Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 2

Capítulo 23: Miragem!

Era mais um dia ensolarado naquele lugar que era conhecido como a grande Terra do Sol, e as flores de cerejeira nas árvores desabrochavam em ramos floridos, colorindo todo o cenário com sua beleza delicada. A chegada da primavera pintava os arredores com tons suaves e vibrantes, enquanto o céu azul límpido, após uma noite de vigília, enchia o coração daquela pessoa que contemplava o espetáculo da natureza em Takaamahara.

Aquele dia de guarda era uma exceção para Kira, normalmente acompanhado por Karumo em suas patrulhas, mas a situação demandava sua presença ali. As sombras estavam agitadas e, nas últimas semanas, ele e a guarda, composta por samurais altamente habilidosos, protegiam uma prisão que mantinha sob custódia uma das sombras procuradas pelos inimigos dos guardiões.

— Bom dia, comandante Kira. Como o senhor passou a noite? — Cumprimentou um dos samurais que compartilhava o dever da guarda junto ao aprendiz de guardião.

Kira franzia a testa, tentando recordar o nome daquele guerreiro. Afinal, era um mar de rostos com quem ele precisava lidar diariamente, tornando difícil identificar cada um individualmente. Apesar disso, o comandante retribuiu o gesto com cortesia, percebendo o respeito por trás da pergunta e a tentativa de puxar assunto para que o tempo passasse de forma mais agradável. A saudade de sua família aumentava, e ele desejava ansiosamente retornar para casa assim que possível, para o convívio com os seus entes queridos, ou seja, para onde aquele samurai pertencia.

— Passei bem a noite, na medida do possível. Agora é só esperar a hora para entregarmos o posto aos próximos — Kira enfatizou seu ponto, deixando claro que o soldado não era o único que ansiava sair dali.

Takaamahara abrigava algumas prisões destinadas a conter algumas sombras, mas duas delas haviam aterrorizado a terra em suas incursões ao mundo humano. Uma foi detida por um dos grandes bem-aventurados do mundo, enquanto a outra foi derrotada por um humano incomum, se é que poderíamos chamá-lo assim.

Essas duas prisões, com suas sombras, passaram a contar com um aumento no número de samurais após o retorno de Karumo e Kira da reunião dos guardiões, quando Gael foi apresentado. Contudo, o aprendiz do manipulador máximo do vento notou uma mudança de humor em Karumo que, até o momento, não tinha retornado ao normal. Algo na conversa que Karumo teve com Miguel, depois de pedir para ele levar Gael embora, azedou o clima entre os dois, e desde então, o líder permanecia estranho.

— Aquele velho — Pensou Kira, relacionando os últimos acontecimentos com seu mestre — O que ele está pensando? É claro que Miguel não é nosso inimigo.

— Há algo que te perturba, meu senhor? — Perguntou o mesmo samurai que ainda estava ao seu lado.

— Coisas da vida — Respondeu Kira, suspirando diante dessa situação complicada — Não imaginei que um posto assim me causaria tanta confusão.

— Isso me faz lembrar de uma de nossas batalhas, há muito tempo, quando lutamos ao lado do povo de Asgard. Um dos soldados de lá dizia que existia uma lenda muito forte em sua dimensão chamada de Ragnarok, uma guerra que seria o fim dos bem-aventurados e uma nova era, guiada pelas sombras, surgiria —Continuou o jovem samurai ao seu lado, relembrando as conexões das lendas que havia ouvido sobre guerras passadas.

A cabeça de Kira pendeu para o lado, fazendo seus cabelos cacheados seguirem o movimento. A sequência do gesto indicava que Gayami gostaria de saber mais sobre aquele espadachim que já não era mais alguém comum para ele:

— Me desculpe, mas qual é o seu nome mesmo? — Questionou Kira ao jovem que havia revelado tal lenda para ele, de uma forma meio constrangida. Mas aquele rapaz sabia demais para permanecer como alguém desconhecido em sua mente.

— Luiz Ferro — Respondeu o jovem que estava ao lado de Kira, pronto para entregar seu serviço do dia.

O jovem tinha cabelos escuros, extremamente lisos, seus olhos eram cerrados com uma coloração amendoada. A cor da sua pele era parda, e naquele momento, estava vestindo roupas típicas de um samurai. Carregava duas espadas amarradas em sua cintura por uma corda e usava uma armadura protetora em seu dorso e ombreiras com uma tonalidade preta e vermelha. Um capacete estava em seus braços, cobrindo seu rosto, e dentes caninos saíam para fora da boca.

— Acho que você já me conhece, mas sou Kira Gayami — Disse o discípulo de guardião, se apresentando para Luiz ao inclinar seu corpo levemente para a frente.

— O que mais você sabe sobre o Ragnarok? Poderia me dizer mais sobre isso? — Luiz olhou para a pergunta de Kira, ficando meio incrédulo com aquilo. Em vários momentos, ele havia passado despercebido pelo escolhido de Karumo, mas naquele momento, Ferro sabia que tinha um momento único em sua vida. Alguém tão importante quanto um grande bem-aventurado estava conversando com ele como se não fosse grande coisa.

Mas como Kira não sabia muitas coisas sobre o Ragnarok sendo que ele era um aprendiz de guardião? Isso tinha uma resposta simples: os guardiões não se envolvem nas guerras dos bem-aventurados. No entanto, a união das sombras fez com que eles passassem a intervir no comando das 6 dimensões onde quem podia manipular energia elemental vivia.

Já que os guardiões não se envolviam nas tretas dos bem-aventurados, um apocalipse que estava conectado apenas a uma dimensão não fazia nenhum sentido para eles se envolverem.

— Os bem-aventurados de Asgard travam uma guerra contra os gigantes de gelo há vários milênios, tudo por causa de Surtur, o gigante que desencadeará a destruição de tudo que eles conhecem — Luiz tentou explicar o máximo que pôde, com poucas palavras, sobre essa guerra — Só que todas as vezes que Surtur se levantava contra Odin, Loki nunca conseguia marchar contra seu irmão e sempre o gigante era derrotado. Agora, o gigante nórdico está preso, então duvido muito que ele consiga fazer algo.

Kira então começou a ligar os pontos sobre as revelações, e agora parecia que alguma coisa estava fazendo sentido. Alguém que podia ser capaz de até mesmo unir Loki a Surtur novamente. Essa pessoa só podia ser um antigo conhecido seu, na verdade, um antigo conhecido dos guardiões.

— Não dá mais pra aceitar isso! Eu me recuso a continuar fazendo esse papel de idiota por mais desse tempo infinito — Gayami pensou nas últimas falas daquela pessoa antes do seu desaparecimento  Mas por que estava se reunindo a seres tão ruins como as sombras?

— As lendas diziam algo a mais, sobre tempo ou algo do tipo? — Questionou Kira, tentando entender se estava descartando todas as possibilidades.

— Não, nem Odin sabe o dia do Ragnarok, e isso foi o que havia deixado ele mais insano do que qualquer um que se conhece, em uma luta contra aquele que é conhecido como o pai de todos em Asgard fica irreconhecível — Respondeu Ferro todas as informações que havia adquirido do seu tempo nas terras nórdicas — Por causa dessa lenda que o bem-aventurado nórdico criou Valhala, o lugar que ele reúne os maiores guerreiros para lutar contra o Ragnarok.

Mesmo ouvindo tudo aquilo, Kira sentia que alguma coisa ainda estava faltando naquele quebra-cabeça. Odin ter ficado louco com apenas uma ameaça de uma lenda? Como um bem-aventurado, sendo tão forte, cederia à insanidade assim? O que ele tinha visto que havia lhe deixado tão fora de si assim?

— Atenção à guarda!!! — Gritou um samurai que estava em um posto no andar de cima daquela prisão.

— Todos de joelho perante Susano'o-sama — Naquele instante, todos que faziam guarda na prisão ficaram de joelhos em um piscar de olhos, todos menos uma pessoa: Kira Gayami.

Por ser um discípulo de um guardião, Kira estava no mesmo pé de igualdade que os grandes bem-aventurados, até mesmo aqueles que carregavam postos de liderança entre eles.

Susano'o no Mikoto era alguém com uma presença muito forte. Tinha uma pele parda, mas sua tonalidade era um pouco mais forte que os demais moradores de Takaamahara. Seus olhos eram cerrados, também em um preto quase sem nenhum brilho. Seu cabelo era escuro e ia até a altura do ombro, e naquele dia estava solto. Ele usava um quimono que ia até a altura das suas pernas e tinha um pano que passava na sua cintura, no qual portava duas espadas.

— Em posição! — Foram as primeiras palavras que Susano'o disse para aquele grupo, fazendo com que todos ficassem em pé com a mão pronta para tirar suas espadas de suas bainhas.

— Descansar, dispensados! — Automaticamente, todos entraram na posição de descanso, batendo suas mãos uma na outra. A mão esquerda com a palma fechada e a mão direita com o punho fechado em suas costas, antes de colocarem seus pés para voltarem aos seus postos. Kira foi até a direção de Susano'o para cumprimentá-lo.

— Bom dia, Susano'o-san. O que faz o senhor aqui? — Perguntou Kira, mesmo não tendo que ser formal com Mikoto, Gayami seguia sempre os protocolos.

— Bom dia, Kira. Vim conferir como anda o nosso prisioneiro e passar o relatório para a minha irmã, Amaterasu — Respondeu o bem-aventurado sobre o que veio fazer ali.

Amaterasu Omikami era a rainha de toda a dimensão de Takaamahara e depois de Mikoto se meter em uma grande confusão com a líder do mundo onde estavam, Susano'o havia se tornado o braço direito dela, mas isso é história para outro dia.

Assim que Susano'o respondeu o aprendiz de Karumo, ele virou as costas e seguiu em direção à prisão para buscar os relatórios. Quando Kira olhou para trás, chamou Luiz Ferro para perto:

— Luiz, quando eu contar até 3, você deve passar pelo portão e correr até o mestre Karumo, dizendo o código 9, 31, 8, 106, 7, 207 e 15 — Kira disse aquilo com um tom baixo, parecendo preocupado com o que tinha ouvido agora a pouco.

— Sei que você recebeu o treinamento de um samurai! Então vou dizer os códigos apenas mais uma vez.

Luiz ouviu os códigos e acenou que havia os decorados, mas perguntou:

— Mas para que isso?

— Não dá tempo de explicar, apenas corra em direção a Karumo e lhe entregue o código que lhe falei.

Luiz acenou com a cabeça, colocou seu capacete e começou a correr para fora da prisão. No entanto, algo aconteceu exatamente como Kira previu: uma massa se moveu em uma velocidade absurda em direção a Ferro, prestes a cortá-lo, se não fosse pelo vento de Kira, que interveio a tempo para defender o golpe.

— Mestre Kira! — Se espantou Luiz ao ver Kira defendendo um golpe contra ele.

— Apenas continue correndo, Ferro, e entregue o código a Karumo e não se atreva a morrer, isso é uma ordem! — Gritou Kira para que Luiz seguisse em frente, enquanto ele próprio enfrentava o ataque de Susano'o.

— Sim, Senhor! — Disse Luiz, firmando sua voz com aquele comando recebido de Kira, e correu o mais rápido que podia.

— Como você descobriu? — Susano'o direcionou a pergunta para Kira com um sorriso no rosto, enquanto pressionava sua espada contra o escudo de vento que Gayami havia criado.

— Nesses milênios que passei ao lado de Karumo, de todas as infinitas formas que eu me encontrei com Susano'o-san, ele nunca me cumprimentou — Kira disse aquilo sorrindo forçadamente, conseguindo recuperar a força do recuo que havia levado, e seu vento estava fazendo o falso irmão de Amaterasu recuar.

— Esse espeto de metal não vai durar contra o meu vento, Pitta — Kira enfatizou as palavras que estavam pulsando em sua boca, fazendo a forma de Susano'o à sua frente desaparecer em chamas, revelando a verdadeira forma do antigo aprendiz de Rick bem na sua frente.

— Eu não sei o que você fez com o mestre Rick, mas irei vingá-lo aqui e agora! — Kira Gayami, tomado pela fúria e determinação, ergueu os braços em um grande gesto, canalizando sua energia elemental. Seus olhos brilhavam intensamente enquanto seu corpo parecia pulsar com o poder do vento que o cercava. Aos poucos, a brisa suave se transformou em um vento furioso, chicoteando tudo ao redor e levantando folhas e poeira do chão.

Enquanto isso, diante dele, a figura de Bernardo Pitta também começou a emanar uma aura ardente e desafiadora. Chamas dançavam em torno de seu corpo, criando um brilho alaranjado que contrastava com o vendaval de Kira. Seus olhos refletiam a intensidade do fogo interior que queimava dentro dele, pronto para enfrentar a tempestade de vento que se aproximava.

Os elementos entraram em choque. O vento colidindo com o fogo produzia um espetáculo deslumbrante de chamas que dançavam no ar, parecendo quase vivas. O calor intenso do fogo lutava contra a força furiosa do vento, formando um furacão de poder inimaginável.

O redemoinho de vento e fogo criou uma pressão avassaladora, fazendo com que as árvores ao redor se curvassem sob a força combinada dos elementos. O solo tremeu sob os pés dos combatentes enquanto o cenário se transformava em uma verdadeira arena de poder.

FIM DO CAPÍTULO.

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