo. Como um Herói Ádvena, ele não podia ignorar pessoas potencialmente perigosas à hierarquia que vivia, já lhe bastavam os problemas com os reencarnados.

Ádvenas eram pessoas de outro mundo convocadas para serem protetores de Niflheim, normalmente eles vinham do mesmo lugar que os reencarnados, mas havia uma rivalidade eterna entre os dois tipos de pessoas vindas da Terra.

Por serem apenas dez, os Heróis Ádvenas estavam sempre em desvantagem contra os milhares de reencarnados, mas para compensar isso, a força deles era quase inalcançável por pessoas comuns, mesmo aqueles com as Armas Lendárias não conseguiriam enfrentar os portadores das Armas Divinas.

— Apenas para eu não me esquecer, qual o nome do novo Arquiduque do Inferno?

— Loright al Mare. Creio que será um nome difícil de se esquecer, pois os seus feitos serão anunciados a todo mundo em breve.

— Velho, o que faz você depositar tanta confiança assim nesse cara? Só porque ele derrotou um Arquiduque do Inferno?

Baal fez a expressão misteriosa e, pela primeira vez, demonstrou uma face que não condizia com a sua postura. 

— Isto é segredo, senhor Lyllo. — Em instantes, seu corpo voltou a emitir a aura imponente e educada, no entanto um resquício de medo alojou-se no coração de Lyllo, o líder dos Heróis Ádvenas.

“Se alguém tão assustador está interessado em ti, certamente vou precisar ter cuidado com você, Loright al Mare…”



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