Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 4

Capítulo 183: Adentrando Hyze

Eles partiram poucas horas após a queima de fogos, a música ainda era alta e os moradores dançavam alegremente.

Apenas duas carruagens da caravana deixaram o vilarejo, em horários diferentes, afinal Kurone, Lothus e Inari queriam garantir que não seriam seguidos. O veículo que os seguia à distância era o de Berthran e Ayshla.

Como indicado por Lothus, após o vilarejo havia dois caminhos que os viajantes podiam seguir, um deles estava bem movimentado mesmo àquela hora da madrugada, havia carruagens indo e voltando. 

Aquela estrada repleta de viajantes era a que levava à cidade-fronteira Dart.

Na outra trilha, estendia-se uma imensa floresta de árvores com troncos escuros e galhos desfolhados devido ao inverno, raramente alguém era visto adentrando ali, pois era um caminho que levava a sabe-se lá onde, e era para lá que a carruagem de Kurone seguiria.

Antes de escolher aquela rota sombria, um animal do tamanho de um gato saltou da carruagem e, ainda no ar, assumiu a forma de uma grande raposa com oito metros.

Era a hora de Kumiho, a Besta Divina de Inari, despedir-se do grupo.

— Tenha cuidado, por favor, Kumiho. Se algo acontecer, não esqueça de voltar o mais rápido possível para perto de mim — disse Inari, havia uma preocupação incomum em sua voz, algo realmente raro na deusa pervertida.

— Não se preocupe, mestra, eu terei cuidado e prometo encontrar o seu Seol… cuide bem dela, humano, ou sofrerá as consequências.

— Deixa comigo, eu vou proteger a Inari com a minha vida!

A Besta Divina ignorou o comentário do garoto e lançou um olhar indiferente para Lothus, sentada no interior da carruagem. — Fique em segurança também, Pregadora da Razão. — Kumiho não esperou uma resposta e começou a correr pelo chão repleto de neve, sua pegadas eram apagadas poucos segundos após ela andar cerca de vinte metros.

O vento aumentou e a quantidade de flocos de neve interferindo no campo de divisão tornou-se um incomodo para Kurone, o responsável por conduzir o veículo com a deusa-raposa e a demônia idaten.

Ao saírem do vilarejo, Inari retornou à sua forma original: a de uma mulher alta, com dois metros e quinze centímetros, e orelhas de raposa. Eles concordaram que ela assumiria a forma de Rory quando se encontrassem com outro grupo de humanos.

Ahhh… então vamos lá… 

Devagar, o jovem puxou as rédeas e conduziu a carruagem à rota sombria, os dois cavalos negros e musculosos pareciam não se incomodar com o clima. 

Os olhos dos viajantes que seguiam para o vilarejo próxima fixaram-se no grupo adentrando o local monótono.

[Essa floresta me deu calafrios só de olhar para ela.]

“É um lugar tenebroso mesmo.”

Para piorar, a neve impedia que vissem muito adiante, todo o cenário em algumas horas do dia era tomado pelo tom esbranquiçado e o frio fazia Kurone encolher-se ao máximo em seu sobretudo branco dado por Lao Shi.

Isso significava que só saberia que havia um monstro ou inimigo à frente quando estivessem bem próximos — temendo este cenário horrível, o jovem ativou os Olhos Sagrados.

O amarelo intenso vindo do interior da touca branca que cobria o rosto de Kurone destacava-se em meio ao deserto branco e gelado. Um aglomerado de neve inundava o interior da carruagem, então as garotas sentadas lá precisavam sempre estar limpando o local.

— Tem certeza que a gente não vai se perder nessa nevasca?! — gritou o garoto, era difícil conversar enquanto eram interrompidos pelos assovios violentos do vento. 

— Sem problemas, só precisa continuar indo para frente, eu te aviso quando parar! — respondeu Lothus.

Eles mal começaram a viajar de verdade e já eram incomodados pelos fenômenos naturais, aquilo com certeza não era um bom sinal.

***

Após metade de um dia seguindo em linha reta, a carruagem foi obrigada a parar devido à força do vento e o frio mortal do inverno. A parte da manhã era a ideal para prosseguir, conforme a noite se aproximava, o vento tornava-se mais violento.

Kurone liberou os cavalos para que eles pudessem se abrigar atrás da carruagem, e o jovem foi para o interior do veículo. Mesmo encolhido lá, eles não estavam livres do ar gelado.

— Eu vou sair para buscar lenha, precisamos fazer uma fogueira ou vocês vão morrer congelados — sugeriu Inari, saltando da carruagem.

Apenas nos dois segundos que a cortina da saída do veículo foi levantada, o frio invadiu o interior do local e obrigou Kurone e Lothus a se encostarem ainda mais.

Ambos os jovens estavam quase abraçados, um buscando o calor no outro. 

Eles colocaram o máximo de tecido por cima dos seus corpos e nem conseguiam se ver devido àquela camada espessa de panos, mas se abraçavam ainda mais, tentando suportar o frio.

— Pro-provavelmente deve ser por estar-estarmos viajando a campo aberto… apo-aposto que não está tão frio naque-naquela trilha para Dart — explicou Lothus, a voz da menina saía trêmula.

A demônia pensou que o clima não seria tão intenso e escolheu uma peça razoavelmente leve do baú de roupas dadas por Lao Shi. Mas não fazia diferença de qualquer forma, afinal mesmo o sobretudo de Kurone, que era a roupa mais grossa daquele baú, conseguia protegê-lo.

“Nie, será que eu posso usar magia de fogo? Vamos morrer congelados se isso continuar assim.”

[Nã-não exagere…]

Usar magia em um local como aquele podia chamar a atenção de monstros e bandidos, mas eles realmente não tinham outra escolha.

Após decidir, o garoto saltou do veículo e encarou a imensidão branca à sua frente. 

O vento era tão poderoso que poderia carregar uma criança apenas com seus sopros violentos, e aquilo não era exagero, ele notou isso ao ver um tronco grande sendo arrastado pela nevasca.

[Não fique tão perto quando usar a magia, a força do vento pode empurrar todas as chamas para o seu rosto.]

“Cer-certo.”

Devagar, Kurone tirou uma de suas luvas e sentiu o frio percorrer todo o seu corpo coberto pelas roupas pesadas. Ele direcionou a mão para a frente e concentrou-se para usar um feitiço de sua autoria.

Era algo que ele chamava de “Barreira de Fogo”, uma cópia barata da Barreira d’Água de Lao Shi. 

Certamente era loucura usar magia de fogo contra uma brisa gelada impiedosa como aquela, no entanto aquilo que o garoto portava no interior do seu ser era o Fogo Infernal, algo adquirido ao fazer o contrato com a deusa Lucy, em Eragon.

Seguindo a sua vontade, o cenário mudou. 

Labaredas alaranjadas saíram da mão sem a luva e tornaram-se um paredão flamejante à frente do jovem. Diferente do fogo comum, o Infernal lutava bravamente contra o vento, resistindo para não ser extinto como a chama de uma vela soprada por alguém antes de dormir.

Ao ver o paredão flamejante em pé, Lothus saltou da carruagem e aproximou-se de Kurone, os cavalos escondidos atrás do veículo fizeram o mesmo e ficaram a uma distância razoável do paredão, afinal aquilo poderia ser soprado de repente na direção deles se o vento aumentasse sua força.

— É Fogo Infernal? — Lothus perguntou ao jovem com as mãos estendidas em direção à Barreira de Fogo, seu conhecimento sobre aquilo não era de se estranhar, afinal a menina podia ser considerada uma “Pregadora da Razão”, um título dado a alguém no nível de um Sábio. 

Na verdade, pela explicação do Arquifeiticeiro, ela era mais habilidosa que uma Pregadora, porém ainda estava distante do nível de um Sábio.

— Sim… é realmente estranho, né?

— Eu diria peculiar… dizem que ele é a fúria do deus Agni, nunca se apaga e deseja sempre queimar os seus inimigos. A deusa Lucy herdou essa fúria desse deus, quando ele foi morto por Astarte.

Kurone estudara muitas coisas na biblioteca de Lou Xhien, no entanto não havia quase nada acerca da trindade divina que estava tão envolvida com os mistérios de Niflheim: Astarte, a Deusa da Lua; Agni, o Deus do Sol; e Érebos, o Deus das Trevas.

Apenas para mostrar o quão incomum era aquela “Quimera”, havia tanto o Fogo Infernal quanto as trevas frias dentro do seu corpo, no entanto o jovem não saberia dizer se o Tipo Elemental Escuridão tinha a ver com Érebos, e qual a relação do Deus das Trevas com o Suserano e o Vassalo da Morte.

E ele realmente não queria que tivesse. 

O Fogo Infernal tinha relação com Agni, e Rory era envolvida com a deusa Astarte, não queria mais ter outro deus envolvido naquele mistério, já bastava, os Deuses Inferiores ao seu redor.

Aquilo fora outra coisa que aprendera em Lou Souen, havia três divisões de deuses: os Primordiais, como Astarte, os Inferiores, como Annie e Inari, e algo que era impossível confirmar a existência, os Superiores. Havia lendas que o Rei Demônio Belzebu era um Deus Superior.

Huh? Escutou isso? — comentou Lothus.

A atenção da dupla saiu do fogo e voltou-se para a nevasca quando escutaram o som de carruagens aproximando-se. Não podia desfazer a barreira, seria suicídio, então Kurone materializou sua Boito .20 e preparou-se para a aproximação de quem quer que fosse.

Igualmente, Lothus preparou-se. 

A menina puxou uma das suas lâminas envenenadas e seguiu para as sombras, mas ficando ainda próxima ao fogo.

Pow! 

A escopeta de canos cerrados rugiu. 

Se fossem aventureiros desavisados andando pela nevasca, provavelmente mudariam o seu caminho e não se aproximariam, temendo que pessoas potencialmente perigosas estariam ali.

Não se ouviu mais nenhum barulho pelos próximos minutos, contudo ambos os jovens não baixaram a guarda e continuaram encarando a origem do som de carruagens.

Foi após mais cinco minutos que escutaram passos aproximando-se, algum louco decidiu descer da carruagem e ir até a pé? Mesmo sabendo que poderia morrer congelado?

Kurone cerrou os olhos ao ver uma figura envolta por uma grande camada de roupas aparecendo. A pessoa mantinha suas mãos para o alto, mostrando que estava desarmado, mas o jovem continuou com sua escopeta apontada para o estranho.

— N-não ataque, somos amigos! Queremos saber se podemos nos juntar a vocês!

— E quem seriam vocês?

— So-somos aventureiros de Dart! Há uma caravana grande ali atrás, temos muita comida, mas não conseguimos acender fogo nessa nevasca!!

Tanto o Kurone quanto Lothus suspiraram ao notar que eram apenas humanos comuns… mas o que aventureiros de Dart estariam fazendo naquele inverno infernal?



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