Volume 1
Capítulo 11.1: Loli Ex Machina
Clack! O som repugnante ressoou quando a ponta da espada perfurou a carne dura. Os punhais segurados foram ao chão, junto ao corpo gordo e esverdeado, o guarda apoiou-se em sua longa espada, utilizando-a como um auxílio para se manter de pé, mas não houve trégua.
Mesmo após derrotar dez daqueles monstros, outro orc, dessa vez com uma clava, atacou-o pelas costas.
Crash! A clava empunhada pelo orc voou pelos ares junto ao seu braço musculoso. Sangue respingou no rosto do guarda, ele foi salvo por um dos aventureiros — um jovem espadachim de cabelos loiros.
— O-obrigado!
Sem tempo para responder, o espadachim pulou em direção a outros dois orcs, aproximando-se pela esquerda. A cada onda, parecia que os monstros tornavam-se cada vez maiores e mais fortes. O jovem quebrou o crânio do monstro verde com o punho da espada curta — produzindo um “crash!”.
Impulsionando-se no ar, usou a barriga do orc que destruiu a cabeça como um trampolim e pulou em direção ao segundo monstro, dilacerando a barriga desse. A carne não era fácil de perfurar, mas mesmo a espada capenga do aventureiro era o suficiente.
“Até quando isso vai durar?... Eu realmente não posso ficar lutando assim”, o jovem pensou em meio à respiração ofegante. Ele limpou o sangue da espada de maneira grotesca, o tempo para descanso durou apenas alguns segundos, mais três orcs apareceram, perseguindo uma garotinha da vila, apesar de toda aquela situação, o aventureiro permanecia calmo quando entrou em posição de combate.
— [Hell Flame].
Alguém, no outro lado do beco, gritou e, no mesmo instante, os orcs perseguindo a menina foram reduzidos a nada mais que cinzas — restaram apenas suas espadas e um pouco de seus pés no chão.
— Ahhhhhhh! — A criança gritou assustada ao ver a cena. Seus perseguidores foram carbonizados, aquilo era demais para uma menina de aparentemente dez anos.
Olhando para o lado, o espadachim avistou sua companheira aproximando-se. Era uma garota com um manto negro, vestido longo igualmente em tom escuro e um chapéu gigante; vestimentas típicas de uma bruxa.
— Tenha mais cuidado! Você podia ter machucado a menina! — o espadachim repreendeu sua companheira.
— Foi mal…
— Atrás de você!
Uma flecha passou zunindo pela bruxa e atingiu o monstro preparando-se para atacar. O tiro foi preciso! O projétil atingiu a testa do orc e passou direto, acertando o muro do que costumava ser uma farmácia.
A bruxa desviou com um pulo do corpo enorme do orc que desabava — se ficasse ali, seria esmagada pelo cadáver da criatura.
Com um aceno, a garota agradeceu à companheira encapuzada, em cima de uma das casas. Aquela arqueira salvou-a de ter o crânio aberto por uma clava de madeira.
— Vou levar a menina, me dá cobertura! — O espadachim, pegando a menina nos braços, gritou enquanto corria pelos destroços à sua frente.
— [Shield]. — Um escudo amarelado brilhou no corpo do jovem.
A vila de Grain tornou-se um caos.
O ataque começou há duas horas, nem todos os moradores conseguiram se refugiar no salão da guilda e coube aos aventureiros o trabalho de resgatar essas pessoas.
Os guardas já não tinham mais forças para continuar, havia apenas uma entrada e saída da vila: o portão principal — ele servia de ponte para atravessar o lago que circundava aquele local.
Por sorte, os aventureiros conseguiram uma brecha para que o líder dos guardas, Orcus, pudesse atravessar o portão a cavalo e ir em direção à casa do marquês, para pedir ajuda.
— Onde está a ajuda? — Um dos aventureiros, que ajudou na fuga do guarda, gritou. Já se passou quase uma hora desde então e não apareceu ninguém para os ajudar.
Passaram-se mais dez… quinze... vinte... trinta minutos... e nada. A cada minuto que corria, os monstros reduziam a vila a uma pilha de destroços, e as pessoas tornavam-se corpos sem vidas. O fogo alastrava-se, os prédios, desmoronavam.
Os aventureiros e guardas já estavam em seu limite, as armas desgastadas quase não conseguiam mais cortar a carne dura dos orcs. Mal tinham mais flechas para os arqueiros. Magos, curandeiros, feiticeiros e bruxas esgotaram toda a mana e as poções de recuperação chegavam ao fim.
— Acabou! Vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer... — o ladino gritava sem parar, desesperado, puxando seus cabelos e arranhando os braços.
— Oh, grande deusa, por favor, tenha piedade de nós. — A sacerdotisa segurava uma medalha dourada, com uma estrela esculpida, com força enquanto fazia suas preces.
Alguns aventureiros usavam as casas como pontos estratégicos, mas três jovens e um guarda estavam utilizando, na verdade, como um esconderijo, eles não tiveram coragem de enfrentar os orcs, esconderam-se na casa assim que a invasão começou.
Um ladino, uma sacerdotisa, um arqueiro e um guarda, esses eram os covardes que observavam a batalha dentro de uma casa aos pedaços. A vontade de lutar desapareceu de vez ao verem a morte de um dos moradores em sua frente — o corpo dele ainda estava ali perto da casa, com o crânio esmagado.
— Eu não aguento mais! — o ladino gritou e correu em direção à porta.
— Não!
O guarda e o arqueiro tentaram impedi-lo, mas foi em vão, ele fazia jus à sua Classe. O corpo magro conseguiu desviar dos outros dois e pulou em direção à porta. Com um salto, o aventureiro pulou da porta para o chão, correu, passando por cima do corpo do morador e tentou ir em direção ao portão da vila... mas um “crack” o fez parar.
Todos olharam aterrorizados de dentro da construção a cena de seu companheiro sendo atacado.
Quando tentou entrar em um beco, uma clava o recebeu com um ataque direto no crânio. Aquele era o estilo dos orcs, matar homens com um golpe direto na cabeça, um ataque único e fatal.
— Blergh! — A sacerdotisa vomitou ao ver seu companheiro no chão. O corpo magro, com o tanquinho à mostra, estava intacto, exceto pela cabeça, que se tornou pedaços vermelhos de carne espalhados pelo chão.
Tremendo sem parar, a jovem tentou segurar a medalha dourada que tinha em mãos, mas acabou deixando-a cair no chão de madeira.
O som do metal caindo chamou a atenção do orc com a clava ensanguentada.
— Ele nos viu! — gritou o guarda.
A sacerdotisa olhou aterrorizada para o monstro aproximando-se da casa. Rapidamente o arqueiro fechou a brecha da janela que eles usavam para observar o lado de fora e trancou a porta.
— Shhhhh! — O arqueiro colocou os dedos nos lábios, pedindo silêncio aos dois.
— Me ajudem — sussurrou enquanto arrastava a mesa até a porta. Com a ajuda do guarda, eles conseguiram reforçar a entrada, utilizando alguns objetos como cadeiras, barris e jarros.
Enquanto os dois reforçaram a porta, a sacerdotisa continuava no chão, o barulho dos passos aproximando-se a paralisaram completamente. Ele estava cada vez mais perto.
As passadas pesadas passaram ao lado dela, que estava na janela, cada pisada estridente produzia um “boom” ao tocar o chão. O arqueiro tapou a boca da sacerdotisa para ela não gritar. Os sons do caminhar do orc passaram pela janela e foram em direção à porta.
Rapidamente, o arqueiro puxou seu arco e o carregou com uma das poucas flechas que ainda tinha. O guarda puxou sua espada da cintura.
Cada um ficou em um lado da porta.
Boom! Foi em vão o esforço para reforçar a segurança da casa com mesas, o orc destruiu tudo em um ataque. Farpas voaram pelos ares, alguns pedaços da parede também foram arremessados e a poeira tomou conta do local.
Sem tempo para limpar os olhos, o monstro investiu com sua clava, o arqueiro levava vantagem naquele cenário usando sua habilidade para melhorar a visão. Tudo que o guarda pôde fazer foi correr em direção à sacerdotisa, abrir a janela e pular para fora.
— E-espere, e-ele ainda está lá!
— Ele vai ficar bem! — o guarda gritou, puxando o braço da garota.
Aquele era o plano desde o início: carregar a sacerdotisa, a única que não tinha poder ofensivo, para um local seguro, decidiram isso no momento em que seu companheiro fora morto pelo monstro. Não tinham chance contra a criatura, mas queriam que pelo menos um deles pudesse sobreviver.
— Ferrou!
Eles pularam da frigideira para o fogo!
A casa estava cercada por orcs, não havia mais por onde fugir. Aqueles monstros tinham um olfato apurado para encontrar mulheres virgens — suas presas favoritas eram guerreiras, elfas e, é claro, sacerdotisas.
Sem opção a não ser lutar, o guarda segurou firme sua espada. Como estavam cercados, teria que se defender do primeiro que decidisse avançar, mas seria um problema se todos corressem de uma vez em direção à sacerdotisa.
Um dos orcs, segurando um machado, atacou. O guarda puxou a sacerdotisa para o lado e defendeu-se do machado. Com um chute na barriga volumosa, conseguiu afastar o monstro.
Logo atrás dele, outro orc, um mais magro, atacou com um punhal e acertou sua armadura, o homem brandiu sua espada e tentou cortar a mão do monstro, mas a força não foi suficiente — só conseguiu fazer um pequeno corte na carne dura.
— Urgh! — Uma clava bateu contra peitoral do guarda, amassando todo o metal e o arremessando contra a parede. Era impossível sua visão não ficar turva após aquele movimento violento.
No interior da casa, o arqueiro também era surrado burtalmente pelo orc, mas diferente do guarda, ele não tinha uma armadura de metal para o proteger das investidas monstruosas.
— Ahhh! — a sacerdotisa gritou, dois orcs salivando tentaram atacá-la.
— Desgraçados! — o guarda praguejou enquanto tentava ficar de pé. Junto aos palavrões, também caíam gotas de sangue da boca. Os pés tremiam, mas, mesmo assim, ele se pôs de pé, brandindo a espada novamente em direção aos monstros que se aproximavam. — MORRAM!
Aquele foi um lindo ato de coragem, em um outro universo, aquela seria a cena perfeita para ele despertar algum poder oculto por meio da sua fúria, mas…
Segundos depois, o homem estava no chão. Conseguiu proteger a sacerdotisa, mas levou muitos golpes, toda a armadura estava destruída, assim como a maioria dos seus ossos.
O arqueiro, que milagrosamente conseguiu matar seu oponente, também estava no chão, sem mais forças para continuar. Aquele era o máximo que aventureiros Rank E e um guarda novato conseguiam. Enquanto outros cortavam monstros como se não fossem nada, jovens como eles passavam seus dias coletando ervas, transportando mensagens e limpando prédios públicos.
“Acabou…”, os três pensaram, aceitando sua derrota.
— Grande deusa Cecily... por favor… — a sacerdotisa fez sua última prece, à procura de uma salvação por parte da divindade que cultuava…
Era o fim, outra horda aproximava-se, dessa vez seriam mortos com certeza. Quem sofreria mais seria a sacerdotisa, os orcs não matariam aquela bela garota sem antes se divertir.
Bam! Porém, o som da salvação reverberou pelo ar. As preces desesperadas da sacerdotisa foram ouvidas e um Deus Ex Machina, ou melhor, uma Loli Ex Machina aproximava-se para dar àquele combate o fim que todos esperavam.
Os sons cessaram e, junto, os corpos sem vida dos orcs caíram um após o outro. A cavalaria chegara, era uma carruagem correndo em uma velocidade absurda enquanto disparava contra os monstros.