Volume 4
Capítulo 206: Aura Violenta
— Que porra… — Law Zhen engoliu em seco ao ver todos aqueles mercenários zumbis aproximando-se.
Maddog, ao lado dela, também tinha uma expressão de surpresa no rosto. Não era para menos, afinal via os seus companheiros de grupo como monstros vindo para matá-lo. Ele foi a única exceção, pois tirou as roupas dadas por Edward quando começou a enfrentar a Invocadora.
Por mais que fossem criminosos, Law Zhen sabia que existia o espírito de companheirismo entre eles. Provavelmente, ele devia achar Edward a coisa mais repugnante do mundo nesse momento, mas não podia fazer nada, tanto ele quanto a garota ao seu lado estavam feridos e cansados, não conseguiriam matar nem dez aqueles mortos-vivos.
Contudo, Ayshla não se intimidou com aquilo e avançou seu cutelo banhado em sangue.
Ela girou no ar e preparou-se para cortar a cabeça do seu oponente, mas ele foi mais rápido e esquivou, dando um golpe rápido na orc fêmea em seguida.
— Ah, esqueci de avisar, a droga de mestra Azazel não deixa eles apenas agressivos e animalescos, esta nova versão triplica o poder deles… apesar de consumir a vitalidade muito rápido, mas é o esperado de uma versão de testes. Enfim, divirtam-me e deem bons resultados — Edward explicou com um sorriso malicioso.
Ayshla, a melhor guerreira ali, foi golpeada. Aquilo revelava que Law Zhen teria dificuldades nessa luta.
— Maldito!!! — berrou Maddog, ele sacou um segundo punhal e avançou o mais rápido que podia. Seu objetivo era Edward, porém foi cercado por vários mercenários zumbis.
O chefe dos Cães Saqueadores desferiu vários ataques, mas a estratégia de sangrar o oponente até a morte não funcionava em zumbis. Sem conseguir atacar ou defender, ele levou um chute poderoso de um dos monstros e rolou pela neve.
Law Zhen praguejou quando viu a força desses seres. Ela não conseguiria vencer sem usar todo o seu poder, por isso convocou todos os seus monstros mais fracos. Enquanto fazia aquilo, sentiu sua mana esvaindo-se.
As criaturas convocadas eram Rank E ou F, mas todas juntas conseguiram rasgar três mercenários, até serem esmagadas pelo martelo de um criminoso enorme.
Lentamente, o desespero começava a tomar conta da Invocadora, mas ela tentava perseverar e manter seu lado frágil distante, nesse momento necessitava de toda a sua coragem para continuar a lutar.
Ao olhar para o giro da companheira orc, viu ela correndo em direção a um grupo de zumbis. A velocidade do cutelo era igual à das espadas dos mercenários mortos-vivos, eles estavam lutando de igual para igual, mas Ayshla jamais baixava a cabeça, por isso ela forçou o seu corpo ao limite e, com um grito feroz, arrastou a lâmina em uma velocidade que nenhuma daquelas criaturas conseguia alcançar.
O resultado da investida poderosa, que fez até mesmo o vento infernal mudar seu curso por um momento, foi a cabeça de cinco daqueles monstros voando.
Porém, esse foi um golpe que levou quase todas as suas forças, o corpo de Ayshla pendia, ela podia desequilibrar-se e cair a qualquer momento. O que a mantinha de pé era a sua vontade de continuar lutando.
— Se-senhor Edward, aquela orc é uma aberração! Os traficantes garantiram que até mesmo um Duque do Inferno teria dificuldade em derrotar um grupo deles! — comentou o nobre gordo e calvo que atendia pelo nome de Guller.
Edward parecia inabalável mesmo após a cena, seus olhos infantis e brilhantes encaravam Ayshla com interesse.
— De fato, jamais vi tal ser antes. Ela deve ser alguma espécie superior de orc que é naturalmente forte, mas aquele é o seu limite. Uma pena, gostaria de domá-la, mas ela parece ser uma cadela leal ao Loright. Matem-na!
Após a ordem, dois dos mortos-vivos avançaram, ambos com machados em mãos, prontos para decapitar a orc fêmea que tanto se destacava no campo de batalha.
— Quem porra vocês tão achando que eu sou para morrer assim tão fácil??!! — ela rugiu esquivando dos cortes e, após pegar impulso no ar, desceu como pedra na água, seu cutelo cortou um dos atacantes ao meio.
Ainda um pouco tonta ao levantar, ela chutou o segundo zumbi por impulso.
— Em outras circunstâncias, eu não me importaria de morrer aqui… mas perder para você significa envergonhar o meu mestre. Se eu quero estar ao lado dele, preciso ser útil em situações como essas. Ele me estendeu a sua mão, e não vão ser idiotas como vocês que vão me afastar dele! — vociferou a orc, correndo como um raio pela neve.
Ela conseguiu forças sabe-se lá de onde para continuar a seguir, seu cutelo dançou pelo campo de batalha diversas vezes, abrindo o corpo dos mortos-vivos. A fúria era nítida em seus olhos, assim como a fraqueza e o cansaço.
Se continuasse a se esforçar, ela conseguiria facilmente derrotar todos aqueles mercenários mais uma vez, claro que isso romperia vários dos seus músculos e muitos ossos seriam quebrados. Contudo, Edward decidiu fazer algo para impedir.
Um raio azulado saiu das mãos frágeis de Edward e seguiram em direção a Ayshla, acertando-a de surpresa. Não foi o suficiente para matá-la, mas a arremessou a uma distância considerável, fazendo-a quebrar alguns ossos enquanto rolava pelo chão.
— Maldito… — Ela levantou segurando a região do ombro direito. A queda separou-a do seu cutelo médio de confiança. Seu corpo estava repleto de feridas, seu peito modesto subia e descia, enquanto a franja que cobria uma parte do rosto esverdeado era soprado constantemente para não atrapalhar a visão. — Eu… ainda…
— Jamais presenciei um espírito forte como o seu antes — começou Edward —, em respeito a isso, presentear-lhe-ei com uma morte rápida…
— Ahhhhhh! — um grito fino roubou a atenção de todos. O mais estranho era que a origem do barulho era o céu.
Em instantes, algo despencou sobre a neve como uma bomba caía no campo de batalha. Todos foram obrigados a se manterem firmes, caso contrário seriam arremessados para longe.
Mesmo ferida, Ayshla não moveu um músculo e olhou para a origem daquilo com o cenho franzido. Quando a poeira começou a baixar, uma pequena figura pôde ser visualizada dentro da cratera criada em sua queda.
— Uhh… esse lugar é muito estranho, eu não consigo voar direito! — comentou uma voz infantil e despreocupada. A dicção dela era um pouco ruim e a voz parecia ser do tipo de garotinha irritante.
— N-não é possível! O que você faz aqui?! — berrou Edward.
A poeira baixou rapidamente e a figura da menina no interior da cratera ficou nítida. Ela parecia ter menos de doze anos, sua pele era bronzeada, como a dos moradores do norte do Continente Ocidental, e a roupa que usava era uma imitação das vestimentas dos Santos.
A capa branca e os cabelos de mesma coloração voavam por conta do vento violento, o adereço de ouro com o símbolo da igreja da deusa Cecily brilhava, assim como os olhos avermelhadas daquela menina.
— E quem seria você…? — A menina olhou confusa para Edward. — Hmmm… Ah! — Ela bateu o punho direito fechado por cima da palma da mão esquerda aberta. — A Ren me falou mesmo sobre o humano Edward ter virado uma garotinha!
Embora estivesse longe, até Law Zhen podia sentir uma aura perigosa emanando da garotinha. Ela disse que chegou ali voando? Que tipo de aberração poderia ser aquela menina?
— Mas eu não tô interessada em tu, humano Edward! Tu tá com sorte, vou te deixar viver hoje porque quero encontrar uma pessoa… Eita! Tá cheio de zumbi aqui! — Ela percebeu apenas nesse momento os monstros ao seu redor. Como uma criatura com uma aura tão ameaçadora podia ser distraída dessa maneira?
— Se-senhor Edward, não acha melhor recuarmos? Eu quero dizer, enfrentar Loright e seu grupo é uma coisa, mas a Besta Negra… — Guller falou com a voz trêmula.
— Não seja tolo, marquês Guller. Ela pode ser a temível Besta Negra, mas um grupo de vinte zumbis é suficiente para cuidar dela! Ataquem sem piedade, mas deixem-na viva! — avisou Edward com sua voz infantil.
— Ehhhh?! Eu tô dizendo que não vou te atacar e tu vem pra cima?! Maldito humano Edward!
Law Zhen piscou diversas vezes para assimilar as palavras daquelas pessoas.
Ela não podia ter escutado errado. A garotinha ali, de aparência idiota e dicção horrível, era a terrível fera conhecida nas lendas como a “Besta Negra”, uma Besta Divina que não seguia nenhum deus e matava crianças para roubar sua força vital.
O primeiro instinto de Law Zhen foi correr dali, ela sabia que, se a Besta Negra fosse lutar com toda a sua força, tudo seria destruído. A Invocadora buscou Ayshla para fugir com ela, mas a aura opressora espalhando-se pelo ar não a deixava se mover.
Ayshla estava muito ferida para correr, então Law Zhen teria que carregá-la, mas como faria isso se estava hesitante em dar mais um único passo pela neve?
A ideia de usar sua espada curta para causar dor em si passou-se pela sua cabeça, mas antes que pudesse fazer qualquer movimento, outra aura invadiu a floresta.
A raiva emanada do dono daquela energia era ainda maior que a de Ayshla.
Todos, até mesmo os zumbis, olharam em direção ao canto da floresta que mais possuía troncos secos. Alguém aproximava-se com passos longos que afundavam na neve.
— Aquele… é o Loright? — murmurou Law Zhen, era difícil de acreditar que um humano poderia emanar uma energia tão selvagem e violenta.