Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 2

Capítulo 53: Missão 'Raifurori'

— Qual é a dessa cara nojenta?

— Hã?

— Ei, Nakano, tá tudo bem com você? Tá com a cara muito pálida.

— Hã?

— Não seja palhaço.

— Argh!

Em um soco, Kurone retornou à realidade. O cenário recuperou a cor e Rory se moveu novamente, lhe dando um soco de direita no estômago. Pelo menos a dor era uma prova que estava de volta ao mundo colorido.

O que foi aquilo? Uma alucinação? 

Não importava quantas vezes olhasse ao redor, ele não conseguia mais ver a silhueta esbelta daquela mulher, mas uma coisa era certa: aquele encontro aconteceu. O jovem lembrava claramente daqueles olhos assustadores.

— Quer um copo d’água? — perguntou Orcus, com uma expressão séria.

— Não. Tô bem, só preciso me sentar.

Como poderia estar bem? Os olhos daquela mulher estavam espalhados pelas paredes. Não havia dúvida. A beldade que encontrou Kurone era a deusa Annie, a mesma desenhada e esculpida em todas as paredes da catedral.

Foi como daquela vez que encontrou Cecily novamente. A alma separou-se do corpo e ele fora jogado em um mundo separado daquele. Porém, com essa deusa foi diferente. Ela interferiu diretamente no tempo.

— Parece que o reitor nyão tá aqui! Desculpa por fazer vocês esperarem. Ué? Qual o problema, myaninho?

— Não se preocupe, não foi nada. Podemos ir ver o tanque? — "E sair daqui o mais rápido possível!"


"É logo ali!" Kawaii liderou o grupo pelo interior da catedral. O local estava vazio. Segundo a garotinha, os líderes religiosos estavam ocupados com as preparações referentes ao festival que aconteceria em breve.

O som de passos ecoou pela construção vazia. Kurone ainda estava com uma expressão estranha no rosto. Não era para menos, havia uma estátua da deusa Annie em cada sala.

Após cinco minutos de caminhada, fazendo curvas e abrindo portas, o grupo chegou a uma sala que só poderia ser descrita como uma enorme garagem.

— Aqui está! A relíquia de Eragon e também um dos objetos myais estranhos que temos! O tanque de guerra!

"...Leopard 1", deduziu Kurone, após ver o veículo. Era um modelo alemão. Como uma coisa daquelas foi parar naquele mundo? Mais importante, ele ainda funcionava?

Cada um fez uma expressão diferente. Orcus arregalou os olhos, admirando a "carruagem metálica", e Rory cerrou os olhos, fazendo uma expressão sombria visível. O que estava acontecendo com ela? Normalmente, a loli arrogante não demonstraria outra expressão senão de sadismo e nojo. Não, não, não. Era melhor não questionar a garotinha, pelo menos ainda não.

Voltando a atenção para o veículo, Kurone percebeu que ele estava bem preservado, a tinta verde ainda se mantinha brilhante. Provavelmente alguém fazia a limpeza do tanque diariamente.

Ao se aproximar ainda mais, o jovem notou na parte esquerda alguns arranhões. Aparentemente, eles foram feitos por uma lasca de pedra ou um objeto cortante. Enfim, não importava o material, fato era que os arranhões foram intencionais. Estavam escritas em rabiscos gigantes, quase ilegíveis, duas palavras, ambas em línguas diferentes, mas originárias da Terra.

A primeira era um wasei-eigo escrito rudemente em katakana, um dos três sistemas de escrita japonês. A outra, logo abaixo, estava claramente escrita em inglês. A tradução seria algo como:

— "Raifurori Mission"…

Os caracteres escritos em katakana poderiam ser divididos em duas palavras: "ライフ" e "ロリ", romanizadas como "raifu" e "rori". Elas podiam ter diversos significados…

— É verdade, o myaninho é japonês! Nenhum de nós conseguimos compreender o que estava escrito em cimya!

— Nem adianta vir com esse olhar esperançoso. Eu também não entendi o que tá escrito ali. "Raifurori" não é nenhuma palavra que eu conheço.

— Desapontada! Decepcionyada!

— Não tem o que fazer… A propósito, essa geringonça funciona? Parece que tá parada há muito tempo.

Nyão sei. Tá sem combustível. Myas, pelo que o "reitor" me contou, usaram um Orbe de Myana Azul, umya vez, pra fazer ele funcionyar.

— Então isso aceita mana como combustível… — "É como o fuzil da Rory."

Nyão, nyão. MUITA myana como combustível. Algo que só pode ser fornecido por um Orbe de Myana.

— Entendo… Hã? Rory? Tudo bem? Agora é você que tá com uma expressão estranha.

— Umm… Eu queria explodir algumas coisas com isso, mas parece que não vai rolar. Era só isso.

— Então era por isso que você tava tão ansiosa pra ver o tanque? E eu me preocupando à toa.

O grupo admirou o veículo de guerra por mais dez minutos, antes de deixarem a catedral. Orcus, sendo um homem ignorante, se contentou com a explicação meia-boca de Kurone: "isso é um tipo de carruagem diferente, que um cavalo não consegue puxar".

Kawaii sugeriu o retorno para o instituto e o grupo concordou. Entre todos, o jovem de manto branco foi o primeiro a gritar "vamos logo" sem hesitar. Ele queria ver as duas garotas que deixou lá o mais rápido possível.


Como dito anteriormente, o Instituto para Reencarnados era conhecido como um orfanato pelo povo. Não era uma total mentira. Ao adentrar o local, podia ser visto um grande número de crianças correndo de um lado para outro.

Ali era realmente um orfanato, porém, as crianças abrigadas não eram normais. Apesar da aparência, elas tinham a mentalidade de um adulto. Não era para menos, pois eram reencarnados. 

Naquele local, havia quatro supervisores e mais de trinta crianças. Todos reencarnados. Kawaii e Rhyan estavam inclusos na conta dos supervisores. 

O trabalho de Kawaii era basicamente andar de cidade em cidade, em busca de conterrâneos do outro mundo. Segundo o reitor, eles poderiam causar problemas ao equilíbrio do mundo, caso fossem deixados soltos. A manipulação de mana, e consequentemente a "Arma Lendária", eram despertas aos dez anos. Imagine o estrago feito por uma criança de dez anos ao descobrir que podia usar magia.

Brain, certa vez, explicou a Kurone que o fluxo de mana em crianças era desorganizado. Por mais que tivessem a mentalidade de um adulto, eles jamais conseguiriam dominar a magia por si só. E é aí que entrava o instituto.

As crianças eram ensinadas desde cedo sobre magia e o senso comum daquele mundo. Isso foi algo que faltou a Kurone. Porém, havia algo mais importante a se notar. 

Todos ali eram reencarnados, mas não como o jovem. Eles começaram a vida do zero. O garoto ficou incomodado desde o momento que conheceu Kawaii. Ela fora reencarnada como uma semi-humana!

Escutando a explicação contada pela garota, a caminho do instituto, o jovem só ficou ainda mais confuso. Principalmente pelo uso do termo "Arma Lendária". Provavelmente isso estava ligado a Ingram de Kawaii e a AWM carregada por Rhyan Gotjail.

Era muita informação para o jovem processar de uma vez, mas de uma coisa ele tinha certeza: todos foram reencarnados pela deusa Annie. A mesma deusa que viu na catedral há alguns minutos.

Falar sobre Cecily poderia acarretar problemas, então ele simplesmente evitaria tocar no assunto por ora.

Kurone poderia obter informações importantes conversando com Rhyan Gotjail, considerando a personalidade dele. O difícil mesmo seria o garoto deixar o orgulho de lado e dirigir uma palavra àquele jovem narcisista. Bom, ainda havia dois supervisores que não conhecia, talvez um deles pudesse colaborar.

Nyaaaaah! Chegamos! — Kawaii abriu os braços de maneira exagerada e inflou o peito quase insistente.

Pensando bem, normalmente ela se referia a si mesma como "ele", quando falava sobre a vida passada. Ela, ou ele, teria sido um homem na antes de reencarnar? Ou era apenas a diferença idiomática de pronomes daquele mundo?

— Ehh… Kawaii…

— Senhorita Kawaii! Retornou cedo... — Alguém, saindo do instituto, interrompeu a pergunta de Kurone. Isso estava acontecendo muito ultimamente. Era como se Deus não quisesse que o jovem obtivesse respostas.

Quem o interrompeu foi um homem alto e de roupas formais, o rosto dele estava oculto por caixas de madeira que carregava sofregamente.

Nyah! Aconteceu um ataque nya praça.

— Entendo… entã–

Os olhos do homem se arregalaram de maneira anormal, as caixas que carregavam foram arremessadas e o corpo começou a tremer. 

— Vo-você! De novo não! De novo não, de novo não, de novo não, de novo não, de novo não, de novo não, de novo não! Se afaste! Monstro!

Os gritos de horror eram direcionados a uma única existência, e, para aquele homem, era como se fosse a existência mais horrenda que vira na vida. Ele engatinhou, suplicando, como se alguém estivesse pronto para lhe dar um golpe de misericórdia.

Ele estava horrorizado, tentando processar o que estava acontecendo. No entanto, a garotinha, Rory, que era chamada de monstro, e vítima dos outros insultos do homem, se manteve indiferente. Ela deu de ombros e o ignorou, seguindo para a entrada do instituto.

— Tô com fome. Espero que tenha carne lá.

Rory era imprevisível, às vezes assustadora e sempre misterioso. De alguma maneira, ela traumatizou profundamente aquele homem desconhecido, e, mesmo assim, o ignorou, como se fosse um pedaço de nada.

Kurone pensou em fazer algo, mas Kawaii foi mais rápida e tentou acalmar o homem. Ela fez um sinal para o jovem. "Vá com a Rory, rápido!". Era a melhor coisa que podia fazer naquele momento.



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