Volume 2

Capítulo 2: Quando há apenas um personagem de baixo nível no grupo, o nível dele vai aumentar rapidamente. (PARTE 1)

Hinami e eu fomos os primeiros a chegar no nosso ponto de encontro, a escultura Árvore de Feijão na Estação Omiya.

Quer dizer, ela me disse para vir cedo.

— Ah, lá vamos nós...

— O quê, você vai começar a reclamar já? Se recomponha!

— Vamos lá! Dois caras e duas garotas estão prestes a fazer compras, e, além disso, todo mundo, exceto eu, sabe como fazer isso. É bem obvio que eu ficar nervoso...

— Supostamente, íamos sair para comer. Quem é o culpado por tornar isso mais difícil, de novo?

— Uh...

Não pude dizer muito a isso.

Hinami sorriu triunfante.

Olhei ao redor. Pessoas de todas as idades, incluindo muitos jovens, estavam esperando junto à escultura Árvore de Feijão. Diferente de mim, todos eles pareciam cheios de energia. Provavelmente todos tinham amigos ou encontros como pessoas normais, e aposto que nenhum deles estava nervoso esperando encontrar alguém... Cara, a Província de Saitama tem sua parcela justa de pessoas normais à moda.

— Por enquanto, concentre-se em se manter calmo o suficiente para trabalhar na sua tarefa.

Aparentemente, Hinami conseguia ler meus pensamentos. Como de costume, ela me deu uma tarefa para completar enquanto estávamos fazendo compras.

Bem difícil.

— Droga, vocês estão adiantados.

Enquanto eu olhava para o horizonte, Mizusawa chegou. Tenho certeza de que fui o único que notou os músculos faciais de Hinami se ativando de repente.

— Ooh, o Takahiro está atrasado!

— Ainda nem é a hora!

— Você tem certeza?

Hinami estava brincando com Mizusawa. Estavam sendo irônicos, mas como confiavam um no outro, ainda era divertido de assistir.

Mizusawa estava usando um moletom branco de marca, jeans escuros e sapatos vermelhos. Sua expressão, a silhueta de seus cabelos castanhos, a magreza de seu torso e os sapatos vermelhos acrescentavam à força de sua aura como uma pessoa normal. Não, eu não vou ganhar essa.

Enquanto isso, Hinami — que estava conversando alegremente ao seu lado — também estava vestida com estilo. Ou talvez não fosse tanto suas roupas, mas sim sua aura. De qualquer forma, ela parecia uma celebridade, como sempre fazia.

Ela estava usando calças largas verde-escuras (acho que são chamadas assim?) dobradas até o tornozelo, sandálias brancas e, por cima, uma blusa branca e arejada... acho? Na verdade, não sei o que era, mas algo arejado. Não sou muito bom em identificar diferentes tipos de roupas.

Estou usando o conjunto de manequim que comprei outro dia.

Pelo menos sei o que dizer sobre as minhas próprias roupas agora.

— Ei, eu não quero ouvir falar sobre atrasos de você, Hinami! Você se atrasou outro dia!

— Eu? Sério? Eu esqueci!

— Bem, eu não esqueci.

Eles riram em uníssono. A conversa deles era totalmente casual, mas eu não podia acreditar no que acabara de ouvir. Aoi Hinami estava atrasada? Em que universo paralelo?

— D-desculpa!!

Absorto em meus próprios pensamentos, eu havia completamente saído da conversa quando Izumi se aproximou. Verifiquei o relógio. Ela estava cerca de dois minutos atrasada. Ela estava correndo a toda velocidade.

— Yuzu, cuidado! Você vai tropeçar! — Hinami disse, rindo feliz.

Olhei para os pés dela. Acho que são saltos? Eles eram pretos e bastante altos. Ela usava um par de shorts jeans rasgados, e as pernas longas e esbeltas nesses shorts eram incrivelmente sexy. Como os shorts eram muito curtos, ofereciam uma visão generosa de suas coxas tonificadas e sedosas (pelo menos era o que eu achava).

Na parte de cima, ela usava algo preto e bastante decotado que, após uma inspeção mais próxima, revelou-se transparente na altura da barriga.

Por baixo disso, eu podia ver algo branco, também bastante decotado. Ela usava um colar também. Ela parecia surpreendentemente adulta, como uma mulher sexy que gosta de escolhas de moda ousadas. Ironicamente, considerando que ela age como uma criança.

Mas, hmm. Acho que se você está correndo, as pessoas vão te perdoar por estar atrasado ou até achar isso fofo e engraçado. Isso a fazia parecer inocente ou algo do tipo... Ah.

De repente, percebi algo. Isso provavelmente era...

— Você está atrasada, mocinha! Eu ia pagar o lanche, mas não mais!

— O quê?! ...O-okay, eu entendi!

— Não, não, não, não se preocupe com isso! De qualquer forma, vamos!

Mizusawa parecia achar Izumi incrivelmente fofa naquele momento. Era como se ela precisasse de proteção, como se você não pudesse simplesmente deixá-la por conta própria. Em outras palavras... Hinami tinha atrasado de propósito outro dia para produzir o mesmo efeito.

Sério? Sim. Posso dizer com certeza porque vi partes do que ela realmente é e que eu preferiria esquecer. Ela nunca seria atrasada por engano, e se foi de propósito, deve ter sido por isso.

— Estou pronta!

Enquanto o verdadeiro terror de Aoi Hinami enviava um arrepio pela minha espinha, nossa expedição de compras começou. Espera aí... eu disse uma palavra desde que Mizusawa e Izumi chegaram?

O primeiro lugar para onde fomos foi o shopping Lumine perto da Árvore de Feijão. Não fazia ideia do porquê de estarmos indo lá — Mizusawa apenas disse: — Então, Tomozaki e Izumi vão comprar presentes, certo? Que tal começarmos pela Lumine?

Deve ser porque eles têm muitas coisas diferentes.

Logo dentro do prédio — que aparentemente se chamava Lumine 2 — havia uma loja de roupas estilosa chamada Beams, e foi para lá que fomos. Não faço ideia do porquê de termos escolhido a Beams. Talvez porque eles tenham muitas coisas? Eu não sei de nada.

— Hmmmmm...

Assim que entramos na loja, Izumi começou a observar as várias bolsas, carteiras e outros acessórios com desdém, fazendo um som de desaprovação bem marcante enquanto o fazia. Hinami seguia ao lado, observando as vitrines, até que deu um gritinho suave.

— Ooh, isso é fofo!

— Ooh, você está certa! Mas você acha que o Shuji vai gostar?

Pegando a bolsa marrom, Izumi olhou incerta para Hinami.

Hinami inclinou a cabeça.

— Sim, eu não sei.

— Ei, Hiro. — Chamou Izumi, — o que você acha?

Aparentemente, ela chama Mizusawa de — Hiro.

— Não é realmente o estilo dele.

— Sim, você está certo.

Izumi devolveu o porta-moedas à prateleira com desânimo. Parecia genuinamente decepcionada, mas começou a examinar as vitrines novamente com determinação renovada. Eu podia dizer que ela estava pensando muito seriamente em Nakamura enquanto tentava encontrar algo.

Ela estava franzindo a testa intensamente, mas de alguma forma, ainda parecia boba e volúvel. E ao mesmo tempo, incrivelmente focada. Quem era essa garota na minha frente?

Mas e eu? Apenas ficar olhando para os outros não me levaria a lugar algum, e Hinami iria gritar comigo por isso depois, então eu sabia que tinha que agir logo. Me aproximei timidamente de Izumi.

Ela virou a cabeça e olhou nos meus olhos, completamente séria. O quê?

Ela abriu os lábios. — Eu simplesmente não sei...

— I-isso é tudo?

Foi anticlimático descobrir que isso era tudo o que havia por trás de sua expressão grave.

— O que você acha que ele gostaria...? — Ela perguntou.

— Uh, bem...

Izumi estava pedindo minha opinião assim como havia feito com os outros, e eu apreciava que ela não fazia discriminação. O único problema era que eu não tinha absolutamente nada útil para dizer.

Mesmo assim, eu daria o meu melhor. Aliás, eu não faço ideia do que Nakamura usa quando não está na escola, e quase não sei sobre seus gostos ou até mesmo sua personalidade, na verdade. Tudo o que sei é que ele está interessado em Atafami e que ele meio que odeia perder.

Concluí que era melhor começar com o que eu sabia sobre ele, ou então eu não conseguiria dizer nada. Sim, eu estava ferrado. Hora de recorrer ao velho truque de dizer o que estava pensando.

— Uh, bem, se eu não sei o que comprar para alguém, geralmente não tenho ideias apenas vagando pelas lojas assim. É melhor, tipo, pensar no que você sabe sobre Nakamura. Depois de ter uma ideia do tipo de presente que comprar para ele, aí você começa a olhar um monte de coisas. É a única maneira de fazer isso, pelo menos eu acho...

Minha voz foi se enfraquecendo à medida que minha confiança se esvaía, mas Izumi murmurou encorajadoramente e olhou para mim com sinceridade, e quando terminei, ela foi gentil o suficiente para dizer — Você está certo! — muito entusiasmadamente.

Está tudo bem agora, Izumi? Você não vai comprar nenhuma dessas porcarias?

— Obrigada! Acho que vou fazer algumas perguntas sobre ele!

Com isso, ela começou a olhar ao redor. Ela provavelmente estava procurando por Mizusawa ou Hinami. Já percebeu como os movimentos dos normies são estranhamente suaves? Ela estava misteriosamente quieta, mesmo enquanto vasculhava a loja. Eventualmente, ela os avistou à distância.

— Ah!

Por alguma razão, no entanto, ela tocou minha bochecha. Quando me virei para ela, ela se aproximou do meu ouvido. O que é isso? Droga, o rosto dela está muito perto. Quantas vezes ela vai fazer isso?

— Olhe para lá!

Olhei para onde ela estava apontando. Mizusawa e Hinami estavam conversando como melhores amigos enquanto se revezavam colocando chapéus na cabeça um do outro... E?

— Você quer dizer que eles estão se dando bem?

Não tinha certeza do porquê de Izumi estar me olhando com um olhar extremamente animado e maquiavélico.

— Bem... na verdade — oh, isso é um segredo, ok?

— Ah, sim, claro.

Eu me inclinei para frente, e sua boca se aproximou do meu ouvido.

— Eu ouvi dizer que eles estão namorando. — ela sussurrou.

— O quê?! — Eu exclamei.

— Quieto, seu idiota! — Izumi sibilou.

Aparentemente, minha prática em respostas rápidas deu frutos; foi uma reação dramática perfeita. Ótimo! Agora os vendedores e Mizusawa e Hinami estavam todos me encarando. Não era tão ótimo assim...

Izumi acenou com as mãos para dizer que nada suspeito estava acontecendo, mas os dois ainda estavam desconfiados, e começaram a se aproximar de nós com pequenos sorrisos em seus rostos.

— Eu te conto o resto depois!

— Uh, ok.... — sussurrei.

— Não é nada!

Izumi disse, indo em direção a Hinami e Mizusawa. E eu? Eu estava parado enraizado no chão com as palavras de Izumi ecoando na minha cabeça.

Eu ouvi dizer que eles estão namorando.

Então eles estão namorando. Faz sentido. Aoi Hinami é a heroína perfeita; é claro que ela tem um namorado. Sim, seria estranho se ela estivesse se achando a última bolacha do pacote me fazendo arranjar uma namorada quando ela mesma não estivesse saindo com ninguém. É óbvio agora.

Mas algo não está certo. Eu estou meio... irritado. Talvez porque Izumi estava sendo tão vaga, como se ela tivesse ouvido um boato em algum lugar. Izumi e Hinami são próximas, então Izumi poderia simplesmente perguntar diretamente a ela. Por que não fez isso? Acho que é isso.

De qualquer forma, não tinha nada a ver comigo diretamente, então eu não me importava, mas algo parecia estranho nisso. Eu não gosto de não ter a história completa. É como se alguém dissesse: — Ei, eu tenho um segredo... Não, esqueça! — Isso é irritante, certo? Isso não era porque era Hinami; era só irritante de forma geral.

— Tomozaki-kun! Estamos indo embora!

— Ah, claro!!

Hinami estava me chamando. Mais uma vez, reagi de forma exagerada. Ela se aproximou um pouco de mim e falou em voz baixa para que apenas eu pudesse ouvir.

— Você está agindo de forma estranha. Sobre o que você e Yuzu estavam conversando?

Um arrepio percorreu minha espinha.

— Uh, n-n-nada

Respondi suavemente, mas eu estava um tremendo desastre.

— ...Nada, ne? Espero que seja verdade.

Mesmo Hinami parecia surpresa com minha gagueira e repetição.

— S-sim.

— Mas, mais importante, não vi sinais de que você está tentando cumprir sua tarefa.

— Ah, é, claro. Vou fazer isso, não se preocupe.

— Entendi... Ok, então.

Ela deve ter decidido que qualquer conversa adicional seria inútil ou faria os outros se perguntarem, porque ela voltou para o lado de Mizusawa. Um segundo depois, ela estava conversando alegremente novamente. Ambos pareciam estar se divertindo.

Vamos lá, Tomozaki, se concentre! Eu não estava aqui para observar o ato camaleônico de Hinami. Eu tinha uma tarefa para cumprir.

Eu estava aqui pelo EXP.

Forçando-me a me concentrar, lembrei-me da nossa reunião no dia anterior para me lembrar das minhas tarefas.

 

REUNIÃO NO DIA ANTERIOR

— Seu dever para o nosso passeio é fazer pelo menos duas sugestões bem-sucedidas.

— ...O que quer dizer?

Tendo recebido minha tarefa de Hinami, pedi detalhes.

— Exatamente o que eu disse. Escute, quando você está fora com um grupo, você tem que tomar decisões envolvendo todos, como para onde ir, o que comer e quando voltar para casa.

— Beleza, eu acho.

— O que significa que uma pessoa tem que fazer uma sugestão, e todos os outros têm que concordar com isso. Mesmo que as outras pessoas já quisessem ir lá desde o início, alguém tem que dizer isso, certo?

— Certo.

Verdade o suficiente — alguém tinha que quebrar o gelo.

— Então, uma sugestão bem-sucedida é quando você propõe uma ideia de onde ir ou o que comer e consegue que o resto de nós aceite. E seu trabalho é fazer isso duas ou mais vezes.

Entendi agora.

— Entendi... mas tenho uma pergunta.

Eu disse, levantando a mão.

— Sim, Tomozaki-kun?

Ela apontou para mim como uma professora sexy. Mesmo que eu fosse quem começou, fiquei um pouco envergonhado. O papel de professora realmente funcionava para ela.

— Um, por que estou recebendo essa tarefa?

— Ótima pergunta, Tomozaki-kun. Existem duas razões principais.

Hinami levantou dois dedos ao lado do rosto dela. Ela ainda estava falando daquela maneira adulta. Era difícil não ouvir quando ela soava tão sexy.

— D-duas?

— Primeiro, vai te dar prática em tomar a iniciativa em um ambiente de grupo.

— Tomar a iniciativa?

Não entendi muito bem.

— Basicamente, fazer uma sugestão bem-sucedida significa que você está temporariamente controlando o humor do grupo.

— Um...?

Ponderei sobre isso.

Fazer uma sugestão bem-sucedida era controlar o humor?

— Nós já falamos sobre humor antes, certo? E eu te disse que o humor estabelece o padrão para julgar o que é bom e ruim em um grupo específico, lembra?

— Ah, sim, você disse isso.

Eu mesmo vivenciei isso durante o incidente com Erika Konno. Basicamente, o humor era o padrão para os julgamentos de valor de um grupo. Então qual era o ponto dela...? Tentei reunir as duas pistas que ela me deu.

Acho que entendi? Talvez?

— Ao fazer com que todos achem que minha sugestão é boa... eu estou controlando o humor?

Hinami sorriu.

— Exatamente.

— Entendi.

— Em outras palavras.

Hinami disse, tocando meu peito com a ponta do dedo.

— Avançar com suas sugestões te dá prática em manipular o humor do grupo.

Embora meu coração estivesse acelerado com o toque inesperado, mantive uma aparência de calma.

— Um, então é para eu aprender a controlar o humor?

— Exatamente. Por isso você vai avançar com suas sugestões.

Hinami disse, retirando o dedo do meu peito.

— E você sabe por que deve aprender a controlar o humor?

Tentando ignorar a sensação persistente de ela levantar o dedo, respondi à sua pergunta.

— ...porque faz parte de ser um normie?

— Exatamente.

— Você está realmente soltando essas hoje, hem?

— Basicamente, os normies são aqueles que controlam o humor, certo?

Hinami continuou, ignorando meu comentário.

Seja lá o que for. Pensei em algumas pessoas que costumavam controlar o humor.

Ela estava certa — todos eles eram normies.

— Verdade... geralmente são eles que mandam, como o líder ou o chefe. Parece que geralmente são normies de alto nível.

— Certo. Pessoas como Nakamura ou Erika Konno ou eu.

— Sim, você é incrível.

Estou acostumado a ela se vangloriando. Neste ponto, estou tipo, faça como quiser.

— Por isso essa tarefa é a melhor maneira de se tornar um normie chefe.

— Faz sentido.

Eu disse, antes de subitamente voltar à realidade.

— ...uh, você está me dizendo para me tornar um chefe?

Não, não mesmo, impossível. Obviamente.

Para minha surpresa, Hinami balançou a cabeça.

— Eu não te diria para de repente se tornar o chefe de um grupo de normies. Só estou dizendo para você desenvolver suas habilidades gradualmente para que possa chegar lá eventualmente.

— Gradualmente...

E estamos assumindo que isso é possível...?

— Sim. Fazendo as pessoas aceitarem suas sugestões, você se acostuma a manipular o humor. A partir daí, você apenas fica gradualmente melhor em fazer isso em situações mais difíceis.

— Uh, sério?

Então...

— Isso significa que existem humores mais difíceis de manipular?

— Obviamente. Ainda é muito cedo para você realmente ver isso, mas você pode ter total controle sobre o humor de um grupo maior, ou pode manter o controle por mais de uma situação. Existem várias coisas que você pode fazer.

Grupos grandes e períodos mais longos? Tentei pensar em exemplos, mas nenhum me veio à mente.

— ...Por exemplo?

— Como aquela coisa de que as garotas não legais não podem usar a gravata na nossa escola. Ninguém fica por aí dando avisos, mas muitas pessoas aceitaram essa regra por muito tempo.

— Ah, isso.

Claro, enquanto ela explicava, ela mesma usava uma gravata. De qualquer forma, entendi o ponto. Isso é totalmente uma coisa — uma regra social invisível que um grande grupo dá como garantida.

— Ao manipular repetidamente o humor de um grande grupo, você incute uma certa norma. Uma vez que isso acontece, ela se solidifica para que você não precise mais manipulá-la. Se você desenvolver completamente suas habilidades, será capaz de fazer isso.

Hinami sorriu teatralmente.

— ...entendi.

Ponderei sobre isso, embora a implicação por trás de sua expressão e explicação me assustasse. Ao controlar o humor ao longo do tempo, você mudava as normas básicas do grupo até que fossem tão aceitas que você não precisava fazer mais nada. Basicamente, era lavagem cerebral.

— E as pessoas não manipulam apenas o humor nas escolas. Elas fazem a mesma coisa em empresas, governos municipais e até em países inteiros.

— E-então...

Fazer um pequeno grupo fazer algo uma vez, como durante as compras com os amigos, era o exemplo mais fácil desse fenômeno. Fazer a mesma coisa para criar uma norma disseminada era a versão difícil. À medida que a escala aumentava, também aumentava a extensão, a força e a durabilidade da manipulação.

— E-então... se levarmos isso ao extremo, podemos criar algo como uma seita.

Hinami sorriu.

— Uma seita? Do que você está falando?

— Huh?

— Isso acontece com religiões também, Tomozaki-kun.

— Ah...

Aquilo parecia perigoso.

— Mas essa é a ideia geral. Não é apenas religião. Não importa o quão grande ou pequeno seja o grupo, você pode encontrar essa manipulação de humor em toda parte. Nenhum grupo pode existir sem isso. Isso é verdade na escola, nas famílias e até para nós dois agora. Como espécie, somos incapazes de funcionar sem padrões para julgar nossas ações.

— E-eu entendi.

Fazia sentido, embora eu estivesse ficando sobrecarregado. Ela agia como se tivesse descoberto a verdade de todos os mistérios da vida.

— Agora você entende, certo? Se você praticar a manipulação de humor na menor escala, em breve será capaz de fazê-lo em uma escala um pouco maior e depois em uma ainda maior. À medida que você avança, será capaz de controlar cada vez mais o humor do grupo, ou seja, você se tornará o chefe do grupo — e um verdadeiro  normie.

— Entendi, é assim que funciona?

— Se eu te dissesse para assumir o controle do grupo imediatamente, você não saberia como fazer, mas se eu te disser para avançar com suas sugestões de onde ir ou o que comer, você tem uma ideia do que fazer, certo?

— É verdade.

— Depois de pegar o jeito, você começa a fazer isso cada vez mais — mudando normas em grupos maiores  — e de repente se tornar um normie, não parece tão impossível. Captou?

Soava simples e difícil ao mesmo tempo.

— Sim, é exatamente isso.

— Não é assim que se usa.

Hinami parecia extremamente insatisfeita. Aparentemente, os pormenores de — exatamente — eram perigosos.

— Um... e a segunda razão?

— Voltaremos a 'exatamente' depois. A segunda razão tem a ver com responsabilidade.

— Responsabilidade?

Mais uma palavra chique.

— É muito simples. Veja bem, você é solitário na escola, certo?

— Ai, caramba.

Ela acabara de me acertar um soco surpresa.

— Isso é importante. Quando você está sozinho, não precisa se responsabilizar pelos outros. Basicamente, você é o único que experimenta as consequências de suas ações, certo?

— Huh? Bem, eu suponho que sim.

Se você está sozinho, então sim.

— Se você entra em um restaurante sem verificar antes e a comida é ruim, você é o único que ficará chateado. Se você entra em uma loja aleatória para fazer compras e eles não têm o que você quer, você apenas desperdiçou seu próprio tempo. Você não arrastou mais ninguém com você.

— Verdade.

Isso era bom de ser um solitário. Moeda de um lado, duas faces.

— Mas se você se junta a um grupo como um normie e começa a tomar decisões, isso não é mais verdade.

— ...O que? Em outras palavras?

— Se você sugere que todos comam em um determinado lugar e não é bom, será sua culpa. Se você sugere que todos comprem em uma loja específica e eles não têm coisas boas, você leva a culpa.

— Ah... É verdade.

Obviamente, todos concordaram com sua sugestão, então logicamente todos deveriam compartilhar a culpa, mas mesmo assim, geralmente a sensação geral tendia a ser de que a pessoa que sugeriu é quem errou, certo?

— Eu posso entender isso.

— E você é um solitário, certo?

— Isso de novo?

— Quero que você experimente diretamente a responsabilidade que vem com a tomada de decisões porque você não lidou com isso. E quero que você se acostume com isso. Para levar um pouco mais adiante, quero que você seja capaz de trabalhar confortavelmente com isso. Esta tarefa é o primeiro passo para esse objetivo.

— ...Entendi.

Concordei, satisfeito com sua explicação.

— Basicamente, o objetivo é tirar o solitário mais solitário do banho quente da solidão em que você esteve mergulhado o tempo todo. Porque, na verdade, é um pântano pútrido.

— Isso era realmente necessário?

Hinami nunca pode parar em uma explicação simples.



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