Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 3

Capítulo 174: A Despedida De Asmodeus

— Cuidem dela, rápido, ou ela vai morrer! — ordenou Kurone aos orcs.

Os olhos do jovem estavam repletos de ódio, Lao Shi matou orcs e garotas artificiais, inocentes, ao desativar sua magia que dividia o mar no meio. 

Além de covarde, aquele homem era um assassino.

— Mestre, aonde o senhor vai agora? — perguntou Ayshla, a orc fêmea. 

— Preciso voltar para pegar a Lou Xhien. Escute, Ayshla, preciso que você proteja elas, tudo bem?

A orc afirmou balançando a cabeça. 

Kurone olhou uma última vez para Inari, depositando Lothus com cuidado no chão. Ele teria que voltar só dessa vez, afinal muitas pessoas só atrasariam o resgate da princesa das garotas artificiais.

— Tome cuidado, darling — falou a deusa-raposa na saindo da forma de um homem musculoso e assumindo a de Rory. 

Ela não tinha muitos poderes no mundo real devido à falta do Seol e, naquele momento, não tinha mais o suporte de Kumiho, sua Besta Divina, que se sacrificou bravamente.

 O jovem acenou e voltou a correr, ignorando os rangidos dos ossos quebrados e a dor que aumentava cada vez mais por todo o seu ser, sentia até a alma queimando no seu interior. Constantemente, escutava Annie gemendo por conta da dor de usar a Análise Avançada por muito tempo.

No caminho de volta à torre aos pedaços, Kurone pensou sobre como Inari foi útil. Desconfiava da deusa por ela tentar matar Lou Xhien e ele, porém mudou a imagem dela na sua mente quando, após Lao Shi fugir como um covarde, ela aparecer nos momentos que mais necessitava.

O caminho onde o garoto percorria, além de estar infestado pela energia poderosa emanada pelo Orbe Amarelo, era difícil de se atravessar devido aos escombros que se tornaram molhados na chuva inconveniente iniciada há poucos minutos. Se desviasse a atenção, poderia escorrer e se machucar feio.

As feridas mais profundas na pele banhada em sangue ardiam conforme entravam em contato com a água gelada da chuva. 

Para dificultar ainda mais o campo de visão do jovem atrapalhado constantemente pela tontura e as gotas que tornavam sua visão turva, as nuvens negras tornaram o céu escuro, e de lá o ribombar dos trovões poderosos reverberava.

Ele imbuiu ainda mais mana nos pés dormentes para continuar a correr pela chuva, aumentando a força gradualmente. C

ada segundo perdido era um segundo de vantagem para a Duquesa, o jovem tinha ciência que nem uma Besta Divina conseguiria derrotar aquela demônia sádica, o nível de insanidade de Mamon von Faucher era pior que o da Presidenta do Inferno.

Enquanto Azazel van Elsie fazia toda aquela maldade com objetivos, apesar de ninguém saber quais eram, Mamon fazia aquilo por birra ou para se divertir. A demônia podia ter sequestrado Lothus e ido embora, mas decidiu que se divertiria com o sofrimento de Kurone antes de partir.

E o mais assustador era que ninguém conseguia impedi-la. 

O homem com título de Arquifeiticeiro fugiu e o jovem Arquiduque do Inferno morreu, no entanto a menina não tinha sequer um arranhão no corpo infantil, nem mesmo seu vestido negro estava muito danificado.

Kurone suspirou profundamente ao avistar a torre de dois andares destruídos. Era inacreditável que um local tão imponente anteriormente tivesse sido destruído com apenas um ataque de Mamon, aquela era a demonstração da diferença de estrago entre a magia comum e a Abismal.

O garoto acelerou ainda mais o passo. 

Ele precisava tirar logo Lou Xhien dali, ela poderia ser morta tanto pela Duquesa do Inferno quanto pelo poder do próprio Orbe Amarelo. 

Assim que quase chegou no pátio da torre, um arrepio percorreu toda a sua espinha. Annie antecipou-se antes que o garoto desse mais um passo:

[Se protege, Kuro…]

A voz da deusa foi encoberta pelo estrondo da torre à frente sendo reduzido a nada mais que destroços. Um tornado de tamanho colossal formou-se exatamente do centro da torre e destruiu tudo.

Por um segundo, a chuva cessou, foi totalmente drenada pelo grande tornado de vento, mas apesar de ser formado pelo ar, havia uma energia de aspecto rosa ao redor dele. 

Kurone soltou um rugido que, mesmo em meio ao estrondo causado pela destruição, poderia ser ouvido.

Ele sabia que poderia ser puxado pelo tornado e morto, mas correu em direção ao local. Não poderia deixar aquilo acontecer. 

Tudo indicava que seria o destino de Lou Xhien ser morta naquele dia, mas o garoto jamais permitiria que isso acontecesse novamente.

Apesar do tornado devastar tudo ao seu redor, o Orbe Amarelo não se moveu do local, o jovem ainda sentia a energia dele aumentando, indicando que em breve ele entraria em colapso e destruiria toda a ilha Lou Xhien Pi’yan. 

Aquilo também indicava que a princesa das garotas artificiais não refinava mais a energia selvagem da grande esfera amarela. Então, o que teria acontecido com Lou Xhien?

— Kurone! 

A voz vinda de longe era abafada por conta do estrondo do vento feroz, despedaçando concreto, jade, medeira e o que mais fora usado para construir aquela torre.

Ao olhar para a origem do som, Kurone arregalou seus olhos que já começavam a derramar lágrimas. 

Lá estava Lou Xhien, escondida atrás de uma parede destruída, utilizando-a como se fosse uma trincheira de guerra.

Sem perder tempo, o jovem acelerou o passo para se encontrar com a menina. Após chegar ao lado dela, ele não se conteve e a abraçou com força, sujando o kosode branco com o sangue e lama escorrendo da sua roupa molhada.

— Eu pensei… que você tinha morrido… Eu fiquei com tanto medo! — ele falou ainda abraçando a menina com o corpo trêmulo.

— Eu também fiquei com medo, plebeu, — Lou Xhien afastou-se do jovem e apontou com a cabeça para a esquerda da parede usada como trincheira — mas ele me tirou de lá antes do tornado chegar na torre.

— Vo-você?! — Kurone não pôde deixar de ficar surpreso com o fato de como pessoas como Inari e aquele jovem estavam ajudando-o.

Olhando de longe, o jovem recostado na parede de concreto parecia quase irreconhecível. 

Todo o corpo dele estava banhada em sangue, quase todos os dentes foram quebrado e, em algumas partes, carne viva e ossos brancos estavam à mostra, provando que o interior de um demônio era o mesmo de um humano. 

Mas, apesar de estar quase irreconhecível, aquele era Asmodeus di Laplace, o Arquiduque do Inferno que havia sido supostamente morto por Mamon.

Kurone rangeu os dentes ao ver o estado do demônio. 

Ele sentia uma dor pulsante apenas das gotas de chuva tocar suas pequenas feridas profundas, então imaginou o inferno que Asmodeus sentia com a água batendo contra as suas carnes à mostra.

O Arquiduque moveu a cabeça com uma expressão de dor e deixou visível um grande buraco em seu pescoço, provavelmente o local fora atravessado por uma haste de madeira ou metal e, em seguida, o objeto foi retirado à força pelas próprias mãos do demônio.

— A desgraçada… é muito forte… eu subestimei ela… — falou Asmodeus em uma voz quase sussurrante. Conforme ele falava, sangue escorria do seu pescoço. — Ei, mano… você salvou a Lothus?

Kurone assentiu com a cabeça, ele estava aterrorizado demais com a cena grotesca para pronunciar qualquer palavra. 

“Nie, não olha agora.” 

Sabia que Annie tinha medo de sangue.

— Bom… valeu, mano… valeu a pena eu ter segurado a pirralha, haha… Ela ficou puta da vida quando eu dei uma surra nela… aí a desgraçada apelou pra Magia Abismal.

— Me dá sua mão! Eu consigo levar você até o cais, meus amigos tão lá e podem… — Kurone disse, desesperado.

— Não, mano… tu tem que salvar a menininha aí. A Lothus já tá bem, então não preciso me preocupar…

— Você vai morrer se continuar aqui, nesse estado!

— Pois é, mano, acho que vou fazer a Lothus chorar muito… — o demônio falou em um tom de despedida. — Eu não queria morrer antes da Lothus, mas fazer o quê, não adianta chorar agora… Mano, se não for pedir muito, você me faria um favor?

— Si-sim!

Kurone não poderia negar, afinal eles só tiveram algum tempo a mais porque Asmodeus lutou contra a Duquesa por alguns minutos. 

Mesmo se o demônio pedisse para que o garoto protegesse Lothus, ele faria isso sem problemas, afinal o Arquiduque era alguém como ele. 

Asmodeus di Laplace não estava se desistindo do seu trabalho de irmão de Lothus, apenas o passando para Kurone Nakano, que ainda conseguia lutar.

— Quando vocês fugirem daqui… leva a Lothus pra um lugar chamado floresta de Hyze… é uma floresta escondida no caminho pra Dart… Só não deixa ninguém saber mais onde ela tá, se não vão querer matar a mana…

— De-deixa comigo… mano! — gritou o jovem desesperado. Ele não sabia se era possível fazer aquilo ou não, mas não deixaria que alguém como Asmodeus partisse sem saber se sua irmã ficaria bem. 

— E… mano… — continuou o Arquiduque — será que você poderia me matar?

— Hã?!

— Se você me deixar aqui, eu vou morrer em breve, e aí a pirralha vai herdar o meu título de “Arquiduque”... mas se você me matar… eu vou ter certeza que os membros do Conselho do Inferno vão pagar… 

O jovem ficou paralisado, ele prometeu que não negaria nenhum dos desejos do demônio à beira da morte, mas matá-lo era algo que Kurone não sabia se teria coragem. 

De fato, ele treinou por todo esse tempo matando alguns monstros das masmorras de nível baixo, mas não chegou a matar outro ser com aparência humana depois que ficou livre da sua insanidade, o seu máximo foi o Necromante de Cascos Fendidos. 

Teria coragem de fazer aquilo?

— Rápido, mano… a Mamon daqui a pouco chega aqui… ela vai matar vocês se não correrem… Por favor…

Ele tinha razão. 

Cerrando todos os dentes, Kurone estendeu o braço artificial na direção do Arquiduque e materializou a sua escopeta de canos cerrados. 

O sorriso de satisfação no rosto do demônio partia o seu coração, mas aquilo era o certo a se fazer.

— Diz a Lothus que eu fui feliz por todo esse tempo ao lado dela… — essas foram as últimas palavras de Asmodeus antes de um “pow” ecoar pela chuva barulhenta.

[Iiiiiiiik!]

O corpo de Kurone tremeu quando ele apertou o gatilho, Annie chorou um pouco e lágrimas misturaram-se às gotas de chuva descendo pelo seu rosto repleto de feridas. 

Eles brigaram feio, mas no fim Asmodeus era alguém com o coração bom que só queria proteger a irmã. 

Por que o mundo tinha de ser tão cruel com pessoas assim?

Ao olhar para o lado, o jovem notou que Lou Xhien também chorava com aquela cena. Mas eles não tinham tempo a perder. 

Kurone aproximou-se uma última vez do corpo do demônio, que teve a cabeça completamente estourada pela Boito .20, e o deitou no chão, em uma posição digna.

Antes de sair de soltar o corpo de Asmodeus completamente, ele pegou algo jogado sobre o peito do demônio: a Máscara Infernal. 

Rapidamente, guardou a máscara na cintura e pegou a mão de Lou Xhien, a chuva estava forte e eles poderiam se perder na escuridão.

Enquanto corriam, Kurone sentiu uma vontade imensa de gritar, apesar do que aconteceu ao demônio idaten de bom coração, Lou Xhien estava viva. 

Ele conseguiu salvar alguém dessa vez…

Mas, quando assim pensou, uma névoa branca e densa inundou todo o cenário chuvoso. 

“Não! Não! Não! Maldita!” A vontade daquele jovem no momento era de matar Mamon von Faucher da maneira mais dolorosa possível.



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