Raifurori Brasileira

Autor(a): NekoYasha


Volume 1

Capítulo 36: Azazel Van Gyl

Primeiramente, fez Kurone tirar a roupa de empregada e colocar o manto branco de Santo novamente — estava ridículo, bom… Mais ridículo que o normal, além disso, o manto possuía habilidades de proteção, habilidades essas perfeitas para alguém tão fraco como o idiota.

Após pôr as ataduras no olho e nas mãos do jovem, “Rory” preparou-se para iniciar o plano. Era a chave para encerrar essa batalha irritante, embora estivesse hesitante de fazer isso.

O fuzil militar era algo que não devia existir nesse mundo, mas por conta do pacto com o garoto de outro mundo, podia usar da maneira que quisesse. Mesmo tendo a habilidade "Criador", essa só funcionava por conta da existência de Kurone Nakano, Rory tinha limitações quanto a usar essa habilidade como antes.

Tinha a habilidade Criador e o jovem de outro mundo, porém, só podia ter uma arma por vez, seria muito perigoso para Kurone ter a mana drenada para a convocação de uma segunda arma… Por isso a Besta Negra foi necessária.

A garotinha de pele escura possuía um pacto com Kurone — assim como ela. O plano, apesar de arriscado, poderia dar certo… Não, não podia haver incerteza nesse momento. Teria que dar certo, e se não desse, era improvável que a Besta Negra morreria por conta de uma falha no Criador.

Assim, reuniu uma quantidade significativa de mana do corpo de seu companheiro e comprimiu tudo, pedindo para que ele pensasse em uma arma poderosa do seu mundo. Passou-se pelo menos dez minutos até a Magia Sagrada estar pronta. Um círculo mágico com diversas runas no chão e algumas palavras concluíram o ritual para invocação daquilo… Uma arma militar de aproximadamente 900 centímetros.

O ritual para invocar uma arma deu certo e a exausta Rory caiu sobre a grama…

Desde que o seu poder foi selado, ela não podia mais usar o Criador livremente, e quando usava arriscava a sua vida e a dos seus companheiros. Era irritante.

— Algo está estranho — ela murmurou enquanto repousava olhando para o céu. 

Passou alguns minutos desde que seu companheiro e a Besta Negra foram para o campo de batalha. Onde estava a explosão provocada pela arma? Houve algum problema por usar o corpo da Besta como um recipiente?

Ah… Aí está.

Rory, deitada sobre a grama e observando o céu quase oculto pelas árvores, escutou algo como um "kaboom" vindo do campo de batalha.

Uma nuvem de poeira se formou de onde o som foi provocado e alastrou-se por toda a floresta. A intensidade do vento soprou o corpo magro e cansado da garotinha para longe. Rory quicou pelo chão, sem força suficiente para agarrar-se em algo.

Uma “bazuca” conseguia realmente fazer um estrago, mas isso era um exagero. Algo dessa magnitude podia ser chamado de desastre natural. O efeito era bem diferente quando o mana usada como munição da arma era de alta qualidade.

Árvores, rochas, gravetos e até pequenos seres — como Rory — foram arremessados.

— Que porra. Que diabos os idiotas fizeram? Isso não devia ser assim…

A garotinha resmungou enquanto era levada pela maré de poeira. O corpo infantil estava distante do chão. Uma queda dessa altura, por mais que não matasse, doeria — e muito, para alguém com pouca mana e cansada.

— Seu plano funcionou bem até demais!

Algo quente e macio tocou o corpo infantil. Era um calor quase que familiar. Uma mão em formato de concha segurou a nuca enquanto o braço comprido foi em direção às pernas curtas.

Ao virar o rosto, a garotinha se deparou com o seu companheiro, apelidado carinhosamente de “idiota” e, às vezes, “inútil”, “incompetente”, “pervertido”... Enfim, era Kurone Nakano.

O jovem estava com o rosto sujo de terra e as ataduras podiam cair a qualquer momento, mas um sorriso triunfante adornava seu rosto.

Duas mãos bronzeadas pareciam sair das costas de Kurone. As mãos pequenas possuíam unhas negras pontudas que se agarravam firmemente ao corpo do jovem. A Besta Negra estava chorando? Podia ser… medo de altura? Não importava!

— A explosão… A explosão foi maior que a esperada!

Saltando sobre os fragmentos de pedra e madeira, Kurone levou ambas as lolis até o alto de uma árvore próxima, pousando em um galho estável.

Não podiam ficar ali por muito tempo, mas poucos segundos perto da fonte ilimitada de mana eram o suficiente para Rory recuperar as forças. Ela sentiu a energia vinda do jovem adentrar o seu pequeno corpo e misturar-se ao seu fluxo de mana, seguindo direto para o núcleo de mana. O funcionamento da energia vital era semelhante ao sangue.

Um "crack" fez o idiota agarrar o corpo infantil novamente e saltar em direção a outra árvore — e repetiu o processo três vezes. Quando pousava em um galho, escutava o som da árvore que estava indo em encontro com o chão.

Notou algo em seu companheiro. Aparentemente, o pacto com a loli parda aumentou seus reflexos, pois, ele, que até recentemente vivia tranquilamente, pulava sobre árvores gigantes bem rápido, como um ninja. 

Era realmente impressionante. Toda vez que via esse inútil, ele estava mais forte, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Ele se esforçava, era realmente como o…

— Devemos ficar seguros aqui… Ahhh!

Argh! 

— Descul…

Antes que pudesse se desculpar por jogar Rory no chão sem perceber, Kurone foi golpeado pela pequena mão cerrada da garotinha. O golpe perfeito atingiu o olho sem ataduras. Rory nunca errava um golpe.

— Não faça isso com Kurone Nakano!

— Tá querendo apanhar também?

A garotinha parda, que também foi jogada pelo jovem, tentou intervir, mas, ao ver a cara assustadora da outra, correu e se abrigou nas costas de Kurone novamente — ali se tornou a sua trincheira, apesar de ela ser a lendária Besta Negra.

Argh… Será que as outras estão bem?

O local onde aterrissou foi uma pedra enorme. Essa pedra tinha aproximadamente o tamanho da mansão Soul Za, e nem mesmo a explosão provocada pela bazuca a fez se mover. Era um local perfeito para criar uma base.

Pouco a pouco, a poeira baixou e puderam ver o resultado de suas ações: uma floresta completamente devastada pela explosão.

— Acho que foi exagero usar tudo isso para matar o Edward… — o idiota disse enquanto levava a mão à cabeça e a coçava, constrangido.

— Não morreu. — A garotinha de pele parda fungou, encarando uma montanha de escombros à frente. — O humano Edward não morreu ainda.

— O que você quer dizer? Não tem como ele ter sobrevivido a isso…

— É aí que se engana, senhor Nakano.

A voz insana ecoou do mesmo local que o trio encarava.

Insanidade. O tom de voz era tomado pela loucura, Rory viu muitas vezes esse tipo de tom antes. Edward não era um humano comum. Apesar de estar gravemente ferido — sangue escorria por toda a roupa cara e lhe faltava o braço esquerdo —, Edward mantinha sua expressão bizarramente calma que contrastava com o tom de voz.

A calça estava em pedaços e a tatuagem na perna ficou mais visível. Na mesma perna, sangue jorrava incessantemente e algo que provavelmente era um osso podia ser visto ao longe.

O zombi Edward. Ele estava praticamente morto, mas se recusava a morrer. Era como Kurone, mas seu objetivo para continuar vivo — o fetiche em crianças — era repugnante. Embora toda a história sobre “Lolicon Slayer” ser false, Rory não suportava ver crianças sendo mortas sem motivos, o seu peito ardia apenas por pensar nisso. Machucar inocentes…

O marquês ergueu a única mão, ensanguentada. Kurone preparou-se para um raio vindo do alto… Mas não veio. Ele tinha outros planos.

Uma luz azul cercou o corpo esfarrapado de Edward, e, em segundos, a carne começou a se reconstruir. Feridas horríveis se fecharam e um braço esquerdo reapareceu novamente.

— Caralho! Que roubo! Isso não vale!

— Tsc, que aberração irritante.

Um Edward Soul Za novo em folha estava em pé, como se nada tivesse acontecido. Quão vasto era o poder desse homem? Ele realmente abdicou a humanidade para ter poder?

Apesar de não ter força física, a aberração se tornava perigosa quando atacava a distância. Era um estrategista, como um sniper em “jogos online”. Qualquer brecha poderia resultar na morte do oponente desavisado. Por sorte, ninguém ali era tão lento a ponto de ser atingido por um raio — com exceção da marquesa Sophia e sua armadura sedutora de eletricidade.

— Tá de brincadeira!

A voz veio do lado oposto à pedra gigante. Noah e Brain saíram de um tronco velho usado como abrigo. Provavelmente, Inri estava lá dentro terminando de curar Sophia.

— Lamento por decepcionar todos, mas infelizmente eu deixei de ser humano há muito tempo…

Kurone voltou sua atenção ao marquês insano que salivava enquanto gritava:

— Sim! Eu sou agraciado pela bênção dos demônios. Sou um humano-demônio! Alguém que serve diretamente a…

Os olhos de Rory se estreitaram e o coração disparou. Cada palavra saía da boca do nobre devagar, como se o mundo tivesse desacelerado de repente. Vamos! Vamos! Vamos! Finalmente era hora de escutar o nome, dessa vez não iria esquecer…

— Lave sua boca antes de falar o nome dela, humano insolente.

Mas outra voz sobrepôs à de Edward antes que ele terminasse sua sentença.

O marquês virou os olhos à procura da dona da voz. De seu ângulo, não podia ver. Na verdade, não veria nada nunca mais. Havia uma mão toda atravessada no peito de Edward… A mão era de uma garota com roupa de empregada da mansão Soul Za.

Algo estranho era o fato da empregada usar uma máscara branca no rosto. O objeto era simples e tinha apenas um orifício no lado esquerdo para o usuário enxergar. Rory conhecia bem o objeto, por isso xingou diversas vezes.

O corpo pesado do marquês rolou da montanha de destroços e foi ao chão assim que a empregada tirou o braço do peito.

Ele morreu apenas com esse mísero golpe? Então o verdadeiro perigo era a empregada mascarada? Podia ela ser a monstruosidade que tentava matar por todos esses anos?

— Perdoem-me por ter sido rude, mas eu perco a paciência quando falam o nome dela de maneira tão vil. Olhem, ele nem lavou a boca com sabão antes de falar… Oh! Perdão, perdão novamente, quando começo a falar me empolgo e não paro. Mesmo que meus ouvintes sejam humanos sujos, preciso controlar a maneira como falo.

A garota pôs a mão ensanguentada no peito modesto e se apresentou:

— Meu nome é Azazel van Gyl, humanos sujos.

Gyl?



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