Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 57: Embate De Loucos

O corpo de Rhyan Gotjail quebrou a janela, caiu e rolou pelo gramado. No fim das contas, aquele jovem narcisista era um reencarnado, tirando as feridas superficiais, apenas seu orgulho fora ferido fatalmente na queda.

Sem tempo para bater a poeira da roupa extravagante, ele levantou-se em um salto, olhando furiosamente para quem o arremessou.

O jovem de manto branco também saltou e caiu no chão de maneira desajeitada. Apenas reencarnados podiam pular do terceiro andar de um prédio e andar como se nada tivesse acontecido, mas Kurone precisava praticar essa técnica — um estalo doentio ecoou quando a perna dele tocou o chão. 

Rhyan montou a pose de luta que aprendera com o seu falso tio, Kenam Gotjail. Ele se recusava a sacar a AWM, se Kurone lutaria de mãos limpas, então não se rebaixaria também. Quem sacasse a "Arma Lendária" primeiro seria o perdedor, essa era a lógica distorcida que acreditava.

— Blergh! — Rhyan grunhiu ao receber o chute surpresa de Kurone. Foi questão de segundos, como ele era tão rápido? Pela maneira desajeitada e o físico destreinado, o falso herói imaginava que o Santo dos Demônios não fosse tão forte. Não… na verdade, aquela força não era algo natural!

Rhyan sentiu-se frustrado ao perceber finalmente a verdade em meio aos socos do Santo. O tempo que ele passou adquirindo técnicas com o treinamento infernal da família Gotjail foi inútil. O jovem à sua frente, Kurone Nakano, era movido apenas por uma insanidade diabólica. Os olhos anteriormente tapados pela franja revelavam uma fúria nunca vista antes. Aquele à sua frente era um verdadeiro louco! E, por isso, o falso herói sentia-se frustrado. Aquele era louco que Rhyan Gotjail devia ter sido quando viu toda a sua vila ser incinerada pelos demônios.

— Porra! — gritou o jovem narcisista, na tentativa de um contra-ataque.

A investida foi inútil. Era como se o seu adversário pudesse prever os movimentos! Seria verdade que aquele era o portador do Olho Sagrado? O mesmo desgraçado que andava com demônios era realmente agraciado pela deusa? A dúvida desapareceu com um soco no maxilar. O corpo surrado de Rhyan rolou novamente, procurando um local para pousar.

— Chega! 

Ele se cansou. Só estivera levando golpes e não atingiu nenhum! Sim, essa era a chave para ganhar: contra-atacar. Kurone era forte de uma maneira anormal, movido pela sua insanidade, mas não conseguiria resistir a um ataque direto de Rhyan, que treinou por anos até chegar ao nível de um herói. Se não pudesse nem derrotar um homem que se dizia ser o "Santo dos Hereges", como ostentaria seu título? Ele prometeu que seria como o irmão, por isso não perderia mais para ninguém! Nem se seu adversário fosse um Duque do Inferno… Não, ele queria que fosse um Duque! Rhyan queria vingar o seu irmão, matando aquele ser chamado "Leviathan ford Ingrid", e para isso…

— Ahhh! — Rhyan, cuspindo sangue, segurou o soco de Kurone.

Aquela tornou-se uma luta de louco contra louco, cada um lutando por suas crenças distorcidas do que era certo e tendo como combustível as memórias de um passado conturbado.


— O myaninho e o Rhyan estão se myatando no pátio!

— O m-mestre Gotjail!?

— E daí? Deixa eles se resolverem. 

Kawaii franziu o cenho ao ver a resposta fria daquela garotinha de cabelos prateados. 

Na cozinha, estavam apenas as figuras de Rory e Fran, as únicas que podiam controlar os jovens que desferiam golpes mortais no pátio. As crianças que brincavam lá estavam assustadas, correndo de um lado para o outro.

— Qual é a dessa cara? Tá querendo sair no soco também? — ameaçou Rory, com um olhar indiferente.

— Isso nyão é lugar de brigar! Tem crianças aqui! 

— Foda-se?

— Por f-favor, senhorita Rory…

A loli arrogante manteve a postura imperturbável, mas uma única sentença fez a garotinha franzir o cenho:

— Tudo bem, tudo bem, deixe ela, Fran. Talvez o myaninho queira escutar o que o supervisor me disse ontem.

Rory ficou visivelmente incomodada, porém, tentou manter-se imponente. A tensão tomou conta da cozinha e Fran compreendeu o fato que a qualquer momento outra batalha poderia iniciar-se.

— Tsc, não tenho interesse em lutas de homens, mas não posso deixar o idiota morrer e também não posso deixar que você contamine minha fonte de mana.

As orelhas de Kawaii se moveram, revelando a confusão na mente da garota. Não era culpa dela, aquelas eram palavras que apenas alguém próximo poderia interpretar; era um "vou ajudá-la, então não conte nada a ele" a maneira de Rory Nakano.


O homem que derrotou a Besta Negra era como um igual, ou seja, um herói. Era isso que Rhyan pensava, mas, ao ver um semelhante andando ao lado de seres imundos como demônios, ele sentiu-se traído.

Enquanto para Kurone, o preconceito era algo tão inaceitável quanto ferir um de seus companheiros. A discussão no quarto serviu apenas de gatilho para iniciar uma batalha inevitável entre os dois jovens.

— Haaa!

— Argh!!

— Blergh!!!

— Haaa!!!!

Os gritos furiosos ecoaram pelo ar. Kurone e Rhyan rolavam pelo gramado, trocando socos e chutes com força suficiente para quebrar ossos.

— Parece que agora tá levando a sério. — A voz de Kurone estava arranhada devido aos gritos ensurdecedores de antes. Uma multidão se reuniu ao redor dos jovens com sede de sangue, mas ninguém se atreveu a interferir. Os espectadores eram: Orcus; as crianças mais velhas do instituto, gritando coisas como "aposto no protagonista de hentai"; e alguns supervisores.

— Vou mostrar a você porque me chamam de herói.

Em um gesto, flamas inflaram na mão de Rhyan, circundando o gramado e queimando tudo ao seu redor. Claro, os sentidos de Kurone o alertaram antes, porém uma enxurrada de água se levantou e seguiu o corpo do jovem de manto branco.

— Ainda não acabei! [Wind Spike]!

O ar foi modelado conforme o desejo de Rhyan e espinhos invisíveis seguiram na direção do Santo, mas, na verdade, não eram tão invisíveis, pois o Olho Sagrado captava o fluxo de mana. 

— Há! É seu fim! [Spike Wall]!

Chamas circundavam todo o campo de batalha, criando uma pequena muralha infernal; uma onda criada do nada se dirigia pela esquerda, espigões invisíveis se aproximavam pela direita e o chão começou a se movimentar, formando espinhos enormes. Kurone estava cercado pelos quatro elementos!

Essa era uma clara desvantagem do jovem, ele não tinha magia, apesar de ter uma quantidade insana de mana, sua única cartada era o Aprimoramento Físico e o Olho Sagrado — as outras habilidades aparentemente eram passivas como a [Autorecuperação].

— Xeque-mate! 

Uma luz esverdeada envolveu o corpo de Rhyan e um objeto se materializou. Era a AWM, carregada e pronta para atirar no adversário que flutuava entre os quatro elementos. A insanidade se sobrepôs à honra e Rhyan disse "foda-se" para a ideia de que quem sacasse a arma primeiro perderia. Ele só queria matar o adversário.

Kurone estava encurralado, não importava para onde fosse, certamente tomaria dano, por isso…

— Interessante!

— Hã?

Um "clack" doentio ecoou e sangue se espalhou pelo gramado em chamas. O adversário insano escolheu pisar com tudo nos espigões de terra e usou-os como um trampolim para se impulsionar em direção a Rhyan.

— Que porra!

"Bang"

Um tiro afobado da AWM seguiu uma trajetória torta e passou raspando o manto branco do jovem, porém o punho de Kurone seguiu uma trajetória retilínea e se aproximou, pronto para destruir o nariz do falso herói mais uma vez. Seria o golpe suicida que usou quando chegou em Eragon, carregado com sua fúria incontrolável…

— Já basta!

O ataque imbuído de força se esvaiu, as chamas se apagaram e qualquer resquício de magia desapareceu com apenas a presença do homem que extinguiu toda mana ao seu redor.

— R-reitor… — balbuciou Rhyan, com o rosto ensanguentado.

O corpo dos lutadores perdeu a força ao ver a aura assustadora se estendendo no local e o dono dela tranquilamente pelo gramado. Era um homem de roupas formais, cabelos longos brancos, que caiam sob o rosto enrugado, e olhos negros como a noite. A primeiro ver, ele passava a impressão de um adulto na casa dos setenta anos comum, mas até mesmo sem o Olho Sagrado, Kurone conseguia dizer que aquele não era um humano normal. Todo o seu ser exalava a aura de um reencarnado.

O jovem ouvira Kawaii comentar a respeito do "reitor", mas não chegou a vê-lo presencialmente. "Então esse é o chefão… nada mal."

— Eu não permito que lutem nesse instituto. Não sei quem começou a briga e também não me importo em saber, mas se querem resolver seus problemas, vão para outro lugar.

Até a maneira de falar era imponente. O homem se manteve com a expressão imutável em meio ao que era um campo de batalha, demonstrando que poderia matar qualquer um dos dois jovens facilmente. E mesmo diante de tamanho poder…

— Tá querendo apanhar também, velhote?

Kurone manteve sua sede de sangue ligada. Ele perdera a razão há muito tempo e, quando se irritava, tratava todos como inimigos à sua altura.

No Japão, o "médico da cabeça" lhe passou remédios especiais — aqueles de tarja preta — para controlar a sua ira, mas ele os queimou assim que chegou naquele mundo; desde o primeiro dia sabia que sua insanidade seria útil. Foi assim que obteve coragem para lutar, o Kurone controlado por drogas lícitas jamais atiraria em uma garota, por mais que fosse um demônio disfarçado, assim como fez na catedral. Aquele era o verdadeiro Kurone Nakano, o delinquente do fundamental que encarou sozinho uma gangue do ensino médio.

O reitor franziu o cenho diante daquele louco. Os punhos dele estavam manchados de sangue alheio, mas, por algum motivo, a roupa estava intacta, assim como sua vontade de lutar.

"Bam!"

Porém, a sede de luta se apagou com um tiro. O projétil atingiu o ombro direito, machucado anteriormente, e o derrubou. Era uma bala de borracha, mas teve força o suficiente para o acalmar.

— Te deixo só e você arruma briga, cão idiota. Não crie problemas para mim desse jeito. Anda, vá esfriar a cabeça — ordenou Rory, após atirar no jovem.



Comentários