Volume 3
Capítulo 3: Os jogos multiplayer têm um apelo especial próprio. (PARTE 5)
A estratégia entrou em ação.
— Campeões milionários, unam-se!
— Uh... sim, vamos mostrar a eles quem manda!
Primeiro, com a performance perfeita de Hinami e minha entrega monótona das minhas falas, ela e eu formamos uma equipe de Ping-Pong. Em seguida, foi a vez de Mizusawa.
— Ei, Izumi, você está no time de badminton, né?
— Uh, sim.
— Incrível. Tenho certeza de que você vai arrasar nesse esporte também.
— Oh, é esse o seu ponto?!
Com isso, Izumi e Mizusawa formaram nossa equipe adversária. Isso deixou Nakamura, Takei e Mimimi na lateral. Quando todos estavam no lugar, começamos nosso jogo.
— Éramos inimigos no Milionário... mas os inimigos de ontem são os amigos de hoje, como dizem.
Disse Hinami enquanto executava uma defesa e batia a bola no lado de Mizusawa e Izumi.
— Legal, Aoi! Isso vai ser intenso..., — disse Mizusawa, empunhando sua raquete. — Que tal isso?!
Ele devolveu a bola com força.
— Ah, droga... Entendi!
Devolvi a bola suavemente com uma chamada menos inspiradora.
— Sim!
Izumi era surpreendentemente atlética, dada a sua desajeitada vida cotidiana. Ela enviou habilmente a bola voando de volta para nós.
Enquanto isso...
— Hey! Você pode tirar uma foto da gente aqui na fonte termal?
Mimimi sugeriu, e, sem surpresa, Takei respondeu com entusiasmo.
— Ok, lá vou eu! Fonte termal!
Ele disse aleatoriamente, tirando uma selfie dos três.
Assim que terminou, Mimimi se desculpou.
— Eu vou correr para o banheiro!
— Entendi.
— Sim.
Nakamura e Takei começaram a rolar preguiçosamente pelos seus telefones.
De volta à mesa de Ping-Pong...
— Toma essa!
Disse Izumi.
— Oof, — respondi.
Patético.
A batalha feroz continuou, mesmo enquanto três de nós observávamos Takei pelos cantos dos olhos.
— ...Huh?
Eu podia ouvi-lo murmurando algo. Teria ele caído na nossa armadilha? Ele ficou em silêncio por um momento, examinando seu celular com grande concentração enquanto deslizava a tela.
— Enfim...
— Merda!
Takei soltou um pequeno grito ao mesmo tempo em que Nakamura começou a falar. Fingimos estar tão absorvidos no jogo que não notamos — exceto Izumi, que estava realmente concentrada.
— O que?
— Shuji, olha! Olha isso!
Takei entregou seu celular para Nakamura, e um minuto depois, Nakamura reagiu com choque também.
— ...Que porra é essa?
Não consegui ver o que ele estava olhando, mas tenho certeza de que era a conta do Twitter de Shimano-senpai. Nossa atenção dividida entre a bola de Ping-Pong e as laterais, montamos uma disputa tão emocionante quanto possível. Izumi estava genuinamente animada.
— Ela fez isso...?
Agora, aposto que Nakamura estava olhando a coleção de fotos suspeitas de Shimano-senpai e as respostas a vários caras dizendo — Sim, vamos sair! — e coisas do tipo. Seu tom sugeria uma mistura de choque e libertação.
— ...Deus, ela me enoja.
Ele resmungou.
— S-Shuji, acho que você deveria esquecer essa garota...
— ...É. Heh, ela me faz rir.
Ele deu uma risada sem humor.
— Mas onde você encontrou essa merda, cara?
— Uh... Apareceu na minha linha do tempo... Acho que alguém retweetou.
— Quem?
Takei mexeu no telefone por um minuto.
— Huh? Cadê?
— Que porra é essa?
Nakamura parecia um pouco cansado das palhaçadas de Takei, mas não agressivo. Ele estava sorrindo.
Claro, Takei não conseguia encontrar o retweet. Porque ele não existia mais.
O plano era extremamente simples. Primeiro, atraímos Takei para abrir sua conta no Twitter. Os normies geralmente olham para seus celulares sempre que têm um minuto livre, mas é difícil prever o que exatamente vão olhar — pode ser o LINE, pode ser o Facebook, pode ser o Instagram. Mas Takei quase sempre olhava para o Twitter.
Então, fizemos Mimimi ir ao banheiro após uma breve conversa, criando assim uma oportunidade para os dois caras olharem para os celulares. Mas isso por si só não era uma garantia, então adicionamos mais um toque.
Fizemos Takei tirar uma foto logo antes de ela ir ao banheiro. Takei tinha uma grande probabilidade de abrir o Twitter em qualquer oportunidade, mas se ele tirasse uma foto, sua ação garantida seguinte seria postá-la lá. Aproveitamos esse hábito para garantir que ele fizesse o que queríamos.
Em seguida, Mimimi retweetou um dos infames tweets de Shimano-senpai com uma foto anexada. Depois, como Takei segue Mimimi e estaria olhando para o Twitter naquele momento, a foto apareceria em sua linha do tempo.
E como Mimimi tinha uma conta privada, Shimano-senpai não receberia uma notificação sobre o retweet.
O ponto-chave aqui era Mimimi alterar o nome de exibição em sua conta. O funcionamento do Twitter é tal que quando você retweeta algo, o tweet original aparece nos timelines das pessoas com uma pequena nota acima dizendo quem retweetou. Portanto, normalmente, se Mimimi tivesse retweetado o tweet de Shimano-senpai, ele seria exibido no timeline de Takei com uma pequena nota acima dizendo — Mimimi Nanami retweetou — mas sem outras informações como ícones ou IDs.
Isso significa que, contanto que você mude o nome de exibição, pode disfarçar quem fez o retweet. Claro, se alguém abrir o tweet e clicar no link que diz — fulano retweetou — eles irão para a sua página de usuário, então não é possível disfarçar completamente sua identidade.
Mas, sinceramente, com que frequência as pessoas investigam quem retweetou algo? Ou, para ser mais específico, com que frequência Takei faria isso?
Então, fizemos Mimimi mudar temporariamente seu nome de exibição para o inofensivo pseudônimo Yu antes de retweetar o tweet de Shimano-senpai. Em seguida, monitoramos secretamente Takei, e assim que detectamos sinais de que ele tinha visto, fizemos Mimimi excluir o retweet.
Toda a evidência de que Mimimi estava envolvida nisso desapareceria.
Quando ela mudou seu nome de usuário de volta, o mini crime perfeito estava completo.
A pedido de Nakamura, Takei procurou a fonte do retweet por um tempo, mas eventualmente ele apontou que havia algo mais importante a se pensar.
— De qualquer forma, você ainda deveria esquecê-la, né?
— ...É, acho que sim.
Nakamura deu um aceno vagamente melancólico.
— Ei, pessoal!
Mimimi voltou exatamente naquele momento.
— Ei, Mimimi! Você não vai acreditar no que...
— Takei.
Nakamura lançou uma palavra e olhar duros para Takei antes que ele pudesse revelar tudo a Mimimi.
— Uh, oh... um. Nada!
— Ooh, qual é o segredo?!
— Cala a boca. É coisa de homem.
— Coisa de homem?! Então é impossível... porque eu sou uma garota...
Mimimi fingiu chorar dramaticamente.
Com isso, Nakamura havia selado os lábios de Takei. Maravilhoso. Todas as peças deveriam estar agora no lugar. Havíamos comunicado as verdadeiras cores de Shimano-senpai a Nakamura sem ferir seu orgulho, e ele havia impedido Takei de compartilhar as informações com mais alguém. Em outras palavras, ninguém seria capaz de provocar Nakamura por causa disso.
A propósito, bela performance, Mimimi. Até um pouco real demais.
As garotas são assustadoras.
Havíamos acabado de remover o último pequeno obstáculo entre Nakamura e Izumi. Enquanto isso...
— Ooh, boa!
Mizusawa esmagou a bola em nosso campo.
— Ai!
Incapaz de responder a tempo, deixei a bola voar para fora da mesa.
— Sim!
— Boa!
Mizusawa e Izumi bateram palmas, e então Mizusawa me deu um olhar significativo.
— ...Parece que Fumiya é o vencedor deste jogo.
— Huh?... Ah, certo.
Levei um segundo para perceber que ele acabara de me elogiar pelo sucesso da minha estratégia. Hinami sorriu e assentiu também. Izumi foi a única que parecia confusa.
Tendo terminado tanto o jogo de Ping-Pong quanto nossa grande jogada sem incidentes, saímos da fonte termal e vagamos naturalmente em direção à pequena floresta nas proximidades.
Desnecessário dizer que íamos andar pela floresta à noite para nosso teste de coragem.
Em certo sentido, este seria o passo final da estratégia Nakamura-Izumi.
Embora o ar estivesse quente e úmido, Izumi parecia arrepiada.
Seus olhos estavam cheios de puro medo, e ela tremia ao perguntar: — Nós realmente vamos fazer isso?
— Claro que sim! Este é o evento principal!
Ironicamente, mesmo que não tivéssemos contado o plano para Takei, já que ele era tão inútil, o comentário dele estava perto da verdade. Isso definitivamente era o evento principal.
— S-sério...?
Mizusawa deu um tapinha nas costas de Izumi enquanto seus passos ficavam menores e menores.
— Não se preocupe, esta é uma estrada normal durante o dia. Só está escura e assustadora agora. Só parece que um fantasma pode aparecer quando você menos espera.
— Isso é o que é assustador!!
Izumi chorou desesperadamente. A provocação sagaz de Mizusawa era extremamente eficaz.
— Ah, aqui é onde começamos.
Ignorando a reação de Izumi, Mizusawa olhava para um caminho estreito e escuro que levava de volta ao acampamento. Havia duas maneiras de chegar lá — a que tínhamos tomado no caminho para a fonte termal, que era uma estrada normal usada por carros, e esta, que era um caminho pavimentado, mas mal iluminado, através da floresta.
O plano era voltar para o acampamento neste caminho em grupos de dois ou três.
Pelo que eu pude ver, o caminho que se afastava da estrada principal estava bastante escuro, e honestamente falando, mesmo eu teria medo de andar sozinho por ali. Não que eu seja medroso ou algo assim.
— Escutem... é realmente escuro lá embaixo.A voz de Izumi estava fraca, e seus olhos estavam se enchendo de lágrimas. Vi ela se aproximar de Nakamura e agarrar a camiseta dele.
Os olhos afiados de Mizusawa pegaram o movimento, e ele apontou para a mão dela.
— Ooh, olhem os pombinhos! Vão lá, vocês dois; vão primeiro!
— Sim, acho que ela quer ir com você.
Hinami disse, aumentando a pressão.
— Ei, não, espera! Não é isso que eu...
Izumi puxou a mão de volta do braço de Nakamura às pressas.
— Tarde demais. Esses caras já tomaram a decisão deles. Vamos lá.
Nakamura disse. Parecendo resignado ao fato de que nunca recuaríamos, ele levou Izumi em direção ao caminho.
— Ei, e-espera por mim, Shuji!
— Ah, droga, anda logo.
— Ei!!
Sua voz ecoou enquanto ela desaparecia na escuridão.
— Boa, Takahiro!!
Mimimi deu um polegar para cima, sorrindo de orelha a orelha.
— Ha-ha-ha, o que posso dizer? Mas parece que...
Ele concordou várias vezes.
— Nossa estratégia termina aqui, né?
Ele estava certo. Ao esperarmos uns vinte minutos para enviar o próximo par pelo caminho, daríamos a eles algum tempo sozinhos no acampamento, momento em que caberia a Nakamura finalmente agir. Essa era a última etapa do nosso plano.
— Se preparamos tudo tão bem e Nakamu ainda não faz nada — Vamos lá, mostre atitude!
Mimimi riu.
— Talvez Yuzu seja quem tome a iniciativa!
— Espero que você não deixe isso acontecer, Shuji! Pense em sua honra!
Hinami e Mizusawa riram junto com ela.
— Huh? Do que vocês estão falando?
Todos ignoramos completamente a pergunta de Takei e começamos a falar sobre quem deveria seguir pelo caminho a seguir.
— Ok, estou indo!
— Cuide dos seus passos, Mimimi!
— Aah!
Mimimi e Mizusawa foram os próximos a partir, cerca de vinte minutos após Izumi e Nakamura. Tínhamos decidido os grupos no par ou ímpar, e eles acabaram sendo o primeiro par. Hinami, Takei e eu sairíamos depois deles. Era um trio único.
— Na verdade, planejamos tudo...
— O quê?! Sério?! Por que vocês não me contaram?
— Vamos lá, Takei, você sabe que não consegue fingir.
— Ok, vou dar isso para você, mas...
Como tudo estava acabado, Hinami estava contando a Takei sobre o verdadeiro objetivo da viagem. Parecia esmagado ao descobrir que era o único que não sabia.
Dez minutos se passaram desde que Mizusawa e Mimimi partiram.
— Ok, pessoal, devemos ir? ...Es-está bem escuro aqui.
Hinami disse temerosa, e nós três partimos.
— Eek!
Hinami deu um pulo quando Takei pisou em um galho, partindo-o com um estalo alto.
— Um pouco nervosa, Aoi?
Takei se inclinou em direção a Hinami, rindo felicemente.
— C-cala a boca, Takei! Coisas assustadoras assustam as pessoas às vezes, ok?
Ela disse mal-humorada, acelerando o passo.
— Eu não estou com medo. Impressionante, né?
Takei se vangloriou.
Hinami assentiu.
— Realmente me faz sentir mais segura estar com um cara que não tem medo de coisas assim.
Takei sorriu animado com o comentário brincalhão de Hinami. Esse cara era realmente uma criatura simples.
— Sério? Eu te faço sentir mais segura?!
— Mas...
Hinami disse, olhando para nós dois.
— Não acham que ter três de nós é parte disso?
Takei balançou a cabeça vigorosamente.
— De jeito nenhum! Nada a ver!
— Então você iria sozinho?
— Moleza!
— Sério?
— Sério! Você ficaria impressionada se eu fizesse?
— Totalmente. Só alguém realmente legal e masculino faria isso.
— Sério?! Ok, então!
Ele disse, arregaçando as mangas.
— Só me observe!
— Você vai mesmo fazer isso?!
— Claro!
Takei caminhou confiante à nossa frente.
— W-wow!
Hinami aplaudiu suavemente.
— Esse sou eu! Ah-ha-ha!
Nós dois ficamos observando enquanto ele desaparecia pelo caminho.
Um, o que está acontecendo? Hinami acabou de enganar Takei para que ele fosse na frente, certo? Então, estávamos sozinhos no caminho escuro. Agora eu estava um pouco... nervoso.
— ...O que você está tramando?
Perguntei baixinho, meu coração batendo um pouco mais rápido do que o normal. Hinami me deu um aceno satisfeito.
— Achei que seria uma maneira eficiente de usar o tempo para ter uma reunião agora. Como está indo a sua missão?
Ela estava de volta à sua forma habitual.
— Oh... então é disso que se trata.
Ela afastou Takei porque ele estava atrapalhando. Suspirei com sua lógica fria e dura — minha culpa por deixar meu coração se animar.
— Hmm?
Hinami parecia estar se divertindo com minha reação.
— O que você quer dizer? Do que mais poderia se tratar?
Ela aproximou o rosto do meu para que seus cabelos roçassem meu pescoço. Intencionalmente, tenho certeza. Ergh, ok...
— N-nada.
— É mesmo?
Senti meu rosto ficando quente. Ao me inclinar para trás para evitar seu ataque, ela deu um resmungo satisfeito.
— Que diabos?
Perguntei.
— Vamos fazer um treinamento especial agora.
Ela nem estava tentando esconder seu sadismo agora. Eu tinha um pressentimento muito ruim sobre isso.
— O-oque você quer dizer com 'treinamento especial'?
— Sabe o que eu disse para o Takei, sobre ser legal e masculino?
— Uh, sim...
— Por exemplo...
De repente, ela gritou e agarrou meu braço.
— H-hey, o que você está fazendo?!
Ela olhou para mim com olhos lacrimejantes enquanto eu entrava em pânico.
— N-nessas horas... você tem que agir de maneira máscula e forte, certo?
Sua voz era fraca e frágil, de alguma forma inspirando o desejo de protegê-la, mesmo sabendo que ela estava brincando comigo. Entendi o ponto dela.
— ...Você quer que eu pratique andar de maneira máscula e forte com uma garota assustada...
Meu coração estava batendo forte com o calor da palma de Hinami no meu bíceps. Ela olhou para cima para mim com seus olhos assustados e assentiu.
— Sim, é isso... Estou contando com você, ok...?
Ela envolveu ambos os braços ao redor do meu braço direito e se pressionou contra mim.
— Uh, um…
Ela parecia tão assustada e vulnerável que, se não fosse pelo sorriso que brevemente apareceu nas bordas de seus lábios, ela teria me enganado. Eu sabia que era uma atuação, mas ainda sentia meu coração bater mais rápido. Eu—eu não vou deixar você me vencer, Hinami!
Hinami caminhava lentamente, agarrada ao meu braço, e grudada em mim como cola.
— Ooh, está tão escuro…
— S-sim.
Eu estava ajustando meu passo ao dela, minha atenção completamente distraída pela maciez definitiva de seu corpo ao longo do meu braço. Seu peito... provavelmente não estava tocando meu braço, mas sua axila e lateral definitivamente estavam. Havia apenas uma fina camiseta entre mim e sua pele nua.
— Eee!
Com um grito fofo, ela apertou meu braço mais forte contra seu corpo macio.
— V-você está levando isso longe demais...
Tentei adotar uma abordagem objetiva para não perder completamente a compostura. No entanto, Hinami não se importava nem um pouco.
— Oh, Tomozaki-kun..., — ela disse, olhando timidamente nos meus olhos.
— Não solte…
— ...Uh, sim.
O poder avassalador da heroína estava praticamente me derrotando, e me vi concordando. Não se preocupe. Eu não vou te soltar, pensei.
Não, ruim! O que estou pensando? Ela tinha me enrolado. Ela só estava tentando me confundir... mas seu rosto, expressão e gestos eram tão adoráveis, e seu corpo era tão macio e quente, que não importava se era tudo uma encenação... E estávamos sozinhos neste caminho escuro...
Não.
Recupere o controle!
Dei um tapa leve na minha bochecha com minha mão esquerda para clarear a mente. Senti o dedo de Hinami traçando minhas costelas.
— Eee!
Eu gritei, e instantaneamente minha cabeça estava embaçada novamente.
— Tomozaki-kun... você está bem?
Hinami disse em um tom preocupado.
Ei, a culpa foi sua!
De qualquer forma, eu deveria estar praticando meu papel de forte e masculino. Ela deve estar me instruindo a focar nisso.
— ...Uh, sim. Estou bem.
Decidi apenas completar o treinamento especial e continuei caminhando para frente. Afinal, ela era minha professora na vida. Mesmo que ela tivesse motivações sádicas, eu tinha que obedecê-la.
Enquanto caminhava, minha mente embaçada pela situação totalmente anormal e levemente provocante, um pequeno inseto voou na minha frente.
— Oh!
— O-que?!
Super reagindo ao meu pequeno exclamação, Hinami soltou meu braço e se agarrou a mim por trás. Meu cérebro virou mingau enquanto sentia seu
corpo macio pressionado contra as minhas costas e seus braços delicados e trêmulos ao meu redor.
Estava acabado. Meu cérebro estava em modo de pânico.
— I-isso não é nada. É só um inseto, — consegui dizer, embora incrivelmente desajeitadamente.
— S-sério...?
Ela se desgrudou das minhas costas e se agarrou ao meu braço novamente. Eu estava decepcionado por ela não ter ficado nas minhas costas um pouco mais, mas reprimi o arrependimento e examinei sua expressão. Um sorriso satisfeito pairava ao redor de sua boca. Você está mostrando suas verdadeiras cores, Hinami!
Mas... droga. Era humilhante estar tão completamente à mercê dela. Eu me perguntei se poderia dar o troco de alguma forma.
Olhei ao redor, sentindo-me ainda mais humilhado por gostar do peso de sua cabeça repousando no meu ombro, e percebi uma cigarra no chão na frente dela.
Lá vamos nós!
Era uma aposta arriscada, mas se o bicho ainda estivesse vivo... eu poderia pisar alto quando chegássemos perto e soltar a cigarra nela. Como eu sabia o que esperar, eu deveria ser capaz de controlar minha própria reação.
Eu não queria que ela descobrisse meu plano, então olhei para longe do inseto e fiquei firme enquanto ela começava a fazer comentários extremamente femininos, como — Tomozaki-kun, seu braço parece tão forte e masculino!
Alguns segundos depois, alcançamos a cigarra.
Boo!
Pisei forte, e, com certeza, ela voou para o ar com um som alto de clicar.
— Eek, o que é isso?!
— Whoa!
O grito de Hinami desta vez não era tão falso. Ha-ha. Além do fato de que eu também fui surpreendido, meu pequeno plano foi um grande sucesso.
Bem feito, Hinami! Eu a olhei com um sorriso satisfeito. Ela me encarou por um segundo. O quê? Então ela tirou os braços de mim e cobriu a boca com uma mão.
— A-aquilo foi tão assustador…!
Ela lamentou teatralmente, afundando no chão.
— H-hey, Hinami...
Ela olhou para mim lacrimejante e balançou a cabeça fracamente.
— E-eu não consigo ficar de pé...
Que fingimento. Aposto que essa era a vingança dela por eu tê-la assustado um pouco. Tudo bem então. Eu a peguei de surpresa com a cigarra, então eu aguentaria.
— V-você está bem?
— E-eu só não consigo...
Ela olhou para mim suplicante. Uh, então ela quer que eu...
— Você quer que eu te levante?
Ela deu um pequeno aceno.
— ...Uh-huh.
Ela levantou os braços um pouco, deixando um espaço sob suas axilas. Ok, espere um segundo. Lá? Em uma situação como essa, normalmente não se puxaria alguém pelos braços? Mas o gesto dela sugeria que ela queria que eu envolvesse ambos os braços ao redor dela e a levantasse dessa forma. Sério?
— R-rápido...
Ela parecia à beira das lágrimas. Eu sabia que era encenação, mas ela ainda conseguiu me fazer sentir como se eu tivesse que resgatá-la antes que ela começasse a chorar. Que diabos.
— Uh, ok...
Fiz o que ela queria, envolvendo meus braços ao redor dela sob as axilas.
Ela colocou os dois braços em volta do meu pescoço.
— ...Huh?
Eu congelei.
Ela olhou nos meus olhos.
— O-que foi?
Ela continuou me encarando em silêncio, sorrindo e fazendo a inocente. Seus lábios se abriram. Por que ela estava agindo tão sedutoramente?
Mas depois da minha vingança bem-sucedida com a cigarra, um espírito rebelde floresceu no meu coração. Eu apenas a encarei de volta.
Ela lambeu os lábios.
Então ela puxou lentamente meu rosto em direção ao dela usando o braço envolto em meu pescoço.
Ok, espere só um segundo. Eu a encarei com a minha determinação inútil de rebelião. Eu ia continuar suportando esse tratamento? Mas se eu desviasse o olhar, ela provavelmente zombaria de mim mais tarde.
Por puro force de vontade, consegui permanecer onde estava. Muito, muito lentamente, o rosto de Hinami, sua pele, seus lábios, se moveram diretamente em minha direção. A distância entre nós diminuiu de quinze centímetros para dez e depois para apenas alguns. A leve e quente respiração da boca dela acariciou meus lábios.
Eventualmente, o nariz dela estava prestes a tocar o meu, e ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado. Ei, as pessoas fazem isso quando—
— Aah!!
Incapaz de resistir por mais tempo, afastei meu rosto.
No próximo momento, voltei à razão e percebi o que havia acontecido… Eu tinha perdido.
Olhei para Hinami. Ela estava lá parada com a cabeça inclinada e um sorriso vitorioso.
— M-merda…, — murmurei.
Ela estava muito além de mim. Mas então percebi outra coisa. Huh? Os lábios dela… estão onde…
— Você tem um longo caminho pela frente, vejo. Bem, vamos sair daqui.
Ela se levantou e eu a segui com um Ok murmurado.
Os lábios dela tinham acabado— e xatamente onde os meus estavam há um minuto.
...Se eu não tivesse desviado, o que teria acontecido?
...Ela estava certa de que eu desviaria?
Meu coração estava batendo loucamente mais uma vez, e nós dois voltamos para o acampamento.
Os outros cinco membros do nosso grupo já estavam reunidos perto do centro do acampamento.
— Ei, devagar. Eu cheguei sozinho, Aoi!
Chamou Takei.
— Não foi tão assustador afinal, — disse Hinami casualmente.
Ela acenou com as mãos, uma expressão vazia no rosto. Como eu deveria interpretar isso?
— Ah, vamos lá! Foi super assustador!
Izumi não estava tentando parecer corajosa, mas agora que algum tempo havia passado, ela parecia feliz novamente.
— Você estava tremendo feito um idiota!
comentou Nakamura.
— Você não precisa me chamar de idiota!
— Yeah, yeah, yeah.
— O que isso quer dizer?
— Bem, vamos voltar?
Ignorando a pergunta de Izumi, Nakamura começou a andar em direção às cabanas.
— Espere por mim!
Izumi correu para alcançá-lo para que pudesse andar ao lado dele. Não tenho certeza, e pode ter sido coisa da minha cabeça, mas eles pareciam mais próximos do que antes.
— Psst, — sussurrou Hinami para Mizusawa. — O que aconteceu entre Shuji e Yuzu? Você ouviu alguma coisa?
Mizusawa sorriu como se estivesse aproveitando uma piada privada, e eu ouvi a conversa deles enquanto andava ao lado de Hinami.
— Apparentemente, ele não disse a ela como se sentia.
— O quê?
Os ombros de Hinami caíram decepcionados.
— Mas...
Mizusawa sorriu enquanto olhava para Nakamura e Izumi.
— Eles fizeram planos para sair juntos.
Ele olhou para Hinami, ergueu as sobrancelhas de forma cômica e riu.
— ...É só isso?
Ela perguntou.
— Sim, é só isso, — ele disse com a mesma expressão boba.
Hinami suspirou e deu um sorriso levemente terno.
— Caramba... eu juro, esses dois...
Mizusawa concordou.
— Sim... as coisas acontecem muito lentamente com aqueles idiotas.
Seu riso era constrangido, mas feliz, como se estivesse assistindo com alegria paternal a um adorável pequeno filho dando seus primeiros passos.
— Eu gostaria que eles seguissem o seu exemplo — você conquistou uma garota mais velha em pouco tempo.
Brincou Hinami.
Mizusawa deu de ombros.
— Sério. Ambos são bonitos e inteligentes o suficiente para conversar se quiserem. Só gostaria que fossem um pouco menos estranhos... sabe?
Apesar de seu tom engraçado, os olhos de Mizusawa pareciam solitários e distantes, até contemplativos. Ele ficava assim às vezes, mas eu não tinha ideia do porquê.
— Espero que as coisas dêem certo com você e aquela garota!
Disse Hinami.
— Ha-ha-ha, sim. Eu também espero que dê certo com ela.
Por alguma razão, ele soava como se estivesse falando sobre outra pessoa.
— Então, nove?
Nakamura perguntou.
— Sim.
Mizusawa respondeu.
Takei havia apagado as luzes, e todos estávamos ajustando os alarmes dos celulares e indo dormir... ou não, como se revelou.
— Cara, a camiseta molhada da Izumi foi mesmo sexy!
O comentário animado de Takei desencadeou uma revisão completa dos trajes de banho do dia.
— Tudo o que ela tem de bom são as curvas.
Disse Nakamura com arrogância.
— Você acha? Eu prefiro alguém como a Mimimi.
Disse Mizusawa.
— De jeito nenhum. Os peitos da Izumi são os melhores.
Disse Takei, continuando a favorecer Izumi.
— Ei, garoto da fazenda, está fingindo que está dormindo?
Zombou Nakamura.
Quem é o garoto da fazenda? Acho que tenho que entrar na brincadeira.
— Eu não estou dormindo.
— Então qual é a sua opinião?
— E-eu...
Devo evitar dizer as mesmas coisas que eles já disseram?
— A postura da Hinami... é bem atraente.
Nakamura explodiu de rir.
— Nunca ouvi ninguém ter uma queda pela postura de uma garota, cara!
— Fumiya é estranho.
— Garoto da fazenda me faz rir!
— Não tenho queda por postura... e pare de me chamar de garoto da fazenda...
Conforme a onda furiosa de agressão normie avançava em minha direção, minhas palavras se esvaíam fracas.
— Por quê? Combina com você.
Disse Nakamura de forma maldosa.
— Verdade...
Mizusawa disse, pausando por um momento.
— Dizem que cavalos têm paus grandes.
— Ah-ha-ha-ha-ha!
Takei riu.
Isso era trote...! Is-isso era como os caras brincavam...? Mas neste ringue... eu poderia lutar...!!
— Bem...
Comecei quietamente.
— O quê?
Nakamura respondeu.
— Não tem mal em ser grande. Melhor do que ser pequeno como o Nakamura.
Talvez porque fosse a segunda vez que eu dizia algo assim, Nakamura sorriu combativamente e adotou um tom confiante.
— Pode falar isso, mas aposto que você nunca usou o seu.
Foi um contra-ataque impecável, e eu não pude responder.
— Uh...
Mizusawa começou a rir.
Mas mesmo que Nakamura contra-atacasse diretamente, aquilo era o número três! Eu tinha completado minha missão! Sim!
Brincamos assim por mais meia hora ou algo assim, e então todos começaram a ficar sonolentos e ficaram cada vez mais quietos. Finalmente calmos, os três normies começaram a olhar para seus celulares.
A luz das telas iluminava levemente seus rostos no quarto escuro. Peguei meu celular também e comecei a reunir informações relacionadas a Atafami. Não muito depois, uma mensagem privada no LINE chegou de Hinami.
[Você está acordado? ]
Perguntando o que era aquilo, eu respondi.
[Sim, o que foi? ]
[Se você for ficar acordado por um tempo, pensei que poderíamos revisar sua atuação na viagem. Quer fazer isso agora? ]
Revisar minha atuação, huh? Acho que faz sentido. Ainda estaríamos aqui amanhã, mas hoje era o evento principal.
[Claro, mas qual a pressa?]
[Poderíamos nos encontrar depois também, mas pensei que isso seria mais eficiente. ]
Lógica como sempre.
[Ok, onde? ]
[Vá para a frente da cabana das garotas. Decidiremos de lá. ]
[Entendi. ]
Eu disse aos caras que ia ao banheiro e fui em direção à cabana das garotas.
— Aqui está você.
Hinami era uma figura esbelta na escuridão, seu cabelo tremulando como seda na brisa noturna. Ela soava tão tranquila quanto sempre.
— Oi.
— Que tal irmos para o centro do acampamento?
Ela disse.
— ...Huh? Oh, claro, podemos sentar lá também.
Caminhamos em direção ao centro. Quando chegamos lá, ela me pediu para dar um minuto e desapareceu no banheiro das garotas. Ela deve realmente precisar ir. Devíamos ter nos encontrado aqui. Ah, bem.
Depois de alguns minutos, ela voltou. Sentamos em cadeiras na sala de estar e começamos nossa reunião.
— Vou começar com minha avaliação geral.
Ela disse.
— Por favor.
— Primeiro, em relação à sua missão de provocar ou contradizer o Nakamura...
Eu sorri.
— Fiz três vezes! A primeira vez...
Eu dei a ela um resumo do incidente de — enganar — do incidente do — pênis pequeno — e do incidente de — não há mal em ser grande.
Huh? Dois dos três eram piadas de pênis? Bem, somos caras.
O que ela esperava?
— Deus, vocês são todos idiotas...
Hinami bateu na testa.
— Mas parece que você completou a tarefa. Passou.
— Sim!
Eu disse, bombeando meu punho.
— Espero que agora você entenda o papel importante que a provocação desempenha em várias áreas: tornar-se comum, fazer amigos e estabelecer relacionamentos equitativos.
Eu assenti.
— Relacionamentos e hierarquias realmente são assustadores...
— Bem, você tem que meio que estabelecer posições para tornar as interações em grupo suaves—
Hinami interrompeu a frase.
— O que há de errado?
— Espere, alguém está chegando.
O gelo em sua voz me fez pensar que talvez eu devesse me esconder. Eu me levantei e entrei na pequena cozinha nas proximidades.
Ouvi Hinami dizendo que eu não precisava me esconder, e então as portas automáticas se abriram. Olhei para fora pela janela na porta da cozinha.
Mizusawa estava entrando no lounge.
— Takahiro? Você veio usar o banheiro também?
— ...Pensei que você e Tomozaki estivessem aqui juntos... Devo ter me enganado.
— ...Huh?
Hinami fez a inocente, mas eu podia perceber que ela estava tensa. Mizusawa entrou no banheiro masculino e saiu imediatamente. Isso foi estranho. O que deveríamos fazer?
— Huh. Devemos ter nos cruzado.
— Você não precisava usar o banheiro?
— Não, é só... De qualquer forma, já que estamos ambos aqui, que tal conversarmos um pouco?
Ele sentou ao lado de Hinami. Uh-oh, ele ia ficar por um tempo?
Ele parecia relaxado, mas o clima estava desconfortável e tenso.
Primeiro, eu estava curioso sobre por que ele de repente queria falar com ela. Eu também não entendia por que ele havia dito que pensava que Hinami e eu estávamos ali juntos, o que era um palpite estranhamente preciso. Eu continuava dando olhadas neles, mas tudo o que eu podia fazer era ficar lá sentado e suando de terror.
— Eu queria que esses dois tomassem uma atitude logo.
Hinami introduziu o tópico como se estivesse evitando uma conclusão definitiva.
— Sim. Quero dizer, apenas prometer sair depois de termos os preparado tão perfeitamente? Eles são além de desajeitados.
Mizusawa riu bondosamente, mas estava menos animado do que o habitual.
— Exatamente! Quão ingênuos podem ser aqueles dois?
— Verdade? Esses dois são desajeitados, ingênuos idiotas... sem brincadeira.
— Sim.
Hinami soava como ela mesma. Mas Mizusawa estava olhando fixamente pelas portas automáticas com aquele olhar distante e solitário nos olhos. Como sempre, eu não sabia o que estava por trás disso. Finalmente, ele continuou falando.
— Mas ao mesmo tempo... estou impressionado.
— ...Huh?
Hinami parecia perplexa com as palavras murmuradas silenciosamente de Mizusawa. Ainda olhando para as portas, Mizusawa entrelaçou as mãos sobre a cabeça e se esticou. Ele estava mantendo um tom leve. Talvez estivesse tentando esconder seu constrangimento ou evitar ficar muito sério.
— É como... Ok, Yuzu e Shuji — e Fumiya também, honestamente — fazem o que querem. Eles ouvem suas próprias emoções. Quando estão felizes, e quando estão tristes... Eles são sempre tão sinceros.
Eu dei um pulo ao ouvir meu nome.
Mas eu me lembrei de que ele tinha mencionado minha sinceridade e esforço algumas vezes antes. E toda vez que ele mencionava essas coisas, ele tinha o mesmo sorriso — aquele sorriso solitário e misterioso. Em minha cabeça, ouvi-o murmurando introspectivamente, tudo é fácil para mim. Nem preciso tentar.
— ...Sim.
Hinami murmurou.
Mizusawa deixou as mãos caírem ao lado antes de continuar no mesmo tom leve.
— Sério, tudo o que Yuzu e Shuji têm que fazer é se olharem e começam a corar. Mesmo que gostem um do outro, são tão autoconscientes juntos que nada acontece... e Fumiya, ele é tão sincero com tudo. Mesmo se ele erra, age como se estivesse se divertindo...
— ...Shuji e Yuzu realmente são sem esperança...
Hinami riu e concordou.
— Mas você acha que Tomozaki-kun é igual?
— Sim, Fumiya pode ser um pouco diferente...
Mizusawa começou a rir também.
— Yuzu e Shuji são idiotas do começo ao fim, — ele disse, repetindo o que tinha me dito antes. — Quando assisto ao romance deles, e... quando estou com Fumiya, isso me faz pensar em algo.
— O que é?
Hinami perguntou com simpatia.
— Eu gostaria de tentar ser um pouco idiota também.
— ...Você gostaria?
Mizusawa assentiu.
— Se eu colocar como Fumiya, todo dia é como um jogo, mas eu realmente não estou jogando. Estou manipulando o controle, mas é como... eu não sou o que está se movendo pelo mundo. Mesmo se eu errar, é o personagem que estou controlando que leva o golpe, não eu. E quando as coisas vão bem, não sou eu quem se sente feliz... Eu não sou o que está se divertindo.
O tom de brincadeira que Mizusawa estava usando para esconder sua autoconsciência gradualmente se desfez em algo mais sério.
— ...Quer dizer que é como se você estivesse sempre se observando de uma distância?
Hinami quebrou cuidadosamente a explicação de Mizusawa em algo simples.
— Sim, basicamente. Então, ok, a coisa com a garota da outra escola. Eu estou seguindo as etapas porque sei que ela tem tudo o que você desejaria em uma garota, e namorá-la provavelmente seria divertido. Eu sei o que tenho que fazer para dar certo, mas não tem nada a ver com emoções, sentir vergonha, gostar de alguém ou não gostar deles, ou com o que eu realmente quero.
Hinami assentiu, mastigando o lábio.
Mizusawa sorriu com aquele mesmo olhar solitário nos olhos.
— Tudo o que estou fazendo é encenar bem.
As pequenas, sinceras palavras de Mizusawa ecoaram pela grande sala vazia.
— Hmm, — disse Hinami, olhando nos olhos dele enquanto ouvia.
Os únicos sons na sala silenciosa eram as duas vozes deles e o zumbido suave da máquina de venda iluminada no canto.
Eu deveria estar ouvindo tudo isso? O cara com tudo, o personagem de alto nível que poderia fazer qualquer coisa, aquele que era tão perfeito que eu o usava como modelo para minhas próprias tentativas de me tornar um 'normie' — ele estava mostrando seu lado vulnerável, seus verdadeiros sentimentos.
Acho que ele estava revelando seu sentimento de inferioridade e arrependimento por não ter colocado seu verdadeiro eu em nada. Estava certo eu estar ouvindo essa conversa?
Eu tensei minhas pernas.
Mizusawa suspirou suavemente.
— ...Enfim, eu simplesmente não sei, — ele disse.
— Não sabe o quê?
Mizusawa olhou diretamente para Hinami. Ela não desviou o olhar.
Ficaram em silêncio por um segundo, olhando fixamente um nos olhos do outro de maneira completamente séria. Finalmente, Mizusawa falou. Era como se ele estivesse rasgando a tensão com as unhas.
— Não é a mesma coisa para você?
Eu respirei fundo. Meu corpo inteiro estava tenso agora.
Ele acabara de fazer uma acusação silenciosa a ela. Ele olhara para o rosto da heroína perfeita — aquele rosto que enganava a todos — e percebeu que era uma máscara nascida de uma performance perfeitamente calculada.
Não tenho certeza se era falso ou real, mas Hinami olhou ao redor da sala como se estivesse sem saber o que dizer.
— Você está perguntando se eu também estou me observando de uma distância?
— Sim.
Mizusawa assentiu. Eu conhecia a verdadeira Hinami, e ele acertou em cheio com seu palpite.
Para desempenhar o papel da heroína perfeita, para reinar no topo em nossa hierarquia escolar, nos esportes e nas acadêmicas, ela usava uma máscara feita de sangue, suor e lágrimas. Não havia dúvida de que essa máscara estava lá com seu sorriso perfeito e brilhante.
O clima ficou tenso e silencioso mais uma vez.
Mizusawa não tentou escapar do constrangimento com um de seus sorrisos envergonhados. Ele simplesmente olhou profundamente nos olhos de Hinami, totalmente sincero. Ela sorriu de volta para ele.
— Você pode estar certo.
E ela confirmou o palpite dele.
O olhar que ela lhe deu também era igualmente sincero, e ele não desviou o olhar. Eu também não conseguia desviar o olhar.
— Sim... é o que eu pensei.
Mizusawa sorriu e olhou para baixo. Hinami concordou, ainda o observando, e falou novamente.
— Eu...
Eu estava tão concentrado em sua voz que parecia que minha mente não era mais minha.
— ...Vou ser totalmente honesta aqui. As pessoas esperam tanto de mim, certo? Elas dizem, 'Aoi Hinami é boa em tudo!'
Mas as palavras que saíram de sua boca—
— Eu inconscientemente suprimo meu verdadeiro eu... Falando sério, é mais como se eu estivesse interpretando o papel que todos querem que eu faça, em vez de fazer o que realmente quero. Sinto que tenho que estar à altura das expectativas deles, então eu trabalho muito. E, é claro, quanto mais eu alcanço, menos quero decepcionar as pessoas! Eu sou simplesmente orgulhosa demais, eu acho. Ah, mas não conte a ninguém!
— Não eram as palavras da Aoi Hinami sem máscaras que eu conhecia.
— Então eu acho que posso entender como você se sente. Quando você nunca faz o que quer e nunca ouve suas emoções... Quando você apenas faz o que acha que deve fazer, sempre fica entediante. Isso... também acontece comigo.
— Não eram suas palavras habituais racionais, friamente lógicas e dolorosamente verdadeiras.
— Mas eu não acho que há algo que você possa fazer sobre isso. Pessoas como Shuji e Yuzu são incomuns. Eles têm muito a seu favor, certo? E são idiotas! E Tomozaki-kun é um caso estranho também. Ah-ha-ha. Essas coisas são impossíveis para pessoas normais! Eu acho que todas as pessoas normais... estão agindo um pouco. Acho que... você precisa encontrar pelo menos uma pessoa para quem possa mostrar seu verdadeiro eu, como uma espécie de compromisso, certo? É assim que eu vejo, é claro!
— Foi uma confissão frágil e casual da máscara da heroína perfeita.
Eu fiquei boquiaberto.
Quero dizer, essa era Aoi Hinami.
A verdade era que a pessoa que ela mostrava a todos diariamente era uma máscara, um personagem criado que ela controlava através de um jogo de vídeo interminável. Sem esperar sua permissão, Mizusawa tinha de repente colidido diretamente com essa verdade.
Mas ela não poderia se importar menos com sua tentativa de honestidade. Ela era como o chefe final chutando um NPC; sem nem suar, ela tinha magicamente transformado a verdade em ficção e realizado uma interpretação perfeita da heroína escolar respondendo sinceramente a um colega de classe que se abrira para ela.
Eu não conseguia ouvir um único traço de NO NAME nas palavras que ela acabara de pronunciar.
— ...Ha-ha-ha.
Não havia humor na risada de Mizusawa.
— O-o que?
Hinami disse, fazendo sua voz parecer confusa.
— Você é verdadeiramente incrível, Aoi.
— Huh? Eu não disse nada que—
— Você pode parar agora.
O tom sério de Mizusawa fez Hinami se calar. Mas isso, também, parecia parte de sua atuação. Enquanto ele estava diante daquele chefe final avassalador, Mizusawa sorriu beligerantemente, como se estivesse curtindo a luta.
— Estranho, não é? Normalmente, sou eu quem está interpretando o cara perfeito para qualquer garota com quem estou falando. Sou eu quem tira seus sentimentos reais, ouve gentilmente e a envolve ao meu redor o tempo todo.
Para mim, Mizusawa parecia animado com a situação atual.
— …Eu acabei de te mostrar o verdadeiro eu, mas você ainda está atuando. Não deveria ser ao contrário? Isso nunca aconteceu comigo antes!
Ele riu com genuíno divertimento.
— H-hã? Do que você está falando...?
Hinami fez uma expressão perplexa de heroína perfeita.
— Você é a única que eu não consigo derrotar.
Ele estava admitindo a derrota, mas soava estranhamente satisfeito.
— Isso é um elogio?
A piada de Hinami foi entregue com um tom perfeitamente leve e provocador.
— Escute. Eu fui aberto com você, então posso muito bem te contar mais uma coisa.
— Hã? O-que?
Mizusawa sorriu, os olhos brilhando.
— Acho que gosto de você. Gostaria de conversar com o seu verdadeiro eu alguma vez.
Hinami fez uma expressão bastante surpresa com isso. Então ela murmurou: — Obrigada.
— Mas mesmo que eu te chamasse para sair, você diria não, não é?
— ...Desculpe, — Hinami murmurou, olhando para baixo.
Mizusawa riu animadamente.
— Ha-ha-ha. Quer dizer, se você não se abrir mesmo depois de tudo isso, não tem como a gente namorar.
— Desculpe.
Seu segundo pedido de desculpas parecia uma tentativa de evitar o verdadeiro significado de suas palavras.
Mizusawa assentiu, ainda sorrindo.
— Sim, dói um pouco. Se abrir e ser rejeitado.
— ...Sim.
Os olhos de Mizusawa pareciam tristes e ansiosos, mas ao mesmo tempo, uma expressão satisfeita brincava ao redor de sua boca.
— Mas..., — ele disse, esticando ambas as mãos em direção ao teto e sorrindo como se a tempestade tivesse passado. — Com certeza é bom tirar isso do peito!
Com uma expressão amigável e infantil, ele riu. Nunca o vi rir de si mesmo daquela maneira.
— Caramba, faz muito tempo desde que perguntei a mim mesmo o que eu queria e realmente dei uma chance.
Ele coçou o pescoço.
— Ah-ha-ha. Então, você gosta tanto de mim, huh?
Hinami continuou sua atuação perfeita, desta vez interpretando a garota que diz a coisa certa para amenizar o desconforto depois de recusar um cara.
— Vou te dizer uma coisa, no entanto. Agora que abri minha alma, não pretendo desistir.
Ele soou mortalmente sério.
— É mesmo? Sou uma adversária formidável, sabia?
Hinami acrescentou um sorriso bobo ao seu tom de brincadeira, mas Mizusawa não abriu o menor sorriso. Ele apenas a olhou mais uma vez.
— Hey, Aoi.
— ...Sim?
Ele estava avançando diretamente para o monstro de nível chefe final Aoi Hinami.
— Me diga algo.
— ...O quê?
Ele estava falando diretamente com a Aoi Hinami por trás da máscara.
— Até quando você vai ficar desse lado?
Seus olhos estavam focados intensamente e muito sinceramente nela.
Mais uma vez, o único som na sala silenciosa era o zumbido suave da máquina de venda iluminada. Tudo parecia estranho. Eu prendi a respiração enquanto pensava nas coisas, e finalmente cheguei a uma conclusão. Na sombra da porta da cozinha, me preparei para ficar de pé — e saí do esconderijo.
— M-me desculpe! Não era para isso acontecer!
Eu saí da pequena cozinha.
— ...Fumiya?
Mizusawa olhou para mim surpreso.
Fora da visão dele, Hinami bateu a testa em exasperação.
— Eu—eu pensei que você me acharia suspeito se me visse aqui com a Hinamo, então eu me escondi, mas eu não pensei que isso aconteceria... Sinto muito!
Eu estava trabalhando minha mente para me explicar o máximo possível.
Hinami seguiu o exemplo.
— O que aconteceu foi que nos esbarramos saindo do banheiro. Estávamos conversando por um tempo quando você apareceu, e o Tomozaki-kun foi e se escondeu por algum motivo, e então ele não voltou.
Mizusawa suspirou sem vida.
— Droga, você realmente ouviu algumas coisas estranhas.
— E-eu sinto muito...
Eu realmente me arrependi do que tinha acontecido.
— Mas eu não acho que você quis fazer mal... Quero dizer, quem pularia para fora e admitiria tudo agora de todas as vezes?
Ele riu animadamente.
— Bem... ha-ha-ha.
Segui o exemplo dele e ri também.
— Sério, cara, só um idiota é tão honesto assim.
Ele soou um pouco cansado.
— E-eu só achei... não era uma boa ideia continuar escondido...
Mizusawa sorriu enquanto eu gaguejava uma explicação e depois murmurou: — Imaginava.
— Hã?
De repente, Hinami aplaudiu uma vez.
— Ok, vamos fingir que nada disso aconteceu e voltar para nossas cabines!
— ...Sim. Vamos lá, Fumiya.
— Ah, certo.
Ainda confuso, eu segui. Nós acompanhamos Hinami até sua cabine e depois fomos para a nossa.
— ...Eu não pretendo fingir que nada disso aconteceu, — Mizusawa murmurou depois que ela entrou na cabine das garotas.
Não tenho certeza se Hinami ouviu ou não.
No dia seguinte, enquanto voltávamos de ônibus, Nakamura e Izumi estavam conversando tão compativelmente quanto antes, e Hinami e Mizusawa estavam fazendo conversa com todos tão alegremente quanto sempre. Eu senti vontade de rir com o quão pouco tinha mudado.
Mas para mim, mesmo que Nakamura e Izumi fossem mais ou menos os mesmos depois do teste de coragem deles, a falta de mudança em Hinami era algo completamente diferente.