Que Haja Luz Brasileira

Autor(a): L. P. Reis


Volume 1

Capítulo 2: Morri, Mas Passo Bem

Gael despertou abruptamente, saltando da cama como se tivesse emergido de um mergulho em águas turvas. Ao abrir os olhos, estava em seu quarto, ainda tentando assimilar o que havia acontecido. Sua mente estava repleta da imagem do ser que rasgara seu estômago, uma lembrança dolorosa que ecoava em seus pensamentos. Impulsionado por uma necessidade incontrolável, levantou-se e arrancou a camiseta, ansioso para examinar a marca deixada pelo terrível encontro. No entanto, ao olhar para seu abdômen, viu apenas uma pele intocável, sem qualquer vestígio do ferimento que o atormentava, nem mesmo se quer uma cicatriz.

Essa descoberta deu a ele um calafrio desconcertante, deixando-o perplexo. Ainda atordoado com a situação, Gael não percebeu imediatamente as mudanças em seu corpo desde que acordou. Mas à medida que a adrenalina diminuía e ele se acostumava à ideia de estar vivo, teve coragem de tocar seu abdômen e notou uma sutil alteração. Não era apenas uma sensação de força maior, mas uma firmeza incomum em seus músculos.

Enquanto seus dedos exploravam seu abdômen e região torácica, Gael descobriu uma marca intrigante. Ali, em seu antebraço esquerdo, surgiu uma tatuagem de um majestoso leão, que definitivamente não estava lá antes. A perplexidade tomou conta dele, enquanto se perguntava como aquela marca tinha aparecido tão repentinamente em sua pele. Como explicaria isso ao seu avô? E, mais importante, qual seria a origem e o significado daquela tatuagem misteriosa?

Gael contemplou a figura tatuada com uma mistura de assombro e curiosidade, sussurrando para si em meio à perplexidade que o envolvia:

— Parece com a marca que o Escanor tem em Nanatsu no Taizai, mas ao contrário dele, que a possui nas costas, a minha está no braço esquerdo — Com pressa, o garoto vestiu novamente uma camiseta, temendo a reação de seu avô ao vê-lo com uma tatuagem, tentando escondê-la a qualquer custo antes que lhe esfolasse vivo para removê-la.

Gael pegou seu celular e notou algumas mensagens de seus amigos. Ao verificar as horas, percebeu que ainda eram duas da tarde do mesmo dia e que seu avô ainda não havia retornado. No entanto, a pergunta permanecia: quem o trouxera de volta para casa?

Lembrava vividamente de ter ligado para a polícia, buscando ajuda para o homem caído no chão. Recordava-se claramente quando o indivíduo se levantou, seus olhos lembravam o Byakugan de Naruto, e como ele conjurou uma espada do nada, perfurando impiedosamente seu abdômen.

Com isso em mente, Gael pegou seu celular e mandou mensagens para seus amigos, chamando-os para irem até sua casa. Ele sabia que provavelmente achariam sua história louca, mas, pelo menos, poderia desabafar sobre aquela sensação que o tinha perturbado naquela manhã.

O quarto de Gael era simples, típico de filho único do Sr. Silva. Tinha algumas regalias, como mangás, um videogame não tão moderno, mas ainda funcionando, uma TV pequena e um notebook para tarefas escolares, que ultimamente servia mais para espelhar os episódios de anime que ele assistia na TV.

No quarto de Gael, havia uma atmosfera familiar e aconchegante. A cama ocupava um canto, cercada por um guarda-roupa e uma estante cheia de livros e mangás. Com a mesada que seu avô lhe dava, ele comprava o que considerava seu tesouro. Três cadeiras de computador, antes pretas e agora desbotadas para um cinza escuro, formavam um espaço onde ele e seus amigos se reuniam para conversar, jogar videogame ou assistir séries.

Aceitando o convite de Gael, Luis Felippe e Daniella concordaram em ir até a casa do garoto. Gael prontamente abriu seu celular e acessou o portal de notícias local, esperando encontrar alguma informação relevante sobre o ocorrido pela manhã. No entanto, para sua surpresa, não havia absolutamente nada que mencionasse o fato.

Como Luis Felippe morava na mesma rua e Daniella vivia na rua vizinha, levaram apenas cinco minutos para chegarem à casa de Gael. Curiosos e querendo saber a desculpa que o garoto inventaria para justificar sua falta na escola, adentraram o local e dirigiram-se imediatamente ao quarto dele. Gael trancou a porta, criando um ambiente íntimo e seguro para revelar tudo o que havia acontecido.

Os olhares de Luis e Daniella, porém, demonstravam incredulidade diante das palavras de Gael, como se considerassem tudo uma criação da imaginação do garoto. Daniella, conhecida por seu pragmatismo, questionou o óbvio:

— Tem certeza de que isso não foi um sonho? Ou algo do tipo?

— Você bateu a cabeça dormindo? Acordou no chão ou algo assim? O que aconteceu, Gael? Você surtou de vez? — Luis emendou os questionamentos iniciados por Daniella.

Daniella, uma adolescente de 16 anos, tinha uma pele morena radiante. Seus cabelos escuros, em um tom castanho profundo, formavam cachos que chegavam aos ombros. Seus olhos verdes eram parecidos com os de Gael. Apesar de ser baixinha em comparação com os rapazes, ela não deixava os garotos a chamarem de “tampinha” sem reagir.

Por outro lado, Luis Felippe, um rapaz loiro de olhos azuis, também estava na casa dos 16 anos. Devido à rigidez de seu pai, um militar, ele sempre mantinha um visual impecável, com um corte de cabelo raspado nas laterais e penteado para o lado direito na parte superior. Apesar dessa criação rigorosa, Luis e Gael se entendiam muito bem.

— Não, estou falando sério. Olhem aqui! — Gael ergueu a manga esquerda de sua camiseta, exibindo o símbolo em seu braço — Estão vendo? Eu não estou mentindo.

— Você está brincando, Gael? — Luis falou indignado com o que estava presenciando — Você matou aula para tatuar o símbolo do Escanor no braço e nem sequer falou nada para seu amigo? Você sabia disso, Dani?

— Não me coloque nessa confusão, estou tomando conhecimento disso agora, assim como você —

Disse a garota, deixando claro que não sabia de nada, assim como Luis.

— Eu estou falando sério, pessoal. Eu estava atravessando a rua quando um transformador explodiu, e havia o corpo daquele cara aos pés do poste. Mas ninguém parecia conseguir vê-lo. Eu não faço ideia do porquê, mas foi exatamente isso que aconteceu — Gael já sabia que seus amigos provavelmente não entenderiam o que havia acontecido. Nem mesmo ele compreendia completamente o que tinha ocorrido. Não havia como exigir que tudo fizesse sentido.

— Então, o cadáver levantou do chão e cravou uma espada em seu estômago, e você está aqui conversando conosco, com uma tatuagem, e quer que acreditemos em você? — Indagou Luis, com uma expressão completamente incrédula diante dos relatos de Gael.

— Eu não esperava que vocês acreditassem em mim. Na verdade, até eu acho que isso é uma loucura total — Afirmou Gael, justificando-se.

— Então, por que você nos chamou se sabia que pareceria uma maluquice para nós? — Perguntou Daniella, confusa com a última afirmação de Gael.

— Eu só queria confirmar se isso foi um sonho ou algo da minha cabeça. Mas isso realmente aconteceu. Quando comecei a contar para vocês, senti como se fosse verdade — Gael levantou-se da cadeira, expressando o que havia sentido — Eu não consigo explicar o que senti, mas sei que vivenciei aquilo. Foi real. A sensação da lâmina perfurando meu abdômen, a sensação de morrer. Tudo foi real.

— Você realmente parece estar falando sério e não brincando conosco — Daniella observou a reação do garoto e, ao olhar para o rosto de seu amigo, percebeu que algo lhe faltava — Já sei, tive uma ideia.

A garota foi até a estante de livros, pegou um mangá e apontou para uma letra na capa, perguntando:

— Que letra é essa?

— J… — Respondeu Gael e complementando finalizou — Está escrito “Jujutsu Kaisen” na capa.

Tanto Daniella quanto Luis perceberam que algo estava realmente errado com Gael. Ele acabara de identificar a letra à distância, mesmo sem seus óculos, que só tirava para dormir e tomar banho. Sem eles, o garoto mal conseguia enxergar:

— Você reparou que está sem óculos, Gael?! — Indagou Luis, com a grande dúvida pairando sobre o quarto.

Silva colocou a mão no rosto e levou mais um choque, o terceiro naquela tarde.

— Vocês têm razão! — Afirmou com um certo tom de empolgação em sua voz — Eu li sem precisar usar óculos pela primeira vez na minha vida.

A partir desse momento, as coisas começaram a se tornar compreensíveis para seus amigos. Gael estava dizendo a verdade e eles teriam que lidar com essa nova realidade de informações. Mas naquele momento, não havia tempo para pensar muito nisso.

Quando Gael pronunciou essas palavras, um som extremamente alto ecoou no quarto. Todos olharam ao redor, tentando entender o que estava acontecendo, e começaram a achar toda aquela situação estranha. Mas o mais bizarro era o que estava brotando dos pés de Silva.

Era uma massa escura, densa e viscosa, que emergia do chão exatamente onde Gael estava. Parecia desafiar as leis da natureza, contrapondo-se ao ambiente com sua presença sinistra. A escuridão parecia fluir e pulsar, emanando uma aura desconhecida que envolvia o quarto.

Naquele momento crucial, o tempo pareceu congelar, e os amigos de Gael sentiram um calafrio percorrer suas espinhas. A tensão no ar era palpável, como se estivessem à beira de um abismo desconhecido.

Sem aviso ou chance de reação, o garoto estendeu a mão desesperado na direção de Luis, buscando apoio ou salvação. Mas antes que pudessem dizer algo, a força obscura daquela massa o engoliu implacavelmente.

A poça escura, que parecia superficial, mostrou-se um abismo. Engoliu o jovem alto, com mais de 1,70 metro de altura, levando-o para um destino desconhecido, onde sombras e mistérios aguardavam em seu profundo interior.

— GAEL!!! — Gritou Luis, sem entender nada do que estava acontecendo.

A escuridão então se fechou, dissipando-se como se nunca tivesse existido, deixando para trás um quarto vazio e silencioso. Somente o eco do grito desesperado de Luis permanecia como um lembrete assombroso daquele evento surreal.

Enquanto Luis gritava desesperado pelo nome de Gael, Daniella olhava atônita para a cena que se desenrolava diante de seus olhos. Mesmo sem compreender, os dois observaram seu amigo cair em direção ao desconhecido.

Fim do capítulo

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