Volume 2

Capítulo 6: Existem alguns problemas que um personagem de baixo nível não consegue resolver sozinho. (PARTE 2)

Depois da escola, a Mimimi não trocou de uniforme da equipe de atletismo. Em vez disso, ela se preparou para ir para casa. Ela realmente estava saindo.

— Tama! Desculpe sair antes de você hoje!

Ela exclamou. Ela estava cercada por quatro de suas amigas normies, que aparentemente iriam para casa com ela. Impressionante, Mimimi.

— ...Um.

A Tama-chan parecia ter sentimentos mistos sobre tudo isso. Houve uma pausa constrangedora; parecia que ela estava prestes a dizer algo, mas depois recuou. Um grande muro de normies se ergueu na frente dela, impedindo-a de dizer qualquer coisa para a Mimimi sobre sair da equipe de atletismo. Ela deu um passo à frente, mas depois, após um minuto, recuou novamente.

— Até amanhã, Tama! Vejo vocês amanhã!

Mimimi estava se virando para sair da sala de aula quando algo me ocorreu. Hinami me tinha dado uma tarefa: Reflita sobre o que você e apenas você pode fazer. Não havia como um personagem de baixo nível como eu poder salvar a Mimimi; esse era um objetivo absurdo.

Minhas palavras não tinham chegado até ela. E quando isso acontecia, eu assumia que tinha atingido um impasse. Mas aqui havia algo que eu podia fazer. Ao longo destas últimas semanas, você aprendeu a agir. Esse era o único feito meu que Hinami tinha aprovado. Eu mostraria a ela! Eu tinha minha própria maneira única de resolver esse problema, e tudo o que eu tinha que fazer era agir!

— Mi-Mimimi!

— Hã?

Me aproximando da Mimimi e seu grupo de normies, eu chamei por ela, falhando completamente em modular meu volume. Os normies me olharam com suspeita. Isso era ruim. Muito constrangedor. Mas eu os ignorei.

Suprimindo o enjoo no meu estômago com pura força de vontade, continuei falando.

— Quer ir para casa juntos?

Perguntei a ela.

Huh?

Eu quase podia ouvir os pensamentos dos normies enquanto eles me encaravam rude e curiosamente em uníssono.

— ...Huh?

Caramba, a Mimimi também estava encarando. Mas as mandíbulas dos normies estavam cerca de cinco vezes mais próximas do chão. Finalmente, um deles disse: — O que o Tomozaki está falando?! — e eu me tornei uma piada inofensiva.

Não apenas os quatro normies em volta da Mimimi, mas praticamente toda a turma testemunhou isso, já que a aula tinha acabado de terminar e a maioria dos alunos ainda não tinha saído.

— Pervertido!

Chamou Erika Konno, exatamente no volume certo para que eu pudesse ouvir. Ali estava ele — minha antiga posição ridícula. Era como se todos estivessem pensando: — Ei, aquele perdedor que anda se metendo por aí ultimamente está sendo um pervertido novamente. — Eu podia ouvir as pessoas sussurrando coisas ruins. Força de vontade não era o suficiente para evitar que meu estômago se apertasse.

Fingi que não percebi nada disso e respirei fundo.

— Vamos lá, ande até a estação com a Tama-chan e comigo.

Tama-chan me olhou surpresa e depois veio até mim.

— Vou pular o vôlei hoje.

Ela disse, totalmente séria. Boa, Tama-chan. Dizer que iria faltar com a maior naturalidade. A classe ficou em silêncio diante dessa situação bizarra. A Mimimi ficou congelada por um minuto de choque, depois sorriu novamente e se virou para os normies ao seu redor.

— ...Desculpa, meninas, espero que não se importem se eu for com eles. O Tomozaki foi tão corajoso, não consigo evitar!

Suavizando a situação como se não fosse grande coisa, a Mimimi se juntou à Tama-chan e a mim, e os três saímos.

Hinami nos observou com os lábios apertados, talvez em oração ou talvez em profundo pensamento. Mas eu tinha encontrado minha própria resposta para o desafio dela. Reflita sobre o que você e apenas você pode fazer. Essa foi a tarefa que ela me deu naquela manhã. Uma vez que pensei sobre isso, a resposta foi simples, e essa era a única opção possível.

Chame por ajuda sem se importar com o que os outros pensam.

Tama-chan, agora está em suas mãos.

 

 

 

 

— E então Hama-chan foi e...

Enquanto íamos para casa, Mimimi não parava de falar sobre filmes de comédia e fofocas de celebridades e isso e aquilo, seja para preencher o silêncio ou para estabelecer algum tipo de limite. Não havia espaço para introduzir um novo tópico — Mimimi, a mestra da introdução, estava usando todo o seu poder. Não havia como eu interromper.

— Você acredita nisso? Eles tiraram uma foto dela naquele momento...

— Minmi. Eu quero te perguntar algo.

Então, Tama-chan entrou em cena. Sua especialidade.

— ...O quê?

Mimimi riu de forma constrangida. Tama-chan pausou por alguns segundos, como se estivesse decidindo por onde começar.

— Você começou a odiar a Aoi?

— Um...

Mimimi parecia perplexa; eu não conseguia dizer nada. Ela tinha ido muito além do que eu esperava. Que maneira de começar.

— Bem, você saiu da equipe de atletismo.

Mimimi desviou o olhar e balançou a cabeça, obviamente envergonhada.

— Claro que não!

— ...Tem certeza?

— Claro! Quero dizer, Aoi é uma pessoa incrível. Ela pode fazer qualquer coisa.

O sorriso que ela tinha colocado para desviar a tensão começou gradualmente a desaparecer.

— Eu a respeito e conto com ela, e ela realmente me entende.

A voz da Mimimi ficou cada vez mais suave.

— Ela é uma estrela, e ela é especial, e...

Tudo o que eu podia fazer era ouvir silenciosamente. Seu passo diminuiu, e ela olhou para baixo.

— Então por que você está saindo da equipe de atletismo?

Tama-chan não parou sua interrogatório.

— Porque eu...

— Por que você o quê?

Tama-chan incentivou gentilmente.

Mimimi riu amargamente.

— No final das contas, acho que tenho uma personalidade terrível.

— O quê?

Tama-chan perguntou, confusa.

Mimimi estava ficando cada vez mais emocional.

— É só... pense sobre isso. Não há como eu odiar a Aoi.

Eu prendi a respiração diante das lágrimas brilhando nos olhos da Mimimi. Tama-chan assistiu como se estivesse dando um abraço invisível nela.

— Hã-hã.

— Eu não deveria, mas eu...

As lágrimas estavam crescendo.

— Eu sou uma pessoa terrível.

— Terrível?

A Mimimi parou de andar, e a Tama-chan e eu fizemos o mesmo.

— Quero dizer, é horrível. Estamos na mesma escola, e a Aoi não fez nada de errado. Eu não pude vencê-la, e fiquei tão frustrada. É errado pensar assim...! Eu sou igual a todo mundo...

A Mimimi enxugou suas lágrimas, parecendo envergonhada.

— Pensar como?

— Sobre a Aoi!... Ela é uma pessoa tão incrível, e ela está sempre se esforçando tanto para ajudar seus amigos. Ela nunca é arrogante, e está sempre pensando em mim. Ela me entende completamente. Eu a amo.

Tama-chan observou a Mimimi atentamente.

— ...Ou pelo menos, eu deveria, mas...!

Lágrimas enormes rolaram pelo rosto dela.

— Mas ela me vence na escola e na equipe! Eu fiquei com ciúmes dela! Ela era como... um espinho no meu lado, ou um obstáculo no meu caminho... e eu queria que ela... fosse embora!! Foi assim que me senti... Eu não pude evitar...

Ela estava chorando e fungando enquanto confessava seus sentimentos.

— …Hmm.

— Como eu poderia estar pior? Mas desde que entrei para o time, não suportava perder. Comecei a ter todos esses pensamentos... e me odiava tanto por tê-los...

— …Hmm.

— Estava pensando nessas coisas mesmo quando estávamos praticando juntas depois da escola. Por que ela nunca parava de treinar? Se ela se importasse comigo, pararia imediatamente. Vamos lá, leia a situação, Aoi!! Comecei a pensar... E não queria mais sentir isso por ela...

— Mm-hmm.

— E é por isso que desisti.

— ...Hmm.

Agora que havia desabafado tudo, ela estava se acalmando.

— ...Senti um pouco. Ela era incrível, e isso me frustrava, mas... a razão pela qual ela era incrível... era porque ela trabalhava mais do que eu. Sempre foi assim.

Tama-chan nunca tirou os olhos de Mimimi.

— É como se fosse aceitável ter ciúmes se eu trabalhasse tão duro quanto ela e ainda assim não conseguisse me destacar, ou se eu trabalhasse mais do que ela, mas...

Ouvindo-a, comecei a me sentir sem esperança e miserável.

— No final, Aoi simplesmente trabalha mais.

Mimimi riu de si mesma.

— Eu nem tenho o direito de ter ciúmes dela... Eu me pergunto por que ela trabalha tão duro.

Uma sombra caiu sobre o rosto dela. Justo naquele momento, chomp!

— Eek!

Tama-chan pulou até Mimimi como uma verdadeira jogadora de vôlei e pegou sua orelha com a boca. O que diabos estava acontecendo?!

— Ei, Tama... o que...? Ah! Isso... faz cócegas!

Mimimi segurou os cabelos fofos de Tama-chan e a barra da saia, tremendo com os movimentos de seus lábios. Tama-chan continuou mordiscando com uma expressão muito séria, e depois acariciou o pescoço de Mimimi com um dedo, fazendo Mimimi arfar. Eu olhei chocadO para esse desenvolvimento inesperado.

— ...Minmi...

— Oi?

— Minmi, você quer ser a número um de qualquer jeito?

— É só que... eu não sou nada...

— Nada?

— Eu não brilho como Aoi; não sou invencível em algo como Tomozaki; não tenho um senso de identidade como você... Se eu não trabalhar duro, sou apenas um vazio...

Tama-chan abraçou Mimimi com mais força.

— ...Minmi, você é...

A voz de Tama-chan estava cheia de gratidão genuína.

— Você é minha heroína.

— ...O quê?

Mimimi levantou o rosto do peito de Tama-chan. Tama-chan parou de abraçá-la, deu um passo para trás e olhou nos olhos dela novamente.

— Você sempre diz que está bem, sorri e se esforça demais e trabalha duro. Mas nunca mostra a ninguém... que está me salvando. Eu também gosto da Aoi e dos outros, mas só tenho uma heroína, e é você.

— ...Mas...

 

 

 

— Se você ainda quer ser a número um...

Tama-chan apontou para o rosto de Mimimi e a repreendeu à sua maneira típica de Tama, só que desta vez um pouco mais intensamente, como se estivesse comunicando algo incrivelmente importante.

— Para mim, você é a maior idiota do mundo! Vai ter que se contentar com isso!

Mimimi arregalou os olhos e piscou algumas vezes. Finalmente, concentrou-se intensamente no dedo que ainda estava apontado para o seu rosto e então...

— Nom!

Ainda com os olhos lacrimejantes, começou a chupá-lo.

— Eek!

Tama-chan puxou seu braço de volta.

— O que você está fazendo?!

Enxugando as lágrimas com seus dedos delicados, Mimimi riu maliciosamente.

— Ah, vamos...

— O-o quê?

Tama-chan disse, recuando cautelosamente um pouco.

Mimimi sorriu felizmente.

— Você disse que eu era idiota. Não era isso que você queria dizer?

— ...Minmi.

— Tama!

Mimimi jogou seus braços ao redor do pescoço de Tama-chan e se pendurou lá com todo o seu peso.

— Você é idiota! Está pesada! Sai de cima de mim!

— O quê? Quem você chamou de idiota? Diga de novo!

— Cala a boca, idiota!

As duas estavam construindo seu próprio mundo particular de garotas com o entusiasmo habitual — na verdade, com um pouco mais de entusiasmo do que o normal. Droga, arranjem um quarto, vocês duas. Apesar de gostar da visão. Mas deixando isso de lado, parecia que muita coisa havia sido resolvida, e eu estava feliz com isso. Como eu disse, a amizade entre garotas é uma coisa linda.

Mas havia um problema, e eu já havia percebido.

Eu tinha deixado tudo nas mãos de Tama-chan, o que significava que eu não tinha nada para relatar para Hinami.

— Tomozaki! Vamos!

— Ah, certo.

Girei e alcancei as duas, pensando no que deveria fazer. Como estava, eu estava certo de que Hinami despejaria toda a sua raiva vingativa em mim: — Você não fez absolutamente nada dessa vez, não é mesmo?!

Eu podia imaginá-la sorrindo o tempo todo, também.

Atormentado pelo medo iminente, repassei os tópicos de conversa que memorizei, procurando um que funcionasse para ambas, esperando desesperadamente encontrar uma saída aqui com elas. E então algo me ocorreu. Eu tinha o tópico perfeito. Eu queria perguntar a Mimimi sobre isso há um tempo, e isso também estava relacionado a Tama-chan.

— Ei, Mimimi.

— Huh? O que foi?

Ela se virou para mim, as sombras sumiram de seu rosto.

Fui em frente.

— Então, afinal, o que foi aquilo dos dedos mágicos?

Assim que perguntei, Mimimi começou a rir, e Tama-chan ficou vermelha e apontou o dedo para mim com seriedade.

— Eu já disse! Isso não é algo que você pergunta para garotas!!

Que diabos? Foi Tama-chan quem me disse para perguntar a Mimimi!

— Você está trazendo isso agora?! Como eu disse, você tem um lado selvagem, Tomozaki!

— O quê? Não tenho!

— Mas foi uma boa jogada!

Com isso, Mimimi levantou as mãos acima da cabeça. Lá vem ela. Preparei meu ombro para o ataque. Eu sabia exatamente o que ela estava planejando.

Mas não desviei. Recebi o golpe em cheio. — Owww!!

Foi o golpe mais forte que ela já me deu, e doeu como o inferno.

— Ah-ha-ha-ha-ha-ha!

Oh, ei, Hinami. Eu acabei de fazer alguém rir. Foi uma coincidência, mas não é como se eu não tivesse ajudado.



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