Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 196: Parede de Terra

Law Zhen aparentava estar inquieta, encarando o cenário à frente. Nem os dois guarda-costas ou as companheiras de Loright estavam tão preocupados. 

Houve uma imensa explosão há poucos minutos, a floresta tremeu e várias árvores foram ao chão, isso foi o suficiente para fazer muitos aventureiros decidirem ir embora, deixando apenas os conhecidos do jovem Lorigth al Mare ali… e Willian Zackarias.

O Espadachim era tratado por Lothus, apesar de ter a perna gravemente ferida, ele parecia contente por ter toda a atenção daquela garota naquele momento.

— Ei, você acha que o senhor Cordielyte vai sobreviver? Eu sei que ele parece forte… mas nunca o vi em uma batalha — comentou Eulides al Mare. O jovem podia ter fugido com os outros aventureiros, mas decidiu ficar ali e aguardar o retorno de Loright.

— Eu acredito que ele não vai morrer… mas não consigo deixar de ficar preocupada, afinal aquele homem parecia um louco…

— Você gosta mesmo do senhor Cordielyte, não é?

Law Zhen não respondeu, na verdade nem se quisesse ela teria tempo, pois viu a figura de um jovem capengando sobre a neve. Ele trajava seu sobretudo branco novamente e lutava com bravura contra o vento da nevasca que cismava em carregá-lo como um tronco seco.

— Mestre! — gritou o homem que atendia pelo nome de Berthran, correndo em direção ao jovem, Ayshla fez o mesmo e, em instantes, ambos estavam ao redor de Loright.

Porém, Law Zhen cerrou os olhos ao ver que o garoto não estava só: havia alguém que ele trouxe até ali. 

“Não é possível, aquele…” Era o elfo que Loright lutava. Por que o jovem o trouxe até ali? Mas as perguntas teriam de ficar para depois, o importante naquele momento era que o garoto estava vivo.

*****

— Caraca, tô todo doído… — Kurone suspirou ao ser posto sobre um tronco de madeira por Berthran. O jovem elfo estava ao seu lado, sob os cuidados de Lothus, a respiração irregular indicava que ele estava consciente por todo o tempo.

— Desculpe por incomodar vocês, mas a nevasca está ficando cada vez mais forte, o que vamos fazer?! — perguntou o aflito Eulides al Mare, a preocupação era nítida em seu semblante.

Não havia mais carruagens suficientes para criar um semicírculo que os protegeria do frio. Ali, restaram apenas a carruagem de Kurone, a de Berthran e a de Eulides. Aventurar-se na floresta de troncos secos também era inviável, eles não tinham tanto tempo.

— Eu acho que posso erguer uma Barreira de Fogo… — Kurone fez menção de se levantar, o cansaço em seu rosto transparecia pela respiração irregular e as gotas de suor, afinal há não muito pouco tempo ele foi vítima de uma explosão de minas terrestres, estar vivo era um grande feito.

— Não, senhor Cordielyte, o senhor precisa descansar, tem que ter outro jeito! — Quem protestou foi Law Zhen, ela ainda estava muito preocupada e parecia não se importar em morrer congelada se isso fosse pelo bem do jovem.

— … E… — o jovem elfo deitado ao lado suspirou, atraindo a atenção de todos. Apesar de ele estar muito ferido, todos ainda direcionaram um olhar hostil a ele, a única que não temeu foi Lothus, que tentava curar a grande ferida no ombro dele. — [Parede de Terra]...

Bastaram aquelas poucas palavras para o chão tremer. 

De repente, a terra coberta de neve moveu-se, desenhando um círculo ao redor daquela área. Os cavalos fizeram uma tentativa fútil de fuga, mas, em instantes, uma muralha foi erguida ao redor de todos, protegendo-os do frio.

O paredão tinha mais de dez metros, apenas um mago do Tipo Elemental Terra muito habilidoso conseguiria fazer algo assim, mesmo o “Parede de Terra” de Inari não chegava a metade daquela altura devido às suas limitações.

No entanto, aquele foi o golpe de misericórdia, o corpo do elfo tremeu e, após um gemido, ele desmaiou com os olhos revirados. Lothus gritou e continuou a usar sua magia de cura.

— E-ele… — balbuciou Eulides, incrédulo. — Ele fez uma parede de terra para nos proteger?!

— Esse cara… não bate bem da cabeça… — suspirou Kurone, a visão dele escurecia aos poucos e o corpo fraco obrigou-o a sentar ali mesmo, na neve fria.

Ah, senhor Cordielyte, não se esforce tanto! Pode descansar, sua luta já acabou…

E ele obedeceu. 

O corpo desabou, mas foi segurado por Berthran e Ayshla antes que o rosto fosse de encontro à neve. Kurone poderia descansar tranquilo, pois afugentou seu inimigo, pelo menos por enquanto.

*****

— Maldito! Maldito! Mil vezes maldito! É a segunda vez que aquele elfo me envergonha! Como ele ousa?! Eu vou matá-lo! — bravejou Clay Alysson, o homem atravessava o frio com raiva. As feridas ardiam e o sangue congelava conforme dava passadas pela neve afundando seus pés.

O último ataque do elfo quebrou muitas de suas costelas, e o impacto violento da queda complementou o serviço, mas nem aquilo ainda era suficiente para deter o Psicopata Reencarnado. Na verdade, só fez sua vontade de destruir e matar ascender.

Ele não andou muito quando avistou o que parecia ser a luz de uma fogueira. Era o seu dia de sorte, poderia descarregar a sua raiva dando tiro na cabeça de aventureiros inocentes.

Partículas azuis tomaram o ar e uma escopeta negra materializou-se na mão ensanguentada de Clay. Era humilhante admitir, mas precisava de tratamento, ou pelo menos descanso, caso contrário não suportaria aquela dor dos ossos quebrados. 

Não houve discrição, os passos eram pesados de propósito para provocar medo no coração de quem escutasse o som. 

Foram pelo menos dez minutos infernais de caminhada até se aproximar da origem do fogo. Era uma clareira guardada por diversas árvores altas, o que impedia o frio de atormentar quem estivesse ali.

Haha! Olá, seus desgraçados! — berrou o homem ao saltar na clareira de repente, o sangue e a sua expressão davam-lhe o ar de um verdeiro monstro.

Mas aquela expressão logo desapareceu e deu lugar à dúvida: onde estavam as pessoas que acampavam ali? Só havia a fogueira, nada mais. — Hã?

Clay aproximou-se devagar, apenas para ser surpreendido com um golpe doloroso nas costas. Ele grunhiu e rolou pela neve até parar próximo à fogueira.

— Veja, senhor Edward, este idiota caiu mesmo em uma armadilha tão simples.

— Eu te falei, marquês Guller, ele é um selvagem.

Os olhos de Clay encararam a dupla com ódio. 

Um era um homem gordo, calvo e de roupas de frio caras, ele estava quase completamente enrolado, desde os pés ao pescoço, a única parte visível era o seu rosto com bochechas inchadas e rosadas por conta da temperatura.

O que estava ao lado daquele homem tinha quase metade da sua altura, era uma garotinha com um sobretudo negro, camisa interna branca e saia escura. Meias longas cobriam as pernas finas e um sapato raso a ajudava a se equilibrar na neve.

Como aquela dupla conseguiu derrubar alguém tão forte quanto Clay Alysson? Por mais que ele estivesse cansado e ferido, o poder de uma pessoa comum não devia afetá-lo.

 — Você é o autor dos disparos que escutamos mais cedo, não é? Suponho que esteja aqui em busca de Loright al Mare e seu grupo, então poderia, por favor, nos passar a localização deles? — falou a garotinha, apesar da idade, ela tinha um bom vocabulário.

— Como você ousa ser tão ousada, menininha!? Eu vou acabar com vocês! — bravejou o fora da lei levantando apontando a escopeta para a dupla. 

— Você devia saber… que ninguém que está nesta floresta deve ser subestimado. — A menina levantou a mão e, no mesmo instante, uma onda de raios surgiu, iluminando todo o local. 

— Tá achando que umas faíscas vão me deter, é?! 

— Marquês Guller, acho melhor se distanciar, terei que usar mais poder que o usual para derrotar este aqui.

— S-sim, não exagere, senhor Edward! — o homem falou, tomando distância. Ele levou o aviso muito a sério, pois correu o suficiente para ficar longe daquela área, não se importou nem mesmo com a nevasca.

Clay não ligou com o fato daquela garotinha ser manipuladora do Tipo Elemental Raio, só queria descarregar sua frustração da última batalha contra o elfo e Loright. 

Blam! 

Ele puxou a trava da escopeta e disparou sem dó, mas seu projétil também foi vaporizado impiedosamente pelos raios da garotinha.

Blam! Blam! Ele aproveitou-se da brecha que a sua oponente deu ao materializar mais energia e abriu fogo mais rápido, as feridas em seu corpo impediam uma melhor mobilidade, contudo tinha certeza que desta vez ela não conseguiria escapar.

E indo contra todas as suas expectativas, a menina materializou seus raios e avançou para cima do chumbo, ela não hesitava mesmo perante à chance de ter todo o corpo destruído pelos projéteis.

Com destreza e velocidade, ela conseguiu esquivar-se de todos os ataques e parou próxima de Clay, o fora da lei foi surpreendido com aquela velocidade e não conseguiu revidar, apenas ficou parado enquanto sentia toda aquela eletricidade atravessando o seu corpo. 

Onde no mundo uma criança era tão forte assim?!

O corpo do homem foi ao chão, mas ele ainda estava consciente, queimando em fúria. A vontade do fora da lei era de levantar e destruir tudo com suas armas.

— Esse aqui vai ser perfeito… Ei, marquês Guller, traga a droga que a mestra Azazel nos mandou! Acho que encontramos a nossa cobaia perfeita!

Clay arregalou os olhos ao escutar aquilo. 

Eles citaram o nome do demônio, aquela dupla conhecia a Presidenta do Inferno, e pior, eles estavam falando algo sobre injetar drogas nele.



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