Volume 3

Capítulo 5: Às vezes, os personagens mais próximos acabam detendo as chaves da masmorra mais difícil. (PARTE 2)

— Ah, a comida chegou?

— Sim!

Omelete de Kikuchi-san ainda estava intocada. Ela deve ter estado esperando eu voltar. Eu não me importaria se ela tivesse começado sem mim, mas ainda estava estranhamente feliz por ela ter esperado. Sentei-me e pensei no que fazer enquanto ambos comíamos.

Finalmente, olhei para ela. Estava sendo excessivamente dependente? Estava prestes a pedir conselhos a ela. Ela estava totalmente focada no que queria, e tinha percebido imediatamente minha pequena máscara, mas ainda me aceitava como eu era. E a disposição dela em me aceitar era por isso que eu queria conversar com ela.

— ...Um...

— ...Sim?

Kikuchi-san respondeu lentamente, como eu teria feito. Era reconfortante, e eu não pude deixar de aproveitar isso. Era tão fácil conversar com ela.

— Um… lembra como, depois do filme, você disse que às vezes eu era difícil de conversar e às vezes era fácil de conversar?

— Oh, uh-huh...

Ela assentiu, parecendo um pouco surpresa, provavelmente porque eu estava trazendo isso à tona novamente.

— Bem, acho que há... uma razão para isso.

Disse, hesitando um pouco. Eu estava prestes a revelar minha máscara para ela.

— Ultimamente... alguém tem me treinado em como falar e coisas assim... Tenho usado um gravador para verificar se minha voz está saindo como eu penso, e copiando pessoas na classe como... como Mizusawa, e outras coisas assim.

A única coisa que mantive em segredo foi o nome de Hinami.

— Alguém...

Kikuchi-san focou nesse ponto enquanto me ouvia seriamente.

— E como parte desse treinamento... Bem, você não pode começar uma conversa sem algo para falar, certo? Então, fiz cartões de memória para cada pessoa... com tópicos neles que memorizei...

Eu tinha medo de que ela não gostasse de mim quando soubesse disso, o que foi por isso que meio que me perdi no final, mas ainda consegui continuar falando.

— Antes de irmos ao cinema juntos... fiz um monte desses cartões sobre coisas como 'roupas da Hinami' e 'detalhes do que aconteceu com a Mimimi', e memorizei para poder usá-los quando estávamos juntos.

— ...Oh.

Como eu esperava, Kikuchi-san parecia um pouco surpresa, mas continuava ouvindo sinceramente, olhando nos meus olhos.

— Mas nos fogos de artifício e hoje, não usei nenhum tópico memorizado ou fiz esforço para manter a conversa. E você disse que foi mais fácil conversar nessas duas vezes.

— ...Então é isso que estava acontecendo.

Ela sorriu amavelmente, como se estivesse satisfeita com minha explicação.

— Achei que quando usava esses truques baratos para fazer uma conversa, havia algo de não natural nisso... e foi isso que fez você sentir que era difícil conversar comigo. Pensei que era porque você tinha visto através da minha máscara e percebido que eu não era sincero.

Procurei as palavras como se estivesse reunindo as emoções que tinham afundado no fundo do meu coração.

— Mas... quando usei aquela máscara ou aquelas habilidades com Mizusawa e Hinami e Mimimi, e fez a conversa fluir mais suavemente, senti uma sensação de realização. E isso não era falso. Era uma sensação genuína de realização.

— Entendo...

Kikuchi-san assentiu várias vezes enquanto ouvia.

— Então, realmente não sei se devo continuar desenvolvendo essas habilidades ou se devo apenas ser eu mesmo. Não tenho certeza de qual é mais próximo do que eu realmente quero.

Kikuchi-san olhou para baixo, como se não soubesse o que dizer. De repente, voltei à realidade.

— Oh... desculpe por falar sobre todas essas coisas estranhas de repente. Tenho certeza de que isso não faz sentido.

Mais uma vez, estava lamentando minhas ações. Por que eu estava agindo tão fraco e injusto? Já que Kikuchi-san aceitava tudo sobre mim, talvez eu só quisesse que ela aceitasse as partes fracas de mim que eu odiava. Perguntei-me o que mais deveria dizer a ela. Ela ainda estava olhando para baixo.

Mas quando ela levantou o rosto um segundo depois, sua expressão era forte e gentil.

— ...Eu...

Ela olhou nos meus olhos.

— A razão pela qual acho que é fácil conversar com você... é que consigo imaginar o que você está dizendo.

— ...Você consegue imaginar? ...Como?

Isso veio do nada. Kikuchi-san assentiu profundamente.

— Muitas vezes, sinto que você diz diretamente o que lhe vem à cabeça... e quando faz isso, uma imagem também surge na minha cabeça, embora não tenha certeza se é a mesma que você tem. É como se eu estivesse lendo um romance.

— Como assim?

Olhei para o livro na mesa em sua sacola plástica.

— Bem... não quero dizer que suas frases soam como prosa... É mais como se as coisas que você viu chegassem até mim sem processamento. Sinto que você está transmitindo diretamente, honestamente, qualquer humor, emoção ou textura que percebeu.

Enquanto falava, Kikuchi-san movia lentamente ambas as mãos como se estivesse moldando uma escultura no ar.

— Acho que isso é sua personalidade... e é por isso que é fácil conversar com você...

— O-obrigado...

— Oh, uh-huh...

Embora ela estivesse corando agora, Kikuchi-san continuou explicando. — Mas às vezes a imagem não fica muito clara... e eu estava pensando agora mesmo, provavelmente são as vezes em que você estava usando os tópicos que memorizou dos cartões...

— Ah, sim...

O ponto dela estava começando a se concentrar.

— E acho que é isso que faz você difícil de conversar.

Foi por isso que ela parecia satisfeita alguns minutos antes. Mas isso significava...

— Então você acha que fazer um esforço para desenvolver essas habilidades é uma má ideia...?

— Não necessariamente.

Kikuchi-san olhou para mim. Seus olhos sinceros e brilhantes me puxaram.

— ...Mesmo?

Ela sorriu como uma deusa transbordando de afeto gentil.

— Acho que você mudou muito ultimamente... Ser difícil de conversar às vezes é parte disso... mas é mais do que isso...

— Mais do que isso? O

utras mudanças? O que havia mudado além das minhas habilidades?

— Desde a primeira vez que conversamos, achei interessante que eu tivesse essas imagens quando você está falando.

— ...Uh-huh.

Concordei, como se suas palavras estivessem me puxando para ela.

— ...Mas as imagens eram todas em preto e branco.

— ...Ah.

Mais uma vez, ela me surpreendeu completamente.

— Quando converso com você, seu mundo sem cor parece um pouco solitário, mas de certa forma... é semelhante ao mundo que vejo.

— O que... você vê?

Kikuchi-san olhou para as palmas das mãos, então sorriu um pouco tristemente.

— Às vezes... o mundo que vejo ao ler livros parece mais bonito do que o mundo real diante de mim. Toda vez que leio um livro que me faz sentir assim, eu tenho inveja do autor. Afinal, o mundo deve parecer tão colorido para eles...

Ela acariciou gentilmente o livro dentro da sacola plástica.

— Principalmente os livros de Andi.

Ela disse com um sorriso.

— E... o mundo que aparece quando converso com você é preto e branco... como o meu... Então, quando ouvi dizer que você gosta de jogar Atafami... eu me perguntei se o mundo desse jogo é cheio de cor para você, assim como o mundo nos livros é para mim.

— ...Sim.

Acho que ela estava certa. A realidade que eu havia descartado como um jogo ruim realmente parecia toda em tons de cinza, e mergulhar no mundo de Atafami era cheio de cor em comparação. — Acho que é verdade.」

— Mas... sabe de uma coisa?

Ela disse como se estivesse prestes a me corrigir gentilmente, olhando silenciosamente para mim.

— À medida que conversávamos mais... e você falava sobre sua vida, as imagens que eu via...

Ela soava como se estivesse lendo uma história infantil clássica para mim.

— ...Eu podia ver a cor entrando.

Sentia como se ela estivesse pegando uma parte muito importante do meu coração que eu tinha deixado cair aos seus pés; acho que eu já entendia o que ela queria dizer.

— Isso realmente me surpreendeu.

Continuou ela.

— Desde que eu era pequena, o mundo que eu via era cinza. Nada mudou quando cheguei ao ensino médio... então, pensei que sempre seria assim. Que sempre seria cinza.

— Yeah...

Eu conhecia esse sentimento.

— Mas em um período muito curto de tempo, você, — ela devia estar falando das mudanças loucas que passei nos últimos meses, — conseguiu mudar a cor do mundo que você vê.

Sim. Exatamente.

Eu sempre via o mundo como o pior tipo de jogo, uma conspiração estúpida criada pelos normies, mas ultimamente, eu estava me esforçando para melhorar minha habilidade nele, um passo de cada vez.

Eu gradualmente estava mudando meu ambiente e, conforme fazia isso, meus relacionamentos com outras pessoas também se transformavam.

Meus preconceitos desapareciam, e minha experiência do mundo se tornava algo novo. O esforço que investi no mundo real me permitiu fazer mais coisas e transformou meu entorno. Mas mais do que isso, a cor do mundo que eu via agora era completamente diferente.

Ficou claro como cristal que essa mudança era algo verdadeiramente precioso. Ouvi, absorvido e em silêncio, as palavras de Kikuchi-san.

— É por isso que acho realmente maravilhoso que você esteja se esforçando para se mudar.

Disse ela, e seu sorriso parecia abraçar o mundo inteiro.

— Oh... você acha?

Era como se eu tivesse levado um golpe de corpo inteiro, e tudo o que eu podia fazer era assentir. Parecia que a resposta que eu estava procurando estava nas palavras de Kikuchi-san.

— Talvez... você esteja certo.

Disse hesitante.

— Além disso, isso é apenas um talvez, mas... —, disse ela, olhando para baixo pensativa, como se uma ideia tivesse acabado de ocorrer a ela.

— ...Sim?

Ela tirou o livro de Michael Andi de sua sacola plástica.

— Se houver uma pessoa maravilhosa e mágica em sua vida.

Disse, abraçando o livro suavemente ao peito.

— Alguém que pintou seu mundo cinza com cor...

Ela olhou diretamente para mim e sorriu um sorriso caloroso, direto e muito humano.

— Então, acho que você deveria valorizar esse relacionamento.

Mais uma vez, ela me ensinou algo importante. Por um longo momento, eu não pude deixar de fitá-la. Então, finalmente...

— ...Sim. Obrigado, Kikuchi-san.

Queria comunicar a profunda gratidão que estava sentindo a ela, então usei minha — habilidade de tom sério — para agradecê-la.

Ela balançou a cabeça gentilmente.

— Considere isso um pequeno agradecimento por me mostrar que não é tarde demais para eu mudar como vejo o mundo.

Ela sorriu.

Pode ser que eu estivesse vendo coisas, mas juro que o brilho em seus olhos era de uma cor um pouco diferente do normal.



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