Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 90: A Vingança Do Delinquente

“Ontem, dia 02, um médico do hospital Yamamoto foi internado em estado grave após ser espancado por um estudante do fundamental. Segundo as informações que recebemos dos funcionários, houve um desentendimento entre o estudante e o médico. A identidade do garoto ainda é desconhecida.”

Kurone nunca sentiu tanto ódio. A todo momento a ideia de matar aquele médico se passava por sua cabeça. Ele tentou abusar de Teruhashi, porém saiu como a vítima da história. 

— Foi algo realmente triste — disse uma mulher ao lado do garoto. Todos estavam vestidos de preto. Os homens usavam ternos e as mulheres, vestidos.

A foto de Teruhashi sorrindo ao lado do irmão estava sobre o grande caixão de madeira marrom. Em frente ao caixão, uma mulher chorava sem parar, mesmo que não fosse a mãe de sangue da falecida.

— Quem é você? — Kurone perguntou indiferente. Ele lançou um olhar afiado para a mulher ao seu lado e prosseguiu: — Eu nunca te vi por aqui.

— Não sou dessa região, mas vim rapidamente quando recebi a notícia que… minha filha estava morta. Você é o Kurone, não é?

— Sim — respondeu em tom seco. — Quem bom que você veio. Abandonou ela por toda a vida, mas pelo menos a viu na morte. — O garoto virou as costas e se afastou da mulher. Aquela foi a última vez que se encontrou com a suposta mãe de Teruhashi, talvez a tenha visto alguma vez mais, mas como não se deu ao trabalho, nunca saberia.


Passou-se uma semana após o incidente. O médico, com ataduras no rosto, recebeu alta e voltou para casa tranquilamente. Ele não sentia peso na consciência, afinal aquela não fora a sua primeira vítima, porém foi a primeira a tirar a própria vida a fim de evitar o abuso.

Também não esperava ser espancado por um delinquente do fundamental, queria dar uma lição naquele garoto, porém teria de esperar a poeira baixar. Teve muita sorte de ter se tornado a vítima da história.

“Há! O garoto vai ser tratado como um monstro, é algo satisfatório por enquanto…”, ele pensou ao atravessar a rua capengando.

O mundo sempre estava ao seu favor. Fora acusado de abusar mais de dez pacientes, porém nunca conseguiam provar seus crimes, ele era alguém muito influente.

Sua atenção voltou-se para uma garotinha chorando em um banco de madeira. Aparentemente, estava perdida. “Mas que sorte, não tem ninguém na rua a essa hora…” Ele olhou com malícia para a menina.

— Olá, você está perdida? O tio pode te ajudar — falou em um tom gentil.

— Eu… eu… eu me perdi!! Quero minha mãe! — gritou enxugando a torrente de lágrimas caindo do rosto.

— Que pena, essas ruas são bem perigosas para uma garotinha andar sozinha, onde você mora?

— Moro depois daquela rua… eu acho — ela disse apontando para o local.

— Vem, o tio vai te ajudar a encontrar sua mãe. — Ele estendeu a mão com um sorriso perverso estampado na face.

A garotinha hesitou por um momento, no entanto, decidiu confiar no homem sorrindo e estendeu a mão a ele. Ambos atravessaram a rua deserta a passos rápidos.

— Vamos por esse beco, é um atalho — sugeriu o homem. — Precisamos chegar em sua casa o mais rápido possível, não é mesmo?

— S-sim — a menina respondeu com a voz um pouco trêmula.

O “atalho” era sombrio, com nenhuma movimentação e, aparentemente, não tinha saída. “Um local perfeito.”

— Acho que já deu — A garotinha comentou soltando a mão do médico.

— Hã? Eu ainda tenho que te levar para… Ei! Volta aqui! — berrou para a menina correndo rapidamente e desaparecendo em segundos. — O que diabos foi isso?! — praguejou olhando as paredes do beco.

— Pervertidos não podem ver uma garotinha indefesa que já querem brincar, que idiotas! — Uma voz insana reverberou pelo local.

Antes que o médico olhasse para a fonte da voz, gritou de dor ao sentir um impacto violento na perna esquerda. Crack! Ele perdeu o equilíbrio após escutar o som seco e caiu por cima do braço.

— Usei uma isca e atrai o pássaro para a armadilha, isso é o que chamam de arapuca, certo? — O dono da voz era um garoto de cabelos loiros segurando um bastão de basebol. Ele tinha um sorriso macabro no rosto bronzeado. — Achou mesmo que ia ficar impune? Eu te avisei, não avisei? Vou matar você, desgraçado!

— V-você… Se afaste de mim! Não se aproxime mais! — o médico berrou rastejando com o auxílio do braço direito, pois o esquerdo foi fraturado na queda.

— Haha! Ué? Você não gosta de brincar com garotinhos do fundamental? Eu trouxe esse bastão pensando que você tinha alguns fetiches assim… — o garoto, Kurone Nakano, pisou na cabeça do homem rastejando como um verme.

— E-escute… Eu não queria fazer aquilo! E-eu…

— Hã? O que você ia fazer agora com aquela menina que eu paguei para te atrair até aqui? Trazendo garotinhas para um beco sem saída… Repugnante! — ele rugiu dando uma paulada no ombro esquerdo do médico.

— Ahhhh! — O homem rolou de um lado para o outro, gritando o máximo que podia, na esperança de alguém aparecer para o salvar. — Por favor! Por favor, pare!

— Você quer viver? — Kurone agachou-se e olhou com desprezo para o médico. — Então te deixarei escolher. Vê essa lâmina? — ele puxou o objeto da cintura. — Com certeza você lembra, pertencia a Teruhashi… Serei piedoso e te deixarei escolher, deseja morrer aqui com pauladas insuportáveis do meu bastão ou viver miseravelmente como um homem castrado? Vamos! Escolha!

O homem olhou com horror para o garoto. Na mão esquerda, ele tinha o bastão, e na direita, o estilete. Independente da escolha, sofreria muito.

— N-não podemos conversar?… Argh! — Sua fala foi interrompida por um golpe do bastão direto no rosto.

— Sou eu quem faz as propostas aqui. Se não escolher, aplicarei as duas punições — Kurone comentou irritado.

— Pó favó, eu naum quero morré… — o médico tentou falar, mas a ação era impossível por conta dos dentes e o nariz quebrados na hora da pancada.

— Eu tenho outras irmãs — o garoto começou —, se eu não neutralizar ameaças como você, elas poderão ser as próximas vítimas no futuro. Por isso, para o bem delas e de outras meninas, eu vou te matar.

— E-esp…

Crack! O homem não teve tempo para responder. O crânio foi aberto com um único golpe furioso do taco. Crack! Kurone continuou a dar golpes com o bastão pelo corpo do homem, tendo certeza que ele ainda estava consciente para sentir toda aquela dor.

Primeiro, quebrou as costelas com golpes rápidos, bateu com força na coluna e deu mais cinco golpes na cara, deixando o rosto da vítima desfigurado. 

Para finalizar, golpeou o crânio mais duas vezes. O beco, o bastão e as roupas do garoto rindo como um louco estavam repletos de sangue. Ele continuaria dando tacadas, porém uma voz o interrompeu…

— Já deu. Você conseguiu, sua vingança está completa — disse o senhor Nakano batendo palmas.

Escutando a voz do pai, o garoto recuperou um pouco da sanidade e largou a arma cheia de sangue.

— Nós vamos nos livrar do corpo e de qualquer prova que esse homem foi morto por você, espere escurecer e volte para casa — completou o pai orgulhoso do filho, ou melhor, orgulhoso dos efeitos da droga em seu filho.

Naquele dia, Kurone Nakano cometeu seu primeiro assassinato, no entanto, não conseguia lembrar claramente por conta da droga que infestava o seu ser, mas a partir daquele dia, nunca mais foi mesmo.

Quando recuperou a racionalidade completamente, jurou tomar os remédios todos os dias para que aquilo nunca mais acontecesse…


… A casa dos Nakano era a única com aquele pequeno portão barulhento, não era por opção, um portão maior custava muito, e, no momento, a família Nakano passava por uma situação difícil.

— Até mais, irmão! — A garota, Raika Nakano, acenou com um sorriso. 

— Se cuida!!! — A outra, Rin Nakano, alguns centímetros mais alta, também acenou.

— V-vá com cuidado, não que eu me importe… Pare de olhar pra mim desse jeito! — A última, a menor das três, Eriko Nakano, tentou acenar, mas corou imediatamente, baixou a mão e correu para dentro da casa.

— Não precisam se preocupar, o irmãozão aqui sabe se cuidar! — Kurone Nakano, um jovem japonês de 20 anos, gritou energeticamente.

Ele estava vivendo um período feliz. Os remédios controlavam sua insanidade e diminuíam as vozes macabras que martelavam em sua cabeça, por isso sempre andava com eles no bolso, jamais deixaria de tomá-los.

Precisava estar são, suas irmãs precisavam de um jovem saudável, não de um louco. Prometeu que um dia encontraria a cura para aquilo, não apenas para se curar, mas também curar Rin, que também foi vítima do maldito experimento, por isso estudou muito para ingressar na faculdade de medicina que ficava a seis quarteirões de sua casa.

Ainda tinha o bastão guardado e treinava golpes de artes marciais todo fim de semana, pois queria ficar forte o suficiente para proteger todos que estavam ao seu redor.

“Eu vou proteger todos vocês…”, ele pensou antes de cruzar a rua onde teria o encontro fatal com o caminhão.



Comentários