Volume 1
Capítulo 12: Wave Boss
Os orcs corriam desesperados da carruagem, como se a própria morte estivesse dentro dela.
Era inútil, ou melhor, impossível fugir, a precisão perfeita da garotinha mantinha-se mesmo em alta velocidade.
A cocheira conduzia a carruagem como uma verdadeira motorista de fuga, os olhos castanhos estavam amarelados e uma concentração sobrenatural tomava conta do rosto dela.
E quanto a Kurone...
— Urgh!
Estava enjoado.
A velocidade aumentava gradualmente e, mesmo assim, a loli com o fuzil negro não perdia sua precisão. A cada disparo, podia se escutar o grito de um orc sendo abatido com um tiro na cabeça. Naquele momento, apenas Kurone e Rory estavam dentro do veículo, Edgar e Brain desceram na entrada para ajudar os outros aventureiros.
— Tem uma horda de orcs à frente — anunciou Amélia.
Em um drift, a cocheira desviou perfeitamente do aglomerado de monstros e entrou em um beco estreito — onde as bordas de madeira da carruagem soltavam farpas ao entrar em contato com as paredes de tijolos. Rory usou a janela de trás para eliminar os orcs que os perseguiam.
— Ali! — O ainda enjoado Kurone apontou com a mão trêmula.
Logo à frente, mãe e filha eram perseguidas por três monstros, a criança gritava de terror enquanto lágrimas jorravam dos olhos da mulher — ela tentava correr com todas as suas forças, mas o vestido longo atrapalhava.
Bam! Um tiro, um abate. Os corpos dos monstros cambalearam e foram ao chão, já sem vida. A carruagem derrapou, pendeu para o lado e parou em frente à mãe ofegante.
— Entrem! — gritou o jovem, abrindo a porta do veículo.
Ao perceber que mãe e filha entraram em segurança, Amélia bateu as rédeas e os cavalos começaram a correr em direção à guilda.
O prédio em questão estava quase lotado, a mestra de guilda, acompanhada de dois guardas, aguardava o veículo em frente à entrada. A mãe desceu segurando a menina no colo, agradeceu em um gesto com a cabeça e entrou rapidamente no salão principal da guilda.
“Mesmo com o assassinato em massa da Rory, os orcs continuam vindo, nem sei quanto tempo faz, mas isso não pode continuar assim para sempre…” Kurone entrou no modo pensativo enquanto era sacudido de um lado para o outro no interior da carruagem.
Após passar por toda a vila novamente, em questão de minutos, Amélia, a cocheira, conduziu o veículo novamente em direção à guilda — para garantir a segurança dos moradores que já salvaram.
A decisão foi não podia ter sido em hora melhor.
Uma horda de orcs aproximava-se, provavelmente sentiram o cheiro das mulheres no salão da guilda. Amélia parou entre o prédio e a horda de monstros, trocando de lugar com Rory, que abriu fogo contra a onde de criaturas.
— São muitos! — o garoto gritou ao ver que os monstros se aproximariam antes da pequena companheira abater todos. — Porra, cadê os guardas dessa vila que ainda não vieram ajudar?!
— Pare de reclamar e faça algo de útil ao menos uma vez. — A garotinha jogou o fuzil nas mãos do jovem e desceu da carruagem.
— O que eu faço com isso?!
— Me dá cobertura — Rory disse, apanhando uma espada largada no chão. A arma era do aventureiro morto ao lado, algo comum naquele caos, mas que ainda fazia o estômago do jovem revirar.
— C-certo!
Bam! O Tiro passou bem perto de atingir o orc. Kurone tremeu ao receber o coice do fuzil, nunca tocara em qualquer arma de fogo antes, apesar de conhecer a sensação de tirar uma vida.
— Segure firme! — a cocheira gritou, segurando as mãos do jovem.
Para ter mais apoio, recostou o cano da arma na borda da janela da carruagem. Amélia segurou as mãos trêmulas e o ajudou a disparar, sem nem mesmo saber o que era um fuzil, a cocheira se saía melhor que o garoto.
Uma rajada de três tiros acertaram em cheio um dos orcs.
Enquanto os jovens amadores eliminavam os monstros lentamente, Rory aproveitou a cobertura e avançou para cima da horda, equipada com nada mais que uma espada ensanguentada.
Apesar da distância, a garotinha chegou nos inimigos em segundos com a sua passada rápida.
O som de carne sendo cortada, orcs gritando, sangue jorrando e uma frase arrogante misturaram-se no ar, e Rory desapareceu em meio a multidão de orcs.
Contudo, mesmo com os abates de Amélia, Kurone e Rory, o número de monstros aumentava cada vez mais. Quando se matava um, apareciam dois, era como tentar matar um Hidra. Teriam que queimar todos os monstros?
Suor escorria da testa do jovem, os braços já estavam dormentes de segurar o fuzil, e já o teria derrubado, se não fosse Amélia segurando suas mãos, a diferença da condição física entre eles era assustadora, porém o problema de Kurone era apenas a dormência, pois Cecily abençoou o seu corpo.
‘Mana como munição… ’ Kurone lembrou-se do que a deusa falou repentinamente, aquilo explicava o porquê de sentir o corpo ficando pesado lentamente. “Cada tiro diminuí meu MP…”
Pelo que a divindade explicou, diferente da pequena companheira, ele era uma fonte quase inesgotável de mana, poderia lutar o dia todo, se tivesse mais força resistência, mas nem com o fortalecimento de corpo conseguiria segurar o fuzil pesado por tanto tempo sem sentir os braços dormentes.
“Isso é realmente… Ei, pera aí... então!..” Lembrou-se de como Elsie, a empregada da mansão Soul Za, ficou fraca depois de quase esgotar a mana...
— Rory! — Ele olhou para a direção da sua pequena companheira.
‘... Então, ela não tem quase nothing, mas em compensação, sua nova companheira tem compatibilidade com todo tipo de magia!’ Cecily já tinha avisado, apenas não prestou atenção.
A cena à frente era como da vez em que atacaram a vila, Rory estava caída no campo de batalha, a uma distância que o jovem podia ver apenas um ponto preto no chão sendo cercado por orcs.
— A Rory caiu de novo!
Amélia e Kurone saltaram, na intenção de ajudar a garotinha que estava distante, em meio à multidão de orcs. A carruagem não podia mais se mover — as rodas estavam completamente destruídas. Em algum momento, um dos orcs arremessou um machado e danificou as duas rodas traseiras.
Correr era a única opção que tinham.
— Deixem ela em paz! — Em um acesso de fúria, o garoto pôs um dos joelhos no chão e atirou contra alguns orcs, que se aproximavam da companheira para assediá-la.
Bam! A mira do fuzil estava ampliada em cinco vezes, ele podia ver perfeitamente Rory no chão, xingando silenciosamente, mas sem demonstrar qualquer expressão de medo — mesmo estando incapacitada no campo de batalha e cercada por monstros perversos.
Estava prestes a tirar o olho da mira da arma quando algo chamou sua atenção: um guarda, com uma armadura e elmo cinzas como os outros, mas com adereços amarelos e um brasão diferente.
Pouco a pouco, foram aparecendo outros iguais ao primeiro. Um deles pegou Rory, colocou nas costas e correu em direção à carruagem, os outros deram cobertura ao homem que resgatava a garotinha.
Bam! Kurone também tentou dar cobertura ao guarda até ele chegar à carruagem, mesmo não tendo uma precisão como Rory, o jovem conseguia eliminar um orc em três disparos — a pequena companheira eliminava três em um disparo.
— Pegue! — O guarda chegou em segurança à carruagem e entregou a garotinha. — Cuide bem dela! — Ele acenou e voltou para o campo de batalha.
— Você tá bem? — o garoto perguntou, preocupado.
— Não preciso de sua ajuda, idiota. Isso é assédio sexual, vou te matar. — Rory pulou dos braços dele e se pôs de pé, pegando sua arma novamente.
“Parece ela está bem...”
— Não faça coisas irresponsáveis assim!
— Calado, inútil. Odeio ter que admitir isso, mas como percebeu, não podemos lutar separados. O compartilhamento de mana entre nós acaba quando ficamos muito distantes, dessa vez ele está menor... — Rory explicou enquanto atirava em dois orcs, que passaram pelos guardas.
Ele também percebeu isso, apesar de não entender o que ela queria dizer com “dessa vez ele está menor”.
No momento que Rory correu em direção à horda de orcs, sentiu como se algo se desconectasse de seu corpo, isso também aconteceu quando tentaram atacar a vila — o jovem foi arremessado para longe e a garotinha desmaiou por usar magia distante de seu companheiro.
Enquanto estivessem juntos, o uso de mana era ilimitado, mas separados, podia significar a morte de ambos. O garoto tinha a mana, mas não podia usar magia, a garotinha era compatível com todo tipo de magia e possuía status roubados, mas não tinha a mana.
— Quando acabar essa luta vou ter que comprar uma coleira para te manter perto de mim.
— Eu não sou cachorro, loli desgraçada — ele protestou.
— Repete.
— E-esses guardas… não me diga que… — Amélia, que olhava fixamente para os guardas com um brasão diferente em seus adereços amarelos, interrompeu.
— Eles não são dessa vila? — Kurone perguntou confuso.
— Não… isso é ruim…
— Eu fiquei confuso agora… — O garoto suspirou, aguardando a explicação para o medo no rosto da cocheira, mas essa explicação nunca veio.
De repente, algo chamou a atenção de todos.
Um som estridente, como um “boom”, provocou um terremoto leve na vila. Os guardas de amarelo, já somando mais de cinquenta, olharam com terror para a origem do estrondo.
Clac! Uma clava gigante, vinda do nada e em uma velocidade insana, acertou-os em cheio.
— C-corram! — um dos homens deu a ordem de retirada aos que sobreviveram ao ataque brutal. Os soldados correram em direção à carruagem, era só até onde podiam recuar sem colocar a guilda em risco.
— O que diabos é aquilo? — Kurone perguntou a um dos homens aproximando-se.
— Vá para um local seguro, garoto! — o soldado respondeu em um grito.
“Aquilo” era um monstro com oito ou nove metros, um orc cinza-esverdeado. Diferente dos outros — com barriga de cachaça —, seu abdômen era bem definido, usava um colar de ossos com crânios humanos no centro e uma clava de sua altura cheia de pregos — e que, naquele momento, estava ensanguentada com alguns pedaços de soldados presos nos pregos, como formigas pregadas na sandália de uma criança.
“Porra! É o chefão da onda.”
“Chefão” foi a primeira coisa que veio à mente de Kurone para definir o monstro aproximando-se.
Dos cinquenta guardas, aquela coisa matou trinta em apenas um ataque. Enquanto metade dos sobreviventes ficou em formação na carruagem, os outros encarregaram-se de proteger a guilda.
A carruagem tornou-se a linha que delimitava o campo de batalha.
O monstro não podia passar dali, mas como apenas dez guardas, um jovem sem experiência em batalha, uma loli delinquente e uma cocheira poderiam derrubar aquela coisa? A tensão tomava conta do campo de batalha, a criatura aproximava-se, a cada passo largo, ele percorria dois metros.
— Amélia, vai pra guilda! — Kurone ordenou à cocheira.
— Não, meu mestre é o senhor que protege essas terras, e eu como serva tenho o mesmo dever! E nem se eu quisesse eu poderia ir, faz parte do contrato... — a cocheira disse corajosamente, embora a mão tremendo traísse seu discurso.
Um dos guardas cedeu uma espada a Kurone e outra a Amélia, que estavam desarmados até então. Rory preparava-se para dar o primeiro tiro, que anunciaria o início do massacre.
“Que tipo de evento é esse?” Nos jogos, o chefão, ou wave boss, só podia aparecer quando o herói estivesse mais forte, em uma raid com um grupo poderoso, e esse não era nem de perto o caso de Kurone, que chegou àquele mundo há três dias.
Bam! A batalha contra o chefão iniciou-se com o disparo da M16A2... se é que aquilo podia ser chamado de batalha.