Volume 10

Capítulo 1: Eventos que acontecem apenas em dias específicos geralmente são importantes.

Era apenas eu naquela manhã na Sala de Costura #2. Eu sabia que seria assim antes de entrar. Mesmo que ela estivesse realmente sentada ali com sua expressão brusca habitual, eu não saberia sobre o que conversar. Então, de certa forma, eu estava aliviado. Mas ainda assim desejava que ela estivesse lá.

Eu havia confrontado Hinami sobre a motivação por trás de seu comportamento irracional. Basicamente, eu a confrontei com o motivo pelo qual ela estava me orientando a jogar o jogo da vida. Duas semanas haviam se passado desde que Hinami parou de vir aqui, e ela não havia entrado em contato comigo.

Era meados de fevereiro. O agudo senso de perda de algo em que eu queria acreditar deixava meus dedos gelados, mas ainda assim, aquela esperança egoísta apertava meu coração. Eu sabia que esperar aqui não a faria mudar de ideia, mas eu estava aqui porque não sabia quando desistir. Se eu fosse para a sala de aula, Hinami estaria lá, mas não era a Hinami com quem eu queria conversar. 

Nada disso era estranho, porém. Eu deveria ter esperado por isso. Hinami havia apenas usado o personagem 'Fumiya Tomozaki' para provar que estava certa. Agora que eu a tinha descoberto, ela não podia continuar com sua prova.

—iiing dong, —aaang bong.

O sino tocava do novo prédio escolar, do outro lado do pátio. O som estava falhando ou algo assim; deve ter havido algum problema de conexão com os alto-falantes quebrados do prédio antigo. Às vezes, o som se estabilizava, apenas a tempo de torturar seus ouvidos novamente. 

O estalo me lembrava de um rádio antigo, e a mistura de inquietação e nostalgia do som combinava estranhamente com meu humor naquele momento. Fui notificado dessa maneira de que meu tempo havia acabado muitas vezes nos últimos dias.

"... Acho que ela não vai vir."

Suspirei e peguei a bolsa que havia deixado em seu lugar habitual, como se a estivesse guardando para ela. Então comecei a andar sozinho pelo corredor familiar.

Enquanto caminhava, abri a tela de bate-papo do LINE com Hinami.

[Estarei esperando na Sala de Costura #2 amanhã de manhã.]

[Eu também vou amanhã.]

[Eu vou continuar indo lá todas as vezes, então venha se quiser.]

Enviei várias mensagens para Hinami. Não recebi respostas, apenas as notificações de "lido". Entendi que continuar a enviar mensagens para alguém que te deixou no "visto" geralmente era visto como uma gafe social. Mas eu ainda tinha que fazer isso. Aoi Hinami estava usando minha vida.

Pensei que tivéssemos compartilhado algo como uma conexão; talvez isso fosse apenas minha imaginação. Mas eu ainda estava obcecado por ela de qualquer maneira, e nem mesmo conseguia colocar o motivo disso em palavras. 

Seria dependência? Sentimentalismo? Algo mais?

Queria entender. Ashigaru-san havia identificado meu karma. Individualismo: não ultrapassar limites com os outros, enquanto os impedia de invadir seu território. Eu era um jogador competitivo solo. 

Rejeitava instintivamente relacionamentos nos quais você confiava a responsabilidade pelas escolhas a outra pessoa — ou assumia a responsabilidade por outra pessoa — e esse instinto havia se enraizado profundamente em meu coração. 

Não achava que seria capaz de andar de braços dados com alguém, não no sentido real. Mas naquela época, parecia que eu havia ultrapassado uma linha de limite — em apenas uma área, eu havia ultrapassado os limites do individualismo. Queria saber o motivo disso. E a única coisa que sabia era que, quando descobri que ela estava usando sua própria vida e a minha puramente para provar algo, a única emoção que senti foi tristeza.

Quando entrei na sala de aula, meus olhos foram naturalmente atraídos em uma direção.

"Claro, Sakura, mas para quem você vai dar seus chocolates de verdade?" Hinami estava tendo uma conversa amigável com Mimimi, Tama-chan e alguns outros, e naquele momento ela estava provocando Kashiwazaki-san no mesmo grupo.

"Lá vai você evitando o assunto, Aoi!"

"É culpa sua por me deixar escapar!"

Um sorriso vulnerável, palavras casuais. Aquela leve intimidade em sua atitude, implicando sua confiança. Era camada sobre camada cuidadosa em prol de encantar as pessoas e manobrar para o sucesso social. Aquela meticulosidade era o que fazia dela Aoi Hinami, e era por isso que eu a respeitava como jogadora. Mas o fato da questão era que o que ela estava fazendo ali era muito mais cruel do que apenas manobras sociais.

"Isso não é justo, Aoi!"

Não era como se ela estivesse enganando alguém. Isso não era lisonjeiro também. Ela estava usando outras pessoas, mostrando seu trabalho em sua prova de correção. Isso era quem Aoi Hinami realmente era. 

Kashiwazaki-san, sorrindo em sincero deleite, claramente acreditava em Hinami. Ela até parecia orgulhosa por poder conversar em pé de igualdade com ela. Hinami era perfeita, mas um pouco desajeitada, e era exatamente por isso que todos a amavam e respeitavam. Era bom estar em um grupo com uma garota assim, e também era valioso. 

Vestindo-se em uma casca habilmente controlada, estimulando o desejo dos outros por reconhecimento e pertencimento, ela hackeava tudo sobre o mundo. Essa era a construção de "Aoi Hinami" que ela havia feito para si mesma. Então, durante aquela conversa entre Aoi Hinami e Kashiwazaki-san, não havia conexão alguma entre seus corações.

Mimimi deve ter sentido meu olhar; ela olhou para mim, e nossos olhos se encontraram. Ela se aproximou, acenando com o braço, e sorriu para mim. 

"Bom dia! Você está atrasado como sempre, Brain!"

Mimimi havia interagido mais comigo nos últimos dias. Será que era porque ela sabia que eu estava me sentindo mal com aquela coisa com Kikuchi-san recentemente? Porque ela percebeu que eu estava agindo estranhamente ultimamente? Será que ela simplesmente não tinha nada melhor para fazer? Eu não sabia, mas isso foi útil para mim.

"O-Oh, estou?" Respondi, tentando agir normalmente. Mimimi baixou um pouco a voz assim que estava na minha frente. 

"Ei, Tomozaki. Só quero verificar uma coisa com você..." Ela disse isso de forma que só eu pudesse ouvir, me fazendo ficar tenso. Algum tempo atrás, quando estava pensando em cortar lentamente meus relacionamentos com todos, Mimimi foi a primeira a perceber.

Então ela havia percebido algo novamente? Aparentemente não. 

"Estávamos falando sobre dar chocolates para todo o grupo... mas Fuka-chan está bem com esse tipo de coisa?"

"Chocolates...?" Perguntei, mas então imediatamente entendi. "Ah. Está tudo bem. Vou encontrar com ela depois da aula."

"Ah, então ótimo!"

Sim, era dia quatorze de fevereiro — Dia dos Namorados.

"Não me surpreenderia ouvir que você tivesse completamente esquecido de algo assim," acrescentou Mimimi.

"C-Calada. Estou melhor do que costumava ser."

"Ahhaha, com certeza!"

Era nosso primeiro Dia dos Namorados desde que começamos a namorar, então tínhamos combinado de nos encontrar depois da aula. Aliás, eu havia esquecido disso até uma semana atrás, o que lamento.

"Estamos namorando, afinal de contas... então é isso." 

Eu estava delineando onde estava minha responsabilidade com ela.

"Kikuchi-san e eu ainda não tínhamos conseguido construir um relacionamento onde confiávamos responsabilidades um no outro. Mas talvez aqui, em algum lugar entre zero e cem, pudéssemos encontrar um lugar para compromisso. Então, mesmo que isso pudesse ser chamado de outra formalidade, decidimos investir esse tempo em nosso relacionamento. Kikuchi-san respeitava meus valores em querer que o indivíduo vivesse como um indivíduo — meu karma."

"Sim... claro." Disse Mimimi. 

Eu não era mais o personagem de nível inferior que eu era antes, então acho que entendi o que aquela pequena pausa de Mimimi significava. Mas só podia carregar tantas coisas, e aquela implicação era uma das que não podia assumir a responsabilidade. Fazer mais agora seria ultrapassar os limites.

"Está beeem! Então, certifique-se de esperar ansiosamente pelo seu chocolate obrigatório de mim!" 

Mimimi lançou alguns termos perigosos para mim com gestos e linguagem corporal exagerados. Mas eu estava jogando seguro com minha resposta. 

"...Ahhaha, sim, estou ansioso por isso." 

Isso não era mentira, nem uma expressão de insinceridade. Eu apenas decidi seguir minha classificação de prioridade interna.

"Mm... Aguarde por isso," respondeu Mimimi, falando no mesmo nível de distância que eu. 

Ela já tinha escapado do meu alcance. Não havia nada a fazer além de me ater à linguagem pela qual eu podia assumir a responsabilidade. Tinha vindo a entender isso profundamente ao longo dos últimos meses. E então, exatamente naquele momento...

"Mimimiii, o que foi?" 

Essa saudação natural e alegre veio de ninguém menos que Aoi Hinami. Ela estava olhando para Mimimi e para mim com um sorriso insatisfeito, mas provocativo. Como tínhamos nos afastado dos outros para conversar, essa era a atitude natural a ter conosco. 

Mas...

"Hehhehheh! Não posso te contar!"

"Ei, vamos lá. Então..." 

A expressão naquela máscara impenetrável mudou facilmente, mesmo sabendo que o coração dela estava enterrado no fundo de um pântano. 

"—Você me conta, Tomozaki-kun!" Suas palavras estavam desprovidas de qualquer honestidade, sinceridade ou responsabilidade. O fato de Hinami dizer meu nome assim, da mesma forma como sempre fazia — essa comunicação sem sentido produzida pela sua lógica cinza–escura deixava meu coração frio.


No almoço daquele dia, eu estava com a turma habitual na cantina para a troca de chocolates. Era uma grande família: oito pessoas ao redor da grande mesa no fundo. Com Nakamura, Mizusawa, Takei e eu do lado dos meninos, e então Hinami, Izumi, Mimimi e Tama-chan do lado das meninas, todos os suspeitos usuais estavam aqui. Todos já haviam terminado de comer seus almoços, e estávamos chegando à apresentação dos chocolates.

Hinami estava sentada na minha frente e à direita, a habitual heroína perfeita com um sorriso afável. 

Ela era apenas Aoi Hinami.

"Está bem, seus sacanas, peguem suas mercadorias!" 

A que estava distribuindo chocolates como um bandido distribuindo o espólio era, é claro, Mimimi. Enquanto ela me entregava suavemente um saco transparente, vi os chocolates em forma de estrela dentro, com um padrão de mármore vermelho e branco. Pareciam estrelas do mar retorcidas, mas eu realmente não entendia o que deveriam ser na realidade. Era muito aparente que eram feitos à mão.

A propósito, Mimimi estava entregando chocolates tanto para as meninas quanto para os meninos. Acho que é isso que chamam de chocolate de amigo. 

Inclusão, suponho.

"Hã? Que diabos são esses?" Nakamura disse plenamente com um franzir de sobrancelhas. 

Seu rosto intimidante inesquecível havia vindo ao custo de qualquer senso de tato. Mas Mimimi não se incomodava com sua grosseria. 

"Hehhehheh, não conseguem dizer?" Ela disse com um sorriso destemido, acariciando uma barba invisível. 

Não era só eu e Nakamura que não estávamos entendendo. Hinami também os encarava perplexa. 

"...Estrelas do mar?"

"Não!"

Mimimi estava sorrindo como se achasse graça nisso, mas parecia um pouco incomum que a conclusão de Hinami estivesse errada com algo assim. O fato de sua resposta errada ser a mesma que a minha era ainda mais incomum. Eu não conseguia decidir se ela tinha errado de propósito ou se realmente não sabia, mas de qualquer forma, eu estava certo de que não era algo importante para ela. Enquanto isso, Tama-chan examinava o chocolate com um sorriso. 

"Obrigada! Essas são aquelas coisas, certo? As haniwa." Ela disse sem hesitar.

"É isso mesmo!" Mimimi cantarolou. "Como esperado da minha Tama!"

"E-Elas são...?" Perguntei com dúvida. 

Ela devia estar se referindo àquelas estranhas trinkets que todos nós colocamos em nossas bolsas. Esses chocolates tinham cinco partes para a cabeça, braços e pernas, então tecnicamente tinham isso em comum. Mas quando olhei ao redor, fiquei surpreso ao descobrir que Mizusawa e Izumi também entenderam que eram para ser os trinkets. Izumi estava incentivando Mimimi. 

"Deve ter sido difícil fazer as listras, né?" Ela tinha reflexos de bondade incríveis. E isso levou diretamente a Izumi a compartilhar seu próprio chocolate. "Aqui, estes são meus!" Ela entregou pequenos sacos com um personagem felino neles para todos.

No momento em que Takei aceitou o seu, ele abriu com alegria. 

"Oooh! Isso parece bom!" Olhei o que ele estava segurando para ver um bolo de chocolate úmido.

"Tentei fazer gâteau au chocolat!" Izumi disse. 

Ah, então é isso. Estava aprendendo o básico aqui. Aceitando o bolo de Izumi, dei um "Obrigado" em troca.

"Eu também." Disse Hinami enquanto retirava um saco de papel com um sorriso. "Estes são supostamente muito bons!" Pela embalagem elegante, eu supus que fossem importados. 

Os olhos de Izumi brilharam quando ela avistou a caixa. 

"Ohh! Ouvi dizer que são bons! Estou querendo experimentar!" Ela pulou neles com entusiasmo. Era surpreendente que apenas os de Hinami fossem comprados quando todos os outros eram feitos à mão, mas bem, ela nunca perdia tempo com nada. Talvez isso tenha sido mais uma escolha cuidadosamente feita para ela.

"Eu adoro esses!" Tama-chan também estava respondendo positivamente. Como era de se esperar de alguém cujos pais tinham uma padaria, parecia que ela já tinha experimentado antes. Bem, ela tinha dito que ia levar a sério ajudar no negócio da família, então ela devia saber sobre essas coisas. Esses chocolates tinham uma reputação.

Mas Hinami escolher chocolates prontos e um tanto conhecidos como presente era estranho. Ela poderia ter acabado dando o mesmo presente que outra pessoa. Embora isso não tivesse acontecido, Hinami tinha permitido essa possibilidade.

Independentemente disso, ela estava distribuindo chocolates para todos. 

"Aqui, Tomozaki-kun!"

Ela se recusara a falar comigo desde nossa última conversa e não aparecera na Sala de Costura nº 2, mas aqui estava ela dizendo meu nome como sempre. Eu tinha exposto sua falta de sinceridade e intenções e criado uma fissura em nosso relacionamento de mais de meio ano, mas agora parecia que isso nunca tinha acontecido. Meu nome soava vazio vindo dela, como se ela estivesse evitando dar-lhe significado.

Sem saber como ela se sentia enquanto me entregava aqueles chocolates, estendi a mão para aceitá-los. 

"...Ah." Mas minhas mãos falharam em pegar a caixa, e ela escorregou para fora da mesa com um som fraco.

"D-Desculpe." Eu disse. 

Quando estendi a mão para pegar os chocolates, Hinami estendeu a mão ao mesmo tempo, e nossos dedos se tocaram. Seus dedos estavam gelados, como uma máquina sem sangue, mesmo que parecessem o ápice da perfeição. Até suas unhas estavam feitas com delicadeza. O descompasso deixou uma sensação arrepiante no meu estômago. Hinami pegou os chocolates primeiro. 

"Estão bem? Não estão quebrados?" Ela disse ao entregá-los.

Como eu deveria responder a isso? Respondi com um tom monocromático, olhos ligeiramente desviados. 

"...Está tudo bem."

O que aconteceria se eu dissesse algo de repente? 

Por que você está ignorando minhas mensagens no LINE? Por que você não vem para a Sala de Costura nº 2? 

Talvez eu estivesse apenas tendo pensamentos estranhos porque estava triste por ter perdido isso. Depois de imaginar isso por um minuto, desisti rapidamente da ideia.

Não era como se eu quisesse rejeitar as escolhas de vida de Hinami — na verdade, eu até a respeitava por elas como uma colega jogadora lidando com o jogo da vida. Então eu queria respeitar os resultados que Hinami queria, os resultados que ela havia obtido para si mesma.

"E de mim, tchau-tchau!"

A voz alegre de Tama-chan me trouxe de volta à realidade. Tinha um toque de fofura agora que me afastou daquele lugar sombrio. A atenção de Hinami já estava em outro lugar, e não nos olhamos.

"Uau!! Seus chocolates são tão chiques, Tama!" Mimimi se maravilhou.

"Hehhehheh, afinal, minha família tem uma padaria. Então, eles são feitos à mão, é claro."

"Significando que esses são chocolates destinados ao seu crush — eu!"

E assim começava o meu primeiro Dia dos Namorados bem animado, em certo sentido, o mais solitário que eu já tivera.


A aula tinha acabado para o dia. Eu tinha saído da escola com Kikuchi-san, e agora estávamos sentados lado a lado em um banco em um parque perto de Kita-Asaka, a estação mais próxima da casa dela.

"U-Um, aqui!" Ela disse. Neste momento, é claro, era hora da entrega de chocolates, e Kikuchi-san estava me dando uma sacola azul. 

"O-Obrigado."

Ao contrário da troca de chocolates durante o almoço, já tínhamos estabelecido que esse presente era do tipo "sério", o que me deixava um pouco agitado e mais do que um pouco envergonhado. Eu considerava Kikuchi-san mais próxima de mim do que os outros, então esse momento com ela era especialmente reconfortante depois de ter sido lembrado da minha perda.

Pensando agora, Kikuchi-san sempre me ajudava assim, quando eu perdia algo. 

"Fiz o meu melhor com eles...", ela disse. 

Então percebi algo. 

"Ah..." 

"O que foi?"

"Sim, eu não precisei olhar para trás na minha vida para perceber isso. Era óbvio... 'Esta é a primeira vez na minha vida que eu já recebi chocolates românticos de uma garota...'"

"?!" 

Kikuchi-san se encolheu enquanto olhava para cima para mim. Eu tinha decidido construir um relacionamento de confiança entre nós, então não ia deixar que minha mente pensasse que ela estava reagindo assim porque achava que eu era estranho. Ela estava apenas sendo tímida, e agora eu era forte o suficiente para me lembrar disso.

"Eu também!" Kikuchi-san empurrou o chocolate contra o meu peito com as duas mãos. "Esta é a primeira vez na minha vida que eu mesma fiz algo assim... ou dei chocolates sérios para alguém!"

"?!"

Agora o que ela disse estava me afetando, e eu estava prestes a reagir como ela. Mas se eu me encolhesse, não estaria apenas me diminuindo; provavelmente pareceria que eu estava me encolhendo. Então apenas deixei meu rosto ficar quente. Tecnicamente, eu não seria capaz de impedir meu rosto de ficar quente mesmo se tentasse.

"Um, estou feliz...," eu disse, "Embora, não sei se deveria dizer isso..."

"E-Eu... estou... feliz... por poder ser a pessoa que te deu seus primeiros chocolates sérios, Fumiya-kun..."

"O-Oh." 

Isso parecia significativo, e agora meu rosto estava ainda mais vermelho.

Não sei, é como, falar sobre isso por mim mesmo — era o tipo de troca que me faria querer reclamar, Arrumem um quarto! Mas não estava fazendo isso deliberadamente, então por favor, me dê um desconto. Agora eu estava pagando a conta por todas as vezes em que amaldiçoei mentalmente os milhares de casais flertando no mundo.

"...Posso abrir?" Perguntei. 

"Mm-hmm."

Abri o pacote esbranquiçado, amarrado com uma fita azul-pálida. Quando se pensa no Dia dos Namorados, realmente tendemos a imaginar vermelho, rosa, ou corações — era muito Kikuchi-san escolher algo no espectro mais frio, um azul-pálido. Isso contribuía para a sensação de que eu pertencia ali, um pouco fora do centro. Isso me fez sentir meio feliz.

"Oh! ...Esses parecem bons."

Dentro do pacote estavam chocolates com muitos de algum tipo de pó branco sobre eles. Uma escolha muito Kikuchi-san. Havia cinco chocolates redondos no pacote do tamanho da palma da mão. Pensar em como ela tinha se esforçado para fazê-los só para mim, os chocolates e este momento pareciam ainda mais preciosos.

"Você se importa se eu pegar um agora?" Perguntei.

"C-Claro." 

Por alguma razão, Kikuchi-san parecia um pouco inquieta enquanto dava um pequeno aceno. Quando eu inclinei a cabeça, ela disse: "Um... Eu só não tenho certeza se ficaram bons..."

Enquanto ela falava, pensei, Lá vamos nós, e coloquei um na minha boca.

"Ahh!" Kikuchi-san deu um grito de surpresa ao meu lado.

Deixei o sabor rolar sobre minha língua e depois mordi o chocolate macio. O líquido no centro era ligeiramente amargo, um bom contraste com a casca externa. A coisa do lado de fora parecia ser açúcar em pó, e misturava-se com o molho amargo e o aroma de cacau para proporcionar uma experiência realmente agradável para meu nariz e boca.

"É realmente bom..." 

"O-Obrigada..."

Não sou especialmente bom em bajulação, então esses foram meus pensamentos reais e sinceros. E realmente, este chocolate era da Kikuchi-san, então só isso já o tornaria delicioso para mim — eu diria que não há nada com que se preocupar lá. Tenho certeza de que até devoraria um monte de pão velho se fosse dela.

Engolindo o chocolate, amarrei novamente o saco. 

"Obrigado. Vou saborear o resto com calma."

Deveria comer tudo agora para que ela soubesse o quanto eu gosto...? 

O pensamento passou pela minha mente por um momento. Mas eu não queria devorar cinco de uma vez e ser um glutão de verdade. Sim, essa foi uma boa decisão. Abri minha mochila para guardar o chocolate da Kikuchi-san e me levantei.

Se você está fazendo algo apenas porque quer agradar alguém, e não porque quer, isso é apenas uma manobra social. 

"Vou te acompanhar até em casa." Eu disse.

"O-Okay!"

Assim que nos levantamos, pude perceber que o olhar de Kikuchi-san estava fixado para baixo.

Segui o olhar dela para a minha mochila. Ela viu algo engraçado ali, quando estava aberta agora...? Pensei, então de repente percebi. 

"Um, desculpe, isso te incomodou? ...Os outros chocolates, quero dizer."

Sim. Ali na minha mochila estavam vários chocolates, os que recebi de todos durante o intervalo.

Depois que começamos a namorar, entendi que Kikuchi-san estava mais ansiosa do que eu pensava sobre eu ser amigável com meus outros colegas de classe — especialmente as meninas. Mas ela também tinha dito muitas vezes que não queria atrapalhar minha expansão de mundo.

Já a vi oscilar entre esses dois impulsos muitas vezes.

"E-Eu sinto muito..." 

Kikuchi-san nem afirmava nem negava, apenas pedia desculpas. Tenho certeza de que, se estivesse seguindo seus sentimentos, ela quereria me contar suas ansiedades, mas seguindo seus ideais, ela queria negá-las. 

Essa contradição era difícil de resolver, mas tínhamos avançado o suficiente em nosso relacionamento para que eu pudesse entender isso imediatamente.

"Desculpe. Umm, eu sei que é ok eu aceitá-los, mas deveria ter sido mais cuidadoso para que você não precisasse vê-los, pelo menos." 

Isso foi um compromisso, ainda mantendo meus limites.

Depois de um pequeno hesitar, Kikuchi-san olhou para cima para mim. 

"Não... Está tudo bem." Ela disse, abaixando a cabeça e se encaixando ao meu lado.

"!"

Naquele momento, houve uma sensação suave na minha palma. Nosso calor corporal pressionava um contra o outro; não havia espaço para o ar calmo e frio de fevereiro se meter entre nossas mãos.

"Sou a única que pode fazer isso, certo...?" Ela disse. 

Era como um feitiço mágico.

(Slag: Carência do caralho, na moral.)

"...Sim. É só você." Eu concordei, apertando sua mão de volta.

Mesmo que sua situação não tenha mudado, apenas vê-la de um novo ângulo pode mudar completamente sua perspectiva sobre o mundo. Kikuchi-san me ensinou essa coisa muito importante — ela e outra pessoa.

Tenho certeza de que essa magia é necessária para tornar um relacionamento, do jeito que você é, "especial".

Isso foi o suficiente para me fazer sentir tão realizado, e provavelmente a Kikuchi-san também.

"...!"

Mas o que surgiu na minha mente naquele momento foi a expressão da Hinami naquele dia, e seus dedos frios.

Ela usou sua própria vida para tentar provar que estava certa — mas isso não foi suficiente para ela. Ela mudou seu controle para uma nova porta e mudou seu personagem para mim. Ela até tentou provar que sua lógica resultava em resultados reproduzíveis.

Mas então ela ainda usava aquela máscara espessa e fria dela, adicionando a lógica de suas manobras sociais em sua prova.

Então, quando você chegava lá, o vazio dela, algo que ela havia perdido — significava que ela não conseguira se satisfazer com a prova que usava nós dois.

Ela tinha a posição que queria na classe; ela era respeitada por todos e bem-quista. Ela mudou minha aparência, minha forma de falar, até a forma como eu lidava com as pessoas — tudo. Ela até me fez criar a namorada ideal na Kikuchi-san, alguém que realmente me entendesse.

Se a Hinami ainda não se sentia realizada — o que mais ela teria que alcançar para concretizar o que ela achava correto?

"...Tomozaki-kun, o que há de errado?" Kikuchi-san me perguntou.

"Oh, não... Não é nada."

Com sentimentos que não podíamos discutir ainda pairando, mas ainda claramente de mãos dadas, Kikuchi-san e eu começamos a caminhar de volta para casa.


Quando nos aproximamos da ponte habitual, Kikuchi-san diminuiu o passo e me perguntou: "As coisas... ficaram bem depois disso?"

Embora eu meio que adivinhasse o que ela queria dizer, tive a sensação de que ela estava com medo de realmente falar sobre isso. 

"Depois de quê?" Eu perguntei.

"Um... Eu estava me perguntando se algo aconteceu com a Hinami-san..."

Kikuchi-san tinha ouvido partes da história de mim, e ela também tinha sua percepção em suas histórias sobre Alucia. Kikuchi-san tinha chegado muito perto do cerne das motivações da Hinami com relativamente pouco para se basear.

Ela me deu algumas dicas importantes que me permitiram perceber a verdade, mas ao mesmo tempo, era como se eu tivesse mergulhado e desenterrado algo da escuridão, e agora não conseguia colocar de volta.

Por isso hesitei. 

"…Umm."

As intenções por trás das ações da Hinami, com as quais a confrontei, eram muito grotescas de certa forma, mas em outro sentido, também eram incrivelmente sinceras.

Ela realmente era como a menina insensível Alucia de "Híbrido de Sangue Puro e Sorvete", perseguindo valores comumente aceitos em busca de autoafirmação. Era exatamente a mesma luta solitária, essa ânsia por uma base para a própria existência.

"É exatamente como você disse, Kikuchi-san."

Eu pensei que essa era a única coisa que deveria dizer.

"A Hinami era... Alucia."

Isso seria o suficiente para ela entender basicamente. As partes que ela não conseguia entender era porque eram privadas de Aoi Hinami, e não havia necessidade dela saber de tudo. Foi o que pensei.

"...Entendi." O olhar de Kikuchi-san baixou, e ela mordeu o lábio. "Então a Hinami-san ainda está lutando o tempo todo..." 

"Lutando... Sim, você está certa."

Aquela palavra parecia estranhamente apropriada para descrever a Hinami.

Dizer coisas que ela não acreditava, tratando seus relacionamentos com os outros como ferramentas, fazendo parecer para outras pessoas que seus corações estavam conectados quando na verdade não estavam.

Você pensaria que tudo isso só levaria ao isolamento irreparável, mas ela de alguma forma escolhia sua lógica perfeitamente correta e se apoiava nisso.

"Se isso não é uma luta, então o que é?" 

"Ela tem estado... lutando o dia todo também." Eu disse. 

Ambos sabíamos a história. Conhecíamos a Alucia. "Sobre as Asas do Desconhecido." e "Híbrido de Sangue Puro e Sorvete."

Embora a Alucia, como aparecia nessas duas histórias, diferisse em seu nascimento e criação, a maneira como ela não tinha nada que queria fazer e garantia seu valor apenas adquirindo o que a sociedade considerava valioso era a mesma.

Alucia era talentosa, inteligente e bonita.

Mas ela sofria, lutava e continuava a lutar porque não tinha nada como um núcleo que pudesse amar verdadeiramente. Ela não tinha sangue que decidiria sua raça ou quem ser.

Ela estava sempre... sozinha. 

"Um... Fumiya-kun." 

"...Sim?"

E havia mais uma história que Kikuchi-san e eu compartilhávamos. 

"A Hinami-san ainda está te ensinando a jogar o jogo da vida?" Esse era o jogo da vida, de Hinami e eu.

"Não tenho certeza."

Não pude responder a essa pergunta.

Eu tinha certeza de que havia significado por trás de tudo que Hinami fazia. Mas Hinami continuou a me treinar em estratégia de vida — algo que, à primeira vista, não a beneficiava em nada. Kikuchi-san havia me questionado sobre essa contradição, e depois que eu descobri a verdade, contei a Hinami sobre isso e verifiquei minhas respostas com ela.

E então não consegui falar com ela desde então — nem uma vez sequer.

"Talvez tenha acabado." Eu disse.

Kikuchi-san empalideceu. 

"...O que? P-Por quê...? O relacionamento era importante para você, não era?"

"...Sim, mas..."

"Me desculpe, é porque me intrometi—"

"Não, não é isso." Eu a impedi de se culpar. Mas isso não era apenas eu tentando ser legal. "Eu teria que descobrir isso eventualmente."

Eu também queria. Eu sempre me perguntava isso.

"Se eu fosse continuar nosso relacionamento, eu teria que... ultrapassar eventualmente."

Eu me considerava um individualista. Mas com a Hinami — só a Hinami — eu queria ultrapassar a linha.

Isso não era porque Kikuchi-san me disse. Era um sentimento que sempre estivera vagando em meu coração.

"Você quer... mudar o mundo da Hinami-san, huh." Ela disse. 

Sua voz soava de alguma forma triste. Eu contei a Kikuchi-san sobre esse desejo que tive na Sala de Costura #2.

Com Kikuchi-san, eu ainda não tinha conseguido superar essa parede que tinha. Eu ainda estava a caminho, mirando em um relacionamento futuro onde pudéssemos confiar um no outro com responsabilidade.

Mas Kikuchi-san sabia que a Hinami-san e eu não tínhamos isso. 

"...Sim... Mas..." Com o olhar direto de Kikuchi-san me questionando, eu refleti mais uma vez sobre as verdadeiras motivações da Hinami.

Então me lembrei da conversa que tive com ela há alguns dias. 

"Será que é isso mesmo que eu quero fazer...?" Eu não estava mais certo.

"...Você quer dizer...?" Kikuchi-san interrompeu.

Realmente não sabia mais.

"Eu disse o que pensava para ela... e então a Hinami não negou. Ela me olhou tristemente, como se dissesse, Claro que você está bravo, e saiu do quarto." Isso aconteceu duas semanas atrás, mas o som frio e solitário de sua voz permanecia vivamente em meus ouvidos. "Quando envio mensagens para ela no LINE, não recebo resposta, e quando estamos com todos, a Hinami me trata como se nada tivesse acontecido..."

Talvez o que realmente me entristecesse fosse isso — "Neste momento, estou sendo rejeitado."

Talvez fosse uma forma forte de colocar isso. Mas realmente parecia assim.

"Oh..." Kikuchi-san me observava com olhos lacrimejantes. Isso trouxe de volta os eventos daquele verão.

Pensando agora, a Hinami me rejeitara naquele momento também. Então Kikuchi-san me deu coragem para ir ver a Hinami mais uma vez.

"Desculpe por reclamar novamente...." Eu disse. "Vou pensar um pouco mais sobre isso e tentar encontrar uma resposta."

Não poderia fazê-la suportar isso novamente — e agora ela era minha namorada. Escolheria lidar com esse problema sozinho.

"...Eu entendo." Kikuchi-san parecia triste e de certa forma resignada enquanto assentia. "Não importa o que você faça — vou te apoiar." 

"Sim... obrigado."

E assim, tendo contado tudo o que tinha para ela, eu estava segurando sua mão.

Não poderia negar que Aoi Hinami era especial para mim, mas — a que eu gostava como uma garota, como minha namorada, e a que eu queria passar mais tempo, era a Kikuchi-san.

Logo depois de confirmarmos isso um com o outro, notícias inesperadas chegaram até mim.


"Aniversário da Hinami?"

Era no dia seguinte, depois da escola.

Sete de nós da troca de chocolates do outro dia se reuniram — menos a Hinami — e agora a Mimimi tinha algumas informações surpreendentes.

"Sim, sim! Vamos ter uma festa!" Ela disse.

"Claro que sim!" Takei exclamou enquanto ambos erguiam os punhos, e todos concordavam.

Aparentemente, o aniversário da Hinami era em março, e todos estavam animados para celebrar. A propósito, a garota em questão havia sido capturada pelo conselho estudantil hoje, então estávamos aproveitando essa oportunidade para discutir.

"Então o aniversário da Hinami é no próximo mês?" Eu disse.

"Sim. Espera, isso significa que você não sabia, Fumiya? Isso é bastante surpreendente." Mizusawa parecia dar muito peso a isso, fazendo-me franzir um pouco.

"É...?"

Nunca tive nenhum tipo de conversa com a Hinami sobre seu aniversário, para começar. E mesmo que soubéssemos os aniversários um do outro e fossem celebrados na escola nesses dias como uma formalidade, não tínhamos o tipo de relacionamento onde enviaríamos mensagens pessoais um para o outro.

"Umm." Eu não tinha certeza de como responder, mas decidi falar francamente. "Eu não sei, e acho que a Hinami não sabe meu aniversário também..."

Os olhos de Izumi se arregalaram em surpresa. 

"Ei! Eu pensei que Aoi celebrasse os aniversários de praticamente todos na turma!"

"Vamos lá, o que você está imaginando aqui...? Espere, acho que não posso dizer isso quando se trata da Hinami..."

"Ahhaha! Verdade?!"

As pessoas acharam surpreendente que Aoi Hinami não tivesse comemorado o aniversário de um colega de classe. A maioria das pessoas não consideraria isso normal. Se você não soubesse mais sobre ela, pensaria: Ela é tão séria, ou se fosse investigar mais a fundo, no máximo, imaginaria: Ela está tentando muito ser querida.

Quando descobrissem que todas essas coisas eram parte de uma prova, como se sentiriam em relação ao tempo que passaram juntos? 

"E assim, há algo que eu, Minami Nanami, gostaria de fazer!" 

"O que seria?" Perguntei a ela. 

Mimimi declarou em um tom animado:

"Por favor, façam uma pausa dramática — é uma festa surpresa!"

"Oh-ho..."

Uma festa surpresa. 

O termo estava tão fortemente associado aos jovens descolados que me deu uma leve vertigem. Também imediatamente me fez imaginar possibilidades.

Os olhos de Izumi brilharam. 

"Isso é uma ideia muito boa! Então, tipo! Eu também tenho uma sugestão!"

"O que?" Mimimi perguntou.

"Por que não vamos todos juntos em uma viagem de pernoite?!"

"Ohh!"

"Isso é uma ideia incrível!" Takei estava totalmente a favor de uma ideia divertida. Ele imediatamente reagia a termos como pernoite, bife Salisbury e besouro-rinoceronte, então conquistá-lo sempre era simples.

Mas nosso realista residente, Mizusawa, estava menos entusiasmado. 

"Eu entendo o sentimento... mas falta menos de um ano para os exames de admissão, não é? Temos tempo para fazer coisas assim?"

"Urk, bem, você tem um ponto..." Izumi encolheu.

Era verdade que estávamos no terceiro semestre do segundo ano. A turma e os professores estavam todos focados nos exames de admissão.

"Por isso fomos acampar durante as férias de verão. Tivemos essa celebração naquela época porque seria difícil fazer depois."

Izumi murchou, mas depois de alguns segundos, ergueu lentamente o queixo. 

"Mas, tipo... Eu não consegui retribuir a todos?"

"Retribuir a todos?" Mizusawa repetiu.

Izumi assentiu. 

"Nos divertimos muito acampando neste verão, certo? Mas a coisa mais divertida foi como todos elaboraram esse plano para nós..." Suas palavras eram tão puras, sem afetação, gradualmente aquecendo o clima. Nakamura também estava concordando, embora parecesse um pouco menos entusiasmado com isso.

"Vocês fizeram tanto por nós naquela época, sabem! Então eu quero fazer algo para fazer alguém feliz...", ela pressionou.

"Bem, quando você coloca dessa forma..." Mizusawa começou a parecer hesitante.

Você poderia chamar esse comportamento de "manipulação do humor" de alguma forma. O incrível sobre Izumi era que ela conseguia fazer isso naturalmente. Ela não planejava cada movimento social; ela vivia como um personagem, movendo pessoas com seus pensamentos e emoções sinceros — totalmente oposto a Hinami.

A propósito, Tama-chan não parecia nem um pouco incomodada com a conversa, mesmo não tendo participado da viagem de acampamento. Ela tem um núcleo forte.

Então Nakamura declarou: "Bem... por que não? Um dia ou dois parece bom."

Seu tom era forte, embora não estivesse necessariamente olhando para ninguém. 

"Todos aqui têm algum tipo de dívida com ela, certo?"

Embora estivesse apenas expressando sua opinião, suas palavras exerciam uma pressão que parecia dizer: Sem objeções, entendi?

Tão forte.

E ninguém presente realmente tinha objeções.

"Hahaha, sim, talvez você tenha razão." Disse Mizusawa. Ele parecia estar erguendo uma bandeira branca, mas não estava certo se queria continuar resistindo.

"Sim. Eu concordo." Tama-chan não havia falado muito antes, mas em momentos como esse, ela assumiria a iniciativa e expressaria sua opinião diretamente. Era muito característico dela.

Enquanto o grupo começava a concordar, Mimimi disse algo inesperado. 

"Sim, com certeza! Tipo, Aoi tem parecido para baixo ultimamente, então eu gostaria de dar um encorajamento a ela!"

"Huh?" 

Seu comentário me surpreendeu. E isso não foi tudo.

"Oh, eu também achei! Ela parece um pouco cansada, né. Talvez ela tenha estado ocupada ultimamente?" Disse Izumi, concordando.

"Sim. Bem, tenho certeza de que ela tem muita coisa acontecendo." Mizusawa indicou sua concordância por sua vez.

"... Hinami... parece para baixo?" Repeti. 

Não que não fizesse sentido. Na verdade, também achei que Hinami parecia um pouco estranha ultimamente — como quando ela não percebeu que os chocolates de Mimimi eram haniwa, ou como ela deu chocolates comprados em vez de feitos à mão. Eu também notei isso.

Mas eu assumi que era por causa do que havia acontecido entre nós, porque a maneira como eu a via tinha mudado. Apenas pensamentos exagerados. Mas outros também tinham percebido isso.

"Você não percebeu, Brain?! Ela parece meio distraída, e não parece tão afiada..."

"Sim, entendo. Tipo, outro dia..." E então, um após o outro, todos começaram a falar sobre o comportamento recente de Hinami. Incluindo coisas que nem mesmo eu havia pensado. Eu estava prestando muita atenção.

Essa estranheza que todos haviam notado provavelmente não era algo que Hinami estava mostrando deliberadamente a eles. Eu tinha certeza de que era real. Ela estava se revelando por baixo de sua máscara.

"Ela realmente não fala conosco sobre coisas assim." Disse Mizusawa. 

"Queremos que ela confie mais em nós, certo?!" Disse Izumi.

Pergunto-me por que — esse fato me pareceu tão avassalador.

"Se vamos fazer algo para Aoi em retribuição, então seu aniversário é o momento!" Mimimi também estava concordando.

"Ok então! Que tal todos escolherem um presente para ela?" Izumi disse animadamente.

Mizusawa assentiu, seus olhos brilhantes. 

"Eu gosto dessa ideia. Mas não sei se todos nós escolhendo uma coisa é uma boa ideia. Parece meio triste."

Ideias sobre como agradar Hinami começaram a surgir uma após a outra.

"Um presente de cada um de nós seria demais." Disse Nakamura.

"Então que tal conseguirmos um total de três?" Sugeriu Tama-chan. 

Ela e Nakamura não tinham se dado bem antes, mas agora até eles estavam se envolvendo um com o outro pelo mesmo objetivo. Todos queriam animar Hinami e mostrar o quanto se importavam.

Foi quando uma lâmpada acendeu sobre a cabeça de Mimimi com um ding. 

"Ok! Então que tal nos dividirmos em três equipes para pensar em surpresas?!"

Mizusawa imediatamente concordou. 

"Oh, essa pode ser uma boa ideia. Como uma competição."

"Uma competição?! Claro que sim!!" Takei também se animou. Era da natureza dele reagir automaticamente a palavras como competição, pão de curry e extra grande gratis.

"Eu gosto dessa ideia! Você quer dizer, qual equipe deixa Aoi mais feliz, certo?!" A voz de Izumi estava inocentemente animada.

Então Mizusawa sorriu com um "Entendi" enquanto resumia toda a discussão em um comentário:

"Ok — então isso é o Campeonato de Fazer Hinami Feliz." 

"Sim!"

Todos começaram a conversar animadamente sobre esse título. Assistindo-os, fiquei atordoado.

Talvez eu estivesse pensando demais.

Quando descobri como Hinami realmente se sentia, comecei a sentir dúvida, inquietação e tristeza sobre como ela usava seus relacionamentos com os outros, como tudo o que ela podia fazer era seguir sua prova consigo mesma. Eu continuei me perguntando como ela acabou assim e como eu poderia fazê-la parar.

Mas tudo o que todos estavam pensando agora era: O que faria Aoi Hinami feliz?

Era isso.

"... Haha." Uma risada escapou de mim, e antes que eu percebesse, eu estava envolvido no clima ao meu redor. "Sim, é isso mesmo." De repente, eu também estava concordando.

Aoi Hinami tinha dito que o clima era a norma absolutamente pior, estabelecida no momento.

Falando em termos dessa definição, talvez eu estivesse apenas deixando todos os outros me afetarem agora. 

—Mas.

"Vamos fazer isso. Uma festa de aniversário para fazer Hinami feliz," eu disse a todos, selando o acordo no final.

Todos podiam perceber que eu estava sendo um pouco excessivamente enfático sobre isso, então eu estava recebendo alguns olhares duvidosos.

Usei as habilidades que havia aprendido com Hinami, controlando minha expressão facial e tom de voz. 

"Eu quero fazê-la feliz", declarei com confiança.

Claro, esses eram amigos de Hinami, e eles não conheciam suas verdadeiras motivações. Na verdade, era óbvio que eles adotariam essa abordagem.

Mas aquela simples boa vontade — aquela simples honestidade que seguia em frente independentemente da verdade — talvez fosse importante ao considerar seus sentimentos.

Eu havia esquecido disso.

Não sei se minha expressão estava estranha, ou talvez a intuição de Mizusawa fosse apenas tão afiada, mas ele abaixou a voz e disse: "O que há de errado, Fumiya?"

Eu me virei para ele. 

"...Eu estava apenas pensando que talvez não estivesse sendo tão considerado com Hinami quanto pensava."

"Hmm," Mizusawa disse com uma sobrancelha levantada. Então ele sorriu, deixando seu verdadeiro intento transparecer. "Bem, quando você se importa com algo, não consegue ficar tranquilo sobre isso," ele me disse. 

Aquela expressão dele o fazia parecer confiável, mas também irritante. 

Por alguma razão, ele parecia um pouco diferente do habitual. Mais agressivo.

Uma das coisas que eu queria fazer era ensinar a Aoi Hinami o prazer que se encontra na vida. Então, ao invés de tentar descobrir o que estava por trás de sua máscara, ao invés de tentar expô-la.

Primeiro — eu tentaria levar a sério a ideia de fazê-la feliz. Isso poderia ser a minha pista para resolver a incerteza que estava sentindo agora.

"Oooookay! Então vamos fazer a Aoi sorrir!" Mimimi disse enquanto erguia o punho, e o resto de nós fez o mesmo.


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