Possessão Brasileira

Autor(a): Matheus P. Duarte


Volume 1

Capítulo 30: Fragmentos

Acordei incrivelmente exausta, um pouco tonta, em uma sala escura com vento soprando de uma janela coberta apenas por um pano esfarrapado.

Virando a cabeça, vi algumas figuras em volta de um fogão a lenha, uma delas mexendo numa panela e as outras duas, menores, jogavam uns gravetos duma para outra.

Um dos quais acabou rolando em direção a cama.

A menininha, que caminhou de mansinho para pegá-los, me viu acordada e parou. Não tinha quase brilho em seu olhar, até sua expressão era discreta.

Com o silêncio dela e seu irmãozinho, a mãe deles se apercebeu do que estava acontecendo.

Ela soltou a colher de madeira e veio agarrá-la pelos ombros.

— Vá brincar com seu irmão.

Com ambos dando as costas, a mulher pegou um copo e o mergulhou em um balde que estava coberto por um pano a beira da cama.

— Deve estar com sede — falou colocando a mão atrás da minha cabeça e levando ele aos meus lábios.

O gosto era barrento, ruim com de água parada, parecia até meio ácido.

— Não se preocupe, fervi ela bem — disse depois de me ver virar o rosto

O que mais me chamou atenção foi seu sotaque. Não era russo…

Naquele instante fiquei confusa. Não quis falar nada para que não percebesse, mas, ao mesmo tempo, estava com meu uniforme quando me encontraram, então, com certeza, sabiam quem era.

Passei alguns dias de cama, porém com muita hospitalidade. Nunca me perguntaram nada sobre o que estava fazendo ali ou quem de fato era, aquela mulher apenas queria saber se estava com dor, fome ou se precisava de alguma coisa. De fato, não sentia ser tratada diferente de seus filhos.

Os dois davam muita atenção a mim, até subiam para cima da cama com os gravetinhos para jogar o joguinho deles.

Tinha que ver a cara deles quando ensinei a fazer aqueles desenhos com cordinhas. Como só um dos meus braços estava bom, eles se animavam ainda mais, pois pensavam que estavam me ajudando.

Aquela situação trazia uma certa nostalgia ao fazer lembrar de meu passado. Pobre, morando em uma casa caindo aos pedaços, comendo sopa de aveia sem carne e cheirando a fumaça…

De muitas formas eu me via naqueles olhos e pensei: Não posso voltar a esta vida depois de chegar tão longe, depois do que me tornei…

Comecei a sentir raiva delas, de me afastarem daquilo que sabia fazer de melhor, que gostava de fazer, o sentimento de poder, de sentir aqueles olhares de medo…

Alguns dias depois, quando consegui voltar a caminhar, estava prestes a fugir, quando ouvi as sirenes tocarem.

A mãe dos meninos entrou correndo porta a dentro e os jogou debaixo da cama, depois, segurou minha mão e me puxou para baixo de uma placa de madeira, aparentemente o que sobrou de uma mesa velha.

Chorando, ela me abraçou.

— Nós vamos ficar bem.

Naquele momento, as bombas começaram a cair.

Os mesmos sons daquelas noites. Artilharia, misseis, drones, os gritos daqueles em meio ao caos. A diferença é que desta vez eu estava entre os alvos.

Naquela noite, vendo o desespero da mãe e das crianças, um sentimento de raiva, medo, vergonha e tristeza vieram até mim. Sentia ser puxada para fora do mar de trevas dentro de mim, mas ao mesmo tempo não queria. Aquela luz só conseguia me cegar, e o calor da mão dela insistia em não desistir de mim, alguém que nem conhecia.

Algumas horas depois, quando a calmaria voltou, eles voltaram a acender o fogão, os dois irmãozinhos se abraçando em volta dele e dormindo, de baixo de uma coberta empoeirada.

— Fazia dias que não acontecia — falou a mãe deles, encolhida em um canto mais atrás, os observando em silêncio — Vê-los em paz é a única coisa que faz isso ser suportável pra mim.

Ela me olhou como se estivesse chamando, então sentei perto dela.

— Nem sabemos o nome uma da outra… Só quero que isso tudo acabe o quanto antes. Vou arrumar a casa, trocar a janela quebrada, comprar um fogão descente, plantar de novo as flores do jardim…

Ela olhou para mim sorrindo, aquela quem em parte era responsável por aquilo.

— Não sente raiva?

Ter quebrado o silêncio foi uma decisão insensata de minha parte, porém, aquela postura melancólica me fazia ter nojo.

— Por muito tempo senti… Cansei de gritar, espernear, principalmente depois de descobrir a morte de meu marido — falou enchendo os olhos de lágrimas — No fim, não mudou coisa alguma…

Novamente segurou minha mão.

— Quando só ela resta, te consome como uma doença, junto de todo o amor em seu coração…

Como nunca antes na vida, me senti pequena, fraca e impotente diante de tanta compaixão. Já havia matado soldados, espiões e generais, mas jamais conseguiria matar ela…

— // — // —

Nas ruas, a sombra cabisbaixa seguia caminhando em meio a luz dos postes.

Para onde você vai…? Quero ir pra longe… Deixe-me adivinhar, para um lugar onde não pode mais voltar?

Satsuki olhou quase sem vida para o poste acima dela, do mesmo modo de quando encarou a forca.

Ah, Então é isso. Pode simplesmente desaparecer dentro de mim, sem dor… — Miserável! — respondeu com a voz embargada — Eu juro que vou te levar junto comigo! — segurou a cabeça —Lamento, minha jovem, ainda tenho muitas coisas que gostaria de experimentar…

O som de rodas se arrastando tomou conta da rua no mesmo instante.

Um pouco cambaleante, ela tentou olhar para os vultos que saíram do carro, mas um punho a socou com força o bastante para atirá-la ao chão, seguido de um pontapé no estômago intenso o suficiente para lhe arrancar o ar dos pulmões.

Um par de mãos a agarraram pela gola, trazendo-a para perto do rosto do jovem, agora iluminado.

— Foi você, vagabunda! — esbravejou, segurando-se para não gritar — Olha pra mim, olha! — suas mãos se apertaram com força para deixar os dedos roxos — Era o meu irmão! Agora você vai me pagar!

Mais uma vez levou o punho de encontro ao seu rosto, fazendo sangue escorrer pela lateral de sua boca. Prestes a dar um quarto golpe, um de seus comparsas o impediu, logo após se acenderem as luzes de uma casa ao lado.

— Depois a gente termina com ela. A última coisa que precisamos é da polícia atrás da gente.

Eles a arrastaram até o carro, que proferiu algumas palavras sem nexo.

Nem tente… Não vou te deixar ganhar.

Então, escutou-se apenas o bater do porta-malas.

— // — // —

Matheus caminhava de mãos no bolso olhando com afinco pelas ruas quase desertas. Algumas pessoas ainda se encontravam em barzinhos, passeando com o carro, até mesmo alguns casais ou pequenos grupos de amigos.

— Cade você… — Suspirou

Seu celular começou a vibrar.

Mano, um cara chamou a polícia dizendo que viu uns homens pegarem uma guria no meio da rua.

— Onde?!

Segue o GPS.

Correu desesperado pela rua, até enxergar a luz de seu amigo, torcendo a moto contramão com o lado do carona para ele, que pulou dentro.

Rapidamente, chegaram até a cena do crime, algumas pessoas conversando umas com as outras perto das marcas de pneu.

— Aconteceu algum acidente aqui? — perguntou ele sobre o banco do carona, como um transeunte comum.

— Não… — respondeu um senhor de idade balançando a cabeça — Uns vagabundos espancaram uma garota, que o diabo os tenha…

— Viu pra onde foram?

Ele franziu o cenho e respondeu — Vocês não vão atrás deles?

— Ela é da minha família… — o encarou diretamente nos olhos.

— Entendo… Já aviso que são alguns marginais bem perigosos. Eles tem um armazém, passando a estação de trem, onde dizem venderem contrabando e fazer todo tipo de desgraça, mas não vá lá sem a polí…

Sem esperar que terminasse, ambos partiram a toda velocidade.

— // — // —

Conforme o decorrer dos dias, fui ficando muito mais apegada aquela mulher e seus filhos.

Meu lugar definitivamente não era ali, nem ao menos podia conversar em publico, pois perceberiam meu sotaque e tive que queimar meu uniforme.

Era grata, apesar de uma parte de mim sentir isso como fraqueza, ao mesmo tempo a admiração que tinha por ela me dava força.

Passei minha vida inteira sobrevivendo, praticamente por mim mesma e um tanto indiferente as pessoas a minha volta. Me sentia mais como sendo uma ferramenta para ajudar minha família, apesar de nunca terem me tratado mal. Pensando agora, a antipatia era algo que todos nós partilhávamos…

A escassez de comida, a dificuldade de se conseguir lenha, a água barrenta, as noites dormindo juntos para nos esquentarmos por conta do frio. Tudo isso fez com que me enxergasse naquelas crianças e me perguntasse: Quando foi que me tornei o que sou hoje?

Acho que sempre fui assim, só não me conhecia direito…

Aquela luz me cegava, mas, ao mesmo tempo, iluminava meus cantos mais escuros.

Já haviam se passado 10 dias e os bombardeios se tornaram cada vez mais intensos. O exército não desperdiçaria recursos a toa, o que só podia indicar uma coisa, atacariam a cidade.

Estava olhando as explosões no horizonte iluminado pelas primeiras horas da manhã, quando chamei ela, longe das crianças para não acordá-las.

— Precisamos ir…

Ela sorriu levemente e ficou me encarando.

— Pra onde…?

— Qualquer lugar, menos aqui.

— Nasci, cresci, vivi, trabalhei, namorei e tive meus filhos aqui. Está casa é a única lembrança de meus pais e meu marido, a última coisa que me resta…

Uma lágrima escorreu por seu rosto.

— Não, você ainda tem eles…

Segurando o choro, ela respirou fundo e acenou com a cabeça.

— Peguem só o que não ficar pesado, o resto improvisamos, e… — antes de concluir, levei a mão para sua bochecha e limpei suas lágrimas com o polegar — Não deixe que te vejam assim…

Ela deu de costas e sumiu para dentro do quarto enquanto fiquei para trás, lentamente começando a ouvir pequeno estalos a partir do pátio sem vida em frente a casa, cercado pelos restos de uma cerca de madeira.

— É questão de horas…

— // — // —

Nossa melhor estratégia era atravessar a cidade. Sabia que estavam planejando tomar esta cidade a algum tempo e haviam usado muita artilharia com munição cluster para minar as redondezas, obrigando qualquer retirada a ficar afunilada em um único caminho.

As ruas eram amontoados de pedras, carros abandonados e pertences deixados para trás, com várias pessoas andando sem rumo, como se não soubessem se abandonavam suas casas e o que deveriam levar consigo.

Cortamos caminho por entre os escombros para poupar tempo. Ela com um saco de pertences enrolados a volta do pescoço e os dois pequenos com algumas bolsinhas.

Aquilo era tudo que tinham e não eram pesadas, tão pouco o que eu podia carregar com o ombro machucado.

O som de tiros e explosões estava ainda um pouco distante, provavelmente atacando as forças mais dentro da cidade.

— Temos que chegar a uma rota de evacuação. Não vão atirar em quem está justamente saindo do caminho deles.

Quando me virei, ela estava abraçando eles, que choravam baixinho.

— Falta muito pra chegarmos?

De repente, o som ensurdecedor de aviões de caça retumbou no ar, com explosões a partir do extremo oposto de onde vieram os anteriores.

Tentando compreender a situação, o som de misseis começou a ficar mais intenso e diversas rajadas de munições traçantes iluminavam em uma nova direção. Quando percebi, o som de helicópteros se tornava mais e mais explícito.

— Eles, vão tentar romper os flancos… Precisamos nos apressar.

Comecei a acelerar o passo, praticamente correndo.

Ataques aéreos vinham se somar a multidão correndo desorganizadas em meio as tropas.

Ficamos meia hora tentando chegar a zona de evacuação, mas o caos atrapalhou muito, tanto que já nem sabíamos se havia uma.

— Precisamos parar… — Falou ofegante — As crianças estão exaustas…

Os coitadinhos mal paravam em pé e ela não parecia muito melhor.

Se não bastasse, logo as explosões e trocas de tiros começaram a ficar ainda mais próximas.

Sem alternativa, entramos em um prédio semidestruído para termos um mínimo de proteção.

As nuvens de estilhaços de artilharia começaram a cobrir o caminho que pretendíamos seguir e as crianças se apertaram contra a mãe delas tentando não chorar. De todo modo, não podíamos sair daqueles apartamentos tão cedo ainda mais com o tiroteio se intensificando.

Iriamos esperar passar aquela leva de ataque, mas as tropas avançaram muito mais rápido que pensávamos. Não demorou até estarmos no meio do fogo cruzado.

Soldados ucranianos recuavam freneticamente pelas ruas, alguns em caminhões, outros a pé, de forma bastante desorganizada.

Logo em seguida dois deles entraram em nosso edifício, mas foram apanhados em uma explosão que os engoliu.

Me atirei por cima de minha amiga e das crianças. Quando a poeira baixou, descobri o motivo daquele fogo intenso.

Eram do grupo mercenário que apoiávamos, mas não os peões e sim as forças especiais.

Um deles chutou um civil ferido que tentava rastejar e olhou seu rosto coberto de sangue e sujeira, só para colocar o fuzil em sua boca e disparar.

Eles não tinham misericórdia e seu senso de moral se estendia apenas para aqueles que eram seus aliados.

Já tendo presenciado o que nos esperava, peguei o fuzil do soldado morto a nosso lado. Quando ela viu, segurou minha mão para tentar me impedir.

Não havia como prever o resultado de minha ação, a única certeza era que ficar parada seria morte certa, ainda sim, tinha a esperança que fossem para outro lado.

Enquanto verificavam, os outros prédios, tomei iniciativa de tentar fugir, saindo pelos fundos, me virando e levando o dedo sobre os lábios.

Ela me olhava trêmula, enquanto eles mordiam os lábios para segurar o choro, mesmo assim, seguiram comigo.

Os apartamentos haviam sido feitos de costas para uma ladeira, então, precisávamos descer um andar. Lentamente, percebi a porta entreaberta, com marcas de queimado, e ao longe, uma praça, cheia de brinquedos, cercada de crateras de explosões, com algumas chamas tomando conta do antigo gramado.

Em meio a fumaça, vi algumas silhuetas marchando por entre a destruição, acompanhadas de um tanque e o ronco de alguns motores mais atrás.

De forma silenciosa, fizemos o caminho inverso. Mal havia tido tempo de colocar a arma no ombro, mas ao dar o primeiro passo, um vulto surgiu de trás da escadaria, apontando a arma para mim.

A hesitação dele veio seguida de uma frase.

— Sargen…

Atirei antes que terminasse de falar. Meu antigo camarada ou não, não podia me dar ao luxo de ter a fragilidade dos últimos dias, embora meu instinto tenha falado mais alto que este pensamento, tanto que puxei o gatilho sem nem pensar estar na frente das crianças.

O grito fino estridente da menininha ecoou tão alto quanto o tiro.

A mãe colocou a mão em sua boca, mas já não adiantava de nada. O som de passos, começou a se acelerar nos andares de cima, a saída dos fundos bloqueada. Estávamos cercados.

Era só jogarem uma granada ali em baixo ou o tanque disparar contra o prédio e não havia nada que podia fazer.

A sombra do primeiro vulto apareceu pela luz de um dos vários buracos no prédio, andando lentamente. Meu dedo tremia para atirar, quando uma explosão sacudiu tudo.

A torre do T-72 foi arremessada contra o andar de cima, seguida de uma sucessão de estrondos e disparos. Quando olhei de volta para porta, vi drones de ataque se jogando contra a coluna ao nosso lado e uma troca de tiros com a infantaria que corria desesperada atrás de cobertura.

— Escuta — falei segurando o ombro dela — Fiquem de cabeça baixa e corram colados em mim.

Engoliu a seco e respondendo apenas com um aceno.

Coloquei o fuzil nas costas, segurei a menininha soluçando nos braços, enquanto ela fez o mesmo com ele.

Corremos pelas crateras abertas pela artilharia com tiros voando por cima nós, em meio a explosões que jogavam lama por cima de nós.

Mais do que nunca comecei sentir dores do corpo, com uma sensação quente nas costas, só pra me lembrar que estava ferida.

Chegamos do outro lado da rua com muita dificuldade, todos exaustos, então para tentarmos respirar, entramos em um vão entre duas casas, para recuperar o fôlego.

Larguei a garotinha no chão e desabei na parede ao lado, seu rostinho estava coberto de sujeira, encharcado de lágrimas.

Ela largou o garoto ao lado, que tentava fazer de tudo para segurar os soluços, apertando o punho até deixar os dedos roxos.

— Que corajoso, igual seu pai… — falou, a voz começando a ficar embargada de novo — a menininha se abraçou neles.

Olhei para aquela comoção com muita estranheza. Era como se não conseguisse mais entender aquele tipo de afeto, como se fosse algo que estivesse vendo através de uma tela. Comecei a ter inveja de não conseguir sentir o mesmo.

Me virei para ver onde dava aquele beco. Deveria ter sido um jardim florido de uma casa de gente bem abastada, tomado por fogo e cinzas.

— Já tiveram tempo pra respirar. Precisamos continuar — falei ouvindo o som de rajadas e explosões atrás de nós.

— Vamos cortar caminho por aqui.

Com um aceno de cabeça, ela começou a caminhar junto deles, entretanto, fiquei parada um pouco mais só para tentar ver para qual lado estavam indo. Era caótico demais para saber.

Vi os três olhando para mim, me esperando. Só tive tempo de dar o primeiro passo…

Senti a sensação de estar flutuando, meus ouvidos zunindo e o calor escaldante do machucado em minhas costas.

O instinto falou mais alto que o pensar, então rastejei, ainda com a visão turva.

Não! — gritei desesperadamente dentro de mim — Cadê ela? Cadê as crianças?!

Quando me dei conta, agarrei uma mãozinha…

Cerrando os dentes. Levantei meu rosto para ver de quem era e vi o rostinho dela, abrindo lentamente a boca.

Não conseguia entender o que ela dizia, mas quando olhei para seu estômago consegui entender…

Dói…”

Ela morreu ali, sem que pudesse fazer nada…

— Desculpa por ter sido tão fraca… — falei com extrema fúria e amargor.

Meus sentidos começaram a voltar e procurei pelos outros dois, com medo de encontrá-los.

Logo ao lado estavam os corpos mutilados deles…

Nunca antes senti tanto fervor borbulhar do meu mais profundo intimo.

— Ora, ora. Achei que tivesse morrido.

Atrás de mim estavam quatro mercenários com quem havia lutado ao lado.

— Idiota, podia ter acertado ela com o drone! — continuou repreendendo seu subordinado.

— Não ia esperar pra ver o que aquela mulher ia fazer com a bomba… Olhando agora acho que só era uma criança, acontece…

— Desperdicio de munição…

A fúria cresceu tanto em mim que pude sentir meu sangue ferver…

— // — // —

Vi ele chorando, cavando a terra com as mãos sangrando e unhas as quebradas, por caírem.

Ao meu redor, dei uma ultima olhada para me certificar de ter deixado tudo o mais perfeito possível.

O primeiro dos corpos estava com as pernas quebradas, enroladas atrás da cabeça, com ambas as mãos sem os dedos, os quais fiz questão de usar para enfiá-los por sua garganta até sufocar.

O segundo cortei os tendões e esfreguei sua cara no asfalto até ficar em carne viva antes de matá-lo.

O Terceiros enrolei em arame farpado para poder arrancar suas tripas com muito cuidado. Não queria morresse antes de poder usá-las para enforcá-lo. Lá continuava ele balançando sobre o poste de luz.

O último estava terminando de cavar as sepulturas com as próprias mãos, chorando de dor e desespero.

— Carregue eles com cuidado ou vou fazer você comer as próprias bolas, do mesmo jeito que faziam com os prisioneiros.

Ele arrumou a mãe no meio e as crianças sobre seus braços, assim como pedi. Parecia que estavam dormindo, se não fosse os terríveis ferimentos em seus corpos e os cobriu.

— Bom trabalho — falei para ele ajoelhado, visivelmente exausto, antes de enfiar a faca em sua garganta — por isso vou te matar mais rápido.

Deixei que terminasse de agonizar e soltei a faca.

Ouvi alguns passos atrás de mim, mas já não me importava.

Palyanitsa! — gritaram em ucraniano, apontando as armas.

— Sou russa, spetsnaz.

Meu Deus… O que foi que fez isso?

Iria me acusar, porém, quanto mais tentava tirar as palavras de minha boca, mais parecia estar falando de outra pessoa. Foi a primeira vez que senti pena de alguém…

Foi ela…

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