Pôr do Sol Brasileira

Autor(a): Galimeu


"Não se esqueça"

Lembranças de um Futuro Perdido

— E se não der certo? 

Uma menina, receosa em meio ao temor, era puxada forte pela mão. Em meio as às explosões, seu cabelo verde era tingido pelo laranja do campo de batalha. 

Projetou a pergunta sincera em um choro, mas era acalmada constantemente enquanto seus bracinhos eram trazidos juntos à corrida de quem tentava tirá-la do perigo. 

— Precisa e vai dar certo, apenas... — respondeu a mulher, que era baixa e usava uma boina branca, seus óculos com lentes que refletiam o luar entre as rachaduras. 

Estavam no alto das montanhas geladas, os tremores e explosões vibraram ao longe. Uma guerra no norte de Tif prendia elas a ansiedade sem fim. 

Uma criatura má em forma destorcida de grande monstruosidade aterrissou ao lado, impediu o caminho com suas garras gigantes e pernas finas. Era impossível ter os olhos fora desta forma estranha, muito densa em um breu que não permitia outra definição: sombra ambulante. 

O choro da menina soou em um alarme, ecoou nas montanhas frias. Como se esperasse por isso, um chiado constante penetrou pelos ouvidos das duas; anunciava a chegada do homem que tinha pedras, árvores, balas e outros objetos em órbita de si. 

— Prevaleça! — A mulher estendeu a palma. 

Eletricidade envolveu seu corpo como um sistema em curto, porém era verde e ainda mais brilhante. Plantas surgiram e formaram uma esfera em volta das duas, protegeu do ataque da besta furiosa. 

Rajadas de armas improvisadas rasgaram a pele da criatura. O rapaz lançou todos os projeteis sem prestar esforço.  

— Cortax! — gritou a menina quando as plantas se desfizeram. 

O sorriso amigável dele apareceu, veio às duas como um alívio. O rapaz planou até o chão, entretanto perdeu o equilíbrio. 

Os tremores aumentaram a potência, a neve do chão deslizava, tudo estava prestes a se desfazer. 

O horizonte era cruel, clarões e mais bestas negras que se misturavam em meio a paisagem gélida. O poder estava longe do descritivo. Angustia percorreu cada milímetro da garganta da menina, fechou os olhos ao notar a cena que devia estar longe de sua presença. 

Aguentar aquilo... Como? Os punhos de Cortax se apertavam, deixou sua impulsividade o conduzir com o seu cachecol que balança, desordenado. Tentou flutuar até o conflito, tinha que mudar algo...  

As mãos delicadas tocaram seu braço, o puxou com o ligeiro toque sofrido. 

— Não vá. 

— Eu já fiz o combinado! Não vou deixar ele ir de novo! 

— Você não pode estar lá! Pense direito, Dourres está com o Mark, devemos apenas… apenas contar com eles. 

Num pedido sincero, ela deixou claro a confiança que possuía, mesmo que a cena do horizonte, abaixo deles, mostrava que pessimismo e realismo se definiam por iguais. 

Cortax não aceitava esse destino. Os dentes prensarram, e o cachecol se tornou pedra. Entendeu a mensagem, e não o recado. Os pés finalmente tocaram o chão. Apenas tampou o olhar da menina no momento que olhou para aquele lugar. 

— Pela primeira vez na vida, deixarei a missão para o Segundo Setor.  

A ideia de um rapaz que trazia uma boa impressão se diluía em confusão mental. 

Estas ideias perdidas no tempo, que também traziam a razão daquele evento, foram lembradas com o calor imortal. O lugar que os olhos do controlador de gravidade estavam no centro de todo o caos. 

Chamas cumpridas de cor ciano acenderam aos céus como se perfurasse a noção de espaço, conduziam a luz pelo conflito do anoitecer. A atenção dos dois adultos tinham a mesma conclusão depois de notar o sinal — a missão começava agora. 

Calmaria pousou no centro do terror, pessoas e monstros ao redor permaneceram quietos, aguardavam a causa disto. Sete figuras de silhuetas quase idênticas, que atravessaram as grandes chamas, corriam para direções totalmente diferentes sem importar com o fogo que nada de mal causava a eles. 

Desconhecidos encapuzados com capas azuis que cobriam todo o corpo — não queriam ser reconhecidos, na verdade, queriam que fossem confundidos. Essa singela intenção era miséria e inútil em esconder as maneiras que corriam: investida sem precedentes, velocidade instantânea, postura desajeitada ou passos pesados que marcavam o caminho. 

Um zumbido prevaleceu logo após a eles, um míssil chegava e roubou mais atenção. Um homem alado atravessou as chamas, que extinguiram depois da travessia marcada pela ventania absurda. Conseguiu criar um buraco nas chamas gigantes num ligeiro bater de asas.  

Não tinha asas de verdade, possuia uma mentira em forma de meia-verdade. A cor laranja preenchia suas costas como um, soltava algumas faíscas no lugar de penas enquanto voava — assas feitas por energia pura, os olhos doíam se olhasse diretamente por muito tempo. 

Sua expressão doentia... Espasmos nos olhos deixou a falta de paciencia como uma verdade por inteira. Se mexeu no ar como se segurasse, contorceu seu consciente amarrado por calamidade. Prestou sua visão nas silhuetas quase indiferenciáveis com certa hesitação, até que tomou rumo a uma delas numa perseguição desgovernada. 

Haha! Onde está o demônio azul? Há... 

As figuras perceberam a reação repentina e começaram a acelerar nas mesmas direções. 

— Te achei!  

Voou com ânimo até uma delas, cortou o vento que arranhava em estática por suas asas. Seu olhar psicótico aumentava a cada metro, os espasmos desaceleravam a cada centímetro. 

Foi rápido demais. Cercou e encarou o alvo por alguns segundos. A figura parou e também devolveu a troca olhares — apesar de seu rosto coberto pelo escuro do capuz, a postura de pedra mostrava um coração mais gelado que a neve sobre seus pés. 

Medo não o definia. Se mostrou como a função inversa de ameaça do ser alado. 

Balançou suas asas brilhantes em força total junto a eletricidade que aflorava de seus olhos em laranja, que eram ainda mais marcantes; o vendaval foi disparado feito um canhão de ar. 

Mais uma vez, raios se manifestaram, ele foi respondido pela figura com a cor roxa em mais pura rivalidade. 

O esplandecer de luz se revelou pelo corpo do desconhecido antes do contato com os ventos. Seu capuz se levantou, arrastadamente, e sua franja branca não estava mais à mercê de dúvidas. O rosto sereno e quieto foi revelado, e a naturalidade sobrenatural se tornou o conhecido.  

A eletricidade se converteu do roxo até o azul, gritou em seu corpo com as cargas de energia. O dono das voo cintilante pode observar diretamente aos olhos que brilhavam, agora, em ciano. 

— Demônio... Não vou deixar você fugir outra vez. 

— Digo o mesmo, babaca — respondeu o rapaz, com tom de deboche. 

Uma investida se propagou das asas infames. O notável girar de quadril e punhos na frente do rosto... esta postura era tão familar para o atacante que seu rosto se chocou com surpresa...  

Uh?! 

Outro flash de cor roxa ergueu sobre a franja confiante e, antes do impacto ser feito, houve um soar de ignição — algo carregava, produzia um som grave e constante.  

O problema de ser rápido demais era o fato de ser também tarde demais para arrepender. Foi preso numa trajetória que tinha seu destilo selado.  

Uma manopla surgiu na mão do rapaz. Mas seu rosto... estava diferente, foi substituído por de uma mulher num oitavo de piscar de olhos, a face derreteu como uma máscara sem qualidade. 

A troca foi abrupta. Um cabelo vermelho com mechas brancas, evidenciado pelo imenso rabo de cavalo, e presas dos dentes que marcaram a vontade feroz em derrubar aquele que vinha em sua direção. 

— Não vacile! — disse ela enquanto fitava a manopla.  

O choque se concretizou e mostrou mais nada do que tremor e uma cortina de neve. A luz vermelha surgiu. Nada mais restou. A menina, que se escondia sob as mãos de Cortax, sacudia a cabeça contra as coisas que os ouvidos contavam, o reverberar do ataque estremecer por todo o campo de batalha. 

Distrações. Tudo. Somente. Apenas. Só. Meramente. Puro. Simples. Tarefas como esta foram executadas pelas outras seis figuras, guiar mo rumo da guerra com empenho e facilidade absurda. Um plano de desviar a atenção dos inimigos... ou melhor... trazer a atenção de um único deles. 

No alto da maior montanha, estava o verdadeiro rapaz, o mesmo rapaz que a mulher fingiu ter a aparência. Perto de um templo abandonado que foi capaz de ser confundido com uma tumba. 

O momento aguardado havia chegado. A luz do pôr do sol se ergueu por trás daquele pico trazia, trouxe o evento aterorizante que penetrou oa céus e destruiu o dia e noite.  

Tudo acima, dividido entre o sol e lua, luz e escuro. Perfeição imperfeita e imperfeição perfeita. 

Entregavam respostas para postura rígida do alto, quatro outras luzes acenderam, informavam verdadeiro embate com sincronia perfeita em: roxo, verde-claro e vermelho. Sinais reluzentes que mostravam estar espalhados por todo a área do combate feito simples sinalizadores — mas que significavam a maior missão para poucos. 

Os olhos fecharam por um nanômetro e suas sobrancelhas contrairam. o rapaz percebeu os passos casuais e desprovidos de medo ou receio. Um senhor barbudo e forte subia as pedras com um rosto muito contente, aproveitava aquele momento digno de estar ainda vivo com um prazer estranho. 

— Muito bom, Mark. Depois de tentar tanto parar os cristais, ainda se arrisca aqui. Afinal, puro, se sente melhor com isso ou com... "Marcos"? 

Um rosto ignorante tomou presença como resposta do rapaz. Nojo preencha sua mente sobre a presença do outro, apenas prosseguiu com o combinado sem dizer nada.  

Numa sinfonia quase orquestrada, passos calmos vinham em oposição de um sujeito de cabelos cinzas, que segurou os ombros do jovem, aliviou suas preocupações que surgiram com velho em sua frente; outro sinal singelo que, sozinho, já era o suficiente para o que pensava.  

— Obrigado, Dourres. 

O cabelo de Mark pegou fogo, suas roupas queimaram e todos seus átomos foram carbonizados. Naquele momento de ouro, se tornou a própria chama viva, o ciano ardente. 

Cenas de conflito que não eram de um tempo correto. Um tempo inconsequente que agoniava pensamentos sob vislumbres, aonde faziam um jovem tremer com medo de encarar o verdadeiro pôr do sol. Momentos que o fizeram decidir de forma esperançosa e desesperada seu mísero desejo de mudar tudo... sua vontade de entender as coisas todas. 

— Que interessante... pode ser assim então? 

Um homem desastrado e sujo olhava atentamente para a parede de uma caverna escura. A ideia desse futuro não tão distante dilatava seus sentidos como se ganhasse um prêmio. Deliciou-se, embora o único e o último a tirar proveito daquela cena. 

— Aqui será perfeito! Mal posso esperar. He... HAHAHA! — Mexia as mãos inquietas. 

Amassou o cabelo encaracolado após contemplar a parede, enxergava tudo o que ainda não aconteceu. Aproximou e tocou na pintura imaginária da caverna com pressa, observava cada detalhe junto a um impulso de um apreciador de uma obra de milhões e milhões. 

— Seria essa a “perfeição” que ela me disse, ou melhor... que ainda me dirá, hiiihi. 

Virou-se para trás e encarou a luz do sol que se escondia, trazendo o anoitecer inevitável. 

— Nesta noite, começará tudo. — Sua voz se tornou rouca, pupilas contraíram e a seriedade foi emitida em um rosto decidido. 

Pegou um cinzel e apontou para a parede, começou a esculpir incessantemente o que trazia tanto preço na pintura. Antes do último fio tocar a parede. O estalar do chão fez o seu pescoço girar po reflexo. 

— Desculpe a demora. 

— Não, não, não! Está no horário exato! Sabe como sou exigente nisso, né? 

— Prossiga. 

Uma mulher de cabelos logos e esquisitos, sua entrada separava o branco e preto. A expressão aflita e nervosa estava tão clara, mesmo na entrada da caverna. 

— Você sabe que preciso te matar pra ele poder ver aquilo também... 

— Por isso estamos aqui hoje. 

O rapaz desajeitado apenas amassou os cabelos com o toque satisfeito. Assentiu com a cabeça e deixou os lábios sorrirem sem a permissão. 

He. Perfeito. 



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